Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 24
A reunião.




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O tão esperado dia chegou. Pelo bem da minha sanidade mental, eles chegaram.

Calore e mais cinco caras entraram pelas portas da casa e se comportaram estranhamente bem em frente à Dhuly. A traram normalmente como se ela fosse só mais uma adolescente demônio normal. Posso dizer que a atuação foi magnífica.

Depois das risadas e algumas brincadeiras, Cal disse que queria conhecer as outras partes da casa. Com isso, todos nós entramos no elevador, que incrivelmente ainda estava confortável com 7 pessoas lá dentro, e descemos para a Sala de Testes. Chegando lá, a primeira coisa que ele Cal perguntou foi:

– Você tá bem?

Ao ouvir essa pergunta, meu rosto empalideceu rapidamente, como se o disfarce de estar feliz e contente com minha vida tivesse sido desfeito. Todos os cinco caras, muito profissionais na atual situação, me olharam atentamente.

– Por enquanto. Pouco apavorado, mas bem.

Em minha cabeça veio a imagem de todas as coisas ruins e erradas que já fiz em minha vida. Calore não sabia de nenhuma dessas coisas. Para ele, eu sempre fui aquele cara que amava sua filha e era muito bondoso. Não sabia o quê fiz com a mãe de Dhuly, minha primeira filha. Não sabia de nada. Senti um arrependimento terrivel ao lembrar dessas coisas. Eu era um demônio sim, não era um humano, mas como Cal me dizia antigamente, "Demônios também sabem amar. Demônios não precisam fazer o mal para honrar a espécie". Eu me transformei em outra pessoa. Meus poderes ainda estavam comigo. Minhas garras, meus olhos, todas as características demoníacas que eu sempre tive ainda estavam lá, mas eu não as queria mais. Eu não as usava mais. Só queria viver em paz com minha filha.

Fui caminhando até uma Sala que servisse para fazermos uma pequena reunião. Entramos em uma própria para isso, na qual, eu, Dhuly e algumas babás conversávamos e negociávamos sobre como cuidar dela quando era menor.

Eu não tinha tanta certeza, mas eles disseram que Dhuly não seria capaz de ouvir nada que fosse comentado por nós naquela sala

. Todos se sentaram e eu pude sentir minhas mãos tremendo. Eu suava frio.

Estava para começar os planejamentos para morte de Dhuly. Todos os seis caras, incluindo Cal, tiraram de locais escondidos, talvez para que Dhuly não visse quando chegaram, papeis e maletas. Tudo foi posto sobre a enorme mesa de vidro. Eu respirei fundo, mas ainda não estava preparado.

– Bom... - um dos homens começou a falar. Ele era baixo, bem magro, usava óculos e era um Demônio do Fogo. Pude ver pelos seus olhos, tão vermelhos que pareciam mesmo que estavam pegando fogo por dentro. Característica típica dos Demônios dessa classe. - Chegou a hora de expor nossas ideias, juntá-las e analisá-las.

Cada um deles pegou seu papel e pôs sobre a mesa. Eu não fazia ideia do que estava naqueles papéis. Somente sabia que eram ideias que matariam Dhuly rapidamente, ou que pelo menos deveriam.

Aquilo tudo me deixava muito nervoso, mas eu sabia que era necessário. Senão matássemos Dhuly, talvez, toda a população, tanto humana, quanto de demônios, seria morta em pouco tempo por uma "simples" adolescente de 15 anos.

– Senhores, - Disse Cal - esse é o pai de Dhuly. Até onde sabemos, ele não tem parentesco nenhum com Ghirf.

– Acredito que ninguém tenha... - eu disse baixinho.

– Sim, é verdade. Por isso o fato de Dhuly ser assim torna tudo um mistério. - Todos os outros caras concordaram com a cabeça, com uma expressão muito séria. Pareciam realmente determinados a exterminar Dhuly do mundo. - E é por isso que todas as nossas ideias terão que ser muito bem pensadas e repensadas antes de pôr-mos em prática. Qualquer erro pode ser fatal.

Eu temia isso.

– Antes de tudo, vamos as apresentações.

Josh era um cara alto, de pele, olhos e cabelos muito claros, quase brancos. Um Demônio de Cura, que tinha poderes extraordinários de matar alguém de dentro para fora, sem nem sequer encostar na pessoa. E lógico, de curar até os mais terríveis ferimentos.

Jhony era irmão gêmeo de Josh, com as mesmas características.

Trevor, mais um Demônio das Sombras, era um dos maiores homens da sala. O mais forte também. Vestia-se todo de preto, com um casaco muito grande e um capuz que impedia a visão de seu rosto.

Heytor era o Demônio do Fogo, o primeiro que se atreveu a falar.

