Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 43
Parte 43




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Subimos para a parte mais alta da Cornucópia, os chifres, mesmo sabendo que Cato está lá. Mas se comparado aos monstros lá em baixo, ele é um problema bem mais fácil de lidar.
Katniss atira flechas em um deles que está tentando subir, quando sinto alguém me agarrar. O pânico toma conta de mim, pois sei que esse alguém é Cato. Tento a todo custo me livrar dos braços de Cato, que estão bem apertados em meu pescoço, prontos para agirem e me matar com um golpe fatal. Só que de repente me dou conta de que está jorrando sangue de minha perna. Levo minha mão, desajeitadamente até minha panturrilha, e tenho a confirmação, de que dessa vez, não há remédio da capital que possa me curar. Recordações terríveis me vem à mente, e eu sei que não serei capaz de suportar muito mais tempo sangrando. Preciso acabar com Cato, de alguma forma, o mais rápido que eu conseguir, para Katniss poder ir embora desse inferno. Ela, que só agora vê a minha situação, parece tão perdida quanto eu.
Cato começa a gargalhar, quando ela mira uma flecha em sua cabeça.

— Atire em mim e ele cai comigo.

Ele está certo. Katniss sabe disso também. Tento dizer para ela fazer isso logo. É a única chance que ela tem de ganhar. Mas não consigo dizer nada, pois Cato está me asfixiando, e só agora consigo entender o seu plano. Me matar assim, sabendo que Katniss não iria atirar nele, e depois matá-la. Os lobos ficam silenciosos, como se estivessem na expectativa, do que irá acontecer. Olho para o céu, sentindo uma dor lancinante em meus pulmões, minha perna, em meu coração. E então acontece. Uma ideia, se forma em minha mente conturbada, e se der certo, pode pôr fim de uma vez nisso. Levo minha mão ensanguentada até a mão de Cato, que está firmemente apertando meu pescoço, e faço um X, tentando dizer a Katniss, para atirar na mão dele. É uma probabilidade minúscula, mas pode dar certo. Katniss, que está focada em mim, entende rapidamente o que eu tento dizer, e atira sem hesitar. Como eu já esperava, ela o acerta, e por causa da dor, ele afrouxa seu aperto, dando a oportunidade de eu me jogar contra ele. Por um momento, penso que irei cair também, mas consigo me manter firme, enquanto ele se desequilibra escorregando em meu sangue no chão, e caindo da cornucópia. Katniss chega até mim, e nós dois conseguimos ver, os lobos, partindo insanamente para cima do corpo jogado de Cato.

Katniss me abraça forte, e eu quase não consigo acreditar que nós vencemos. Nós vencemos. Abraço ela com toda a força que ainda me resta, esperando pelo som do canhão. Dessa vez, não importa se eu tenha causado a morte de Cato, tudo que eu mais quero é ouvir esse som tão familiar, e ser levado desse lugar. Mas o som não acontece. Tudo o que ouvimos, são gritos, uivos, vindo de Cato, ou dos lobos. Me lembro da armadura que Katniss falou que ele provavelmente estava usando, e me conformo, que nossa volta para casa vai ter que esperar mais um pouco. Cato, está lutando com os animais, com uma ferocidade que eu nunca havia visto em alguém. Percebo que minha perna está sangrando ainda, muito, e não há nada que eu possa fazer para estancar o sangramento, pois abandonamos nossas mochilas no lago quando fugimos dessas criaturas. Já estamos quase a duas horas, ouvindo a luta que parece não ter fim, quando parece que ele foi derrotado. Mas ainda não escutamos canhão algum. Apenas os gemidos, cada vez mais fracos de Cato. Por mais que uma pessoa tenha sido horrível, não merece morrer assim. Me pego sentindo pena, compaixão, do terrível e brutal Cato. O sangue em minha perna, não para de jorrar, e eu me sinto, como quando estava escondido na lama. Uma sensação que eu não desejaria sentir, não agora que eu tenho a oportunidade de voltar para casa, com Katniss. Sinto que estou morrendo.

Katniss, parece ter se dado conta da gravidade do meu estado, e retira sua blusa, ficando só com a jaqueta. Está tão frio aqui. Mas não consigo argumentar nada, apenas deixo que ela faça o que pretende. Ela me deita, e em seguida, eu sinto ela apertando minha perna com a camiseta. Dói, mas eu nem consigo gritar, ou chorar. Sinto a força de meus membros indo embora. Eu tento me agarrar ao pouco de vida que resta em mim. O que me mantém acordado é olhar para Katniss, sabendo que eu consegui cumprir minha promessa.
Os gemidos de Cato, o rosnar dos lobos, tudo se confunde em minha mente tornando o cenário de minha morte, algo completamente assustador.

— Não durma — Katniss pede, enquanto se deita ao meu lado, tremendo de frio.

Juro que vou tentar, penso. Pois eu sei que se eu dormir, eu não vou mais acordar.

— Você está com frio? — pergunto, e minha voz sai quase inaudível.

Ela não responde. Considero isso como um sim. Consigo abrir minha jaqueta, e envolve-la em Katniss também. Esse mísero esforço me faz ficar sem ar. Mas ter o calor de Katniss irradiando pelo meu corpo, me faz tomar um novo folego, em busca de permanecer vivo. Meu corpo inteiro treme involuntariamente, devido ao frio. Talvez eu morra por esse motivo, não pelo sangramento.

