Noite em um restaurante escrita por AkireBell


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Quase não sai.. again aushaushauhsTentei fazer meu melhor.Espero que gostem e que comentem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/522147/chapter/1

Era noite.

Era tarde da noite.

E até o momento nada do ser humano denominado “chato_irresistível” dar as caras no restaurante que tínhamos combinado para encontrar-nos.

Olhei no relógio pelo que pareceu ser a milésima vez desde a minha chegada e bufei impacientemente mais uma vez.

Era de se esperar, não? Era de se esperar que esse ser acabaria se mostrando uma terrível perda de tempo.

Afinal, quem, no mundo em que vivemos, denominaria a si mesmo de “chato_irresistível” e não seria um completo babaca?

Ou mais... Quem marcaria um encontro às cegas com alguém chamada “cerejinha_gostosinha” e não teria pelo menos ALGUM problema mental?

Bem, não importaria tanto se fosse louco, ou babaca, mas custava demais chegar no horário marcado para o encontro? Claro que não! Não custava nada, nadinha, ser pontual.

Soltei um grunhido baixo e virei na cadeira para chamar a garçonete encarregada pela minha mesa e pedir a conta.

De todos os possíveis defeitos de meu companheiro de jantar, inexplicavelmente o que mais me irritou foi essa maldita falta de pontualidade.

Quem ele pensava que era para atrasar-se duas horas? Era o que eu gritava internamente enquanto esperava os paços lentos da garçonete trazerem-na até mim.

Ele nunca chegava atrasado quando marcávamos um horário na internet, então por que dessa vez foi diferente?

Fui interrompida de meus devaneios no momento em que a garçonete, muito sorridente como sempre, chegou até mim e perguntou o que eu queria.

O que eu queria?

Vejamos...

– Bem, eu queria que o meu encontro não fosse um babaca completo e chegasse no horário marcado, mas como isso parece um sonho mais impossível do que eu conseguir passar da fase 63 do JourneyPearl, eu quero a minha conta – terminei sorrindo e olhando de forma calma para a moça, que tentava manter seu sorriso impecável a todo custo, mas que falhava miseravelmente nisso.

– Tem certeza que não gostaria de aguardar mais um pouco e aproveitar o desconto para pedir o especial da noite? – senti uma pontada de arrependimento, pela forma com que eu a tratei, e um “quê” de simpatia pela profissionalidade dela mediante a situação embaraçosa ao qual eu a meti; mas respirei fundo antes de responder-lhe um simpático “não, obrigada. Só quero a minha conta mesmo”, e voltar a encarar meu quase vazio copo de suco.

Decidi, então, pegar meu celular e conectar-me ao meu cadastro do JourneyPearl enquanto esperava a chegada da conta, quando notei que a caixa de mensagens da minha personagem continha, nada mais nada menos, que vinte mensagens do chato.

Não sei o que me deu na hora para gargalhar tanto, e aposto que as pessoas que estavam no local também não faziam ideia do que estava acontecendo, se for levada em conta a maneira com que me olhavam; mas quando dei por mim, já escorriam lágrimas pelo meu rosto de tanto que eu ri da situação.

Sério que ele achou que algumas simples palavras de “desculpas” iam fazer eu o perdoar?

Quão bobão; quão idiota ele foi, já que nem fiz questão de ler as mensagens por conta raiva que eu sentia dele naquele momento.

Apaguei todas e escrevi uma única e ousada frase como resposta.

Ainda sorria quando a notificação chegou, anunciando que a mensagem já havia sido entregue.

Sei que estava agindo de modo infantil e irracional, mas não podem julgar-me como injusta por não ter lido. Ele me deu um bolo! E ninguém dá bolo em Haruno Sakura e sai impune (ou com todos os ossos do corpo ilesos, pelo menos). Por isso, ainda achei que o “vai se ferrar, otário” que mandei como resposta pra ele foi pouco, afinal, sou conhecida por dar castigos bem mais dolorosos e impiedosos aos caras que tentam me fazer de boba. Naruto, meu amigo, pode esclarecer com precisão esse detalhe sobre a minha pessoa.

Alguns minutos depois, enquanto eu checava, pela vigésima vez naquele dia, meus itens preciosos e indispensáveis, senti um esbarrão nada gentil nos meus ombros.

E acho que essa foi meio que a gota d’água.

Não consegui conter um palavrão quando o meu celular voou da minha mão e foi parar a umas duas mesas de mim.

Bufando, literalmente, como um touro, levantei o olhar para ver quem era o futuro falecido, já preparando um arsenal de xingamentos nada leves para bombardeá-lo, quando percebi que tudo o que saiu de meus lábios foi um arfar nada discreto.

Mas por favor, né? Não havia nada a mais para fazer mediante aquela visão do paraíso.

Ele tinha cabelos negros e arrepiados, aparentemente sedosos ao toque; pele clara e limpa, sem marcas de acne ou qualquer outra coisa; e o melhor, o que mais me seduziu, mais me impressionou (e me impressiona até hoje sempre que o vejo): aqueles olhos tão azuis quanto o oceano; grandes e brilhantes naquele rosto divinal.

