~ Anos atrás ~

Era noite de Halloween e a festa dos dormitórios da faculdade estava no seu auge, imitações de lápides espalhadas pelo lado de fora, caveiras, teias de aranha, abóboras, velas e tudo o que pode ser usado para deixar o ambiente sinistro usado na decoração, a música alta, várias pessoas bêbadas demais por todos os lados, calouros e veteranos se pegando, alheios a tudo ao seu redor.

Sherlock Holmes, fantasiado de pirata, foi até o dormitório feminino e entrou num dos quartos, ‘ótimo, ela está esperando por mim’ pensou. Foi juntando-se na cama da garota adormecida, quando ela percebeu que tinha alguém ali deu um grito, pegou o perfume que estava no criado mudo e começou a espirrá-lo na direção do invasor.

— Quem deixou você entrar aqui?

— Dá pra parar com isso? Cadê Irene? – Sherlock pediu fechando os olhos na tentativa de impedir que os atingisse — Isso arde! – A garota recolocou o vidro de perfume em cima da mesa de cabeceira e acendeu a luz

— Como você entrou aqui?

— Irene me deu a chave.

— Ela também disse que estava tudo bem agarrar a colega dela?

— Ela me disse que não teria problema vir, que você é uma traça de livros e como a nerd que é estaria na biblioteca estudando.

— Eu não sou uma nerd – ela pegou um travesseiro e começou a bater nele.

— Que negócio é esse? Spray de Pimenta? – ele quis saber se protegendo das travesseiradas. Ela largou o travesseiro e pegou o vidro de perfume novamente.

— É meu perfume Dior – disse espirrando no ar — O que diabos faz aqui?

— Pensei que você fosse Irene– ela levantou-se da cama e foi até a porta, estava fantasiada com uma roupa de colegial.

— Já viu que não sou, então... – colocou a mão na maçaneta da porta, indicando claramente que o queria fora do quarto.

— Já que vai sair me traz um café sim? Preto com duas colheres de açúcar – ela o encarou incrédula.

— Vá pegar você mesmo, e saia do meu quarto!

Dois minutos depois estavam no lugar mais calmo que encontraram, Sherlock lavava os olhos num bebedouro enquanto a garota ia até uma mesinha a procura de café.

— Ótimo, agora até meus olhos desavermelharem e pararem de arder vamos estar no próximo halloween! – comentou sentando-se de frente para a garota cujo nome ainda não sabia.

— Não dê uma de rainha do drama, você que é culpado por não prestar atenção com quem dorme.

— Você nem me conhece pra falar assim.

— Ah não? Bom, você esta no último de Química...

— Aham.

— É um cretino, sedutor de calouras e dormiu com pelo menos dois terços do meu dormitório.

— Dois terços das garotas.

— Que seja! Você diz ter conhecido o Paul McCartney, mas imagino que seja mentira.

— É verdade, ele autografou meu cd – ele levantou-se e foi se sentar ao lado dela — Se quiser ver, está lá em cima.

— Está me cantando, é isso?

— Não, estou reagindo a seu olhar.

— Olhar?

— Segundo minha teoria é aquele de quando uma garota está a fim de um cara.

— O garanhão tem uma teoria? – perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Sim, o olhar é o mesmo de quando um cachorro quer comida– terminou de explicar-se sorrindo.

— E ainda me chama de cachorro! – ela estava indignada pelo que tinha acabado de ouvir.

— Não, eu fui sincero, acho que sinceridade é o melhor princípio, por exemplo, sua boca é tão pequena que deveria usar batom para que seus lábios pareçam maiores e assim compensar esse pequeno detalhe.

— Seu grosso! Você quer sinceridade? Pois bem, ai vai: como minha colega de quarto estuda Belas Artes, já a ajudei a estudar proporções áureas do rosto humano, então posso dizer que seu rosto é meio assimétrico e esse seu nariz só serve pra acentuar isso, e para deixar seu ego maior que já é, dorme com várias garotas – ele a encara sem acreditar que uma garota com quem nunca tinha trocado duas palavras, falava todas essa pra ele — Eu nunca transaria com você – completou e levantou-se.

— Garota... Espere ai, volte aqui – foi atrás dela, alcançando-a no meio do corredor — Isso foi incrível!

— Isso o que? – ela a seguia pelo caminho que fazia.

— A sinceridade, ninguém nunca tinha sido tão sincero comigo – eles tinham acabado de subir a escada para o andar superior.

— Chama-se amizade – ela disse por cima do ombro.

— Eu sou Sherlock – falou seu nome e esperava que ela lhe dissesse o seu.

— Molly – eles tinham chegado na porta do quarto dela — Boa noite.

— Boa noite – ele pegou sua mão e depositou um beijo.

— Sua mão... Está suada, eca!

— Sua blusa é transparente e seu sutien é vermelho de rendas.

— Argh! – Molly revirou os olhos e abriu a porta do quarto, Irene estava lá.

— Sherlock, é você? – sua voz estava arrastada — Deixa eu ver seu autógrafo do Paul – tirou sua boina e vomitou dentro. Molly acompanhava a cena apertando os lábios para não rir.

— Ela é toda sua... amigo – deu-lhe um tapinha no ombro e deixou os dois para trás, iria dormir no quarto da sua colega de turma.

— Irene, vai dormir sim – Sherlock disse a garota dentro do quarto e fechou a porta.

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Sherlock despertou e olhou no relógio, levantou-se e começou a se vestir, estava terminando quando a garota com quem passou a noite tinha acabado de despertar.

— Vamos nos ver hoje à noite? – perguntou com a voz sonolenta.

— Não, isso viola minhas regras – respondeu terminando de abotoar a camisa — Semana que vem te ligo – deu-lhe um pequeno selinho nos lábios, pegou seu casaco e cachecol e saiu.

Parou em uma padaria para comprar café, de lá iria direto ao hospital São Bartolomeu, tinha combinado com Molly e iria encontrá-la lá.