1. Compras

Uma mão agarrou um saco de arroz da prateleira e um segundo depois, outra mão pegou outro saco de arroz da mesma prateleira, mas de marca diferente.

-Hm...

Olhos avermelhados olharam atentamente os dois sacos, pousando de um nome para o outro. Até que a dona dos olhos sorriu e colocou o primeiro saco de volta na prateleira. Ela se virou para o carrinho de compras, pôs o saco de arroz e parou de repente.

Encarou um pacote de batatas do qual não se recordava de ter colocado ali, levantou uma sobrancelha e simplesmente devolveu o pacote ao seu devido lugar. Segurou a barra do carrinho e caminhou pelas prateleiras.

-Deixa eu ver... – A morena tombou um pouco a cabeça. – O próximo era... Ah!

Apertou o passo e virou o carrinho com um pouco de dificuldade – ele estava quase cheio e por isso estava relativamente pesado –, encarou a nova prateleira que surgira ao seu lado e sua mão alcançou o leite. Quando foi colocá-lo no carrinho, seus olhos avistaram dois queijos, um em cima do outro, postos do lado das caixas de suco.

Ela não os tinha colocado ali.

Takane soltou um longo suspiro. Colocou o leite no carinho e agarrou os dois queijos, colocou ambos nos seus lugares e voltou para o carrinho. Ela tinha de ser rápida, só faltava mais uma coisa para a lista.

Correu até a próxima ala e avistou rapidamente o molho que estava em falta e precisava comprar, ela correu até ele, agarrou a lata e voltou para o carrinho de ferro.

E parou.

Parado inocentemente do lado da caixa de leite, estavam dois sacos de macarrão.

Seus dedos apertaram a lata de molho.

-Haruka! – A morena exclamou, levemente irritada.

Alguns segundos depois, um jovem alto apareceu de trás de uma prateleira. Ele tinha um sorriso sem-graça e não a olhava nos olhos.

-O– O que foi, Takane..? – Perguntou.

-Dá para parar de colocar coisas que não precisamos comprar no carrinho?!

-M– Mas!! – Ele correu até ela. – Elas são tão gostosas!

-Nós temos isso em casa! – Ela cruzou os braços.

-... Elas acabam muito rápido...

-Isso porque você não tem autocontrole. – Ela murmurou e o encarou, mas percebeu que não devia ter feito isso. O jovem de cabelos claros a encarava com uma expressão triste, com a franja cobrindo parcialmente seus olhos escuros. Ela sentiu a culpa acertar seu coração como uma flecha e suas bochechas esquentaram.

-Aaah, tá bom! Pode levar, mas só o macarrão!

A expressão de Haruka se iluminou e ele sorriu.

-Ok! Obrigada, Takane!

-T– Tanto faz...

Ah, era uma fraca, mas bem, alguns Yens a mais não fariam muita diferença mesmo.

2. Cozinhando

-Precisa de mais sal... – A morena murmurou para si mesma após tirar a colher da boca. Ela encarou a panela a sua frente. – Ou talvez... Um pouco de orégano..?

Ela ainda achava um pouco de graça. Nunca tivera vontade de cozinhar e sempre achou que nunca conseguiria. Nas vezes que tentara cozinhar com o auxílio de Ayano, os resultados nunca haviam sido muito bons. Sua amiga insistia que ela só precisava de treino.

-É.. Acho que orégano ficaria bom. – E afastou-se do fogão para pegar o tempero.

Pelo visto, ela também passava a imagem de alguém que não gostava de cozinhar. Chegou a essa conclusão depois da expressão surpresa que Kido lhe dera quando pediu para que a ensinasse a cozinhar.

-Hm! Ficou bem melhor. – A morena sorriu depois de provar o que preparava pela segunda vez.

Foi uma surpresa, realmente! Como ela aprendera tão rápido e ficara tão boa nisso, claro que ainda não era tão boa quanto Kido, mas tinha melhorado bastante! Ela até tinha mais liberdade e confiança para experimentar nos seus pratos.

Enquanto terminava de preparar, sentiu dois braços envolverem sua cintura e um queixo repousar em seu ombro. Takane virou um pouco o rosto e seus olhos avistaram cabelos claros.

