Capítulo VIII

O único período que Mike se interessou em conhecer melhor a mãe foi quando era criança e seu pai casou-se com Paula. Naquela época o homem entregou ao garoto uma foto da mãe para que ele guardasse e Mike guardou até entender tudo o que aconteceu, depois disso ele não expressou nenhuma vontade em saber como ela era ou estava.

E por isso quando ela entrou na sala da sua casa ele mal a reconheceu, no entanto ele percebeu que fisicamente era muito parecido com aquela mulher.

— Bom dia — disse a mulher com um sorriso, ela estava vestida de forma elegante e falava com um sotaque diferente — como vai Roberto? — falou olhando para o homem e o avaliando.

— Mariana, quando tempo — falou o homem educadamente, Paula a seu lado — eu vou muito bem e você?

— Não poderia estar melhor — ela respondeu sorrindo, olhou para a mulher ao lado de Roberto — você deve ser Paula a esposa, é um prazer lhe conhecer.

— O prazer é meu, Mariana, por favor, sinta-se a vontade — Paula queria ser gentil com a mulher, mas era difícil quando ela lembrava que tinha abandonado Mike quando ele ainda era uma criança, por isso seu sorriso saiu muito forçado.

— Obrigada, mas eu não pretendo demorar o nosso vôo sai em duas horas e nós precisamos ir — disse a mulher e ela finalmente se virou para encarar o filho, ela deu um belo sorriso ao garoto, mas não sabia o que dizer — Mike.

— Antes de qualquer coisa — o garoto começou a falar — eu não estou indo porque eu quero, estou sendo forçado a isso — Roberto sabia que o filho faria algo do tipo, Mariana se virou para o homem, o sorriso havia sumido e no lugar a preocupação e o medo da rejeição estampada.

— Mike eu sei que vai ser difícil por que não tivemos muito contato antes...

— Não tivemos nenhum contato, aviso logo que eu não pretendo brincar de mãe e filho com você.

— Mike — Roberto chamou, o garoto olhou para o pai e viu que ele não estava gostando daquilo.

— Eu sei que essa situação é complicada, mas se você não estiver gostando quando chegarmos lá então você vai poder voltar.

— Então que tal eu nem ir? Porque eu já não estou gostando de agora! — não era a intenção do garoto, mas ele elevou o tom da voz, com isso Hannah logo foi para o lado de Mike tentar acalmá-lo, ela segurava firmemente sua mão.

Mariana não teve contato algum com Mike até que ele fez treze anos, mas desde antes o garoto já sabia o porquê dela ter ido embora. E quando apareceu em sua casa uma pessoa da família dela atrás do garoto a primeira vez foi uma tremenda confusão.

Naquele tempo nem mesmo Roberto queria que a mulher tivesse contato com seu filho o que mudou depois de um tempo. Mas Mike não voltava atrás no que havia decidido e mesmo com a mulher tentando falar com ele varias vezes o garoto só ignorava suas chamadas.

Hannah segurou a mão do garoto lhe dando apoio e olhava para ele de forma apreensiva, e não notou a forma estranha que a mãe lhe olhou naquela hora.

— Eu sei que você não quer me ver e ficar comigo de forma alguma Mike, mas eu já desisti de você uma vez e venho fazendo isso por um tempo, mas não posso mais deixar as coisas desse jeito — ela parecia decidida no que falava.

— Eu não tenho opção e vou com você, mas não espere encontrar um filho passivo! Não vou deixar as coisas fáceis para você.

Ela sorriu ao ouvir aquilo, por enquanto já era o suficiente.

— Vamos logo ou vamos nos atrasar está bem.

Roberto se despediu do filho e pediu que ele se comportasse, o que o garoto respondeu com uma risada curta. Logo depois Paula deu um abraço no garoto também dizendo que sentiria saudades dele, Mike retribuiu o abraço com carinho e se despediu também do bebê na barriga da mulher. No final se virou e deu um abraço forte em Hannah, gostaria muito de beijá-la também, mas o único lugar que seu lábio a tocou foi à testa.

— Vou voltar logo — falou baixinho olhando nos olhos da garota.

