My life

Nico se revirou na cama. Ele estava acordado, desperto, mas não queria levantar. Só pela escuridão do quarto sabia que a madrugava ainda reinava sobre aquele dia que se iniciava.

Nico se esforçou para ficar parado, afinal a cama não era só sua. O sono parecia não querer vir, ele o tinha abandonado.

Impaciente com a situação, o garoto se virou de lado e olhou as horas no relógio digital que jazia na cabeceira da cama. Ele bufou. Já passavam das três da manhã. Por que raios estava acordado?!

Nico rolou na cama novamente e passou o braço pela cintura de sua esposa, a trazendo para junto de si. A morena se virou, ficando de frente para Nico, e inconscientemente colocou uma mão sobre seu peito. Nico colou mais seus corpos e respirou fundo, aproveitando o cheiro da esposa. Ele a fitou e sorriu. Os olhos azuis eletrizantes estavam estavam escondidos pelas pálpebras. Os cabelos negros e repicados, estavam bagunçados de um modo fofo. E o rosto... Ah, o rosto. Esse tinha uma expressão calma e de completa serenidade. Ela parecia feliz, tanto que um pequeno sorriso, quase imperceptível, enfeitava seus lábios.

Nico acariciou o bochecha da morena com as costas da mão. Ela, que podia ser tão brava quando acordada, mais parecia um anjo dormindo. Um anjo que Nico tivera o prazer de conhecer. Um anjo que Nico pudera ver se manifestar em um momento lúcido, um dos únicos que presenciara tal cena.

Thalia. Thalia Grace. Nico nunca se arrependeria de ter casado com ela. Nunca se arrependeria de ter tomado-a para si e de ter sido o primeiro e único homem a tê-la por completo. Ela lhe pertencia e ele pertencia, total e completamente, a Thalia.

Não era fácil viver com ela. Brigas já faziam parte da rotina. Mas estas não duravam mais do que dez minutos. Nico sabia como dobra-la e aprendera que algumas vezes o melhor era ceder.

Nico ouviu um choro e ao mesmo tempo a respiração de Thalia acelerou, ela estava acordando.

Muito vagarosamente ela abriu os olhos e o fitou com suas íris eletrizantes.

– O que... - ela começou ainda sonolenta.

– Pode deixar, eu vou - disse Nico interrompendo.

Ele deu um beijo carinhoso na testa de Thalia e levantou da cama. Nico caminhou em direção a porta do quarto, e antes de sair olhou para a esposa, a tempo de vê-la fechar os olhos.

Conforme caminhava pelo corredor, o choro ficava mais alto. Nico entrou no quarto, que estava com a porta aberta para que eles ouvissem qualquer coisa que viesse dele, e foi em direção ao berço.

Ao chegar ao lado do mesmo encontrou um pequeno ser se contorcendo e chorando copiosamente. Nina. A pequena Nina.

Com cuidadoo rapaz pegou a filha, acomodando-a em seus braços. A pequena ainda chorava, mas com o balanço do colo do pai, o mesmo aos poucos diminuía. Nico sabia que não era fome, ou cólica, e só precisou de uma olhada para saber que também não estava suja. Era sono, só isso. Pelo jeito Nina tinha acordado junto com o pai.

Quando o choro finalmente cessou, a pequena fitou o pai atentamente e estendeu as mãos em sua direção dizendo:

– Papa!

Nico sorriu e levou uma das mãos até a filha, que a segurou firmemente com suas pequenas e gordas mãozinhas.

Nina tinha pouco menos de um ano de idade, mas já era a pessoa mais importante da vida de Nico, sendo logo seguida por Thalia.

A pequena, que herdara da mãe os cabelos pretos e os olhos azuis,pouco mais escuros que o da mesma, porém tão eletrizantes quanto, tinha a temperamento calmo e contido de Nico, e já demostrava ter o gênio forte, características de ambos os pais.

– Meu amor, por que você não dorme um pouco? - perguntou Nico.

A pequena fez cara de choro.

–Tudo bem, tudo bem - ele cedeu - Vamos passear com o papai,então.

Nico pegou uma manta e enrolou a filha. Ele saiu pela casa andando vagarosamente e balançando os braços levemente, na esperança de nina-la.

Se lembrou com um sorriso nos lábios do dia que soubera da existência de Nina. Aquele, sem dúvida, tinha sido um dosmelhores dias de sua vida, apesar de tudo.

Flashback on

Nico entrou em casa e respirou fundo. Finalmente. O que o moreno mais queria naquele momento era tomar um banho e dormir, para que aquele dia acabasse logo.

Para começar, seu projeto tinha sido rejeitado. Aquele prédio que ele passara duas semanas projetando, as vezes virando noites para termina-lo no prazo, tinha sido descartado porque o cliente não havia gostado. Ou seja, duas semanas de trabalho perdidas e mais duas pela frente.

Mais tarde, enquanto andava até o estacionamento, ele dera de cara como ex-namorado possessivo de Thalia, Luke, e acabara metido numa briga.

Resumindo: ele estava frustrado, dolorido, machucado e cansado.

Assim que a porta se fechou a suas costas, o rapaz ouviu passos.

– Nico? - perguntou Thalia descendo as escadas - Nico por que .... Ai, meu Deus! O que aconteceu?!

Thalia se aproximou correndo e tocou o rosto do marido. Este franziu o rosto com a pontada que aquele simples toque lhe causara. Thalia afastou a mão, surpresa.

– Me desculpe - ela disse e segurou sua mão, guiando-o até o sofá e sentando ao seu lado.

