Emily Baker escrita por Flicts


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, eu não lembro o que estava pensando ao escrever essa fic e sequer imagino porquê a escrevi.

Boa leitura.



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A enfermeira não viu a gilete, e sequer se deu conta de que a barra da camisa de Emily estava manchada.

Naquele dia frio de inverno os pacientes não foram liberados para o Banho de Sol - até porquê não havia sol para se banhar -, então passaram o dia trancados na área de recreação. Com seus lápis em mãos, desenhando coisas possivelmente neuróticas no papel; e seus lego's coloridos.

As enfermeiras que ficavam nas portas e ao lado dos pacientes que mais precisavam de ajuda em suas expressões artísticas, também não viram quando a jovem encontrou a gilete. Jogada no canto empoeirado da sala, onde as vassouras não chegariam para levá-la embora e uma faxineira ocupada não teria tempo para abaixar-se e pegá-la. Mas Emily não estava ocupada, seu desenho residia finalizado sobre a mesa, e tinha bastante tempo para pegar o pedaço de metal e escorregá-lo sob a manga da camisa para depois passá-lo para a barra da calça antes de se levantar e voltar ao seu lugar.

A gilete estava suja e - pelo sangue coagulado que se prendia ao metal como musgo - parecia já ter sido usada antes. Mas ela não se importou.

No mesmo dia, enquanto a lua lutava com as núvens no céu por espaço e a chuva caía sobre as árvores desfolhadas, os pulsos de Emily Baker voltaram a chorar lágrimas de sangue.

– Luke... é você? - seu sussurro tornou-se inaudível no quarto.

Sentou-se no canto do cômodo, abaçando os joelhos em frente ao corpo. Seus olhos embaçados fitavam a cama. Enchugou as lágrimas com a manga da camisa, sujando a bochecha de vermelho, e fungou.

– Deixa eu ir com você, Luke? - sua voz era frágil e implorativa, como a de uma criança. - Eu não quero ficar aqui sozinha... Por favor.

Silêncio, a não ser pelas fungadas pausadas que ela dava a cada quarenta segundos.

– Eu não quero ficar sozinha...

Levantou-se e saiu do quarto, deixando para trás um pedaço de aço e uma poça de sangue.

Normalmente as enfermeiras mantinham as portas dos quartos fechadas à noite. A clínica contava com um sistema eletrônico que fechava automaticamente todas as portas depois das seis da tarde. Mas por um infortúnio do destino, naquela noite a eletricidade fora cortada por uma árvore que desabara sobre os cabos de alta tensão. A Clínica Psiquiátrica Estadual de Westhover estava no escuro.

Emily passou pelos corredores sem problemas, caminhando lentamente pela penumbra. Quinze minutos depois ela estava fora do prédio.

A clínica ficava localizada no topo de uma colina, próxima ao Green Ville - um dos poucos parques ecológicos que sobraram no estado. Caminhando um pouco, à menos de trezentos metros pela estrada principal, o rio Hudson se estendia sobre a cidade como uma serpente d'água. Era um lago de águas escuras, onde os pescadores, crianças e casais apaixonados de Westhover poderiam aproveitar um belo dia de sol no verão sulista. Porém no inverno ele ficava vazio, os barcos eram atracados ao cais e as crianças ficavam trancadas em suas casas ao redor das lareiras.

Não havia ninguém ali aquela noite, exceto pela garota solitária que encarava as águas com um olhar perdido. Seus olhos corroídos pela nostalgia.

– Lembra quando a gente vinha aqui... e passava o dia nadando? - sua voz tremia pelo frio, assim como seu corpo que era envolvido por seus próprios braços. A chuva caía por seus cabelos, misturando-se às lágrimas salgadas de seus olhos. - Eu... Eu pensei que a gente fosse ficar junto, Luke... - seus soluços já não eram mais controlados e escapavam livremente por seus lábios pálidos - Mas você me deixou... Por que, Luke? Você me deixou sozinha com eles... Você foi embora.

O pobre senhor O'Connel não imaginava encontrar alguém àquela hora da noite no cais. Muito menos uma jovem se afogando. Seria compreensível portanto o desespero repentino que dominou cada célula do seu ser.

Ao passar pela "Curva da Morte" - que devia seu nome às dezenas de acidentes que ocorriam ali todos os anos, o que era muito para uma cidade tão pequena -, logo às margens do rio Hudson, ele pôde ver a estranha figura que parecia se debater na água. Parou o carro para ver melhor e, mesmo que meio receoso de sair naquela chuva, saiu do carro apressadamente.

