Uma Queda Sem Fim escrita por Anwar Pike


Capítulo 2
Soluço and Merida - Acredite em Mim


Notas iniciais do capítulo

Merida e Soluço, como Calypso e Leo, oh meu Morfeu, eu amei escrever, espero que gostem :D



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Merida olhou o estrangeiro desacordado com as sobrancelhas juntas. A testa enrugada ficava cada vez mais profunda à medida que ela se perguntava, o que os deuses estavam pensando?!

Ela estava sentada na areia, segurando a cabeça do garoto fumegante em suas mãos pequenas. Á alguns minutos, caindo do céu de algo negro e com asas, o meio-sangue despencara em Ogigia. Porque ele tinha que ser um meio-sangue.

Pelo menos, era o que dizia em sua maldição. O resto não estava tão claro. Os deuses mandavam sempre semideuses pelos quais ela se apaixonaria sem duvida alguma.

Mas esse? Esse garoto não se encaixava no perfil. Ele era magro e moreno, nariz um tanto grande e sardas por todo o rosto. Também não tinha músculos.

Ora, não que ela se importasse tanto com aparência, mas, veja bem, o ultimo que haviam enviado, esse sim se encaixava. Cabelos cor de chocolate, olhos caramelados e um lindo sorriso. Filho de Hermes, como ele lhe dissera. Também tivera que voltar, por uma guerra, e, como era de se esperar, uma garota.

Ela chorara muito com a partida dele, embora já devesse estar acostumada a isso, considerando os muitos anos e séculos que passara naquela ilha invisível.

O garoto se mexeu e fez uma careta enquanto abria lentamente os olhos. Olhos de um verde selvagem como as profundezas de uma floresta,

– Onde, onde estou? – Ele perguntou a voz rouca e o rosto confuso. Então ele olhou para Merida e sua boca se abriu um pouco.

Ela tinha cabelos ruivos bagunçados caindo pelo rosto, mas a maior parte estava amarrada á um lado, como se ela estivesse tentando conter os fios rebeldes. Aparentemente, sem sucesso.

– Ogigia. – Merida respondeu simplesmente, tentando soar simpática. Mas acabou saindo como uma careta de piedade.

E Soluço notou isso. Era o mesmo modo que as garotas da antiga cidade o olhavam, como se ele fosse um pedaço de fruta estragado, aquele ultimo pedaço de bolacha esmagado, como se ele não valesse a pena.

Foi isso que ele notou no olhar da ruiva de bochechas beijadas pelo vento. E ele não gostou dela de cara.

O filho de Hefesto tentou se levantar, mas acabou gemendo com o esforço.

Merida não sabia o que fazer. Tentou ajuda-lo segurando os braços dele, mas o garoto a afastou sacudindo o ombro.

– Eu estou bem. – Ele começou rude, mas tentou concertar. – Obrigado.

Merida notou a grosseria na voz dele e se decidiu de vez. Os deuses deveriam estar brincando com ela.

– Escute, eu não gosto da sua presença aqui também. Mas, ao que parece você vai ficar aqui para sempre.

Soluço ouviu isso com o rosto ligeiramente assustado. Tentou se lembrar de alguma lenda sobre Ogigia. Rapidamente, sua memoria lhe mostrou.

Merida era filha de Atlas, amaldiçoada a viver aqui por ajudar seu pai, o titã. Mas, qual era a outra parte da maldição dela...? Ugh, estava na ponta da língua!

A ruiva estava de pé, os braços cruzados, olhando o garoto contrair a testa, tentando lembrar-se.

– Ah, que droga, você é mesmo burro não é? – Ela finalmente perdeu a paciência.

– Como é que é? E por que eu sou burro, princesinha?

– A única maneira de você sair dessa ilha, é se eu me apaixonar por você. – Merida disse, contraindo os lábios róseos em um biquinho irritado, olhando-o com arrogância.

– Oh cara, eu estou ferrado. – Soluço murmurou, batendo uma das mãos contra o rosto.

ΩΩΩ

Já haviam se passado três dias desde o encontro problemático na praia. Merida estava na floresta agora, arco em mãos, preparada para atirar no que seria o seu almoço quando, uma explosão, que sacudiu os grãos de areia e mandou o pássaro que ela estava mirando pelos ares assustado com o barulho.

– SOLUÇO! – Seu grito foi quase da mesma intensidade da explosão. A ruiva saiu da floresta e foi em direção a uma área da areia, não muito próxima a agua, onde o filho de Hefesto trabalhava concentrado, o rosto negro de poeira e graxa (onde ele encontrara aquilo, ela não tinha ideia), as mãos movendo-se sem parar, juntando peças, e ligando fios.

Ele não percebeu que a ruiva raivosa estava vindo ate que ela parou de pé ao seu lado, a túnica grega que ia ate os joelhos dando a ela a aparência de uma deusa furiosa.

– Oh, hei majestade, a que devo a honra de sua presença? – Ele olhou ate ela por um momento, e depois se voltou a sua invenção. Era estranho. Parecia que tudo o que ele concertava acabava explodindo ou quebrando, e ele não costumava errar quando se tratavam de coisas de metal e ferro.

