Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 35
Tá com medo, Emma?


Notas iniciais do capítulo

Ei garela! Como cês tão?
EU QUERIA APROVEITAR ESSE MOMENTO PRA AGRADECER A GATA DA KAYA LEVESQUE, PORQUE ELA É A MELHOR PESSOA DO MUNDO E TÁ ME AJUDANDO MUITO NA FIC (muito, muito, muito obrigada!). E agradeçam a ela pelo capítulo, caso vocês shippem Persemma.

Boa Leitura!



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Estou novamente dentro da caminhonete junto com Samantha, na noite da invasão da fazenda. Imediatamente sei que é um sonho, porque isso claramente já aconteceu. E Sam provavelmente está morta agora. Mas mesmo assim a cena prossegue, e algo lá fora, entre celeiro em chamas e os inúmeros infectados, chama minha atenção.

— Sam! Vá para lá! — Repito minha fala em pânico, notando as duas sombras que correm em direção à floresta. Mesmo sabendo o que irá acontecer, não faz diferença alguma.

— Está louca? Não conseguirei sair de lá — Sam devolve, fazendo uma curva brusca para desviar de alguns walkers.

— Então pare o carro!

— Nem pensar — recusa, afastando cada vez mais do celeiro e da fazenda.

— O que está fazendo? Volte! — grito exasperada ao ver que ela continua acelerando para longe de todo mundo.

— É suicídio. 

Então a cena muda, e eu estou na campina. Não há as típicas barracas ou a cerca, somente uma pessoa em pé no meio da grama. Reconheço minha mãe, e imediatamente meu coração se acelera cheio de expectativa.

— Mamãe!  — chamo, sorrindo enquanto corro em sua direção. Ela parece mais longe que o normal, e se vira lentamente para ver quem está chamando. Estanco no lugar, meu sorriso desmanchando-se, ao vê-la de frente.

— Você me matou, Emma — ela murmura. Há um enorme corte em seu pescoço, e seus pulsos também sangram. Maddie segura uma navalha nas mãos ensanguentadas.

— Não! — grito, mas é tarde demais. Seu corpo entra em combustão e mamãe some entre as chamas, me deixando sozinha na campina.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, e permaneço olhando para o vazio no lugar de Maddison. Algo faz com que eu me vire, e sinto meus olhos se arregalarem ao encontrar Carl parado na beira da floresta, apenas a alguns passos de distância.

— Carl? O que faz aqui? — pergunto, aproximando-me. Ele continua com a mesma aparência que me lembro, com seu chapéu e os lindos olhos azuis. Estes que me fitam duramente, sem expressar nada ao meu chamado. — Você está bem? Eu senti saudades...

— Eu não — ele diz friamente. Carl leva sua mão até sua arma, tirando-a do coldre e a apontando para mim. Ele inclina a cabeça para o lado e abre um sorriso de escárnio.

— Todo mundo ao seu redor morre, Emma — ele constata, como se estivesse falando com uma criança que fez algo errado. Cerro os dentes, sentindo meus olhos arderem, mas permaneço imóvel em sua mira. Então de repente ele fica sério, sua expressão sombria. — Está na hora de pagar por isso.

Então Carl Grimes puxa o gatilho.

Sugo o ar pela boca sentando-me na cama, demorando alguns segundos para perceber que não estou morta. E que nem Carl nem mamãe estão aqui.

— Parece que esse foi ruim, ein? — Olho assustada para Perseu, que está sentado na cadeira de balanço no canto do quarto me encarando com as sobrancelhas arqueadas.

Esfrego meus olhos, passando a mão inutilmente pelo meu cabelo desgrenhado. É o primeiro pesadelo desde que chegamos em Woodbury, há duas semanas, e não faço ideia do que isso possa significar.

— O que está fazendo aqui? — pergunto, tentando inutilmente cobrir meu pijama cheio de ursinhos. O ato não passa despercebido, e um sorriso se abre nos lábios do garoto irritante sentando à minha frente.

— Achei que gostaria de acordar a tempo de ir à escola, ursinha — informa, se aprumando no assento. Ele olha para mim novamente, dessa vez sem o sorriso. — Pensei que eles tinham parado.

Olho para minhas mãos por um momento antes de levantar, expondo o short rosa, também com ursinhos, que completa meu pijama. Empurro o constrangimento para um lugar longe e escuro dentro de mim enquanto começo a arrumar minha cama.

— Pensei que você não quisesse ir à escola — digo, lembrando-me da nossa conversa de alguns dias atrás onde Perseu desprezou completamente tal perspectiva. Opto por ignorar sua última fala, sabendo que conversar sobre os pesadelos não está na lista de coisas mais interessantes para se falar.

— Bem, eu ainda não quero — diz, e seu rosto franze em desgosto quando Oliver, meu querido gato, entra no quarto. — Essa bola de pelo é nojenta.

