Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 18
Parte 18




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Hoje é o dia das apresentações individuais. Estou nervoso. Quero impressiona-los, pois enquanto eu viver, vou fazer com que Katniss viva também. E conseguir boas notas nas apresentações individuais, chama patrocinadores. Quanto mais patrocinadores você consegue, mais tempo de vida você tem. É mais ou menos assim que as coisas funcionam.

Treinamos até a hora do almoço, sempre com a sombra de Rue. Haymitch vai ao nosso encontro, e nos dá mais instruções. Depois do almoço, ficamos reunidos numa sala, onde tributo por tributo era chamado. Primeiro os tributos masculinos. Sendo do distrito 12 ficamos por último. Só quando Rue é chamada, ficamos a sós, e paramos de fingir nossa simpatia um pelo outro. Katniss parou de fingir, na verdade, porque da minha parte, sempre será verdadeiro. Chamam o meu nome.

— Lembre-se o que Haymitch disse sobre ter certeza de jogar os pesos.

Aquelas palavras me pegam de surpresa. Não foi ela que disse que não precisamos fingir longe de outras pessoas?

— Obrigado. Eu irei — eu digo. — Você... atire diretamente.

Ela concorda com a cabeça. Conforme vou em direção a porta, sinto seu olhar sobre mim.

Chego até a sala de apresentações, ainda meio atordoado com as palavras repentinas de Katniss. E o que encontro quando chego, me deixa mais atordoado ainda. Os idealizadores parecem todos bêbados. Será possível? Eles nem repararam a minha chegada, estão conversando, rindo, alguns até cantando enquanto enchem e bebem rapidamente suas taças.

Tenho que me apresentar. Vou até a estação, onde há pesos enormes de metal de todos os tamanhos, formatos e quilos. Parece que faz tento tempo que não pego peso, que tenho um certo receio quando olho aquelas coisas. Pego primeiro uma espécie de bola de metal onde está descrito 30kg. Levanto sem dificuldades. Pego então uma outra bola, de 45 kg, e a arremesso. Estou bem orgulhoso de minha apresentação. Mas percebo que os idealizadores nem sequer viram. Eu necessito de uma nota boa. Tenho certeza que Katniss conseguira, mas eu também preciso. Pego então, um peso de 75 kg. Tenho medo de não aguentar, mas com a raiva que estou, eu aguento. Arremesso os 75 kg sobre uma arvore de mentira, montada numa floresta artificial. A árvore quebra, e faz um belo estardalhaço. Todos me olham. Fico com medo da reação que eles podem ter. Mas eles simplesmente sorriem, e voltam a fazer o que estavam fazendo. Beber, conversar. Dois homens aparecem e retiram a arvore que eu quebrei. Me considero dispensado. Saio da sala torcendo para que Katniss tenha uma apresentação melhor que a minha.

Vou direto para o elevador e aperto o botão do D12. Chego na sala, Haymitch e Effie me enchem de perguntas, mas eu não quero falar nada agora. Quero falar como foram as coisas junto com Katniss. Alguns minutos se passaram, quando Katniss entra rápido feito uma bala pela sala e vai direto para seu quarto. Haymitch a chama, mas ela o ignora. Eu levanto e penso sobre ir atrás dela, mas logo desisto. Justo hoje que ela deu sinal de que nem tudo é fingimento, não quero estragar as coisas, indo atrás dela. As vezes a gente precisa ficar um pouco sozinho.

Vou para o meu quarto, e deito em minha cama. Tento esvaziar a minha mente. Mas desde que fui sorteado, isso é uma coisa impossível de se fazer.

Alguém bate na minha porta. Acordo assustado. Quantas horas dormi?

Olho no relógio e percebo que pouco menos de uma hora se passou, desde a trágica apresentação. Tomo um banho rápido e desço. Cinna e Portia estão a mesa, e fico feliz em vê-los. Effie anda pra lá e pra cá, e Haymitch está bebendo algo que espero não ter um teor alcoólico muito elevado.

Katnis de repente aparece. Seus olhos estão vermelhos, ela deve ter chorado horrores. Mas o que aconteceu de tão grave lá embaixo para deixar ela assim? Ver ela desse jeito me doeu. Me fez lembrar daquele dia, da chuva, dos pães....