– Voce, pare de me chamar de majestade, acabou de espantar o meu almoço. – Ela segurava o arco, apertando a madeira com raiva.

– Ah, me desculpe, majes... Quero dizer, Merida, eu só estou tentando te livrar da minha presença o mais rápido possível. – Ele respondeu, ainda olhando para seu barco destruído. E depois murmurou, não muito baixo: - E me livrar da sua.

A ruiva sentiu suas bochechas pegarem fogo. O aperto no arco estava tão forte que ela sentiu que ia se romper.

– Ótimo. Termine de uma vez, e tente não espantar mais a minha comida. – Dizendo isso, ela saiu batendo os pés contra o a areia branca.

ΩΩΩ

– Obrigada. – Merida agradeceu, sorrindo envergonhada. Uma semana agora. Eles já não estavam soltando farpas como antes, e, apesar das tentativas falhas de construir um barco ou uma jangada que fosse, Soluço parecia estar mais bem-humorado.

Merida pegou seu arco das mãos do meio-sangue magrelo. Ela havia quebrado enquanto caçava naquela manha, e, como não era habilidosa com essas coisas, viu como sua ultima opção leva-lo ate o filho de Hefesto.

– Nada mal para uma espinha de peixe, hã? – Ele riu sarcástico ao ver a expressão de Merida ficar seria.

– É, nada mal. – Ela lhe deu um olhar de desafio. O sol já descia no horizonte, tingindo as nuvens e o céu de lilás. O garoto olhou triste para o horizonte. – Escute Soluço, eu sinto muito.

– Pelo que? – Ele se virou novamente para ela. As sombras faziam o rosto dele parecer mais serio e maduro do que de dia. A fogueira queimava preguiçosa, sem vento para agitar suas chamas.

– Por não... Caham, por não poder te ajudar a voltar para seus amigos.

– Ah... Heh, Não se preocupe, não são todas que conseguem se apaixonar por tudo... Isso. – Ele apontou para si próprio, fazendo “músculos” com os braços magros.

Merida não aguentou e caiu na gargalhada, quase se engasgando com sua maça. Soluço abriu um grande sorriso ao ver a garota rolar no chão sem ar.

Ela podia não estar apaixonada por ele, mas ele sabia que ele já havia estava completamente caído por ela.

ΩΩΩ

Merida estava olhando o bracelete que Soluço lhe dera. Na noite anterior, ela sentira as borboletas dançarem em seu estomago, mas achou que era por culpa das risadas ou mesmo gases. Mas, antes de adormecer na areia da praia, ela tinha certeza.

Estava apaixonada por ele. E isso fez lagrimas encherem seus olhos.

Ela estava em sua cama, na caverna onde vivia. Soluço provavelmente a carregara ate lá.

A ruiva tinha medo. Tinha medo de contar a ele, pois sabia que seria como assinar sua sentença de solidão, uma vez mais. Mas ela não podia mais ocultar dele.

Enquanto corria em direção a praia, ouviu um rugido poderoso, e suas pernas responderam aumentando a velocidade.

– Soluço, você esta bem!? – Ela gritou ao vê-lo caído no chão, um dragão negro sobre o corpo dele. Armou seu arco, mas Soluço ergueu uma das mãos e gritou meio risonho:

– Esta tudo bem Merida, esse é o Banguela, meu dragão.

Ela levou alguns minutos para assimilar tudo. Ninguém, nem mesmo animais, podiam encontrar Ogigia duas vezes. Ela se lembrava que Soluço caíra do lagarto super crescido quando chegara á ilha. Se ele estava aqui, isso só podia significar uma coisa.

– Você pode ir Soluço. Ele é sua passagem pra casa. – Merida sorriu, tentando não chorar.

O garoto se livrou do peso do dragão, o rosto alegre transformando-se uma mascara de seriedade.

– O que, o que você quer dizer? Eu pensei que...

– Sim, sim Soluço. – A ruiva sorriu, e sem nem mesmo raciocinar, pulou sobre ele e lhe deu um beijo. Um beijo de verdade.

Ele não sabia o que fazer seus dedos, pela primeira vez, estavam parados. Paralisados de surpresa. Então o beijo terminou, e ele estava com a mesma cara de incredulidade.

– Você me, eu, mas... – Ele gaguejava, sem poder organizar os pensamentos.

– Shh. Isso nunca aconteceu ok? – Ela disse, subitamente seria. Ao que ele assentiu simplesmente, ainda surpreso. – Agora vai, você tem uma guerra para impedir.

Ele caminhou ate o Fúria da Noite e montou, batendo de leve em um dos lados do dragão.

– É hora de ir, amigão. – Ele sussurrou. O dragão alçou voo, estreitando os olhos verdes pelo vento forte.

Soluço sabia que nenhum homem jamais encontrara Ogigia duas vezes.

– Mas eu vou te encontrar Merida. Eu juro pelo Estige.

Ele não tinha certeza se a garota imortal o escutara, mas não importava agora.

Ele fizera seu juramento.


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Notas finais do capítulo

Comentem, opinem, enfim, pessoal, me digam o que estao achando.



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