— Sei que no fundo você o ama — provoco. Acaricio a cabeça do gato antes que ele pule em cima da minha cama, e viro-me para encarar o garoto. — Então por que está aqui?

— Ok, vou parar de mentir — desiste em um suspiro. Ele me lança um olhar ansioso, que por sinal cai muito bem nele, antes de falar. — Eu queria te chamar para ir a um lugar.

Não sei bem quando isso começou a acontecer. Depois da insinuação de papai e da chegada à Woodbury — onde eu não preciso me preocupar com infectados e mantimentos —, acabei tendo que encontrar outras coisas para pensar. E bom, Perseu foi uma delas.

— Aqui tem um bordel? — questiono zombeteira, tentando disfarçar o quão animada fiquei com seu pedido. Perseu limita-se a revirar os olhos para mim, em claro desprezo. — Que lugar então?

— É do outro lado da cidade — informa evasivo, levantando-se da cadeira de madeira e andando até a penteadeira. Ele observa meus poucos objetos pessoais, optando por pegar uma das minhas fotos. — Então, quer ir?

— Pode ser — aceito, mordendo o interior da minha bochecha. Fico olhando para Perseu em silêncio, que continua entretido com minhas coisas. Quando noto que ele está alheio ao meu olhar, pigarreio.

— Você quer que eu troque de roupa na sua frente ou vai sair? — sentencio, com uma sobrancelha arqueada.

Percy se afasta da minha penteadeira sem proferir qualquer som, lançando um último olhar para meu pijama antes de dar de ombros e sair do quarto.

Suspiro em alívio ao ficar sozinha, como se estivesse segurando o ar por muito tempo. Pego uma camisa xadrez e uma calça jeans antes de caminhar até o banheiro, com a imagem de mamãe morta e de Carl Grimes na cabeça.

Vai ser um longo dia.

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— Espero que você não esteja me levando para um lugar distante para poder me matar — digo enquanto caminho ao lado de Perseu na calçada. A neve já está derretendo, deixando uma última lembrança do inverno.

— Não me daria ao trabalho de ir tão longe.

Sorrio, colocando as mãos no bolso do casaco. A rua está vazia, já que estamos longe das casas povoadas, e começo a perceber que claramente ninguém nunca vem aqui. Consigo ver o muro, e isso me preocupa.

— Acho que você definiu bem errado o “outro lado da cidade” — retruco ao pararmos em frete ao muro. Arregalo os olhos quando Percy acha uma passagem, uma falha, suficientemente grande para uma pessoa magra passar.

— Tá com medo, Emma? — provoca arrogante, arqueando a sobrancelha escura.

— Claro que não! — respondo rápido demais, minha voz subindo algumas oitavas.

Apresso-me em segui-lo pela passagem, que me olha com um pequeno sorriso. Olho desgostosa a rua à minha frente, tão diferente da que estava minutos antes. Há papeis a outras coisas no chão, carros abandonados e vidros quebrados.

Perseu não demora muito para fechar novamente o buraco que passamos, e recomeça a caminhada sem se abalar com o cenário. Sigo-o pela rua silenciosa, tomando o cuidado para não fazer nenhum barulho.

— Espero que Shane não descubra — desejo em um sussurro, aproximando-me mais de Percy ao ouvir um barulho vindo de dentro de uma loja. — A gente não deveria trazer algo para sei lá, nos proteger?

— Você deveria ter perguntado isso antes. É irresponsável confiar nas pessoas desse jeito — repreende. Olho indignada em sua direção, mas ele apenas ignora. — Relaxa, eu trouxe isso.

— Como você conseguiu pegá-la?! — questiono em voz alta ao olhar minha faca em sua mão. Perseu me adverte com o olhar, mas não me abalo. Pelo o que eu me lembre, a faca estava bem guardada no meu quarto, em cima da penteadeira... — Filho da puta!

— Qual é, vai dizer que não se sente melhor por eu ter a pego? — defende-se. Apenas permaneço com minha carranca mal-humorada, me sentindo totalmente enganada.

Perseu anda mais alguns metros antes de parar em frente à uma vitrine obstruída por uma cortina escura. Não consigo ler o nome da loja, mas ela parece bem charmosa. Ele vai até a porta de madeira e torce a maçaneta, seguro o suficiente para entrar sem tomar cuidado com algum infectado que pode haver lá dentro.

Hesito na entrada por um momento antes de caminhar para dentro. Estanco no lugar ao olhar o interior da incrível loja, sentindo meu queixo cair levemente ao notar os milhares de livros que preenchem a parede esquerda do chão ao teto.

— Uau! — murmuro, ainda boquiaberta.

Há partes do telhado que são de vidro, possibilitando a entrada da luz do dia, e que faz com que os vinis e as fadas platinadas presas ao teto cintilem. A parede oposta à dos livros é coberta por CD’s e pôsteres de bandas famosas, junto com instrumentos musicais e objetos mitológicos.

