Capitulo 17- Uma história conflituosa

– Estives-te muy bien. – Disse sua mãe abraçando-a com lágrimas nos olhos.

– Gracias mamã – Beijou-lhe na cara – Vou ter com os rapazes.

– Esta bien – Abraçou-a de novo e correu até Jedrek e Lucas.

– Ei! – Disse sentando-se ao lado de Lucas.

– Ei, estives-te bem – Disse Jedrek.

– Muito bem – Admitiu Lucas.

– Obrigado. Importas-te de vires comigo? – Perguntou a Lucas.

– Não. Onde vamos? – Perguntou ajudando-a a levantar-se.

– A tenda de artes. Quero mostrar-te uma coisa – Virou-se para Jedrek – Não te importas?

– Ide lá. Eu fico. Não posso perder o espectáculo do Zarek.

Mirabelle olhou para o seu outro irmão que ainda dançava com Aleska. Ou pelo menos tentando.

– Está bem. Não vamos demorar.

Mirabelle e Lucas seguiram.

– Então o que queres mesmo me mostrar? – Perguntou Lucas.

– Nada de mais. Apenas um desenho.

Os desenhos da tenda eram todos incríveis. Pareciam histórias.

– Aqui – Mostrou Mirabelle.

Era um desenho de um rapaz deitado na erva com os olhos fechados. Ele estava tranquilo e sereno, parecia quase livre. Uma borboleta estava poisada no seu peito.

– Espera ai – Lucas apercebeu-se de uma coisa. – Sou eu?

Mirabelle sorriu de orelha a orelha.

– Meio que sim. O que achas?

Lucas ficou sem palavras. Mirabelle o tinha desenhado. Ele lembrara-se daquele dia. Ele sentiu a borboleta mas não se incomodou. Ela andava tão delicadamente, andava livre.

– Como? Como fizeste isto?

Mirabelle encolheu os ombros.

– Sou rápida. E sempre ando com um bloco de folhas atrás.

Lucas olhou-a enquanto ela admirava o seu trabalho.

Jedrek tinha razão. Mirabelle era delicada. Delicada como uma borboleta. E mais que nunca, ele sentia desejo de a proteger. Depois de saber tudo o que aconteceu com ela, ele tinha medo de a perder.

– É incrível – Sussurrou Lucas.

– Achas? Não é nada de mais. É apenas um desenho – Disse olhando-o.

– Não. É mais do que isso. Muito mais.

Mirabelle sorriu e ele fez o mesmo.

– Obrigado.

– De nada. Mirabelle, eu queria dizer-te uma coisa, mas foi interrompido.

Mirabelle assentiu.

– O que é?

– Eu queria dizer-te que…

– Aqui estais vós. – Interrompeu Michal. – Tenho andado á vossa procura. Está a começar a escurecer. Já vão acender a fogueira.

– Hmm. Está bem. – Mirabelle pegou na mão de Lucas – Anda.

Lucas não sabia ao certo porque, mas gostou da cara de Michal quando ela lhe pegou na mão.

Ele parecia ser bom tipo, mas ele não gostou da parte do piquenique. Mais tarde perguntaria a Mirabelle o que ele dissera que a deixara tão mal como Jedrek disse.

Todos da aldeia se sentaram á volta da fogueira. As crianças mais perto do fogo, enquanto que muitos adultos estavam de pé a beber ou a comer.

Mirabelle e Lucas estavam sentados num tronco posto á volta da fogueira. Aleska e Zarek estavam sentados no chão cada um com um pau e fruta que a queimavam na fogueira.

Jedrek estava a ajudar Dodek a não queimar a fruta demasiado. Michal não se via em lado nenhum.

– Mistério? – Perguntou Walenty segurando dois pratos a frente de Mirabelle e Lucas.

– O que é? – Perguntou Lucas.

– Mistério – respondeu sorrindo.

– Prova – Pediu Mirabelle.

Lucas encolheu os ombros e pegou num prato. Com o garfo pegou num pedaço e engoliu.

Não sabia a nada que experimentou, tinha o sabor doce e salgado ao mesmo tempo. O gosto agradava-lhe.

– É bom.

Mirabelle sorriu ainda mais, assim como seu pai.

– Ainda bem que gostastes. Se quiséreis mais é só pedir. – Deu um beijo na testa a Mirabelle e saiu.

– O que é? – Perguntou-lhe Lucas.

Mirabelle riu.

– Não te vou dizer. Por isso é que se chama Mistério.

– Não me podes dar uma pista?

– Dir-te-ei quando vir que é a altura certa.

Lucas fingiu medo.

– É algo assim tão horripilante?

Mirabelle riu ainda mais.

– Não. Não te preocupes. É tudo comestível – Assegurou-lhe.

Lucas sorriu e continuou a comer.

– E agora?

– Agora é Zenas.

Um homem de idade com o cabelo comprido sentou-se num tronco do outro lado da fogueira em frente a eles.

