Recortes em Hogwarts. escrita por Mayumi Sato


Capítulo 2
1º Ano: Primeiro Episódio - Parte 02.


Notas iniciais do capítulo

Ou... "Como eu conheci as pessoas mais chatas do mundo inteiro(II)".



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O nosso visitante entrou na cabine, perguntando pelo seu sapo e me causando uma boa impressão imediata. A Neve, minha coruja, era uma traidora que estava dormindo em sua gaiola no momento em que eu mais precisava dela. O intruso, por sua vez, tinha um sapo. Um bem ativo pelo visto, uma vez que ele havia aparentemente fugido. Isso era tão legal! Eu comprei uma coruja porque elas são mais úteis e tal, contudo sapos inegavelmente também eram uma opção divertida.

O visitante tinha um rosto com traços grosseiros, cabelos compridos, castanhos e desordenados e olhos verdes vivos como aqueles garotos que sempre surgem com as piores ideias possíveis e causam dores de cabeça em seus pais. Ele parecia ter a nossa idade. Eu senti que nós poderíamos ser bons amigos.

– Não, nós não vimos sapo algum por aqui. – eu respondi com sinceridade e interesse – Você tem certeza que o viu passar para cá? Os meus olhos nunca perderiam algo assim.

Quando o garoto estava abrindo a boca para falar seja lá o que fosse, o Eldestein se adiantou a ele e interpelou com um tom muito horrorizado e várias notas acima do que havia utilizado em suas falas anteriores:

– Espere um pouco. – ele recuou no banco, com a boca parcialmente aberta em repugnância – Você quer dizer que há um sapo solto pelo trem?

Um sorriso surgiu imediatamente no meu rosto quando eu vi quão alarmado estava o jovem mestre.

– O quê? Você está assustado? – eu praticamente cantarolei essa questão, sentindo um deboche prazeroso se espalhar pelo meu sorriso. – Por causa de um sapo?

– E-Eu não estou assustado. – ele retrucou instantaneamente, contraindo suas feições, ofendido. A sua velocidade de resposta foi o seu maior erro. Ficou claro que ele não havia preparado uma desculpa a tempo. – Eu apenas estou...Hum. - ele pausou para engolir em seco e desviou seu olhar para baixo. Em alguns meses, eu descobriria que esse era um hábito dele quando ele mentia. Naquele instante, o nervosismo dele foi aquilo que o delatou. - Eu estou preocupado com as condições sanitárias desse trem!

Pfff! Que mentira péssima! “Eu estou preocupado com as condições sanitárias do trem ~”! Sério?!

– Há! Você precisaria viver mais dez mil anos para conseguir me enganar, jovem mestre! Eu vejo o temor por trás das suas lentes aristocráticas! - eu apontei orgulhosamente, com uma diversão maligna que eu transmiti por meio de um exageradamente falso ar condescendente. – Ohh! Quer dizer que o nosso elevadíssimo nobre teme um mero sapo? A mais digna figura da nossa sociedade e o maior exemplo para os seus súditos? Com medo de um sapo?

– Eu não estou apreciando o seu tom irônico, senhor Gilbert! - reclamou um irascível Roderich Eldestein. Era engraçado ver como ele não havia negado que estava com medo e como ele estava perdendo rapidamente a capacidade de me ignorar. Eu estava satisfeito com aquela reação e deixei de me focar no aristocrata.

Quando eu me voltei para o garoto novo que havia entrado para perguntar como ele havia perdido o sapo e para talvez trocar algumas risadas sobre todo aquele incidente, eu percebi algo extremamente bizarro. Os olhos dele estavam totalmente voltados para o jovem mestre. Eles haviam perdido o seu brilho meio selvagem de antes para adquirirem uma emoção mais confusa e delicada. Eu só posso descrever essa emoção como uma mescla de ansiedade, deslumbramento e medo. Ele também passou a remexer as suas mãos, entrecruzando seus dedos nervosamente.

Para dar o toque final, o rosto dele estava vermelho como se ele tivesse mastigado dez pimentas simultaneamente.

O que diabos havia com ele?

– Er... P-Perdoe-me! - ele gaguejou em uma voz mais fina e preocupada do que a primeira, inclinando-se na direção do aristocrata com a mesma cabeça baixa em submissão de um súdito implorando a piedade de um rei. - Eu me distraí e acabei o perdendo! E-Eu não queria causar qualquer incômodo!