— É sua namorada? — Mariana perguntou, os adolescentes ficaram tensos naquele momento.

— Não, Hannah é minha filha — Paula falou — eles são como irmãos, são muito próximos.

— Irmãos próximos... Sua filha? Você parece tão jovem — comentou a mulher desviando o olhar para Paula — qual a idade dela?

— Hannah e Mike têm a mesma idade, foram criados como irmãos desde os cinco anos, eles tem um ótimo relacionamento — respondeu Roberto, Mariana sorriu com a resposta e logo se voltou ao garoto — vamos? — ele somente assentiu e logo saiu com a mulher.

Hannah e Roberto ficaram parados a porta olhando o carro em que o garoto estava sumir de vista e soltaram um suspiro pesado entrando na casa. Enquanto Paula estava pensando que a despedida dos irmãos foi um pouco melosa demais.

— O que faremos agora sem o Mike? — perguntou Roberto se jogando no sofá, Hannah ao seu lado sorriu olhando para o homem.

— Que tal jogarmos aquele jogo que ele detesta? — o homem sorriu cúmplice e eles correram para pegar o vídeo game.

Enquanto eles jogavam para tentar se distrair da partida do garoto, o clima dentro do carro que Mike estava era bastante pesado. Mariana estava inquieta e olhava o tempo inteiro na direção do garoto.

Mike somente a ignorava, e era essa a sua intenção para o resto das férias, falaria com ela somente o necessário até que ela se cansasse e o mandasse de volta, o que ele acreditava que seria logo.

(...)

— Mike, acorde — o garoto abriu os olhos e viu Mariana o olhando com um sorriso calmo — chegamos.

Mike agora estava tão longe de casa que ele nem gostava de pensar. Desembarcaram, pegaram as malas e logo chegaram ao carro que esperava por eles. Foi inevitável a reação do garoto ao passear de carro pela cidade. Era um cenário incrível.

Prédios enormes, casas enormes, carros que ele só tinha visto na televisão e alguns que ele também nunca tinha visto. “Alguma coisa de bom tinha que ter” pensou enquanto o carro seguia seu caminho.

A cidade era bonita e movimentada e ele estava empolgado em poder explorá-la. Ele ficou ainda mais admirado quando o carro em que estava entrou em uma daquelas casas enormes que ele tinha visto. Aquela era a casa, ou melhor, mansão da sua mãe.

Mike observava o lugar admirado, era igual ao que ele já tinha visto nos filmes, só que agora era de verdade. Na entrada da casa o gramado era bem verde e tinha vários canteiros com flores que ele nunca tinha visto.

— Gostou? — perguntou Mariana ao ver o rosto curioso do garoto que observava tudo.

— Parece interessante — respondeu tentando não demonstrar que realmente tinha gostado.

O garoto realmente não esperava por todo aquele luxo. A casa era enorme e com os moveis mais modernos e estranhos que ele imaginava, varias salas para diferentes eventos. Ele acreditava que tinha pelo menos uns dez quartos, o garoto até quis perguntar, mas resolveu não mostrar a ela o quanto estava admirado com tudo, não iria ser comprado!

No entanto, Mariana já havia percebido que o garoto havia gostado do lugar, mas não admitiria de forma alguma e ela decidiu não ficar o questionando o tempo todo, queria primeiro amansar o garoto para poder conquistá-lo.

— Vamos para o seu quarto — ela disse chamando o garoto e o guiando pela casa — eu estava preparada há meses para sua chegada, mas não sabia como decorar o seu quarto porque eu não conheço o seu gosto, espero que possamos mudar isso — falou com um sorriso enquanto entrava no lugar e ele observava atento.

O quarto era grande como ele já esperava, uma cama grande no centro e uma televisão de frente para ela. Uma mesa com computador ao lado da cama. Uma estante grande com alguns livros e porta retratos sem fotos, e duas portas, uma para o banheiro e outra para o closet.

— Um vídeo game — disse contente ao ver o aparelho em uma mesa perto à cama, com aquilo ali poderia passar as férias trancado naquele quarto.

