Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 28
A Toly.




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Naquele momento, eu não sabia mais o que fazer ou o que pensar. Para mim, nada mais fazia sentido. Toly, a filha que eu engravidei, que tinha morrido anos atrás, agora estava na minha frente, com a espada na mão enfiada em meu peito. E eu, que deveria ter morrido por ter algo tão afiado em meu coração, estava vivo. Ela insinuou que eu fosse Ghirf, e eu realmente estava acreditando. Depois que eu parei pra pensar, eu não estava morto, mesmo com algo em meu peito, no lugar onde o coração deveria estar. Nada mais fazia sentido! O quê estava acontecendo?

Com aquela coisa queimando em meu peito e o sangue escorrendo, eu fiquei imaginando o que estaria acontecendo com Dhuly e todos os cinco caras que foram me ajudar a matá-la. Não sabia se todos eles estavam vivos, ou se tinham conseguido matar Dhuly. Eu não imaginava se Cal tinha sobrevivido a quantidade de droga que ingeriu em sua pizza. Muitas perguntas estavam em minha cabeça, e eu sabia que não teria respostas tão cedo.

Estávamos somente Toly e eu na mesma sala. Eu não sabia o que ela queria, o que aconteceria e nem sequer como ela estava viva. Não sabia como ela tinha chegado ali. Não sabia nem como EU tinha ido parar lá. Somente fiquei calado por um tempo pensando, e ela me observava também calada.

Após longos minutos ela resolveu abrir a boca.

– E então querido... Eu acredito que você não faça a mínima idéia do que está acontecendo. Isso é maravilhoso! É sinal de que meu plano deu completamente certo.

– Mas que plano é esse?!

Sem dó nem piedade, ela retirou a espada com toda a força do meu peito. Pude sentir toda ardência e dor com mais intensidade.

– Voltando alguns anos, lembre-se daquele último dia em que eu estava com a barriga enorme. Eu carregava Dhuly dentro dela. Você, meu próprio pai, havia me engravidado. Eu era uma semi-dêmonio, e você, um Demônio das Sombras completo. Eu sabia o seu plano, mas me mantive calada. Estava completamente apaixonada por você. Faria tudo que você quisesse... Mas eu jamais imaginaria que você me deixaria morta naquele quarto. Jamais imaginei que fosse capaz de fazer isso.

Ela deu uma pequena pausa e eu fui relembrando cada detalhe.

– Eu fui tão idiota... Naquela manhã, quando você voltou ao quarto e pegou Dhuly nos braços, eu senti meu corpo completamente morto por dentro... Mas eu ainda estava viva! Tudo por causa do sangue que você tinha me dado momentos antes. Seu sangue! Sangue de Ghirf, o primeiro, e até então único demônio Sem Coração. Seu sangue me deixou com mais força... Foi aí que eu percebi que o seu erro foi ter me alimentado daquele jeito. Todo o seu poder foi dado pra mim.

Mais uma breve pausa, enquanto eu ia absorvendo a história.

– Depois que a força começou a subir pelas minhas veias, você já não estava no quarto. Nem tinha ligado para o fato de eu estar morta, então eu resolvi sumir. Após pensar muito sobre o que tinha acontecido, eu descobri que seu poder estava no seu sangue, por isso toda maldade que você tinha, todos os planos terríveis de acabar com a humanidade e até mesmo sua memória do passado como Ghirf, foram deixados pra trás. Infelizmente esses pensamentos estão comigo agora, mas eu sei controlar... E então você estava livre, mas Dhuly nasceu com o mesmo defeito que você...

Parando um pouco para respirar, ela terminou com chave de ouro:

– A melhor coisa que você fez na vida foi ter passado seus poderes pra mim, mesmo sem saber.

Ao terminar de dizer essa frase as algemas que prendiam e queimavam meus braços, foram abertas. Eu caí de joelhos no chão. Pus as mãos no chão para me apoiar e vi as marcas de queimadura que ficaram em meus pulsos. Olhei para baixo e vi que no meio do meu peito, havia um buraco onde estava a espada minutos antes.

Aquilo não importava mais. A dor não importava mais. Eu levantei com muita dificuldade e a primeira coisa que me veio à cabeça, foi abraçar Toly. Parecia o pensamento mais idiota do mundo, mas eu queria agradecê-la por ter tirado todo mal que havia em mim. Queria pedir desculpas por tê-la deixada morta lá. Eu realmente estava arrependido de tudo o que fiz.

Por um longo tempo eu não consegui imaginar meu passado. Meu passado normal sim, mas como Ghirf não. Essa história estava confusa demais, então eu resolvi, por um momento, esquecer tudo e ir abraçar Toly.

Ela não aceitou nem recusou o abraço. Não se afastou, mas também não me abraçou de volta. Apenas ficou lá, parada.

