Posso Ser Sua Estrela? escrita por Luana Rosette


Capítulo 6
Reconhecimentos




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- Tem certeza de que é isso que você quer?

- Quero saber de tudo

- Por isso pergunto se é isso o que quer.

Sentado a algumas horas na sala de Sirius, encaro meu anfitrião, determinado, enquanto ele tentava me prevenir.

A casa de meu amigo estava quase vazia, já que até o final da semana, terminaria a mudança em que se encontrava ainda no meio Finalmente Black conseguira o milagre de convencer Lucius a morarem juntos, imagino quanto tempo Malfoy vai agüentar.

Mas não foi por isso que vim aqui.

- Quero saber, e sei que só você pode me ajudar com isso.

Faz pelo menos dois meses que Harry mora comigo, e tudo o que sei dele é que se chama Harry, e isso por que eu lhe dei esse nome!!

As coisas com ele foram se ajeitando aos poucos em uma rotina confortável.

Eu desde o começo mostrei onde cada coisinha ficava, que produtos eu usava para limpar, como eu limpava, e no que poderia tocar e no que não.

A tudo o que disse ele apenas sorria.

E isso me deu um calafrio.

Em resposta a essa pequena aclaração de como as coisas funcionavam ele se auto proclamou o “dono do lar”.

Não me deixava mais sequer tocar nos trabalhos domésticos.

Cozinhava...

Limpava...

Costurava...

Arrumava...

No começo o safado fingia manter as coisas como eu esquematizadamente colocava, mas percebi que com o tempo as coisas mudavam de lugar, ou pequenos processos eram feitos de maneira diferente.

Às vezes eu reclamava, às vezes não. No fim o resultava era o mesmo

Ele sorria, (eu já começava a me acostumar com aquele sorriso bobo) e falava calmamente

:

- De tempos em tempos, temos que mudar um pouco as coisas de lugar para sentirmos que a casa está viva.

Por um lado eu ouvia aquilo como mais uma das bobagens dele, mas realmente com o tempo tudo parecia ganhar certa vida.

As fragrâncias que mudavam a cada limpeza com produtos diferentes.

O tempero diferente de que eu sempre comia antes, tinha a “mão” do garoto neles agora.

As cores de minha sala formavam um panorama diferente com as flores que ele trocava diariamente e com os moveis que movia.

Ele me puxava pelo braço às vezes e me pedia para ajudá-lo em algumas mudanças.

E com isso nos perdíamos nessa vida domestica.

A sensação de deja vi que tinha em minha vida sumia aos poucos. Era como se Harry corresse de um lado para o outro fazendo de tudo para que tudo ganhasse mais cor ao meu redor.

Mais vida.

Ele também tinha sua privacidade, é claro, seu quarto vivia trancado, ao ponto que hoje em dia não sei bem o que o meu hospede fez dele. E quando tive coragem de perguntar, ele me olhou de uma maneira que um menino de 15 anos (idade que eu suponho que tenha) não deveria olhar e diz:

- Gostaria de conferir?

E apesar de eu saber que a insinuação em sua voz era apenas uma brincadeira, não pude evitar me sentir nervoso. EU, depois de tudo o que já fiz e desfiz, fiquei nervoso com uma brincadeira de uma criança.

Simplesmente depois disso desistir em sequer pensar em adentrar os territórios de “estrela”.

Me contentava em apenas me preocupar com sua saúde.

Ele ainda não aceitava a se alimentar direito, e o pouco que comia era com uma tremenda cara de desagrado, não me admira que ainda seja tão magro.

Sempre que tinha pequenos ataques de fraquezas aproveitava para fazê-lo engolir alguma coisa.

Mas tenho impressão que ele anda vomitando, ou ao menos é o que parece pelos sons que ouço de seu quarto...

Posso parecer uma mãe coruja, mas a idéia de ter um adolescente anoréxico em minha casa não me agrada.

Ainda mais se for o MEU adolescente.

E nem tudo era tão normal.

Ele voltou algumas vezes a fazer aquela coisa esquisita de contar, e sempre alguma coisa acontecia.

Como quando o levei para fazer compras no supermercado, estava com pressa, pois precisava voltar rápido para casa e esperar uma ligação do trabalho, mesmo de férias parece que eles não podem ficar tanto tempo sem mim por perto.

Procurava com certa raiva o cereal que sempre comprava, mas apenas havia outras marcas aonde eu olhava.

- Droga – eu resmungava rabugento enquanto meus olhos voavam pelas prateleiras – não consigo achar.