— Imaginei que você gostaria de um, já tem vários jogos na memória espero que goste — Mike não respondeu a mulher e apenas continuou examinando o quarto — você provavelmente trouxe fotos da sua família e amigos, você pode usar esses porta retratos — falou quando o garoto se aproximou da estante.

— Obrigado.

— Aquela garota filha da sua madrasta...

— Hannah — ele falou sem olhar para a mulher.

— Vocês são irmãos bastante próximos.

Mike olhou para a mulher com uma expressão nada amigável. Onde ela estava querendo chegar com aquilo?

— Somos próximos sim, nos conhecemos desde pequenos.

— E há quanto tempo estão namorando?

(...)

Haviam se passado três dias desde que Mike viajou, e mesmo que Hannah falasse com ele três a quatro vezes por dia ela ainda se sentia entediada e com saudade do garoto.

As amigas ligavam para ela chamando para dar um passeio ou ir comer algo, mas ela apenas recusava. Passou aqueles três primeiros dias em casa sem fazer nada, ou jogando vídeo game com Roberto.

— Vai ser um almoço chato com alguns tios e tias, por favor, se você me ama não me deixa aqui sozinha – chorava Suzana ao telefone falando com Hannah.

— Você só quer me arrastar para esse lugar porque é um almoço chato.

— Nada disso! Eu e Amélia estamos lhe chamando para sair a dias e você só nos ignora!

— E onde está Amélia agora?

— Viajou com a mãe, só volta daqui uma semana, portanto você precisa me salvar!

— Está bem, eu vou a esse almoço, vou falar com a minha mãe e daqui a pouco eu chego ai! — logo ela desligou o telefone e foi se arrumar.

Hannah não costumava sair muito arrumada e nem tão simples também, ela ficava bem vestida e muito bonita facilmente. Qualquer roupa lhe caia bem e era isso que atiçava o ciúme de Mike. Ela se lembrou do garoto assim que vestiu o short, não era curto como os garotos diziam, mas já era o suficiente para provocar o irmão.

“É só um almoço com os tios da Suzana, não tem problema” pensou terminando de se arrumar. Não muito tempo depois ela chegou à casa da amiga e o que ela acreditava ser um simples almoço de família parecia mais uma festa.

— O que é isso? – perguntou ao encontrar a amiga no meio de tanta gente.

— Um almoço de família — respondeu a garota com um sorriso travesso.

— E quantas pessoas têm na sua família?

— Muitas! — respondeu Suzana rindo — esses “almoços” em família são realmente muito chatos para mim, os adultos ficam falando do trabalho e qualquer coisa que pra mim não tem nenhuma graça, e como minha mãe não ia me deixar sair eu precisava trazer alguém para me salvar!

— O que eu não faço por você?

Suzana abraçou a amiga e elas entraram na casa procurando algum lugar confortável para poder conversar a vontade. Hannah contou sobre Mike e que ele estava mais irritado com a mãe a cada dia que passava, que o marido dela até que era simpático, mas ele tinha um filho mais velho que era definitivamente insuportável.

Mas que mesmo assim a mulher ainda não decidia por mandá-lo para casa, e parecia que quando mais grosso ele era mais ela queria que ele ficasse.

— Com o gênio que Mike tem imagino que ele daqui a pouco derruba a casa — falou Suzana e as duas riram — mas você está preocupada com ele certo? — Hannah deu um sorriso fraco e assentiu.

— Mike tem muita mágoa da mãe dele, eu sei que a intenção do tio Roberto é boa, mas eu não sei se vai funcionar tão bem como ele espera.

— De acordo com a minha mãe, os pais sabem o que fazem — disse a garota fazendo careta.

— Isso é apenas desculpa pra gente fazer o que eles querem — as duas garotas se viraram assustadas ao ouvir a pessoa desconhecida que falou com elas.

Parado ali bem próximo delas estava um rapaz alto e forte, um sorriso brilhando e os cabelos pretos com um corte baixo e arrepiado.

—Ramon! — Suzana caiu nos braços do rapaz que a recebeu de bom grado a apertando — você não falou que vinha.

— É porque eu adoro essa reação — falou quando soltou à garota — eu realmente não vinha eu tinha um jogo marcado para hoje, mas foi adiado então decidi vir aqui ver a minha prima preferida.