Com cuidado ajudou o rapaz a tirar o paletó e este dobrou as mangas da blusa. Thalia arregalou os olhos ao ver as marcas vermelhas em seu braço.

– Por Deus! Você está todo machucado! - ela exclamou.

Nico deixou um pequeno sorriso escapar. Era bom ver o quanto ela se preocupava com ele.

– Você tinha que ver o outro cara - ele brincou.

Thalia balançou a cabeça e se levantou. Rapidamente ela se dirigiu até a porta que levava a cozinha e logo estava de volta com uma bolsa de gelo.

Só nesse momento Nico percebeu que Thalia vestia somente shorts de dormir e uma blusa do próprio Nico. Ela estava linda, como sempre.

Thalia colocou o gelo em seu rosto delicadamente, o que não era de seu feitio, e passou a mão por seus cabelos. A garota parecia distraída, pensativa e impressionantemente calma, levando em conta a situação.

– Com quem você brigou? - ela perguntou depois de um tempo.

Nico abaixou os olhos envergonhado. Ele tinha vinte e seis anos, era um adulto. Tinha uma esposa, um carro, uma casa, já devia ser responsável e maduro. Mas lá estava ele, chegando em casa todo roxo por ter brigado na rua. Mais parecia um adolescente de dezesseis anos equivocado.

– Luke - ele disse simplesmente.

Thalia suspirou e tirou a bolsa de gelo de seu rosto, colocando-a na mesa de centro.

– Luke? - ela indagou incrédula, porém não surpresa - Jura?

– Ele me provocou ! - defendeu-se Nico - E além do mas, foi ele quem me bateu primeiro.

Thalia revirou os olhos, parecendo não acreditar no que estava ouvindo.

– Não acredito que o pai do meu filho é um brigão - ela murmurou.

Nico a fitou confuso.

– O quê?

Thalia o olhou surpresa, provavelmente não esperava que ele a ouvisse. Ela respirou fundo e falou calmamente:

– Eu disse que não acredito que o pai do meu filho é um brigão - ela repetiu.

Nico estava prestes a protestar quando se deteve. Pai do filho dela? Isso queria dizer que ela estava... Que ela estava...

Ele a fitou com mais atenção e percebeu um brilho diferente nos olhos da esposa. Ela o fitava esperançosa, a mão descansava sobre o ventre.

– Eu... Eu vou ser pai? - ele perguntou.

Thalia assentiu com a cabeça. Nico sorriu, um sorriso que ele pensou que não surgiria naquele dia.

Sem nem mesmo hesitar, ele abraçou a esposa e gritou:

– Eu vou ser pai! Eu vou ser pai!

Ele apertou Thalia mais contra si. Era quase utópico pensar que um ser, que era parte dele, crescia no ventre da mulher.

A força do abraço fez com que ele próprio sentisse dor, e acabou por se afastar com um gemido. Thalia riu e o beijou. Ele ainda podia sentir as dores de seu corpo, mas elas estavam em segundo plano, o importante era ela. Ela e seu filho. Aquele pequeno ser que ele tinha acabado de descobrir a existência e já sabia que não sairia de seus pensamentos tão cedo.

Flashback off

Nico sorriu com a lembrança. Era impressionante como com uma notícia podia transformar o pior dia no melhor.

O que ele não sabia, era que Thalia desconfiava daquilo desde três dias antes, quando sua menstruação não veio. O que ele não sabia, era que ela tinha entrado em choque quando viu o resultado do teste e que tinha pensado seriamente em só dizer a ele quando ficasse impossível esconder. Mas o que ele realmente não sabia, era que ele ter aceitado aquele filho com tamanha felicidade, superou qualquer alegria que a garota já tivera até aquele dia.

Nico percebeu que Nina já adormecia em seu colo, então resolveu voltar para o quarto da mesma. Ainda com os passos vagarosos e levemente balançados, entrou no quarto da pequena e se dirigiu para a janela.

Sua filha fitou a lua minguante, cercada por estrelas que se mostravam na escuridão da noite, com os olhos quase fechados, para depois encostar a cabeça em seu peito e, finalmente, retornar a seus sonhos tranquilos e inocentes, dignos de um bebê.

Nico sorriu ao ver a pequena dormindo, a semelhança física com a mãe novamente se manifestava. Ela parecia um pequeno querubim a dormir.

Nico sentiu dois braços rodearem sua cintura e as mãos se cruzarem sobre sua barriga. Logo uma cabeça se apoiou em suas costas e ele sentiu uma respiração perto de sua nuca. Ele se virou com cuidado e encontrou a esposa, vestida somente com uma blusa sua, um pouco sonolenta.

Thalia sorriu com a cena e acariciou o cabeça da filha. Está sorriu entre seus sonhos ao sentir o toque da mãe.

Nico levou a pequena para o berço e a colocou no mesmo com cuidado. Assim que seus braços ficaram livres, ele passou um dos eles pelos ombros de Thalia a trazendo para junto de seu peito. Esta o abraçou e Nico apoiou o queixo sobre a cabeça dela.

O rapaz aproveitava momentos como aquele. Sem preocupações, barulhos. Momentos românticos como aquele não eram muito comuns entre os dois.

– Por que você levantou? - perguntou Nico.

– Não consegui dormir - ela disse - A cama está fria.

Thalia murmurou a última parte, mas Nico ouviu. Ele sorriu e abraçou a esposa com mais força.

Aquela era sua vida, cheia de problemas e noites mal dormidas. Porém cercada de amor e carinho. E não, ele não a trocaria por nada naquele mundo.