Kushiro estava mais belo que nunca na versão adulta de seu personagem em JourneyPearl.

E ele estava bem na minha frente, enchendo meus olhos com sua beleza esplendorosa.

Não consegui não segurar a camisa do rapaz que estava na minha frente.

– Como você conseguiu? – eu soava como uma desesperada, eu sei, mas nem me importei. Nada era mais importante para mim naquele momento que a resposta que o rapaz teria de dar a mim – Como você foi capaz de conseguir essa camisa? Eu fiquei horas sem dormir na espera do início das vendas e, mesmo tendo atualizado no exato momento na liberação das compras, eu não consegui comprar antes do esgotamento. Então me diga, agora. Como você conseguiu essa camisa? – em algum momento do meu discurso desesperado as minhas mãos foram para o colarinho da camisa do rapaz, fazendo com que ele, mesmo que não quisesse, olhasse-me nos olhos. E quando observei seu olhar apático e despreocupado, fiquei levemente atordoada.

O cara não estava assustado com o meu comportamento?

Tive a confirmação segundos depois de ter pensado isso.

– Você quer, por obséquio, fazer o favor de lagar minha camisa? Eu comprei no site, como todas as outras pessoas normais fizeram – sua voz era grossa e rouca, o que o fazia soar como um gato engasgado. Mas não era isso que tinha de chamar a minha atenção... Não. Era a monotonia com que ele falara isso que tinha que deixar-me particularmente interessada nele. Olhei para ele com mais atenção enquanto me afastava e recuperava a compostura.

E notei, para a minha perplexidade, que ele era, praticamente, uma cópia de Kushiro, sendo a cor dos olhos a única coisa que os diferenciava já que, enquanto os orbes do personagem eram de azul tão cristalino quanto topázio, os do garoto a minha frente era do mais escuro ônix. Fora isso, a semelhança era inegável. O mesmo cabelo, a mesma pele, o mesmo rosto.

Pisquei alguns segundos antes de desviar o olhar (mais pela desculpa de evitar que ele me visse corada) e abaixar em busca de meu celular caído, levando alguns instantes para notar que o cara também se abaixara e colocara-se ao meu lado.

Lancei uma olhadela rápida quando ele suspirou.

– O que você está fazendo? – sua voz não passava de um sussurro, e eu me perguntei se ele também não havia notado que aquela situação toda era muito estranha. Movimentei-me, ainda agachada, quando avistei meu celular, não deixando de notar que o garoto ainda vinha atrás de mim.

Respirei fundo antes de falar.

– O que é? – perguntei baixinho. Peguei meu celular e virei-me a tempo de ouvi-lo soltar uma exclamação de surpresa.

– Ah. Seu celular! Estava me perguntando o que você estaria procurando. Escutei mesmo o barulho de algo caindo quando esbarrei em você. – terminou sorrindo. Mas seus olhos já não estavam mais nos meus quando ele prosseguiu – Peço desculpas por isso. Não era minha intenção estar tão apressado, mas tinha que correr se queria chegar a tempo de um encontro – ele soltou uma risada sem humor. Franzi as sobrancelhas quando ele levantou uma das mãos em minha direção – Dê-me seu celular.

– Pra quê? – perguntei rápido demais. Estava meio nervosa com a constatação de que, tirando a arrogância e o fato de ter batido em mim e feito meu celular voar, esse cara era quase estupidamente perfeito. E isso não era uma coisa boa de se constatar, principalmente levando em conta que

a) ambos tínhamos encontros com outras pessoas

e b) um cara como aquele era muita areia pro meu caminhãozinho.

Por isso, não gostei nadinha quando ele pegou meu celular de minha mão sem meu consentimento e tentou ligá-lo.

– Para consertá-lo. Sou técnico em informática – falou com um breve sorriso. Eu ia quase falando que não precisava de nada quando lembrei de algo.

– Mas você não tinha um encontro agora? – observei o garoto congelar. Ele levantou os olhos para mim e olhou-me com um assombro explícito, depois olhou para o meu celular e murmurou algo inaudível. Já ia perguntar por que ele ainda não havia levantado e corrido para o seu compromisso se a ideia de atrasar-se o assustava tanto, quando constatei que ele não havia congelado por causa do que eu disse, e sim, pelo que eu vira em meu celular. Minha conta do JourneyPearl ainda estava aberta e ele olhava com assombro para o nome que estava no avatar.

– Você é a Cerejinha_Gostosinha? – ele murmurou perplexo, e eu juro, juro que eu tenho certeza que fui Judas em outra vida, porque, o que mais explicaria essa sorte (repararam na ironia?) dos infernos que eu tinha? Eu queria me enterrar ali mesmo, porque, enfim, todos os pontos se ligaram e fizeram sentido dentro da minha cachola.

A camisa, o atraso, o encontro, a parte da informática, o fato de saber meu ID...

– Não acredito nisso. Você não pode ser ela. – ele ainda murmurava baixinho, como se estivesse em transe. – Não pode ser. Eu esperava tudo menos isso... – confesso que depois dessa eu fiquei um pouco irritada. O que ele queria dizer? Procurei fazer a cara mais ameaçadora que consegui quando procurei os olhos dele.

