Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 16
O pavor.




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Em mais uma tarde qualquer, enquanto eu lia o jornal sentado no sofá da sala, Dhuly apareceu toda animada e gritando.

– Pai! Aprendi uma coisa nova! Eu não sei bem o que é mas acredito que seja outra habilidade!

– O quê?! - eu logo levantei os olhos e a olhei fixamente.

Há muito tempo não fazíamos nada que tivesse algo a ver com nossos poderes de demônio. Éramos quase uma família normal. Aquilo me deixou muito empolgado. Queria ver mesmo se era verdade.

– Pois é! Vamos descer e lá eu te mostro.

Dhuly saiu correndo até o elevador. Nesse momento eu percebi que ela usava um vestido tão longo que eu não sabia como ela ainda não tinha tropeçado nele.

Segui Dhuly e descemos para a Sala de Testes. A sala que há anos ficou fechada e inutilizada.

Por mais que eu tenha esquecido meus objetivos com Dhuly, sempre foi animador ver que ela aprendeu algo sozinha.

Chegamos no andar de baixou e ela já saiu correndo, sorrindo bastante. Tutu pulou do bolso de seu vestido e correu atrás dela. Parecia animado também.

Entramos na sala e Dhuly me disse:

– Senta aí pai.

Avistei uma cadeira no meio daquele branco todo e sentei. Não sabia o que ela ia fazer. Apenas esperei, curioso.

Ela e Tutu conversaram alguma coisa baixinho, mas eu nem me atrevi a escutar para não estragar minha empolgação.

– Vamos lá! - ela disse.

Dhuly olhou para baixo, fechou os olhos, respirou fortemente três vezes e começou. Começou a falar palavras estranhas em uma outra lingua que eu não soube identificar. Seus cabelos começaram a voar como se houvesse algum vento ali, mas não havia.

Ela olhou para mim e abriu os olhos. Seus olhos estavam inteiramente brancos. Brilhavam. Ela ainda dizia algumas palavras até que parou.

Tirou o vestido na minha frente, olhando para mim com aqueles olhos. Eu não retirei o olhar de seus olhos momento nenhum. Preferi imaginar que era preciso tirar o vestido para mostrar a habilidade.

Mesmo com o olhar fixo no dela, Dhuly desapareceu no exato momento em que pisquei. Questão de milésimos de segundos. Sem deixar um rastro sequer. Aquilo era rapidez demais.

– Muito bom isso Dhuly! - eu a elogiei pela rapidez mais avançada.

– Obrigada. - ouvi um sussurro em meu ouvido direito.

Olhei para o lado e não a vi. Olhei para o outro e ela também não estava. Olhei para frente e lá estava ela. Inclinada, com os lábios bem vermelhos próximos a minha boca, como se fosse me beijar. Eu rapidamente me afastei.

– Me beije. - outro sussurro em meu ouvido.

Aquela era exatamente a voz de Dhuly. Minha filha. Como assim "me beije"? O quê estaria acontecendo?

– Me beije pai.

Os sussurros variavam de um ouvido ao outro.

Cheguei a sentir algo como se fosse um beijo no rosto. Molhado e quente.

– Me beije. - o sussurro foi mais alto.

Dhuly apareceu parada na minha frente. Olhando para mim sem mexer um músculo. Ela estava em pé, apenas de calcinha e sutiã.

– D-dhuly?

Ela pôs os braços para trás e em movimentos rápidos seu sutiã foi ao chão.

– O quê você está fazendo, filha?

Suas mão foram até as laterais da calcinha. Ela foi abaixando calmamente. Abaixando até que ela escorregasse aos seus pés.

– Me beije. - os sussurros continuavam, mas Dhuly estava de boca fechada.

Ela caminhou até mim, tentei botar a mão nos olhos para disfarçar, até que percebi que meus braços estavam algemados entre a cadeira.

– Me beije.

Ela foi chegando mais perto, eu já podia sentir seu perfume. Olhei para os lado, assim não a veria nua. Ela apareceu exatamente para onde eu estava olhando. Olhei para o outro lado. Estava ela lá de novo.