-Que foi? – Ela levantou uma sobrancelha, sorrindo um pouco. – Sentiu o cheiro, é?

Haruka assentiu com os olhos vidrados na panela a frente deles.

-Ainda não tá pronto.

-Ah... – Ele tombou um pouco a cabeça.

Takane ainda se perguntava de onde surgira seu interesse em aprender a cozinhar. Será que havia mesmo um motivo?

-Mas pode provar, se quiser. – Ela encheu um pouco da colher com o ensopado que fazia e levou até perto da boca dele. A morena viu os olhos do jovem brilharem por um segundo antes de abocanhar a colher. – Ei, calma!

O jovem de cabelos claros saboreou a colherada e engoliu, sorrindo durante todo o processo.

-Está ótimo!

-Mesmo?

-Sim!

Bem, tinha um motivo sim.

-Você gostou mesmo? – Ela tinha adquirido mais confiança, mas ainda se sentia meio insegura algumas vezes.

O jovem olhou para ela e sorriu mais.

-Claro! – Seus olhos escuros encararam os avermelhados dela. – Eu amo a comida que você prepara, Takane!

E talvez, só talvez, ela estivesse olhando para ele naquele momento.

-Hm. – A morena piscou algumas vezes antes de sorrir um pouco mais abertamente.

3. Noite de Filmes

-Um filme de terror? – O jovem engoliu em seco.

-Sim, ué. – A morena concordou enquanto colocava o DVD no player e ligava a TV com o controle. – Você disse que não tinha problema, não é?

-Bem, sim. – O que era verdade. Haruka não costumava ter problemas com filmes de terror, ele não sabia se era porque ele realmente não tinha medo ou se era porque os filmes não pareciam realistas o suficiente para ele. Takane por outro lado, já era outra história... – Mas e você?

Ele viu a jovem tremer um pouco e ficar parada. Na mosca.

-E– Eu vou ficar bem! – Takane se levantou rapidamente e caminhou até ele. –E além do mais, esse tipo de filme não dá medo mesmo!

Haruka levantou uma sobrancelha. A morena estufou as bochechas.

-Que é?

-Nada. – Ele suspirou e sorriu ao estender os braços para ela. A jovem bufou e sentou no chão, depois se encostou ao peito dele e deixou que o mesmo colocasse os braços ao redor do seu pescoço. – Pode começar.

-Ok. – Ela assentiu e apertou o play.

O filme era bem... Intenso, para dizer o mínimo. E sanguinolento, com muitas mortes. A temática também era bem sombria e os efeitos especiais tinham sido muito bem feitos. O jovem estaria mentindo se dissesse que não se arrepiara e até tomara alguns susto com o decorrer do longa-metragem.

Takane, por outro lado...

Ele olhou para baixo. A jovem estava com o rosto encostado em seu peito, sua mão agarrava sua blusa com força e ela tremia, bastante.

Haruka ainda se perguntava como ela tinha medo desses filmes, mas jogava um jogo como Dead Bullet.

-Podemos parar se você quiser. – Ele falou suavemente enquanto acariciava a cabeça da jovem. Takane moveu a cabeça e ele pode ver suas bochechas coradas.

-E– Eu não estou com medo, ok? – Ela resmungou. O jovem riu um pouco e pegou o controle para desligar a TV.

-Certo, certo. – Ele deixou o controle ao seu lado e a abraçou, ainda usando uma das mãos para acariciar sua cabeça.

-Ei. – Takane chamou.

-Hm?

-N– Não é que eu esteja com medo, tá? – Ela fungou. – Mas podemos ficar assim mais um pouquinho?

O jovem sorriu e apoiou seu queixo na cabeça dela.

-Claro.

4. Hora de Dormir

Ele abaixou seu livro e seus olhos escuros encontraram a figura dela. Estava de frente para o espelho da cabeceira e encarava a si mesma com os olhos semicerrados pelo sono. Cobriu a boca e soltou um bocejo antes de suspirar. Levou suas mãos até seu cabelo e desmanchou o seu fiel penteado que mantinha suas mechas escuras presas as suas laterais.