— Legal né? — Percy questiona, indo até o fundo da loja, que tem um tamanho suficientemente grande. — Achei aqui por acaso. Meu pai certamente iria adorar.

Caminho pela loja, ainda observando-a, e aproximo-me de Perseu. Ele está sentado em frente ao balcão coberto por miniaturas. Paro ao seu lado, apoiando o cotovelo direito na superfície de madeira.

— Você nunca falou dele — falo, olhando-o. Seus cabelos estão mais cumpridos, e cobrem parcialmente seus olhos escuros.

Conversamos sobre diversos assuntos e pessoas durante todo esse tempo, mas Perseu sempre permaneceu-se reservado quanto à sua vida anterior ao apocalipse. As únicas coisas que eu sabia era que ele morou com a mãe até os nove anos e que depois disso o contato tornou-se bem limitado. Pelo menos até tudo isso começar.

— Ted Stark. Ele era professor de história — começa após alguns segundos de silêncio. — Era fascinado por mitologia grega e Queen. A espada era dele.

Observo surpresa o sorriso nostálgico em seu rosto, fascinada pela cena tão rara. Perseu agora tem sua atenção voltada para a miniatura do Freddie Mercury, que está ao lado de outras pessoas famosas.

— Por isso o nome — constato.

— É, ainda bem que ele optou pela mitologia. — Perseu faz uma careta. — Imagina se fosse Farrokh?

— Seria bizarro. — Rio ao imaginar.

 Ele desvia o olhar do brinquedo após mais alguns segundos de silêncio, focando os olhos escuros no meu rosto.

— Você é uma garota legal — diz, surpreendendo-me.

Percy está completamente virado para mim agora, e de repente noto o quão próximo estamos. Bem próximos. Mudo o peso do corpo para meu outro pé, constrangida pela proximidade.

— Ham... Você também — gaguejo estupidamente.

Sua respiração bate descompassada no meu rosto, e sinto minha pulsação acelerada. Involuntariamente meus olhos vão até sua boca perigosamente próxima. Seus lábios estão levemente entreabertos, e observo desnorteada ele umedecê-los com a língua.

E de repente um gritante pensamento invade minha mente: Nós vamos nos beijar!

Mas ao invés disso, Perseu apenas levanta-se da cadeira e caminha até os CD’s, deixando-me plantada no chão. Imediatamente sinto a decepção apossar-se de mim, que transforma-se em raiva e faz com que eu o siga à passos duros.

— Por que me elogiou? — pergunto irritada, parando em sua frente. O verdadeiro significado da minha pergunta é “Por que ia me beijar?”, e tenho certeza que ele irá entender. Uma parte de mim ainda está tentando entender o motivo da minha reação, mas rapidamente ela é sufocada pela minha raiva. Perseu apenas me encara confuso.

— Por que está tão irritada, Emma? — ele pergunta, cruzando os braços ao me encarar. Sua expressão confusa se tornou severa tão rápido quanto minha raiva surgiu. — Você acha que eu gosto de sentir isso? Acha que eu gosto de sentir meu coração acelerar igual a de uma garotinha quando você está perto? — desabafa, olhando-me raivoso. — Você não é a única que sente coisas estranhas, garota.

Fico sem reação por alguns segundos, apenas encarando-o bobamente, tentando recuperar-me do choque que suas palavras causaram-me. Ele acabou mesmo de dizer isso que eu acho que ele disse?

Então eu olho em seus olhos castanhos, tão escuros e sombrios, e algo dentro de mim agita-se. Uma certeza estranha, um desejo incontrolável, apossa-se do meu cérebro e de todo meu corpo, fazendo com que eu me aproxime de Percy mais rápido do que achei possível.

— Mas que porra você tá fazendo? — pergunta em um sussurro, olhando-me surpreso. Em resposta apenas toco seus lábios com os meus, beijando-o.

Let me in the wall, you've built around
And we can light a match and burn it down
Let me hold your hand and dance 'round and 'round the flame

 


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Me deixe entrar nesse muro que você construiu ao seu redor
E nós podemos acender um fósforo e queimá-lo
Me deixe segurar sua mão e dançar em volta das chamas.
(Dust To Dust — The Civil Wars)

Pra quem não sabe, Farrokh é o nome real do Freddie Mercury.


O que acharam? Beijinho Persemma e pesadelo com o Carl. Que gostoso!

Pergunta de hoje: Como seria viver a vida da melhor forma possível para você?
Minha resposta:
1: Amar a si mesmo;
2: Ser bom com as pessoas;
3: Viajar;
4: Fazer a diferença, nem que seja na vida de uma única pessoa;
5: Trabalhar e fazer coisas que gosta;
6: Não ter medo (o medo ruim, no caso skfjdksfj);

Eu poderia prolongar a listinha, mas ninguém leria.

beijosss