Acho que deveria ter uma cadeira especial para mim naquela sala, já que as minhas visitas à diretora eram realmente frequentes. Não era uma aluna ruim, muito pelo ao contrário, era uma das mais brilhantes da minha turma - algo que Hugo questionava todos os dias, já que passava mais tempo dormindo ou na casa de Nick do que encima dos livros -. Acho que Minerva gostava da minha presença ali, ou talvez os cabelos ruivos e olhos azuis celestes de meu pai fossem atraentes demais para aquela senhora de quase 70 anos que nunca teve um marido ou alguém que a deixasse feliz e satisfeita - única explicação para aquele mal humor todo - já que o senhor Weasley era chamado ali todas as semanas, a maioria das vezes as quartas feiras, quando tínhamos aula de Educação Física

Aquela quarta não foi diferente.

Era quase cinco da tarde - podia estar dormindo! - e estava sentada naquelas cadeiras duras e pretas, a frente de Minerva que, depois do sermão de toda semana, nos ignorava completamente com o nariz enfiado atrás de um livro de capa preta - com certeza 50 tons de cinza pelos suspiros que ela soltava! - e ao lado de um James de olho roxo, nariz ensanguentado e uma bolsa de gelo que ele prensava sobre o queixo. Não olhava para mim e também nem esperava que o fizesse, já que fui eu quem o deixei naquele estado.

Então alguém deve estar se perguntando como uma menina baixinha e miúda como eu poderia dar conta de deixar James, meu primo que mais parecia um armário humano por causa dos músculos que ganhara sendo capitão do time de basquete de Hogwarts - eu realmente acreditava que ele aplicava alguns hormônios a mais porque aquilo não era normal! - e, provavelmente, o líder dos idiotas da nossa escola.

A resposta é bem simples: Trata-se de pura sobrevivência.

Cresci com os otários dos meus primos me prendendo pelo pé nas arvores do jardim da casa da nossa avó. Quando meu irmão completou 12 anos, papai o colocou em aulas de luta livre - super normal - e então Hugo passou a me ensinar. Tinha 10 anos na época e desde então, aprendi na pratica com os vários primos que tinha.

Claro que James poderia muito bem ter me socado a ponto de deixar-me inconsciente no chão. Não pense em momento algum que ele é um bom primo, apenas não quer parar numa cadeia ou acabar morto por Hugo - sim, meu irmãozinho é gigante e parece ser bem perigoso - então ele ficou na dele tentando me conter, o que não deu certo.

Duas batidas na porta me fizeram erguer os olhos e sair dos meus devaneios para ver papai entrando na sala, com meus padrinhos logo atrás. Tio Harry parecia realmente divertido com aquela situação enquanto tia Ginny me olhava com reprovação. Papai parecia esperar mais uma expulsão, elas eram constantes quando era mais nova.

O que? Sou uma pessoa que não leva desaforo para casa.

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"O que ela aprontou dessa vez?" Hugo estava jogando no sofá da sala, com as pernas para cima, um pacote de bolachas vazio sobre o peito e com o controle da televisão na mão, enquanto zipava os canais.

"Destruiu a cara de James." Papai respondeu, bufando alto enquanto sentava-se em uma das poltronas e me encarava.

Sabia o que isso significava, estava de castigo mais uma vez.

Puxando as pernas do meu irmão, me sentei ao seu lado. Ele rapidamente abaixou o volume da televisão, como se a bronca que Ronald Weasley me daria era mais interessante do que seus programas inúteis. Talvez fossem mesmo, já que Hugo era um desocupado da vida.

"Rose, você sabe que não pode sair batendo em quem vê pela frente, filha..." Papai começou a falar, com toda a calma que Deus deu para ele, como se eu fosse uma criança de 5 anos e tivesse pego os doces de Hugo. "Principalmente quando esse alguém é James. Tem noção do quanto Ginny vai falar nas minhas orelhas?"

Ouvi a risada do meu irmão e só então entendi que o motivo daquele circo todo na frente dos meus padrinhos, prometendo séculos de castigo, era só para tia Ginny não implicar mais fazia normalmente.