— Dessa vez eu acredito que esse almoço vai valer à pena — comemorou a garota fazendo o rapaz rir, mas não passou despercebido pela garota que ele estava desviando o olhar dela para outro lugar, ou pessoa.

— Novo membro da família? — ele finalmente perguntou olhando para Hannah.

— Não, essa é Hannah minha amiga, ela veio me salvar de aguentar esse almoço sozinha porque você falou que não vinha.

Hannah estava um pouco desconfortável com aquilo, ela não conhecia o garoto, mas a forma que ele a olhava lhe deixava nervosa.

— Se não é membro da família ainda tem tempo de ser, sou Ramon é um prazer lhe conhecer Hannah — falou o rapaz se aproximando de Hannah.

— Não tem não — disse Suzana percebendo as intenções do primo, mas Ramon não estava mais prestando atenção no que a garota dizia.

Enquanto Hannah estava no almoço, Mike havia acabado de acordar e se preparava para o café da manhã. Naquela manhã só estavam ele e Mariana a mesa o que deixou o garoto desconfortável.

— Você prefere manteiga ou geléia? — Mariana estava tentando conhecer o filho e seus gostos, mas aquela era uma tarefa dificílima, pois Mike nem sempre lhe respondia.

— Nenhum dos dois — respondeu e a mulher assentiu.

— E o que você costuma comer pela manhã?

— O que a tia Paula faz — a mulher suspirou se sentindo cansada. Foram apenas três dias, mas como o garoto disse não estava sendo nada fácil.

— Eu só quero te conhecer um pouco melhor, é tão difícil?

— Muito, eu não quero ficar perto de você — o que mais chateava Mariana era a forma tranquila com o garoto dizia aquelas coisas.

— Você se sentiria melhor se a sua namorada estivesse aqui? — Mike levantou a cabeça para encarar a mulher, ela havia descoberto que se quisesse chamar a atenção do garoto poderia citar Hannah que logo ele lhe olhava.

— Minha namorada? Eu já disse a você que...

— Eu tenho experiência o suficiente para saber quando eu vejo um casal de irmãos e um de namorados — ela falou tranquila, Mike sentiu seu sangue esquentando naquela hora, ele realmente deixava perceber seu sentimento pela garota.

— Você ganhou! Hannah e eu estamos namorando, e agora vai fazer o que? — a mulher percebeu que ele estava irritado e não era aquilo que ela queria.

— Por que não a convidou para vir?

— A tia Paula não deixou.

— Ela sabe do namoro de vocês?

— Ainda não, mas vamos contar logo.

— E você acredita que seu pai vai aceitar isso? Quando ele falou que vocês eram irmãos muito próximos eu quase acreditei que vocês eram irmãos mesmo — continuou falando, mesmo que fosse aquele assunto estava satisfeita por fazer o garoto falar com ela.

— Eu sei que não vai ser fácil, mas no final eles vão aceitar.

Depois disso o garoto ficou calado enquanto terminava de comer. Mariana não sabia como fazer Mike falar mais, mas o garoto não estava lá porque queria então como conquistá-lo forçando-o a ficar ali?

— Mike — ela o chamou quando ele ia saindo, ele olhou para a mulher que pediu para que ele sentasse um pouco e mesmo não querendo ele o fez — você não vai me dar uma chance enquanto estiver sendo obrigado a ficar aqui certo?

— Finalmente você percebeu.

— Então vamos fazer um acordo — ela propôs e viu o garoto parecer interessado — você me da uma chance de te conhecer melhor e você não precisa ficar suas férias inteiras aqui.

— Me conhecer melhor?

— Sim! Você não precisa ver o nosso relacionamento agora como o de mãe e filho.

— Eu não te vejo como minha mãe — ouvir aquilo foi bastante doloroso para a mulher, mesmo que ela já soubesse daquilo.

— Ainda assim Mike, você só precisa me dar uma chance e se em uma semana você ainda não quiser ficar aqui você pode voltar para casa — concluiu.

— Está bem, eu vou tentar te dar essa chance, mas não se esqueça do que está me dizendo agora, pois independente de como seja essa semana eu vou sim querer voltar para casa.