O trem vai diminuindo sua velocidade, e de repente uma luz invade o vagão. Acho que chegamos. Katniss e eu vamos correndo para a janela, e tudo o que vemos é magnífico!
Eu sempre via imagens da capital pela televisão, principalmente durante os Jogos, já que éramos quase obrigados a assistir aquele show de horrores. Mas agora, com tudo isso diante de meus olhos, é tão diferente. Os edifícios, os carros, e até as pessoas daqui parecem uma explosão de cores, um arco-íris infinito. Completamente diferente do nosso distrito, onde tudo parece ser cinza, escuro.

Há um aglomerado de pessoas na plataforma esperando os trens dos tributos chegar. Eles parecem entrar em êxtase quando nos veem. Katniss logo se afasta da janela, ela parece assustada, enojada, com raiva de todas aquelas pessoas. Não é diferente para mim. Mas logo me ocorre uma ideia, uma estratégia. Se eu quero mesmo que a gente tenha alguma chance naquela arena, nós precisamos ser diferentes dos outros tributos, precisamos conquistar o povo da capital, conquistar patrocinadores, precisamos que eles torçam por nós. E então eu engulo todos esses sentimentos ruins que emergiram dentro de mim, e começo a sorrir e acenar para aquela multidão. Eles vão ao delírio com isso! Concluo então que essa será uma ótima estratégia, mesmo sabendo que Katniss pode passar a sentir por mim, o mesmo que sente por essas pessoas vazias.

Só paro com a atuação quando o trem entra na estação, bloqueando a visão da multidão. Quando me viro, Katniss está me olhando, incrédula. Decido que não iria adiantar explicar para ela porque fiz aquilo.

— Quem sabe? — digo encolhendo os ombros. — Um deles pode ser rico.

Ela então me olha, um olhar duro, frio, e nesse instante percebo que agindo assim, tudo que vou conseguir é que ela me odeie. Só espero que um dia ela saiba, que tudo o que eu fiz foi para mantê-la viva.