Oito anos se passaram e Carlos, com seu corpo definido, por conta de jogar futebol, e de arrancar suspiros das meninas da escola. E Leandro, com um corpo igualmente definido, mas sem fazer muito esforço, apenas joga futebol algumas vezes, mas prefere comer besteiras o dia inteiro e jogar vídeo-game. Ambos estão com seus 16 anos e se preparam pra prestar o vestibular no fim do ano. Carlos tem sua vida toda planejada desde os 10 anos, irá se graduar em licenciatura em matemática, fazer o seu mestrado e o doutorado antes dos 30, e vai ser professor universitário. Já o Leandro não tem nada em mente, apenas acatou o desejo de seus pais de ele prestar o vestibular para Direito.

–Professor, Carlinhos? E de matemática? Duas coisas chatas numa coisa só...

–Não fala assim Lê, eu amo matemática, e quero fazer a diferença na vida de alguém, mas só encontrei duas opções: Uma é ser médico, mas eu tenho pavor de sangue e gente aberta – Carlos estremeceu ao lembrar-se de um vídeo que viu de uma autópsia- E o segundo é ser professor, que ensina e de alguma forma faz parte da vida dos alunos. E afinal não é você que me chama de “professorzinho”?- Carlos diz a última frase com um sorriso bobo no rosto, ele amava que o Leandro o chamasse daquele jeito.

Esse apelido foi dado à Carlos, por ele gostar tanto de ensinar os seus colegas de classe e ao próprio Leandro, e por causa de que sua brincadeira preferida na infância era de “escolinha”, na qual Carlos sempre queria ser o professor.

Leandro sorri e fita Carlos com seus olhos azuis, como o de uma piscina na qual Carlos sente mergulhar dentro sempre que os vê. –“Esse sorriso e esse olhar um dia vão me matar do coração”- Pensa Carlos.

–É... Ás vezes você é bom demais, isso pode te ferrar no futuro!

O Leandro amava o jeito bom e caridoso de Carlos, mas tinha receio dele não saber ser ruim na hora que fosse necessário. Ele não sabia explicar o que sentia por Carlos, mas sabia que não era só amizade. Para tentar afugentar essas coisas da cabeça, ele tentava fazer com que o amigo “ficasse” com algumas meninas, mas pra felicidade dele, Carlos rejeitava todas.

–E ai Carlinhos, você ficou com a Carla?- Leandro pergunta, mas com medo da resposta de Carlos- Tem uma amiga dela que está afim...

–Não fiquei com ela- Diz Carlos cortando o amigo antes do término de sua frase, arrancando um sorriso de Leandro, e sem entender o porquê do sorriso, continuou- E nem quero saber da amiga dela! Porra Lê, você sabe que eu quero namorar sério e uma menina que eu ame- Carlos sentiu por mentir pro Leandro, mas o que ele poderia dizer? “Ei eu te amo?”, tinha medo de estragar a sua amizade, então preferiu mentir.

Leandro fica feliz com a notícia, mas triste ao mesmo tempo, pois ainda não sabe se Carlos gosta dele, e ele não tem coragem de perguntar, prefere ficar quieto pra manter a amizade, pois só de estar ali com o Carlos pra ele já bastava.

–Então Lê, já vou indo!

–Mas já Carlinhos?- Leandro se mostra triste- Por que você não dorme aqui?

–Não posso, prometi jantar com meus pais.

–Ok então- Leandro faz beicinho.

–Deixa de ser ridículo!- Carlos amando ver a cara fofa de Leandro- Eu prometo que durmo aqui amanhã, combinado?

–Eu vou cobrar, em?- Diz Leandro sorrindo deixando Carlos derretido.

–Ok!

...

Logo após o jantar Roberto vai se deitar e só ficam na sala Carlos e sua mãe. E no meio da conversa, Carlos faz uma pergunta que põe Clarisse pra pensar.

–Mãe, como a gente sabe que está apaixonado?

–Ué, por que dessa pergunta agora Carlinhos? Você está apaixonado filho?

–Não, mas queria saber como é que a gente se sente quando está apaixonado, pra eu saber identificar quando eu estiver.

–Cada um se sente de um jeito diferente.

–Como a senhora se sente quando está com o pai?

–Hum... Eu olho pra ele e fico toda mole, sabe?- Ela sorri- Quando estou com ele, sinto que não quero mais ninguém e que o mundo é só nós dois, e que eu poderia passar a eternidade olhando pra ele que nunca cansaria- Ela faz uma pausa, e conclui- Filho, pra você saber se está apaixonado, pense na pessoa que você acha que ama enquanto escuta músicas de amor, porque você sabe que está apaixonado quando as músicas de amor fazem sentido pra você.

Mais tarde em seu quarto, Carlos sorri feito um bobo ouvindo músicas de amor e conclui: “Eu te amo Leandro”.