Para o túmulo escrita por Carnelyan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste. Beijoca!



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 Para o túmulo

Escrito por Meiline Damestein

— Agora você conta mentiras para manter este segredo

 

Tenho um segredo, pode guardá-lo? Elas dizem que o melhor a se fazer é ficar calada. Mas este meu segredo queima meu cérebro como se estivesse no inferno. Um inferno que ele criou. E eu fui seu anjo caído. Naquela pequena cópula de vidro vejo com meus olhinhos um corpo apodrecido. A pele cor de creme se desprendendo de seu corpo como largas tiras revelando uma substância parecida com cera. Os sedosos e lisos fios dourados postos como uma peruca velha e mal cheirosa. Seus finos e delicados lábios estavam secos e com o ainda tom daquele batom vermelho. Aquele homem caduco me fez sentir tão feliz. Me fez sentir tão bem. Nunca vou esquecer os eternos ensinamentos daquele velhote em minha vida. Sou eternamente grata. Então senhor, obrigada por me transformar no que sou hoje. Um corpo apodrecido dentro de uma cópula de vidro.

A verdade é que ainda meus nervos estão corrompidos e não ousam mencionar seu nome. Pois aquele velho caduco destruiu minha vida com as próprias mãos. Sou apenas uma garotinha que tocava jazzcom um belo instrumento e com minha grave voz recoberta por lábios finos pintados de um vermelho carmesim. Aquele homem merecia ter sua testa fervilhada por vermes. Mas eu ainda o amo e o salvaria deste inferno. O inferno que ele me prendeu. Apesar de tudo e de tudo ser errado. Quando cometemos as façanhas mais obscuras nós esquecemos que aquele homem era seu padrasto e que era casado com sua bela mãe. E o que ele estava fazendo com você era um crime. Estava hipnotizada com os olhos daquele homem e com os obscuros segredos que estávamos guardando.

Juramos guardar este segredo e o levar para o túmulo nas noites que nos trancávamos no quarto e o deixava realizar seus sonhos extravagantes com garotinhas com rostos doces. Jure de dedinho que não vai contar este segredo para ninguém. Jure por sua vida. Quando "aconteceu"o que será que ele contou para minha mãe? Todo dia ela sorria e servia café com bolinhos fritos feitos com suas ásperas mãos para ele e para mim, ela não fazia ideia do quão era traída. Mas às vezes eu sentia seu tom de voz sussurrar um leve "Eu sei o que você guarda". Paranoia talvez. Temia seu olhar frívolo sobre mim. E se ela deixasse de me amar como filha. Tudo ficava tão sem sentido, que às vezes pensar no "blá blá" de estar errado ou não, fazia eu me sentir suja e vinha uma dor de cabeça. Eu não queria aceitar e enfrentar a verdade de frente.

Sinto falta de meu instrumento de jazz. Minha sinfonia favorita era aquela chamada Für Elise,composta pelo majestoso e eterno Beethoven. Eu ainda canto a espera de alguém notar minha falta. Não posso reclamar. Essa é uma forma de imortalidade. Faz apenas sete meses que meu corpo sumiu. Mas será que ninguém percebe que estou todo este tempo dentro da cópula de vidro naquela estufa afetada. Mas é uma forma negra de aceitar a imortalidade e de morrer jovem e bonita. Torcido. Diziam que apesar de ser assim, eu tinha uma veia torcida de maldade. Talvez eu esteja pagando por ela.

Sabe quando está se amando alguém? Você não quer ser magoada por ela e não quer magoá-la. É simples e recíproco. Que mamãe me perdoe. Mas agora o segredo guardado em meu bolso e trancado em meu túmulo está a salvo e é o que importa. Portanto eu gostaria que ele queimasse neste mesmo inferno. Que o cérebro dele queimasse como o meu por guardar algo tão criminoso e errado. É o defeito de uma mente inocente e juvenil, não saber ter que ignorar a paranoia e/ou peso na consciência. Ele já deve ter feito isto mais vezes do que podia contar.

Parem as buscas. Achamos ela. Ouvi os policiais gritarem, o rosto de dor de minha mãe não era nada menos que um buraco profundo a puxando de fora para dentro. O rosto daquele caduco era tão falso, mas ainda sim amável aos meus toques e beijos. Ninguém guarda este segredo. Ele saberia bem que eu não iria contar nada. Porque duas pessoas podem guardar um segredo se uma delas estiver morta. E ele sabia tão bem disto que naquele noite ele permitiu eu o amar mais uma vez. E manter mais uma vez, seus sonhos sexuais até ele erguer a arma e a colocar entre meus lábios e disparar o gatilho. Um sorriso dócil tomou o rosto enrugado dele enquanto ele via a cratera se formando na parte superior do crânio. De meu crânio. Este segredo foi guardado no túmulo. À rumo de um assassinato sem nenhuma verdadeira morte.


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Notas finais do capítulo

Beijoca e obrigada!



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