- Então pegue de outra marca – Harry colocava as mãos atrás da cabeça despreocupado. – não custa nada mud...

- E não me venha com essa ladainha de “mudança é sinal de vida” você pode colocar o meu sofá no teto se quiser, mas a marca do meu cereal ninguém toca.

De certo, fazia um mês que eu não comprava cereais, e comprar qualquer outra marca não sendo a que eu queria, quando esta não saia da minha cabeça, seria impensável.

- Era apenas uma sugestão – ele diz de maneira madura como se o pirralho fosse eu. Só por que eu queria, por que queria o meu cereal – mas se você faz tanta questão – Harry se vira para mim, me faz me virar para ele também e com seu eterno sorriso começa – 1, 2, 3, 4,5, 6, 7, 8, 9, 10 – estende a mão para o lado na prateleira dos cereais de uma outra marca sem sequer olhar.

- Eu disse que queria o cereal apenas se fosse... – mas me detenho quando a mão do garoto ergue o que pegou e o leva até a altura dos meus olhos -... desta mesma marca.

Ele me da às costas e vai na direção dos “frios”. E eu olho para onde ele havia tirado o pacote, havia apenas cereais de outra marca.

- Mas como...

Sem contar o fato de que nem por um segundo eu disse o nome da marca que queria.

Também teve um episodio estranho no transito.

Harry só sai de casa se for de carro, ele nunca saia à pé, eu não me queixava mais, não era como se ele ficasse fazendo birras como na primeira vez, ele apenas se resignava a ficar em casa se não fosse ser uma saída com o carro.

Um dia, no meio do transito, todas as ruas estavam impossíveis. Buzinas, irritação, o cheiro da fumaça. Um verdadeiro caos. E tudo o que Harry fazia era cantarolar olhando pela janela.

Dado um momento ele olhou para mim e disse.

- Você parece irritado.

- Pareço? – Ergo uma sobrancelha irônico.

- Hn... Certo, não me importo em resolver.

Olho ao redor.

Todas as ruas ainda estavam intransitáveis, e até esse momento ele havia feito o que eu sabia o que faria, mantive meus olhos fixos à frente esperando que algo acontecesse como sempre acontecia. Por isso eu só pude ouvir quando ele começou a contar.


E nada aconteceu.

Sorri vitorioso para o lado e o mesmo sorriso vi estampado na face de Harry. E ele apontava para um pouco mais ao lado, em uma das ruas mais estreitas que antes estava tão parada quanto às outras e agora estava em movimento.

- Isso não se chama milagre – resmunguei enquanto mudava o percurso para a nova rota – isso se chama atalho.

- Para mim é a mesma coisa – responde risonho.

Sim, coisas desse tipo sempre aconteciam.

Pequenas, concordo, mas ainda assim estranhas.

Com o tempo fui percebendo que realmente gostava dessa nova vida que Harry me dava.

Meus amigos acabaram o adotando também, às vezes apareciam para conversar não só comigo, mas com o pirralho, e da primeira vez que vieram para minha casa e viram as mudanças feitas não puderam evitar de sorrir.

- Nossa – Sirius como sempre e o primeiro a se manifestar – parabéns Harry, finalmente essa casa não parece um laboratório.

- É – Ninfadora olhava com carinho para o garoto – agora parece um lar.

Dois meses, apenas dois meses e tudo pareceu mais doce.

Harry não mudou, por mais dias que passassem a mesma atenção que me dava no inicio era a mesma que me deu hoje de manhã no café.

E sabia que seria assim no próximo, e no próximo dia que viessem que estivesse ao meu lado.

Mas mesmo assim não muda o fato de que não sei nada dele.

Ele insistia na historia absurda de seu uma estrela, e às vezes eu até me pegava acreditando. Os de mais pareciam não ligar muito quanto a isso, segundo eles, enquanto ele continuasse a me mudar tão positivamente, não fazia diferença.

Mas para mim faz.

- Eu quero saber tudo – insisti – tudo o que você descobrir dele.

Sirius suspirou desconfortável, e entendo o porque. Ele foi o que mais se encarinhou do garoto entre meus companheiros, mas minha amizade com ele é tão antiga que ele não poderia se negar a aceitar o pedido.

- O que você tem para começar?

- Nada, por isso estou pedindo a sua ajuda.

Se formos falar no mundo dos ladrões de colarinho branco, talvez a pessoa a quem pedisse ajuda seria a Lucius, seus contatos eram infalíveis, mas se o assunto for mais de uma área mais obscura, o assunto era com Black. Sua família desde anos tem negócios com máfias e mais de uma organização nada bem vistas, e se eu quero uma informação que pode precisar invadir, em ultimo caso, órgãos do governo (sim eu pretendo chegar a esse ponto se necessário), por mais difícil que seja essa era a melhor fonte.