Haviam três Dhulys na sala. Três Dhulys nuas. Aquilo já não fazia o menor sentido. Estava passando dos limites.

– Dhuly, pare com isso. Não é esse tipo de comportamento que você tem que ter...

Antes que eu terminasse de falar fui surpreendido com um beijo. Um beijo de Dhuly. Um beijo da minha própria filha.

Os sussurros ficaram mais altos e mais contínuos.

Uma imagem apareceu a minha frente, naquela parece branca.

Na imagem eu estava com Dhuly nos braços e nós nos beijávamos como dois namorados. A imagem começou a se mexer, como um vídeo. Eu fiquei assustado com alguma coisa e larguei Dhuly. Ela me puxou pelo pé e me botou sentado em uma cadeira, com os braços algemados, assim como eu estava naquele momento.

O olhar de Dhuly no vídeo era maquiavélico. Não parecia mais a mesma. Não parecia a minha filha.

Ainda no vídeo, Dhuly apareceu com um facão. Ela sussurra a frase "me beije" para o "eu" do vídeo e eu balanço a cabeça desesperadamente em negação. Minha expressão era de pavor, pânico. Dhuly levantou o facão e passou a língua sobre ele, de baixo para cima, do começo ao fim. Antes de terminar, seu sangue começou a escorrer e sujar todo o local. Sua lingua ficou cortada ao meio. Ela não parecia se importar. Novamente ela disse "me beije" num tom mais alto.

Com o facão, ela foi descobrindo meu corpo. Passou a faca pelo meu rosto para que eu levantasse o pescoço. Inesperadamente e violentamente ela enfiou o facão em minha garganta.

Isso aconteceu a minha frente, no vídeo que se passava na parede, eu pude sentir a dor como se aquilo tivesse acontecido comigo mesmo. Olhei para o vídeo e eu não estava sangrando, somente me corroendo de dor e sem poder falar. Desviei o olhar daquela parede e me dei conta que o sangue estava em mim. Minha garganta estava com um corte gigante, eu não podia falar e o sangue espirrava para todos os lados.

A Dhuly do vídeo começou a rir. Não havia mais ninguém comigo na sala. A Dhuly verdadeira não estava lá.

Voltei a prestar atenção, com dificuldade para respirar.

Eu respirava com dificuldade no vídeo também, e Dhuly somente ria, lambendo meu sangue em seu facão. Em mais um golpe rápido, ela enfiou a faca em minha perna esquerda e retirou.

Eu gritei de dor. No vídeo e na realidade, como se fosse um espelho. Novamente vi o sangue escorrendo e o buraco que foi aberto. Meu corpo todo doía e a dor era muito intensa.

Não satisfeita, Dhuly posicionou o facão no lado do meu pescoço e começou a rodar, fazendo um corte circular. A ardência começou e eu comecei a suar frio na realidade.

Minhas forças foram diminuindo. Ela queria uma morte lenta. Queria me fazer sofrer. Mas por quê? Por que logo Dhuly? Minha filha que eu tanto amava...

– ME BEIJE!

A frase foi dita em meu ouvido e no vídeo. Bem alto e com um tom de raiva. Olhei para o lado e vi Dhuly com o mesmo facão do vídeo.

– D-dhu... - eu não conseguia falar devido a primeira facada em meu pescoço.

Ela começou a rir desesperadamente, do meu lado e no vídeo. O "eu" do vídeo tinha a mesma expressão que eu.

– Tchauzinho pai!

Ela disse e apenas fatiou meu pescoço, decepando-o.

Sem enxergar nada, respirando pelos poros, habilidade dos Demônios já que só morremos se formos apunhalados pelo coração, ouvi alguém me chamando.

– Pai? Pô pai, eu te trago aqui toda animada e você dorme?

Abro os olhos e lá está Dhuly, na sala de testes, com o longo vestido até os pés, me sacudindo e com Tutu em seu bolso. Eu, sentado em uma cadeira, sem as mãos algemadas e sem um machucado sequer.

– Estou enlouquecendo. - disse para mim mesmo.


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