Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 30
Parte 30




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Katniss retira minhas botas, minhas meias, e vai puxando lentamente minha calça. Sinto um calor subindo do meu pescoço para meu rosto, e não sei se isso é devido a vergonha que estou sentindo, ou se estou com febre. Certamente é pelos dois. Suplico mentalmente para que ela me deixe de cueca ao menos, e ela o faz. Não quero ver o estado de minha perna, mas quando olho para a cara que ela faz, não resisto e olho. Está bem pior, como se isso fosse possível. Minha perna está inchada, e do corte sai muito pus, e sangue. O cheiro que é o pior.

— Bem horrível, hein? — comento, enquanto a observo fixamente com medo de piscar, apagar novamente e talvez, não conseguir acordar.

— Mais ou menos — ela dá de ombros como se não fosse nada demais. — Você deveria ver algumas das pessoas que levam pra minha mãe das minas. A primeira coisa que se deve fazer é limpá-lo bem.

Ouvi dizer que a mãe de Katniss cuida de todos os ferimentos possíveis, qualquer pessoa que se machuque nas minas, é levada para sua casa. Mas não ouvi dizer a mesma coisa sobre ela. Não comento nada, torcendo para que ela realmente saiba alguma coisa sobre isso, como sua mãe. Quem sabe eu ainda tenha uma chance?

Mas, ela parece totalmente perdida e enojada. Quanto mais ela joga agua sobre minha perna, pior fica a dor e o estado do corte.

— Por que não deixamos respirar um pouco e então...

— E então você costura? — pergunto.

Chego a ficar com pena dela. Não há nada que ela possa fazer.

— Isso mesmo. Enquanto isso, coma.

Ela me dá alguns pedaços de pera seca, e volta para o riacho, para terminar de lavar minhas roupas. Eu como um pedaço, lutando contra o impulso de pôr tudo pra fora. E lutando mais ainda, para me manter acordado. Mesmo com um sol tão forte, sinto frio, muito frio. Fico pensando qual seria meu último desejo antes de morrer, se eu tivesse esse direito. Olho para Katniss, remexendo sua mochila, e percebo que a resposta está bem aqui, comigo. Meu último e único desejo seria sentir seus lábios nos meus. Mesmo sabendo não ser reciproco, só o fato de senti-los, me faria mais feliz do que já fui em toda minha amarga vida.

Ela volta, atordoada e começa a mastigar as mesmas folhas que usou em minhas picadas, e aplica em minha perna. O pus que já estava escorrendo, dobra a quantidade. É algo realmente nojento, me pergunto como ela está aguentando lidar com isso, que além de tudo, não deve ser um bom sinal.

— Katniss? — chamo.

Ela olha em meus olhos. E eu tomo coragem para dizer de uma vez.

— E quanto aquele beijo? – digo encarando-a.

Ela começa a rir.

— Algo errado? — pergunto, me sentindo um idiota.

— Eu... eu não sou nada boa com isso. Eu não sou a minha mãe. Eu não faço ideia do que estou fazendo e odeio pus — ela diz, um tanto descontrolada. — Ui! — ela resmunga enquanto aplica mais folhas. — Uuui!

— Como você caça? — pergunto, confuso.

— Confie em mim. Matar coisas é muito mais fácil que isso — ela diz. — Apesar de que, pelo que sei, possa estar te matando.

— Pode se apressar um pouquinho? — pergunto, pois isso está sendo com certeza mais difícil para mim do que para ela.

— Não. Cala a boca e coma suas peras — ela rebate, nervosa.

Como mais um pouco, e após várias aplicações, o inchaço parece ter diminuído, consequentemente a dor também.

— E agora, Dra. Everdeen? — pergunto ansioso para isso terminar logo.

— Talvez eu coloque um pouco da pomada pra queimadura nisso. Eu acho que ajuda com infecção, de qualquer jeito. E enfaixar?

Ela faz tudo isso, e a dor realmente diminui. O corte coberto em algodão e limpo, me faz sentir bem melhor. Porém minha cueca está num estado deplorável, encharcada com pus. Seria demais eu pedir para ela lava-la, mas ficar com isso, pingando pus, não vai ajudar muito. Ela puxa uma bolsa, e me entrega.

— Aqui, cubra-se com isso e eu lavarei sua cueca.

— Ah, eu não ligo se você me ver — digo, pois para quem acabou de remover um litro de pus de minha perna, me ver nu é só um detalhe.

— Você é exatamente como o resto da minha família. Eu ligo, tudo bem?

Ela vira de costas, enquanto com muito esforço consigo tirar minha cueca, e atiro a no riacho.