Aquela transformação foi inesperada e incompreensível para o meu olhar inexperiente e inocente daquela época. Por que ele estava vermelho e se desculpando tanto? Por que ele estava prestando essa atenção toda ao jovem mestre? A minha impressão inicial de que aquele era um dos meus estava começando a se desfazer. Um garoto que ficava tão intimidado com alguém como Roderich Eldestein, dificilmente mereceria a honra de tornar-se amigo do incrível eu.

Por outro lado, eu não tinha muitas opções no momento, então ele podia servir.

– Ei, ei! Você não precisa se desculpar por assustar o senhor covarde por aqui! - eu intervi, lançando um extenso sorriso carismático para ele, em uma tentativa legítima de apaziguar os seus receios quanto ao aristocrata e encorajá-lo a se juntar a nós. Ele precisava ver que o Eldestein não precisava ser temido por ter um vocabulário extenso e uma face permanentemente séria! - Ignore-o, ignore-o!

– Não peça aos outros o que você não é capaz de fazer, senhor Gilbert. - foi a réplica sardônica do aristocrata. Hmpf! Ele era bem venenoso quando queria! Aquele esnobe!

Nós dois nos encaramos em um conflito silencioso, travando um duelo de olhares ressentidos que se encontravam como lâminas soltando faíscas ao se tocarem.

Qual foi a reação do garoto novo à nossa intriga? Vocês não vão acreditar.

Eu entenderia se ele tivesse sentido desconfortável. Eu entenderia se ele tivesse se sentido preocupado. Que diabos. Eu entenderia se ele ficasse pulando e gritando “Briga! Briga! Briga!” com entusiasmo. Nada disso foi o que realmente aconteceu.

Como posso dizer...? A melhor maneira de descrever a sua aparência naquele instante seria compará-la a de um homem recebendo uma oportunidade única na sua vida. Eu só pude entender o porquê depois que ele começou a falar e mostrou as suas reais e terríveis intenções.

– Eu estou vendo que vocês não estão se dando bem, não é? Que tal eu me sentar com vocês? - ele perguntou alegremente, sentando-se na cadeira do Eldestein antes que qualquer um de nós cogitasse em uma resposta. - Para aliviar um pouco as tensões?

Aliviar as tensões” uma ova. Cara, eu não podia mais tentar me enganar. Era óbvio que aquele garoto estava querendo desesperadamente se socializar com o jovem mestre. Ele mal havia respondido uma pergunta minha, contudo insistia em tentar iniciar um diálogo com o aristocrata ou pelo menos agradá-lo um pouco. A minha dúvida era... Por quê? Eu não quis falar com o Eldestein quando ele entrou na cabine e ele foi a minha única companhia naquela viagem! Havia algo de errado com aquele cara. Eu não estava mais satisfeito com a perspectiva de tê-lo na nossa cabine.

– Você não estava procurando pelo seu sapo? - eu perguntei com uma careta de “vá-procurar-pelo-seu-sapo-vá!-vá!”.

– Oh, ele aparecerá um dia! - o garoto juntou a palma das suas mãos com um pequeno sorriso que parecia tentar nos tranquilizar. Era estranho que ele estivesse nos acalmando quando era o sapo dele que estava desparecido. - O Verde-Limão é um mascote esperto!

Caramba, havia tantas coisas erradas naquela cena. Em primeiro lugar, quem diabos chama um sapo de “Verde-Limão”? Não era o nome menos criativo e mais idiota possível? Em segundo lugar, aquele menino não entrou na nossa cabine para procurar pelo mascote dele? Como ele havia desistido tão facilmente? Ele devia aproveitar para procurar a sua força de vontade e lealdade também. Elas estavam evidentemente perdidas por aí.

– Nós podemos mudar de assunto? - solicitou o Eldestein, apertando suas pálpebras fechadas com força e pondo uma mão na testa para encobrir seu rosto pálido e nervoso - Por favor?

Oficialmente aquele jovem mestre tinha horror a sapos. Eu registrei essa informação para usos futuros. Eu não sabia a que fim eu destinaria esse conhecimento, mas ele parecia ser valioso para um menino da nossa idade.

– Perfeitamente! - o garoto novo se animou com a ideia de conversar sobre outro assunto, embora não pelos mesmos motivos do Eldestein, eu pude intuir. - Eu fui entrando e nós não nos apresentamos um para o outro! Qual é o seu nome?