– O que ele faz?

– É o melhor contador de histórias que conhecemos.– Explicou-lhe Mirabelle sentando-se no chão e encostando-se no tronco, Lucas imitou-a.

Todos se tinham calado para ouvir Zenas.

– Havia um homem, de seu nome Menahem, tinha a coragem de vinte homens juntos e a força de quarenta. Ninguém lhe fazia frente. Era poderoso demais. Um dia Menahem mandou atacar uma aldeia e destruir todos os que lhe fizessem frente. Destruir cada alma se dó nem piedade. Os seus soldados o fizeram. Em menos de 5 horas tudo estava destruído, as poucas vidas que sobraram viraram escravos. Acabavam por morrer lá.

“A deusa da paz e da harmonia Aaminah sabendo dos actos desse homem decidiu vir á terra e castigá-lo. Tinha de haver uma forma de o derrotar. De impedir que ele continuasse a matar. Menahem assim que a viu ficou espantado. Ele nunca tinha visto mulher mais bela. “

“Aaminah pediu-lhe que parasse com os massacres. Eles eram desnecessários. Menahem olhou nos olhos e disse-lhe: Apenas faço o que faço porque tenho medo. Aaminah ficou espantada com a confissão do homem. Então perguntou-lhe: Porquê? Porque tens tu tanto medo? Menahem respondeu: Se eu não lhes meter medo, eles vão deitar-me a baixo. Vão fazer de tudo para que eu sofra.”

“ Aaminah não acreditava no que seus ouvidos estavam a ouvir. Este homem tinha medo que se virassem contra ele, por isso fazia o que fazia. Então Aaminah disse-lhe: Podes controla-los pelo que tu és. Não mates por medo. Aquelas pobres criaturas não têm culpa dos teus medos. O teu maior medo é a solidão. Não é? Menahem assentiu. Aaminah teve pena dele. Ele não era um homem mau, era um ser humano com medo. Aaminah disse-lhe: Tu nunca estarás sozinho. Á pessoas que te respeitão. Nunca deves ter medo de ser o que és apenas para agradares aos outros. Menahem sabia que ela tinha razão. Mas teria ele força suficiente para ultrapassar isso. Então perguntou: Se eu parar com os massacres, tu ajudas-me? Aaminah sorriu: Claro. Ajudar-te-ei em tudo o que precisares. Em troca, tu não matarás. Tu serás o meu mensageiro. Dirás a todos os seres humanos que nunca devem matar. Matar apenas trás tristeza e dor. E todo o ser humano tem direito a viver em paz e felicidade. Sem dor.”

“ Menahem aceitou a oferta de Aaminah. Ainda hoje Menahem percorre cada estrada, cada caminho e transmite a mensagem da sua deusa. No final de tudo, Menahem não sofreu. Ele ficou livre. Graças a Aaminah ele é livre, uma coisa que ele nunca sentiu que seria capaz.”

Todos aplaudiram quando Zenas acabou.

Lucas pegou na mão de Mirabelle.

Na história dele, Mirabelle era a sua Aaminah. Ela era a sua salvação. A sua vida.

– Belle posso falar contigo? – Perguntou Michal aparecendo do nada.

– Fala. – Disse sem o olhar.

– Já pensas-te na proposta que te fiz?

Lucas sentiu Mirabelle enrijecer.

– Já.

– E?

– A minha resposta não muda.

Michal olhou para Lucas e depois outra vez para ela.

– Em privado por favor. – Pediu-lhe.

– Não vou mudar a minha resposta.

– Por favor Belle. Apenas me ouve.

Mirabelle levantou-se e enfrentou-o.

– Não.

Não lhe deu hipóteses de falar e saiu correndo.

– O que se passou? – Perguntou Jedrek chegando ao pé deles.

– Não sei – Respondeu levantando-se e sem deixar de olhar para Michal.

– Michal? - Perguntou Jedrek.

Zarek foi para o pé deles também.

– O que se passou? Onde foi Belle?

– Acho que a nossa resposta não quer falar. – Respondeu Jedrek sem tirar os olhos de Michal.

Lucas percebeu que se ele não falasse, Jedrek iria o fazer responder, a bem ou a mal.

– O que aconteceu Michal? – Perguntou Zarek.

Michal suspirou.

– O que se passou foi que fiz uma proposta á vossa irmã. – Respondeu por fim.

– Que tipo de proposta? – Zarek também começava a ficar rijo.

– Uma proposta que apenas me diz respeito a mim e a ela. – Michal começou a andar por onde Belle tinha ido, mas Zarek o impediu.

– Ai é que te enganas. Ela é minha irmã.

– E eu sou o teu melhor amigo. Sabes que nunca a magoaria.

– Eu sei. Mas acontece que entre ti e a minha irmã, não tenhas duvidas que escolheria a ela. Então fala de uma vez. Que tipo de proposta?