— Sabe, você é meio sensível para uma pessoa tão letal — comento, enquanto ela lava minha cueca. — Gostaria de ter deixado você dar um banho em Haymitch no final das contas.

— O que ele te mandou até agora? – ela pergunta.

— Nadinha — respondo. — Por que, você conseguiu algo?

— Remédio para queimadura — ela diz timidamente. — Ah, e um pouco de pão.

— Eu sempre soube que você era a favorita dele — digo, feliz pois minhas estratégias realmente deram certo, mesmo que tenham acabado comigo, de certa forma.

— Por favor, ele não suporta ficar no mesmo cômodo que eu.

— Porque vocês são muito parecidos —digo baixinho com medo de começar uma discussão. Minhas pálpebras estão pesadas, quero continuar conversando com ela, para me manter acordado, mas eu consegui mais uma vez estragar nossa conversa. Eu sempre estrago tudo, mesmo com as melhores intenções. Está ficando escuro, estou com frio, quero gritar para ela não me deixar partir. Ela está ficando distante. Os papeis se invertem, e agora eu preciso que ela me salve.

– Katniss, não me deixe – grito, mas percebo que o grito fica apenas em minha garganta.

Alguém balança meu ombro. Acordo assustado, acho que dormi, mas fico imediatamente grato por ter acordado.

— Peeta, temos que ir agora – Katniss diz, séria.

— Ir? — digo, confuso. — Ir para onde?

— Pra longe daqui. Corrente abaixo talvez. Para algum lugar em que possamos nos esconder até que você esteja mais forte.

Ela entrega minha cueca, e eu visto com dificuldade. Ela me ajuda a vestir o resto de minhas roupas, mas me deixa descalço para descermos pelo rio. No instante em que fico de pé e apoio minha perna no chão, sei que não vou a lugar algum. E que nada do que foi feito a tarde, adiantou.

— Vamos. Você consegue.

Tento com todas as minhas forças, mais sinto a vida esvair de meu corpo. Katniss está praticamente me carregando, depois de alguns metros, mas mesmo assim, sinto que vou desmaiar. Ela me senta e dá tapinhas em minhas costas, enquanto eu tento a todo custo puxar a vida de volta para o meu corpo. Ficamos ali, por um bom tempo, até que eu consigo me recuperar um pouco, ela me levanta e continuamos a caminhar. Ela me carrega, até uma caverna, e me ajeita lá dentro. Agradeço mentalmente que conseguimos um lugar para nos esconder, porque eu provavelmente não aguentaria chegar muito mais longe que isso. Está cada vez mais frio. Estou tremendo agora. Katniss cobre o chão da caverna com folhas e em seguida, me enfia dentro de um saco de dormir. Me recuso a comer, para sobrar alguma coisa para ela, prefiro ficar imóvel por causa da dor, e a observando para esquecer o quanto estou sofrendo. Ela tenta disfarçar a entrada da caverna com alguns galhos, mas em seguida destrói tudo.

— Katniss — eu a chamo, percebendo o quanto ela está frustrada com tudo isso.

Ela chega mais perto e me fita, enquanto retira meu cabelo da frente dos meus olhos.

— Obrigado por me encontrar – digo, sinceramente.

— Você teria me encontrado se pudesse.

Com certeza eu teria, penso. Afinal, eu daria minha vida por ela se preciso. Mas a urgência do momento não permite uma conversa longa sobre isso. Eu sei que vou morrer, e preciso que ela saiba de uma coisa.

— Sim. Olha, se eu não voltar... — eu começo, buscando as palavras certas.

— Não fale assim. Eu não drenei todo esse pus por nada – ela me interrompe, deixando transparecer sua preocupação.

— Eu sei. Mas só no caso de eu não... — eu tento, sem jeito, continuar.

— Não, Peeta, eu não quero nem discutir isso — ela quase grita, e coloca os dedos em meus lábios, para me silenciar.

— Mas eu...

E antes de eu dizer mais alguma palavra, ela se inclina sobre mim, e me beija.

Eu nunca pensei muito, sobre o que é de fato o amor. Para mim, amor é o que eu senti quando vi Katniss pela primeira vez, na escola. Mas aqui, agora, sentindo os lábios quentes dela contra os meus, eu o senti de verdade, passando pelo meu corpo, como uma corrente elétrica e parando em meu coração. Amor não é só um sentimento. O amor é algo muito mais forte, e só agora pude entender isso. Amor é o que impulsiona uma pessoa a viver. Desejei ficar beijando seus lábios para sempre, até que senti Katniss se afastando, fazendo todo o frio e dor voltarem. Nesse instante entendi que a única coisa que pode me salvar é o amor. O amor de Katniss por mim. E infelizmente eu sei que isso é algo que talvez nunca existirá.


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