A-há! Eu sabia que ele estava tentando se tornar íntimo do jovem mestre! Tsk, tsk, tsk. Quanta ingenuidade da parte dele, achar que ele podia ir fazendo perguntas assim e ser respondido educadamente pelo meu super-hiper-mega-frio e individualista colega de cabine. O Roderich não quis conversar comigo. Por que ele ia querer conversar com outra pessoa naquele trem?! Simplesmente impossível.

– Pfff! Não tenha muitas esperanças, cara! Como se esse aristocrata fosse se apresentar tão facilmente! - eu ri desdenhosamente, cruzando os meus braços por trás da minha cabeça em uma postura despreocupada.

Você precisa extrair as informações de sujeitos como o Eldestein. Há toda uma técnica, todo um planejamento, toda uma arte para obter respostas de indivíduos determinados a não se socializarem. O nosso intruso com aqueles modos abobalhados e aquele gosto péssimo não tinha a menor chance de receber resultados melhores que os meus... Esse era o meu raciocínio.

Então para a minha justificada revolta, o Eldestein me observou pelo canto dos olhos de um jeito estranho e demorado, cujo significado eu não captei de imediato, voltando-se em seguida ao intruso para responder muito graciosamente:

– Muito prazer, o meu nome é Roderich Eldestein.

Huh...Ele havia acabado de...? QUÊ?!

Quê?! Quê?! Quê?!

Que diabos! Aquilo era sério?! Depois de toda a birra dele em se apresentar para mim, ele estava bancando o senhor cordialidade com aquele intruso?! Urghhh! Era óbvio que ele estava se vingando de mim com toda aquela pose de bom anfitrião! A forma como ele soltou um discreto bufar convencido, após se certificar de que a minha expressão estava grotescamente retorcida em uma mescla de atordoamento e indignação, era uma prova disso.

Cara, que grande babaca!

Por mais difícil que fosse esse reconhecimento, a minha sensação era a de que eu estava perdendo para ele. Afinal, apesar de estar ciente de que aquilo era uma vingança especificamente tramada contra mim, eu não pude deixar de me sentir meio humilhado ao vê-lo se apresentar tão polidamente ao estranho, depois de todas as minhas afirmativas de que ele era um sujeito inaproximável e da esquiva dele em relação a mim, a qual vinha desde os nossos primeiros momentos juntos.

O pior é que eu tinha certeza que quanto mais enfurecido eu ficava, mais ele se sentia satisfeito consigo mesmo. Então eu ficava ainda mais enfurecido por saber que ele estava se satisfazendo com a minha fúria e o ciclo continuava.

– O-O prazer é meu! - o garoto respondeu como se estivesse recebendo um prêmio. Provavelmente o prêmio de maior boboca do ano, foi o que eu pensei asperamente.

Como o Roderich queria apenas se vingar de mim e não tinha um interesse tão sincero pela pessoa ao seu lado, ele não se deu ao trabalho de iniciar um novo tópico, deixando essa tarefa para o nosso ansioso invasor.

– Então... - o intruso começou a balançar as pernas e fitar o chão distraidamente com um sorriso tímido. - em que casa em que você gostaria de ficar quando chegarmos em Hogwarts?

– Com certeza não é a Grifinória! - eu disparei ironicamente.

O aristocrata me fitou com reprovação instantânea.

– De fato, a Grifinória não é a casa do meu interesse. - ele concordou em um tom de máximo desprezo. Havia tanta rispidez nos seus modos que era quase divertido pensar que, no final das contas, ele estava concordando comigo. - Um bando de garotos agitados e estúpidos não seriam companhias adequadas para mim. - ele adicionou, encarando-me incisivamente para deixar claro que ele não estava se referindo somente aos alunos da Grifinória quando falava do grupo que seria incompatível com ele.

– É uma pena ouvir isso de você! - o intruso sorriu de uma forma que delatava que ele estava um pouco decepcionado, por mais que ele não quisesse demonstrar qual era o seu nível real de decepção.

A julgar pela contração involuntária de poucos segundos nas feições dele, eu diria que o seu nível de desapontamento era maior do que ele queria exibir. Todavia, ele já havia, pelo visto, adquirido informações o suficiente para saber que se ele não caminhasse nos trilhos certos, o Roderich rapidamente perderia o seu delicado fio de interesse por ele, e estava sendo cauteloso ao expressar suas opiniões.