Tento apagar isso da minha mente e me sirvo com o jantar. Katniss toma sua sopa de cabeça baixa, mas eu a olho fixamente, esperando uma brecha para encontrar seu olhar. E acontece. Ela levanta um pouco a cabeça, e me olha bem nos olhos. Eu levanto as sobrancelhas, numa interrogação, pedindo para ela contar o que aconteceu. Ela apenas balança a cabeça e continua tomando sua sopa. Os adultos falam sem parar, mas nem tento prestar atenção na conversa. Minha preocupação está totalmente voltada para Katniss. Sempre esteve.

— Ok, chega de conversa fiada, só o quão ruim vocês foram hoje? – Haymitch dispara.

Eu tenho um sobressalto.

— Eu não sei se isso importa. Até o momento que apareci, ninguém nem se importou em olhar para mim. Eles estavam cantando algum tipo de canção de bebida, eu acho. Então, atirei alguns objetos pesados até que eles me disseram que eu podia ir. – minto, pois nem cheguei a ser dispensado.

— E você, docinho? — diz Haymitch.

Todos olham para Katnis, inclusive eu.

— Eu atirei uma flecha nos idealizadores.

Todo mundo para de comer. Eu quase engasgo. Onde ela estava com a cabeça?

— Você o quê? — Effie grita, com uma voz mais estridente que o normal.

— Eu atirei uma flecha neles. Não exatamente neles. Na direção deles. Como Peeta disse, eu estava atirando e eles estavam me ignorando e eu só... eu só perdi a minha cabeça, então atirei na maçã da boca daquele estúpido porco assado deles! — ela diz, quase apavorada.

— E o que eles disseram? — Cinna pergunta.

— Nada. Ou eu não sei. Eu saí depois disso.

— Sem ser dispensada? — suspira Effie.

— Eu me dispensei — ela responde.

Eu fiz quase o mesmo que Katniss. Queríamos um pouco de atenção. Mas acho que dessa vez ela ultrapassou os limites. Começo a suar só de pensar nas consequências que isso pode gerar a ela. E as pessoas a seu redor.

— Bem, é isso — diz Haymitch.

— Você acha que eles me prenderão? — ela pergunta, com o medo invadindo sua voz.

— Duvido. Seria um problema te substituir a esse ponto —

— E a minha família? Elas serão punidas?

— Não acho. Não faria muito sentido. Veja, eles teriam que revelar o que aconteceu no Centro de Treinamento para ter um efeito que valha a pena na população. Pessoas saberiam o que você fez. Mas eles não podem, visto que é um segredo, portanto seria uma perda de tempo. É mais provável que eles tornem sua vida um inferno na arena.

— Bem, eles já prometeram fazer isso conosco de qualquer forma — digo, para tentar anima-la, e também pelo fato de estar na arena já ser considerado um inferno.

— Verdade — diz Haymitch.

Katniss parece relaxar vendo que todos, menos Effie, não estão a recriminando. Haymitch volta a comer, embebedando sua carne no vinho, para o horror de Effie, depois começa a rir.

— Como foram as caras deles?

Katniss abre um meio sorriso, que me faz sorrir também, instantaneamente.

— Chocados. Petrificados. Uh, ridículos, alguns deles — ela ri. — Um homem caiu na tigela de ponche.

Todos nós gargalhamos, menos Effie, que está tentando esconder seu sorriso.

— Bem, eles mereceram. É trabalho deles prestar atenção em você. E só porque você vem do Distrito Doze não é desculpa para te ignorarem. — Effie diz, mas então olha ao redor, como um animal assustado. — Sinto muito, mas é assim que eu penso .

— Eu vou conseguir uma pontuação muito ruim — Katniss diz.

— Pontuações apenas importam se são muito boas, ninguém presta muita atenção em pontuações ruins ou medíocres. Pelo o que eles sabem, você podia estar escondendo seus talentos para conseguir uma pontuação baixa de propósito. Pessoas usam essa estratégia — Portia responde.

— Espero que seja assim que as pessoas interpretem o quatro que eu provavelmente conseguirei — digo. — E olhe lá. Sério, não há nada menos impressionante que assistir uma pessoa pegar uma bola pesada e jogá-la alguns metros. Uma quase caiu no meu pé. – digo isso, para tentar arrancar mais um sorriso de Katniss.

E parece funcionar. Ela solta uma risada tão sincera, tão inocente, que por um segundo eu desejei poder viver, para ser o motivo dessa risada mais vezes. Mas eu logo me lembro, que só um irá sobreviver. E não sei o que me deixa mais triste. O fato de saber que minha morte é iminente, ou que quando Katniss sobreviver, eu não poderei mais ser o motivo do seu sorriso.


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