– Olha aqui, trate-se logo de explicar o que você quer dizer com esses murmúrios desconexos que você está soltando antes que eu fique realmente irritada e saia no tapa com você! – mas ele pareceu nem me ouvir. Ainda estava perdido demais nos seus pensamentos. Suspirei pesadamente e já ia preparar-me para levantar quando fui interrompida pela voz dele.

– Isso não faz sentido... Não faz... – ele suspirou e finalmente olhou para mim – Você é muito gostosa! – e foi a minha vez de ficar perplexa. Pisquei algumas vezes para tentar assimilar o que ele falara, mas suas palavras pareciam demais para serem digeridas.

Ele me chamou mesmo de gostosa?

Ainda estava paralisada quando ele levantou também e olhou, muito intensamente, para meu rosto. Ele parecia ter, finalmente, voltado a si.

– Sou Uchiha Sasuke, tenho 22 anos e sou técnico de informática. Viciado em JourneyPearl desde os 17 e fascinado pela sua avatar. Como você conseguiu fazer com que ela ficasse tão forte? Nunca tinha visto uma personagem feminina atingir o nível 62...

– 63 – interrompi automaticamente. Eu poderia estar paralisada por conta da surpresa, mas ainda tinha uma reputação a zelar. Ele riu baixinho e acenou com a cabeça.

– Sim, sim. 63. Eu fiquei muito impressionado. Embora você pareça estar empacada nesse nível mais tempo que o normal – foi a minha vez de rir. Ele estava debochando de mim?

– Empacada? A minha pontuação é a maior dessa cidade! Se eu ainda não consegui passar desse nível é porque ele é impossível de ser ... – foi a vez dele de interromper-me.

– Errado. Ele não é impossível – eu pisquei algumas vezes.

– O quê? – ele olhou-me de forma divertida. E devo resaltar que ele ficava muito bonito quando fazia aquela expressão.

– Estou falando que não é impossível. Você é que deve ser muito boba por não ter conseguido desvendar o segredo do jogo – ele deu um sorriso de canto. E acho que foi isso que fez eu ter a coragem de fazer o que fiz. O que nenhuma garota no mundo deveria ter tido a coragem de fazer.

Dei um soco na cara de Uchiha Sasuke.

E devo dizer que a cara que ele fez valeu todo o sufoco que eu passei por causa dele. Sasuke, simplesmente, parecia que ia explodir de tanta raiva. Não consegui conter uma gargalhada quando ele grunhiu.

– O que você fez, sua louca? – ele tinha uma mão na bochecha enquanto a outra segurava com força a beirada da mesa. Ele não parecia tão adorável naquela posição.

– Eu fiz o que deveria ter feito no momento que descobri quem você era. Quem demora duas horas para aparecer em um encontro? Heim? Quem chama a garota que acabou de conhecer de gostosa? E quem – eu já estava ofegante – insulta essa garota, jogando na cara dela que ela é boba demais para conseguir passar de um nível? Eu vou responder pra você: alguém que não merece sair comigo. – dito isso, peguei minha bolsa de cima da mesa e coloquei meu celular dentro. Já ia virando em direção da porta quando a voz dele interrompeu-me.

– Eu não insultei você, sua demente. Só falei aquilo sobre o jogo porque eu também fui bobo demais pra perceber como passar daquele nível até hoje. Estou no 64. – isso me fez parar. Virei muito lentamente e levantei os olhos para encontrar seu rosto. Ele estava com a bochecha avermelhada no local em que levara o soco e seus olhos, seus lindos olhos, demonstravam tanto arrependimento que eu não consegui ficar com raiva dele por ter me superado.

Desde quando eu fiquei tão mole?

Soltei um grunhido de frustração quando andei em sua direção.

– Espero que você tenha o restante da noite livre. E muito dinheiro – falei enquanto sentava de novo na mesa. Ele estava com as sobrancelhas franzidas quando olhou para mim.

– Por quê? – questionou enquanto também sentava na cadeira em frente à mim.

– Porque você vai precisar de tempo para contar pra mim, com precisão de detalhes, como é que passa do nível 63 – olhei bem em seus olhos quando disse isso, no intuito de intimidá-lo mesmo. Ele acenou com a cabeça e engoliu em seco antes de falar.

– E o dinheiro? Pra quê vai servir? Suborno? – ele deu um sorriso nervoso quando disse isso.

– Não... – dei uma risada leve – Ele vai ser para pagar a conta. Parece que vamos ter um encontro.

E o sorriso que ele deu quando falei aquilo me fez ver que uma noite em um restaurante, com um nerd bonito e que era melhor que no meu jogo preferido, que esbarrava em mim e fazia meu celular cair no chão, que me chamava de gostosa e de boba e que chegava atrasado a encontros não seria tão ruim quanto eu esperava que fosse.

Na verdade, se dependesse de mim, perfeita seria a palavra que definiria aquela noite.

Aquela estranhamente boa noite em um restaurante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pleeeasseeee... comentem.Não importa se forem críticas negativas ou positivas. Só espero que comentem o que acharam.Obrigada para os que leram e até amanhã ♥