Alice no País dos Pesadelos escrita por Mit


Capítulo 1
Prólogo - A chegada




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Era uma vez…
Alice nunca esteve tão entediada em sua vida. O carro as vezes ficava mais lento por conta dos buracos no meio do caminho ou antes, os quebra-molas. Por que sua avó tinha que morar a horas de distancia de uma cidade? Se pelo menos tiver uma tomada Alice pensava, eu não vou ter vontade de voltar pra casa a pé. A bateria de seu celular estava quase acabando. A Internet havia parado de funcionar mais ou menos 10 minutos depois de a estrada começar a ser de terra. Ela revirou os olhos e os fechou, tentando viajar com a música que ouvia.
- Oh vamos, Alice! - Sua mãe falou. - Não vai ser tão ruim assim... Além disso eu...Alice? - ela virou para trás e bufou com impaciência. Pegou um dos fios do fone de ouvido e puxou. - Está me ouvindo??
- Claro, mãe...
Na verdade Marie era sua irmã mais velha. Sua mãe morrera em no segundoparto e desde então ela havia a criado como uma mãe. Tanto que teve um momento em sua vida que esquecera e a chamara de "mamãe". E pelo visto, Marie havia gostado do novo título. