Sophia

Eu sai do quarto pra ir atender o telefone, mas ele havia parado de tocar.

– Como pensei.

Eu dei meia volta e fui em direção ao escritório.

– O-O que... - Eu ouvi Jason falar lá dentro.

Quando entrei, eu me deparei com Jason olhando para o meu notebook. Seu rosto estava pálido, como se tivesse acabado de receber uma noticia chocante. E eu já imaginava que tipo de noticia era...

– O-O que você está fazendo? - Eu fiquei parada na porta de olhos arregalados.

– S-Sophia? - Ele parecia ter se assustado com a minha presença.

– Você... - Eu olhei para o notebook e vi o meu blog na tela.

Eu senti um nó se formar em minha garganta. Como eu explicaria aquilo? E afinal, por que ele estava mexendo no meu Notebook?

– Sophia, me desculpe estar mexendo nas suas coisas, eu... - Ele suspirou, em seguida olhou para mim. - Me desculpe.

Eu me senti mal, como se fosse desmaiar. Meu coração disparou, eu estava numa situação muito ruim.

Eu não tive outra escolha, então corri. Eu não queria me mostrar fraca, mas a unica opção escolhível (nem sei se essa palavra existe) que eu tinha era essa.

– Sophia, espera! - Ele saiu correndo atrás de mim e segurou em meu braço. - Sério, desculpa. Eu não tinha a intenção de descobrir o seu "segredo".

– É claro que não teve. - Com muita raiva eu me soltei dele.

– Você é a Heaven? - Jason me encarou.

Eu olhei pros lados sem saber o que dizer. Era a primeira vez que alguém falava assim comigo, me encarando como se tivesse tentando decifrar algo em meus olhos. Enfim, falei:

– Sim, eu sou. Agora já pode espalhar isso pela escola inteira e...

– Não vou fazer isso. - Ele me interrompeu - Não sou esse tipo de pessoa. Pode confiar em mim.

– Eu tenho cara de que confia em alguém? - Eu disse, apontando pra mim mesma - Aprendi com o tempo que a única pessoa em que podemos confiar somos nós mesmos.

– Não é bem assim... Confiar nas pessoas é algo muito... anh... bom?

Eu soltei um suspiro.

– Além do mais - Ele continuou - Eu não tenho porque destruir a sua vida. Você nunca fez nada de ruim comigo.

Jason era realmente muito bom comigo. Eu pensei que ele seria mais um dos idiotas que adorariam ver eu me ferrando, mas não. Jason era muito legal.

– Tá. Eu... Vou confiar em você.

Ele deu um sorriso, em seguida estendeu seu dedo mindinho.

– Eu juro de mindinho. - Ele riu.

–Hem? - Eu estava confusa, não fazia ideia do que ele estava fazendo.

– Ah, é que na família, nós costumamos a cruzar os dedos mindinhos antes de prometer algo. É meio infantil, eu sei...

Eu não pude conter o riso. Aquilo era o tipo de coisa que eu faria no jardim de infância.

– Certo. - Eu disse, estendendo meu mindinho.

Ele cruzou seu mindinho com o meu.

– Certo. Agora isso é o nosso segredo. - Jason sorriu.

Realmente, aquilo me pareceu o tipo de filme meloso que passa na TV e eu nunca assisto. Filmes melosos me deixam com ânsia de vômito.

– Sério. Você está vermelha. - Ele disse, descruzando nossos dedos.

– Eu? Não estou não. - Eu disse, tentando esconder meu rosto que com certeza estava corado.

– Tá bem... - Ele pareceu perceber que eu estava com vergonha.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que o celular de Jason tocou.

– Alô? - Ele disse - Mãe? Tá. Aham. Já. Ok. Ah, droga. Tá, já estou indo. - Ele desligou o celular.

– Sua mãe? - Perguntei.

– É, ela quer que eu vá pra casa porque uns parentes meus do Japão vieram visitar a gente inesperadamente. - Ele disse.

– Ah ta. - Eu tirei minha franja de um dos olhos - Anh... Quer que eu te acompanhe até o portão?

– Pode ser.

Nós saímos e descemos as escadas. Quando chegamos ao portão, Jason deu um sorriso, então disse:

– Hoje foi bem legal. Eu me diverti bastante. Valeu pelo sorvete e por tudo.

– Eu que agradeço. Fazia um bom tempo desde que alguém me visitava. - Eu olhei para os lados constrangida - Obrigada por guardar meu segredo.

– É pra isso que servem os amigos, né?

– A-Amigos...?

– Somos amigos, certo? Quer dizer...

– Somos. Somos amigos. - Eu tentei dar um sorriso, mas deve ter saído uma cara de quem vai vomitar, ou algo do tipo.

– Bem, eu já vou indo. Até segunda! - Ele passou pelo portão e acenou para mim, em seguida saiu andando.

Eu fiquei parada olhando ele ir. Até que meu lado negativo disse para mim:
"E se ele resolver espalhar seu segredo? Ou então ele só estiver fingindo ser seu amigo?"

Mas aí meu lado positivo disse:

"Não Sophia. Você está confiando nele. Ele não vai contar nada. Vocês são amigos, lembra?"

Fiquei com vontade de acabar com meus pensamentos, mais aí me lembrei que tinha que escrever meu texto sobre Jason.

– Droga, é melhor eu ir logo.

...

Segunda, na escola, eu tentei ficar o mais tranquila o possível. Eu achei que Jason não falaria mais comigo, já que conversar em casa é diferente de conversar na escola. Mas eu estava enganada.

– Hey, Sophia. - Jason parou ao meu lado no corredor.

– Oi...

– Já terminou o texto?

– Já, e você?

– Estou terminando. - Ele sorriu.

– Hum, como tá ficando? É difícil escrever sobre um Picolé? - Brinquei.

– Nem tanto. Você é um picolé interessante. - Ele riu. - E o meu? Como tá?

– Você vai ter que ler pra saber. Eu acho que tá... Estranho. Não sou boa em escrever sobre as pessoas.

Ele olhou pra mim como se eu fosse uma idiota.

– Como assim não é boa? Você é a Heaven!

– Ei! - Eu tampei a boca dele - E se alguém ouve?!

– Desculpa aí. - Ele disse tirando a minha mão de sua boca.

– É melhor a gente ir. A aula vai começar.

– Tá.

Nós dois fomos para a sala. Todos estavam nos encarando como se estivesse escrito: "somos idiotas" nas nossas testas.

Eu olhei ao meu redor e percebi que Sally não estava na sala. Fiquei me perguntando onde ela estava.

– Atrasados. - O professor de Ciências disse. - Vejo que você está passando seu mal exemplo para ele Steffan.

Eu revirei os olhos.

– Não professor. Fui eu que atrasei ela. - Jason disse.

– Tanto faz. Sentem-se.

Eu olhei para Jason e mexi a boca dizendo um "obrigada" silencioso e ele respondeu com um aceno de cabeça. Era muito bom ter um amigo.

O tempo estava passando muito devagar na aula de ciências, até que Dove jogou um papelzinho na minha mesa. Nele estava escrito:

"Haha, você está namorando o Japa, agora?"

Eu fiquei com muita raiva. Peguei aquele papel e rasguei no meio.

– Oops. - Dove olhou pra mim e deu uma risadinha.

...

No final da aula, eu e Jason estávamos saindo quando fomos barrados por Dove.

– Olha só. O mais novo casal da escola. - Ela deu uma gargalhada.

– Casal? - Jason olhou para ela confuso.

– Ah, não precisam esconder. Todos da escola já sabem.

Eu a ignorei e passei reto por ela.

– Venha aqui. Vai deixar seu namorado sozinho aqui? - Ela puxou meu braço.

– Ele não é meu namorado sua monga. - Eu disse - Mas acho que você precisaria de um cérebro pra entender isso.

Ela fez uma careta.

– Você é mesmo uma grande idiota. Até que vocês dois combinam... O casal de estranhos. - Ela deu uma risada muito mas muito forçada mesmo. - Vou deixar vocês em paz hoje, pois tenho mais o que fazer. Mas me aguardem amanhã.

Ela saiu rebolando.

– Como você suporta essa garota? - Jason perguntou, indignado.

– É só ignorar. Já estou acostumada.

– Que história era aquela de estarmos namorando?

– Sei lá. Ela inventou isso só pra me deixar nervosa. - Eu revirei os olhos.

– Ah, então eu já vou pra casa... - Ele sorriu - Até amanhã!

– Até... - Eu saí andando.