A mais suja.

Black torceu o nariz em desagrado, nunca gostou em se meter nos “negócios” da família, mas também era verdade que mais de uma vez fez mão dessa carta na manga.

- Isso pode demorar. Não tem nem ao menos uma foto dele para eu entregar para os ... hn... rapazes?

- Não – respondo rápido cruzando as pernas desconfortável.

-... – vendo minha reação um sorriso começa a nascer na boca de Black

- Por que eu teria? – pergunto nervoso ao me ver debaixo do olhar divertido de meu amigo.

- ... – o sorriso dele apenas crescia

-Vamos Black, você sabe que eu não sou esse tipo de pessoa. – Suando, eu acho que estou suando...

- ... – e crescia, e crescia, e crescia... TOMARA QUE SUA BOCA DESTRONQUE BLACK!!

Desisto

Resignado pego minha carteira e entrego a única foto que tinha lá.

- ... – Black desfaz o sorriso e olha estranhado a foto que lhe estendia

Por que ele fazia aquela cara? Não era uma foto estranha. Harry passava o braço em meu ombro e esticava o outro para longe e assim tirar a foto, eu realmente pareço meio desconfortável, mas não foi minha pior foto.

- Que foi? – Pergunto diante da falta de reação do meu amigo que não tira os olhos da foto.

- Na carteira? – apenas pergunta fazendo seu sorriso nascer novamente.

-Eu...bem...foi a primeira que tiramos e ...

- Então tiraram mais juntos? – Sirius deve ter achado muito engraçado a cara que fiz, pois soltou uma de suas exageradas gargalhadas.

- Ah vai se danar Black – tento arrancar a foto da mão dele, mas ele a ergue longe de meu alcance – fora que... – deixo de tentar resgatar a foto, volto a cair no sofá e o olho de forma solene – é exatamente por carregar essa foto na carteira que estou te pedindo esse favor.

-Hn?

-Acho... que estou me apaixonando por ele.

Não percebi quando, mas isso é algo que recentemente tem me assombrado, minha maneira de olhar Harry tem mudado.

No começo tentei culpar minha atual abstinência sexual, já que desde que ele se mudou para minha casa minha cama esteve sem nenhum outro uso a não ser o de dormir.

Mas era mais que isso, era mais que carne, o garoto não era ainda nem totalmente desenvolvido.

Por deus, era uma criança.

Deve ter no máximo 15 anos.

E por mais errado que soubesse que seria ter algo com ele nada adiantava.

Já era tarde.

Percebi quando não conseguia mais passar um dia sem ouvir meu nome em sua boca.

Sem sentir seu cheiro espalhado por toda a casa.

Sentir reverbera até mesmo em minha pele o seu riso tão verdadeiro.

Simplesmente poder ver o seu bobo e doce sorriso.

Oh merda, como eu pude cometer essa burrice?

Como pude me apaixonar?

-Tem certeza de que é isso o que quer? – Sirius não ria mais.

- Pensei que já tivéssemos passado dessa fase da convers...

- Eu nem vou falar sobre a parte da diferença de idades – Black sorri de forma conspiradora – deixarei o sermão para quando os outros descobrirem. Só quero que saiba que se você me pedir eu começo agora as investigações, mas pense bem. – sua expressão era sombria – Por que você sabe que se houver algo para achar eu com certeza acharei, e eu posso não achar só o passado dele, mas também posso achar um lugar para onde ele tem que voltar.

E era o que eu queria, queria saber se ele tinha um lugar para voltar.

O que eu faria depois?

Não sei, mas viver na incerteza de não saber quando ele iria embora era terrível.

A vida que tenho agora é leve e agradável.

Dependendo do que descobrir eu posso perdê-lo.

Dependendo do que achar podem tirá-lo de mim.

Eu quero isso?

- Sim... – encaro meu amigo nos olhos – eu quero.

Pois mais do que tê-lo ao meu lado, quero que o que futuramente tivermos, caso me aceite, seja verdadeiro.

Por que se ele tiver uma sombra no passado não quero que volte para assombrá-lo.

Por que se ele algum dia tiver que partir eu quero ter armas para trazê-lo de volta.

Por que se algo o fere em seu caminho passado, quero saber para curá-lo

Por que... simplesmente o amo.

Humano ou estrela.

Droga.

Eu o amo.


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