E por último, Keny. Até aquele momento eu podia jurar era um homem, mas na verdade era uma mistura dos dois sexos. Característica dos Demônios Secretos. Que podem facilmente seduzir seus adversários com poderes especiais e matá-los da forma que escolherem.

– Tudo bem, agora vamos para o que realmente importa. - Disse Calore.

O primeiro a expor suas ideias foi Trevor, o mais "suspeito" e estranho dali.

– Depois de muitas pesquisas, foi comprovado que qualquer tentativa de apunhalar um Sem Coração pelo peito, é falha. Um erro fatal. Sabemos que nesse golpe o tal descobre todos os nossos planos e sabe-se lá o quê ele pode fazer.

Realmente eu não havia pensado nisso. Qual seria a reação de Dhuly se soubesse o quê estávamos planejando?

– Então como farão para matá-la sem que ela saiba ? - eu perguntei confuso. - Se ocorrer uma tentativa falha, acaba tudo!

– Acalme-se. - O gêmeo Jhony disse calma e lentamente. - Após nossos estudos, descobrimos que é possível dopar um Sem Coração. É preciso uma droga muito forte, entretanto é a única maneira de podermos trabalhar sem desespero.

Todos da mesa concordaram em silêncio. Os seis estavam muito pensativos e permaneceram calados por algum tempo.

Eu evitava pensar nas maneiras de matar Dhuly. Aquilo ainda era triste para mim... Eu não era mais forte o suficiente.

– Como conseguir essa droga? - perguntou Cal.

– Alguns de nossa espécie possuem uma porção.

Na hora que Jhony disse isso, eu obviamente achei que ele teria que voltar ao mundo deles para buscar. Seriam mais alguns dias esperando. isso não poderia acontecer. Dhuly perceberia logo nosso plano.

– Por sorte, eu e meu irmão temos uma quantidade considerável.

– Que alívio! - eu suspirei.

Os gêmeos pegaram duas caixinhas de madeira de tamanho médio e botaram sobre a mesa. As caixinhas foram passando de mão em mão até chegar nas minhas.

Pelo visto, a tal droga era como sal. Em pó. A "quantidade considerável" que ele citou, em minha mente, era pouco, mas aquilo enchia as duas caixas até a boca.

– É necessário isso tudo?! - eu perguntei de olhos arregalados, perplexo.

– Você não sabe do que um Sem Coração é capaz.

Eu realmente achei que sabia, mas depois de descobrir que teriam que usar aquela quantidade toda para dopar uma pequena adolescente, o pavor reapareceu. Minhas mãos voltaram a tremer e algumas lembranças com Dhuly me vieram a mente. Como eu consegui viver esse tempo todo com ela? Como e porque ela manteve o papel de menina boazinha todo esse tempo?

Não pude deixar de perceber que Trevor me olhava fixamente. Chegava a ser apavorante. Seus olhos eram idênticos aos meus, mas muito mais perfurantes.

– O primeiro passo é dopá-la. E depois? - eu perguntei desviando o olhar de Trevor para Cal, que respondeu:

– Imobilizá-la. Se não imobilizarmos, pode ser que ela acorde, mesmo dopada, e mate tudo e todos.

– Para imobilizarmos com pouco de segurança, serão precisos cadeados e milhares de correntes muito grossas. - respondeu Heytor, levantando todo o material que ele acabara de dizer.

–Ok. Temos o primeiro e o segundo passo... - eu pensei.

Parando para analisar a situação, todos eles estavam mesmo se dedicando áquilo. Eles levaram seus equipamentos e foram muito bem preparados. O único despreparado ali... Era eu.

– E o terceiro passo...Matá-la. Como fazer isso? Alguma ideia? - perguntou Cal.

– Queimar. Esquartejar. Queimar. Enterrar.- respondeu Keny. - Respectivamente.

Calore balançou a cabeça e novamente todos voltaram a raciocinar em silêncio sobre aquilo. Eu me mantive calado, sem querer pensar.

– Perfeito. É uma ótima forma. - respondeu Heytor quebrando o silêncio. - Se isso não funcionar... Será o fim da humanidade.

– Basicamente. - disse Cal sério.

Eu ainda estava calado. Não sabia o que dizer nem o que pensar.

– Então... Alguém anotou tudo isso?

– Tudo anotado. - Keny respondeu Cal, lhe entregando uma folha com tudo o que foi dito.

– E agora? - eu finalmente abri a boca.

– É o fim da reunião. - Calore disse. - Amanhã, botaremos as ideias em prática.

A reunião acabou e o assunto também. Voltamos até Dhuly e todos nos comportamos novamente como se nada estivesse acontecendo.

Eu me sentia muito mais protegido com eles lá. Com toda aquela boa atuação, minha preocupação transparecia e eu ficava mais tranquilo.


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