Apenas quando chegou ao cais ele pôde ver com clareza a jovem, e foi então que o desespero o atingiu. Ela se debatia descontroladamente na água e com sua experiência ele sabia que aquilo não a estava ajudando em nada.

– Calma, eu vou ajudá-la! Pare de se debater! - gritou desesperado, mas ela não pareceu escutá-lo - Meu Deus...

Correu até a margem do cais e pegou uma das cordas que serviam para amarrar os barcos. Lançou-a apidamente na água e gritou para que ela se segurasse.

Alguns minutos depois, após muito esforço e mais uma dúzia de gritos do pobre idoso, Emily estava finalmente na segurança do banco de passageiros do Impala 65 dos O'Connel.

Por sorte ou apenas mais uma firula do destino, o senhor de sessenta anos de idade era um velho - literalmente - amigo da avó da jovem, então ela voltou aos braços de sua família em menos de dez minutos.

– Obrigada, George... Eu... não sei o que fariamos sem ela... - as lágrimas, tão comuns ultimamente na vida daquela pobre senhora, agora vazavam livremente por seus olhos mais uma vez.

– Tá tudo bem, eu volto depois pra ver como você tá. - disse abrindo a porta - Tchau.

– Tchau - o som da chuva abafou o murmúrio entristecido da senhora enquanto via George O'Connel se encaminhar até o carro. Deu a partida e acelerou, deixando para trás dois corações despedaçados.

Seus cabelos já não estavam tão encharcados quando acordou, mas seu rosto se mantinha húmido e seus olhos inchados. Emily levantou-se da cama e sentou no chão, abraçando os joelhos em frente ao corpo.

Quando sua avó adentrou em seu antigo quarto, com uma toalha no ombro e uma bandeja com sanduiches de pasta de amendoim e suco de uva nas mãos, Emily estava embalada no canto do cômodo. Escondida na penumbra noturna.

A senhora deixou a bandeja na cama e se ajoelhou em frente a ela com a toalha nas mãos.

– Emily... - disse suavemente enquanto se aproximava para enchugar suas lágrimas. A jovem se manteve estática. - Eu vou cuidar de você, Emily. Tá tudo bem.

– Ele foi embora... Ele não me levou - sussurrou com a voz fraca - Não quero ficar aqui sem ele. Me deixa ir com ele, Vovó?

As lágrimas voltaram a cair em cascata dos olhos da senhora ao ver a expressão devastada da neta. Seus olhos estavam opacos, sem vida, e seus lábios tremiam rapidamente.

– Você não pode ir, Emily. - disse gentilmente - O Lucas morreu...

– Não! Ele não morreu!

Louise Baker caiu no chão com um baque surdo. Suas costas chocaram-se fortemente contra a parede e ela caiu na inconsciência, enquanto sua neta saia correndo pela porta.

Como podemos julgar tão cruelmente a dor de alguém sem antes a sentirmos em nossa própria pele? Como, por tudo o que é mais sagrado, nós, seres humanos, perfeitos em nossas mentiras, conseguimos julgar uma alma como carrascos? Talvez seja essa a resposta. Talvez sejamos carrascos. Mas quem de nós, humanos, irá julgar Emily Baker pelo assassinato da pobre senhora Baker, sua avó, que morreu naquela noite fria de inverno vítima de um traumatismo craniano causado pelo impacto que sofreu contra a parede após sua neta, em uma crise mental, empurrá-la cruelmente?

Ninguém, ninguėm de nós pelo menos. Porque naquela mesma noite, enquanto sua avó dava seus úlimos suspiros no andar de cima, Emily cortou os pulsos na cozinha da casa. Indo em busca daquilo que tanto ansiava: seu amado, Luke.

No verão de 93, Lucas Whaley morreu em um acidente de carro enquanto passava pela denominada "Curva da Morte", mas margens do rio Hudson. Emily sobreviveu ao acidente, mas passou os últimos meses de sua vida em um hospital psiquiátrico.


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Notas finais do capítulo

Dá até medo de perguntar o que vocês acharam porque..." nossa, que fic estranha, com personagens estranhos..." Isso foi mais ou menos o que eu pensei ao ler isso.
Minha mente me zoou legal nessa...
Deixem reviews, obrigado.

~ Aleister



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