A proximidade das festas de fim de ano vinha vindo e a barriga da senhora Hale parecia cada vez maior, e Rosalie sorria dizendo que seu irmãozinho logo nasceria, mas ela sequer tinha certeza de se seria um menino ou menina. E nós teimávamos nisso...
- Você vai ter uma irmãzinha! – eu disse um dia jogando pedrinhas no lago que, superficialmente, havia congelado.
- Não – ela disse cruzando os braços.
E suas bochechas sempre coradas ficaram violentamente rosadas, e dessa vez eu sabia que era por sua irritação. Rosalie já tinha um irmão, ela sabia como as coisas funcionavam, mas se fosse uma garotinha seria diferente, porque seria dependente dela, precisaria dela e usaria as suas coisas
Mesmo assim, mesmo sabendo desse seu lado mimado, eu adorava irritá-la com isso.
- Ou é menino ou volta para dentro – ela disse cruzando os braços.
E o assunto tinha de morrer ali, ou, caso contrário, ela ficaria emburrada pelo resto do dia.
- Ah, eu queria um irmão... Uma irmã na verdade – eu disse e ela gargalhou.
Mas era verdade, eu achava tão legal ver um garoto cuidando da irmã mais nova, e, de um jeito ou de outro seria alguém para me fazer companhia.
- Então se nascer uma menina eu pego ela de noite e dou pra você!
E eu nunca duvidaria do que Rosalie era capaz de fazer.
- E o Natal? – ela perguntou mudando de assunto de vez.
- Não sei – eu dei de ombros. – Meu pai deve chegar só dois dias antes... Mamãe insiste em manter segredo sobre os presentes! – eu cruzei os ombros me jogando no chão coberto pela neve.
- Ah – ela também se deitou.
Eu ri maneando a cabeça, sempre que Rosalie soltava um “ah” aleatório era porque vinha mais coisa pelo caminho.
- Se for uma menina eu posso morar com você? – ela me perguntou piscando lentamente, suas bochechas não estavam mais tão coradas e sua franja caia perfeitamente pelo seu rosto.
Eu sabia que ainda tinha mais...
- Por quê? – eu perguntei com o cenho franzido, ela havia me surpreendido.
- Porque o bebê já vai querer a atenção dos meus pais – ela deu de ombros, mas sabia sobre o que falava. – E meu irmão anda muito ocupado com a namoradinha dele – havia um pouco de ironia no modo como ela falava. – Então resta você, e eu não quero que o bebê roube a sua atenção também.
Um sorriso se alargou pelo meu rosto e, involuntariamente, eu a abracei. Pelo resto da tarde nós ficamos assim, deitamos na neve, eu abraçando seu corpo contra o meu, nos aquecíamos sobre a neve, não importava quão frio estivesse, e sua mão ficou sobre o meu peito de um jeito carinhoso.
Seu perfume chegava a minhas narinas me despertando novas sensações, mas nós só estávamos crescendo e eu me encontrava perdido. Se pelo menos houvesse alguém para me ajudar nessas horas, mas papai não estava disponível nem para isso.
Para ele era só um monte de besteiras.
Esse era o momento ruim por morar longe de todos os parentes.
- Posso? – ela perguntou voltando a me encarar, e eu sorri, como poderia negar isso a ela?
- Nós damos um jeito – eu murmurei pouco depois. – Nem que eu vá dormir no sofá...
E então ela havia voltado a rir.