Observou como elas caiam até um pouco depois de seus ombros, mesmo que Takane sempre cortasse seu cabelo, ele havia crescido mais um pouco nesses últimos meses. A jovem passou seus dedos por eles para soltá-los e assentiu.

Depois prosseguiu em tirar sua blusa e no mesmo minuto Haruka rapidamente cobriu o rosto com o livro, não importava há quanto tempo estivessem juntos, ele não conseguia evitar de se sentir um pouco envergonhado em momentos como esse. Quando se acalmou, baixou o livro no momento que a jovem vestia a blusa branca – que anteriormente era dele – e que ficava um pouco grande demais nela.

Takane suspirou e tirou a calça antes de chutá-la para perto do cesto de roupas sujas que ficava no canto do quarto. Ela se virou e agora estava de frente para ele.

A camisa era mesmo grande demais e deixava um de seus ombros à mostra, ela balançou um pouco, quase perdendo o equilíbrio, mas conseguiu se manter de pé. Piscava com dificuldade devido ao sono e deixou sua cabeça tombar um pouco para o lado.

-Haru... Ka?

O jovem riu um pouco e deu leves tapinhas no lugar ao lado do seu na cama.

-Vem, Takane. Tá na hora de dormir.

A jovem assentiu e caminhou até a cama, mas ao invés de dar a volta para deitar em seu lugar, ela subiu na cama e engatilhou por cima dele para chegar lá. Entretanto, no meio do trajeto, acabou perdendo equilíbrio e caiu por cima do mesmo.

-Ah! – Ele rapidamente tirou o livro para que não a machucasse e olhou. – Takane? Tudo bem? Takane?!

Mas a morena já estava no mundo dos sonhos.

Haruka piscou e suspirou.

-Você ficou jogando direto de novo, não foi? – Ele a segurou pelos ombros e a ajeitou numa posição que lhe fosse mais confortável. Depois desligou a luz e deitou ao seu lado, com os braços em volta da mesma.

-Tal... Vez... – Murmurou.

O jovem sorriu.

-Boa noite, Takane.

A resposta foi um resmungo e a jovem se aproximar mais dele.

5. Fins de tardes

A jovem abriu seus olhos de repente e piscou várias vezes depois. Olhou em volta e suspirou.

-Ah... Foi só um pesadelo. – Sussurrou para si mesma e encarou a janela onde as luzes alaranjadas da tarde começavam a adentrar a na pequena sala. Sentiu a brisa que saia pela fresca da janela passar por seus cabelos e respirou fundo.

Então sentiu algo a levantar levemente e abaixar, quando olhou para abaixou, sentiu seus músculos relaxarem ao ver a expressão serena de Haruka ao dormir.

Parece que ambos haviam dormido no sofá por algum motivo, Takane olhou para o lado e avistou dois controles e a tela da TV ligada.

-Ah, é verdade. Estávamos fazendo uma maratona de jogos. – Ela bocejou e olhou de novo para o rosto do jovem embaixo de si. – Mas como acabamos dormindo assim, eu não faço ideia.

Ela observou a respiração do jovem parar por um segundo e depois voltar normalmente. Soltou um pequeno sorriso e tomou a liberdade de passar suas mãos pelos cabelos claros – cor com a qual ela já estava começando a se acostumar. Sentia falta dos cabelos castanho-escuros, mas bem, até que aquela cor combinava com ele também.

Deu maior atenção ao seu tato, em sentir como os fios eram sedosos e em como sua pele era macia e quente. Seu sorriso aumentou um pouco mais, mas seus olhos tinham um brilho um tanto triste. Lembrou-se da época que não conseguia sentir nada, que tudo era vago e frio.

Balançou a cabeça e acariciou a bochecha do jovem, sentindo como aquela sensação ruim e o brilho triste em seus olhos se esvaindo junto com o vento que passava pelo quadro.

Ela estava vivendo o presente agora, o passado não importava mais.

E Takane não podia estar se sentindo mais calma e feliz como estava agora.

Levantou-se um pouco e se inclinou para frente, chegou bem perto do rosto do jovem e então plantou um beijo em sua testa.

-Durma bem, Haruka.