"Pai, James apostou com os amigos dele que passaria a mão na minha bunda e eu não bateria nele. Você não quer que a sua filha fique com fama de fácil não é?"

"Tipo a Lily Luna." Hugo completou rapidamente e baixinho, mais para ele do que para qualquer outra pessoa.

Segurei o riso, era engraçado o amor platônico não correspondido que ele nutria pela pequena Potter. Lily foi a única que conseguiu fazer meu irmão chorar e isso foi uma conquista e tanto. Eu realmente a admirava por isso.

"Não claro que não, só que..." Ele parou de falar quando o toque do seu celular começou a tocar. Rapidamente, se levantou da poltrona, saindo da sala antes mesmo de atender a ligação.

"Salva pelo celular, mais uma vez." O ruivo chato comentou, aumentando o som da televisão mais uma vez." Às vezes me pergunto de onde saí toda essa sorte, Rosie."

Dei de ombros, sorrindo satisfeita. Tinha me livrado do castigo e, provavelmente, ainda passaria o final de semana sozinha em casa, já que todas as vezes que o celular do papai tocava aquela hora...

"Hugo, se arruma. Vamos sair daqui 15 minutos." A voz grossa de meu pai foi ouvida na sala, enquanto seus passos pesados ecoavam na madeira da escada que levava ao segundo andar.

Papai e Hugo trabalhavam juntos sabe-se lá no que, onde ou com quem. Ninguém me contava muita coisa em casa, mas claro que tinha minhas suspeitas. Veja bem, meu pai é professor de histórias nas horas vagas em uma escola secundária, no final da rua - a mesma em que eu fui expulsa há dois anos atrás, por quebrar dois dentes de um menino, Mark, com um soco no meio da boca para ele aprender a ter respeito pelo próximo e tinha uma oficina mecânica no centro da cidade, onde ele concertava carros mas também desmanchava carros roubados - eu sabia disso porque era divertido ajudá-lo quando era mais nova. - e também tem esse emprego estranho com Hugo, o qual inclui armas que ele esconde na garagem, para que eu não saiba da existência, sem muito sucesso. Todas aquelas coisas legais que Hugo prometeu que me ensinaria usar um dia significava que o terceiro trabalho de papai não envolvia leitura para crianças ou jogar xadrez com os velhinhos em asilos. Talvez agente secreto do governo... Se bem que, isso seria realmente paradoxal.

**

"Sua mãe disse para você passar o resto da semana na casa dela, Rosie." Papai começou a falar, assim que entrou na cozinha, onde eu estava procurando algo para comer na geladeira.

Parei a minha busca impossível e ergui os olhos para o meu pai, enquanto escutava a risada baixa de Hugo.

"Sério? Posso muito bem ficar sozinha em casa ou talvez ficar na casa de Dominique e..."

"Ela pediu, filha. O que custa passar três dias na casa dela?"

"Você sabe bem o quanto custa." Comentei baixinho.

A lista de motivos para não ir a casa de Hermione era bem maior do que os motivos para ir: Fazer com que ela se sinta um pouco melhor pela bosta de mãe que foi comigo. Não fazia sentido para agradá-la.

"Pelo menos passe lá hoje." Papai suspirou cansado, já concluindo que era uma discussão em vão.

Balancei a cabeça em uma afirmação rápida, concordando de mal gosto. Talvez fosse lá para comer ou passasse de manhã (já que fui suspensa pelo resto da semana), quando ela provavelmente estaria sozinha.

"Comporte-se, voltamos até o final de semana no máximo." Ron disse, aproximando-se de mim e dando um beijo na minha testa.

"Tente não matar ninguém na minha ausência." Hugo passou por mim, bagunçando meu cabelo e foi atrás de papai.

Só quando ouvi a garagem fechado que sai da cozinha, já com o celular na mão e discando o número de Dominique.

"Meu pai foi viajar, onde vamos hoje?" Perguntei logo depois de seu alô.

Quase conseguia vê-la sorrindo.