– A Grifinória não me parece uma casa tão ruim! Assim como a Sonserina e a Corvinal, ela tem bastante força e personalidade! - pois é, ele tentou defender a casa, sabe-se lá o porquê, mas a conversa dele não convenceu nem um pouco. Ele estava ansioso demais para transmitir convicção. Se ele fosse um advogado e a Grifinória fosse sua cliente, ela teria sido trancafiada em Azkaban sem um segundo de hesitação. Ainda assim, eu dou o crédito a ele por continuar tentando manter um diálogo com uma pessoa cuja expressividade na conversa poderia ser superada por uma pedra. - Eu só teria problemas com a Lufa-Lufa! É uma casa meio boba, não acha?

Lufa-lufa... A casa da lealdade e do trabalho duro. Há. Não era à toa que aquele garoto era incompatível com ela.

– Bom, eu não acho que você terá que se preocupar com isso. - eu revirei os olhos, e curvei um dos cantos da minha boca em desprezo. - A julgar pela forma como você praticamente avançou no aristocrata, eu aposto minhas fichas que você irá para a Sonserina.

Eu não vou dizer que eu não intenções de ataque com aquela última linha, contudo eu nunca poderia imaginar que ela tivesse um grau de impacto capaz de enfurecer em poucos segundos um completo estranho. Era apenas uma declaração implicante, não uma declaração de guerra! Todavia, essa não foi a perspectiva do nosso visitante-não-convidado, tendo em conta que ele se tornou bastante enérgico de repente e se levantou da sua cadeira como se estivesse prestes a me aparatar para fora do planeta.

– Você sempre é tão inconveniente?! - ele gritou com os punhos firmemente cerrados e as bochechas vermelhas de raiva e constrangimento.

Sim. - eu e o jovem mestre respondemos em uníssono, não alterando um centímetro das nossas expressões.

Nossa! O aristocrata mal piscou antes de responder! Mas como eu poderia culpá-lo se eu havia respondido em sincronia perfeita com ele? Para ser sincero, eu estava começando a me tornar um tanto entretido com a personalidade daquele jovem mestre. Ele podia ser extraordinariamente chato em certos aspectos, contudo eu tinha que admitir que ele era um pouco...intrigante.

– Sabe quem eu acho que irá para a Sonserina? - o visitante berrou, acabando com o meu rápido instante de distração contemplativa com o aristocrata, e apontando o dedo para o meu peito - Você! Ela não é a casa das pessoas que são más?!

Ah, quão saborosos eram os sons de argumentos PÉSSIMOS. Era sempre um prazer escutar críticas que podiam ser esmigalhadas ou atiradas na cara do meu oponente. Há, há! Aquele estranho precisava de mil anos de preparação, caso quisesse se tornar um inimigo digno de alguém incrível como eu.

– Sim, claro! - eu sorri amplamente, abrindo os meus braços e os meus olhos com um ar forjado de realização - O que você está dizendo faz todo sentido! Hogwarts criou uma casa especialmente para estudantes maus! - eu exclamei como se aquela fosse a descoberta do século - O chapéu seletor dirá algo como “Quem sabe você pertença a Grifinória, onde encontrará pessoas que não tem medo de sapos. Se a Lufa-Lufa for seu lugar, você encontrará pessoas que não avançam em cima de desconhecidos e deixam seu próprio mascote à solta em um trem. Ou você pode preferir a Corvinal, onde encontrá certos aristocratas que se importam demais com livros. E se você a Sonserina pertencer, encontrará super-vilões, planejando destruir o mundo.”.

– Oras, seu...!

Para o meu azar, o intruso foi poupado da humilhação de pensar em outro insulto facilmente rebatível, graças a entrada de uma senhora sorridente com um grande carrinho repleto de guloseimas em nossa cabine.

– Crianças, nós estamos quase chegando em Hogwarts. Vocês querem comprar seus últimos doces?

Conflitos à parte, doces eram uma prioridade máxima, então nós cessamos fogo temporariamente.


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Notas finais do capítulo

Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer imensamente os reviews que recebi até agora! Eles me deixaram muito feliz e pretendo respondê-los amanhã!

Em segundo lugar, eu quero constar que essa é a minha fic casual a ser postada durante os meus bloqueios parciais de escrita, então não se assustem com o formato estranho dela! Ela é mais uma distração e um lugar para colocar meus headcanons de Pottertalia do que qualquer coisa, contudo eu espero que ela possa diverti-los de qualquer modo!

Por favor, continuem a acompanhar, a apreciar e comentar essa coletânea! Ainda há tantos momentos que eu quero escrever nesse universo alternativo! Nós estamos apenas no começo!^^

PS: Um pouco de incentivo seria super-positivo agora, pois eu me sinto como a pior escritora do universo quando estou no meio de um bloqueio parcial de escrita. Honestamente. -_-º



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