Crônicas do deus busão escrita por Dija Darkdija


Capítulo 6
O Pastor de Boivelhas




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Somos um rebanho de ovelhas perdidas nos caminhos do senhor deus busão. Uns de um lado pro outro, outros na contramão de um caminho que tem volta (mas só daqui a uma hora, dependendo do trânsito). O rebanho, diferente dos rebanhos de outros bichos, é o mais diversificado possível. Todos os tamanhos, pesos, cores e espécies possíveis. Da raça gospel à raça vidaloka, da qual provém uma subespécie regional chamada môfi. Da raça incômoda, que gosta de cutucar a ovelha vizinha, à nãometoques, que tem sempre uma postura perfeita para não ser incomodada (que funciona com todas as outras, menos as incômodas e suas respectivas hibridagens).

Falando em postura, curioso é notar a postura das raças hipster, urbanconceitual, ryca e pão-com-ovo, além da metidabesta, que tem em comum a cabeça quase sempre empinada, o que se constitui numa tentativa de se impor como superior, mesmo dentro do mesmo rebanho e dos mesmos caminhos do deus busão que raças com posturas menos imponente (mas de força muito maior) como a trabalhadora. Mas não há fronteiras que resistam à primeira freada brusca do motorista, vulgo conhecido por motô. Motô é, na verdade, uma espécie de sacerdote que acredita saber das vontades do deus busão e dos fiéis, e como e para onde deve conduzi-los. Pura especulação, pois na verdade o motô acaba conduzindo seu rebanho de formas complicadas, pouco ortodoxas e não sei se realmente aprovadas pelo seu senhor. Há toda uma polêmica em relação ao motô e seu assistente, o cobrador. O cobrador, por sinal, talvez seja ainda mais complicado: é o que retira de todos um dízimo diário (várias vezes por dia), e o que recebe todas as reclamações que o motô deveria ouvir mas ignora. Um motô ruim será sempre um motô ruim. E o que se diz ao motô, pode ser aplicado ao cobrador: incitação ao caos!

Em resumo, a maioria acaba não lidando muito bem com as curvas e buracos do caminho, e é sempre acusado de estar carregando boi. Não sei em relação aos bois (que não são merecedores disso, claro), mas o rebanho de boivelhas do deus busão talvez receba tal tratamento como uma espécie de castigo divino indireto para purgar os pecados e as faltas de todo dia. Há um ou outro não merecedor dessa pena injusta, sabemos. Existem as crianças e os bebês, que acabam pagando injustamente pelos malfeitos de seus pais, mas no geral, o que une o rebanho de boivelhas é o purgatório, que nada mais é que uma viagem num busão lotado em estranha estrada ruim com um motorista pior ainda que somos obrigados a pegar todos os dias.


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