– O quê é isso? – ela me perguntou com o tom de voz sério quando a abracei.

– Desculpe Toly! Eu me arrependo tanto...

Dizendo isso, ela se afastou e me manteve longe o suficiente para eu olhar em seus olhos.

– Não quero seu perdão. A besteira já foi feita...

– Por fav... - eu, completamente arrependido pelos meus erros, comecei a me ajoelhar para ela, quando fui interrompido.

– Temos outros problemas agora.

No momento eu rapidamente lembrei de todos nossos planos para matar Dhuly..

– Os pesquisadores ainda estão lá em casa com Dhuly?

– Ghirf... tão ingênuo.

Com a espada na mão, ela fez um movimento rápido e a guardou dentro da calça, de modo que não a machucasse nem rasgasse o tecido.

– Eu não estou entendendo nada! Estou completamente perdido nessa situação! – eu disse alterando o tom de voz.

– Tenha a certeza de que você não sabe de nada. Tudo é uma mentira.

Fiquei a encarando ainda sem entender o que aquilo queria dizer, e ela fez questão de enfatizar a frase.

– É TUDO uma mentira...

Tentando deixar os pensamentos desnecessários de lado, me foquei em Dhuly. Eu não sabia mais se ainda teríamos que matá-la ou se todos já tinham morrido.

Toly foi caminhando a frente do local que estávamos. Caminhando rápido, ela parecia ter pressa. De algum modo misterioso, uma porta surgiu de uma parede completamente branca. Toly abriu a porta secreta, pôs a perna para fora e gritou para mim:

– Você vem?

Mesmo sem saber o porquê e para onde, eu fui.

Saindo da sala branca, percebi que estávamos em uma casa, mas não na minha. Ela era pequena, porém aconchegante. Nós saímos na sala, e pelo visto, o local de onde saí, era só mais um quarto qualquer, porém todo branco. Na sala de estar havia uma mesinha de centro com algumas revistas, uma televisão na parede e duas pequenas poltronas vermelhas. Em uma das poltronas estava alguém sentado assistindo a TV.

– Pai?

Era Dhuly. De saia vermelha e top preto, lá estava ela, sentada no sofá de alguém comendo biscoito.

– DHULY?!

Eu, mais assuntado e confuso do que nunca, dei um grito, o que fez Dhuly e Toly se assustarem. O quê estaríamos fazendo nós três naquela casa?

– Que bom que você tá bem, pai! – Dhuly sorriu.

Naquele momento eu congelei. Não sabia se devia temer ou respondê-la. Não sabia se ainda precisava atuar ou não. Percebendo meu desespero, Toly me puxou para a cozinha, como quem não queria nada, para Dhuly não perceber.

– Já voltamos gatinha.

– Ta bom Lily! – Respondeu Dhuly.

Chegando à cozinha, ela mandou eu me sentar. Toly começou a fazer um chá, e enquanto isso, o silêncio era absoluto. O único som da casa era a da TV.

Em uma caneca de gatinho, eu recebi meu chá. Na caneca dela dizia “lembranças de Paris”. Eu já sabia pelo menos um lugar por onde ela esteve “escondida” nesses anos.

– Tem muitas coisas ainda que você precisa saber...

– Tenho certeza que sim. – concordei.

– Dhuly não é do jeito que você está pensando.

Ainda confuso, não consegui interpretar muito bem aquela simples frase, Fiquei olhando para Toly com cara de preocupado, sem entender.

– Ela não é desse jeito maligno que você vê. É apenas uma adolescente de 15 anos... – tomando um pouco do chá, ela me olhava profundamente, o que me fazia acreditar em suas palavras. – Tudo o que você acha que Dhuly fez, na verdade você quem fez.

– Como assim?

Toly se levantou da cadeira e pude perceber que tinha mais uma xícara de chá sobre a pia. Era vermelha e tinha o formato de um coração.

– Dhuly, querida! Seu chá está pronto.

Em questão de segundos, vi Dhuly entrando na cozinha, pegando a xícara com um sorriso lindo e enorme no rosto, e voltando para sala pedindo licença.

– Percebe? – Toly sussurrou. – Ela é só mais uma adolescente.

Realmente eu não conseguia entender. De repente tudo mudou de rumo. A história virou de ponta cabeça.

– Por favor... – suspirei de olhos fechados e continuei. – Me explique melhor.

– Claro Ghirf!

Dizendo isso, ainda olhando em meus olhos, Toly foi se aproximando calmamente. Aos poucos seu rosto estava ficando mais próximo. Cada vez mais perto. Até que nossos lábios se tocaram e eu fui surpreendido por um beijo.

Toly, minha filha, me beijou. Numa cozinha misteriosa. Sem eu entender nada.

Durante o beijo vi Dhuly ao nosso lado dando pulinhos e sorrindo muito.

Eu estava mais louco que nunca.


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