— Cato pode ganhar essa coisa ainda — Katniss sussurra, em meio aos gemidos, suplicas e murmúrios de Cato agonizando.

— Não acredite nisso — eu digo, puxando-a para mais perto, tentando senti-la o máximo que posso, como se isso pudesse me manter vivo.

Depois de horas, ainda escutamos Cato agonizar. Chega a ser insuportável escutar uma pessoa sofrer assim. Mas os idealizadores jamais deixariam a última morte dos jogos, ser rápida. Esse está sendo o maior espetáculo já visto.

— Por que eles apenas não o matam? — Katniss pergunta, claramente indignada.

— Você sabe por que — respondo, e a puxo para mais perto, quase fundindo nossos corpos, de tão grudado que estamos um ao outro. É o que está me mantendo vivo.

Não sei dizer quanto tempo estamos aqui, e Cato ainda está vivo. Se eu pudesse fazer alguma coisa para acabar com seu sofrimento, eu faria. Não consigo mais suportar isso. Não consigo mais suportar também, lutar contra meu próprio corpo, tentando permanecer acordado, vivo. Acordo periodicamente com Katniss gritando meu nome, para que eu acorde. Não posso morrer agora, pois a expressão de desespero de Katniss, deixa claro que ela iria a loucura se eu morresse em seus braços, depois de os jogos estarem praticamente ganhos.

O sol começa a nascer, depois do que parece uma eternidade. É difícil acreditar que Cato ainda esteja vivo, pois ainda dá para escutar seus arquejos. No final das contas, o real pesadelo, está acontecendo agora. É uma tortura gigantesca para nós, o suplício de Cato.

— Acho que ele está mais perto agora. Katniss, você pode atirar nele? — pergunto.

— Minha última flecha está no seu torniquete — ela diz.

— Faça-a valer — digo, abrindo o zíper da jaqueta, liberando-a para esse ato de misericórdia.

Ela retira a flecha de meu torniquete, e aperta sua camiseta, já encharcada de sangue, o mais forte que consegue, em volta de minha perna. A dor não importa mais a essa altura.

Ela rasteja em direção ao limite da cornucópia, eu seguro suas pernas com as mãos, num último esforço. Quando ela atira, a puxo rapidamente de volta, com a força que consigo reunir.

— Você conseguiu? — sussurro.

O tiro do canhão é a resposta.

— Então ganhamos, Katniss — digo, me sentindo quase triste.

— Viva para nós — ela solta, sem uma gota de felicidade na voz. Um buraco se abre no chão, e os cães que restaram, entram nele e desaparecem quando a terra se fecha. Nada acontece a seguir. Nem o aerodeslizador aparece para levar o que sobrou de Cato.

— Hey! — Katniss grita. — O que está acontecendo?

— Talvez seja o corpo. Talvez tenhamos de nos distanciar — digo.

— Ok. Acha que pode conseguir chegar até o lago?

— Acho que é melhor tentar.

Conseguimos descer da Cornucópia, com muito esforço, e caímos no chão. Katniss me ajuda a levantar, e de alguma forma conseguimos chegar até o lago. A agua está gelada, Katniss faz eu beber, o máximo que consigo, em seguida ela faz o mesmo. Um tordo assobia, em seguida um aerodeslizador aparece e recolhe os restos de Cato. Lagrimas brotam dos olhos de Katniss, e dos meus também. Podemos finalmente ir para casa.

Porém depois de algum tempo, nada acontece.

— O que eles estão esperando? — sussurro, sem forças pelo esforço de chegar até aqui.

O sangue voltou a jorrar. Precisamos sair daqui agora, caso contrário eu sei que não resistirei.

— Eu não sei – ela responde, e uma lagrima rola em seu rosto.

Ela levanta, e anda até uma flecha, a que ela atirou em Cato e ricocheteou quando ele estava fugindo dos lobos. Mas quando está prestes a pega-la, a voz do locutor Claudius Templesmith explode pela arena.

— Saudações aos finalistas do septuagésimo quarto Jogos Vorazes. A mudança anterior foi revogada. Uma análise mais atenta às regras revelou que apenas um vencedor está autorizado. Que a sorte esteja sempre ao seu favor.

Fim. Eu olho imediatamente para Katniss, que me fita com descrença. Não sei como eu pude um dia acreditar que eu sobreviver era uma opção. Eles só queriam dar um grande show. E dessa vez, conseguiram. Não estou tão espantado, pois desde o começo eu sabia, que iria morrer, a única coisa que me importava era Katniss viver. O que eu não esperava, era ter de ser morto, por ela.

— Se você pensar bem, isso não é uma surpresa — digo, sentindo uma calma estranha.

Consigo me levantar, apesar da dor, quase me fazer desmaiar. Ando lentamente em direção a Katniss, retiro minha faca do cinto, e a jogo na agua. Katniss está com o arco carregado, sua última flecha. Mirando em meu coração. E então, me lembro, de quando me questionei uma coisa, antes mesmo de os jogos começarem oficialmente. Tenho a chance de saber a resposta agora. Mesmo sabendo, que não há muitas alternativas. Katniss me olha, fixamente. Meu coração dispara, e eu aproveito para olhar todos os detalhes da garota que eu amo. Se ao menos eu pudesse sentir seus lábios uma última vez. Meus olhos se enchem de lagrimas, enquanto eu me pergunto novamente, se ela teria coragem... Se ela terá coragem... De me matar.


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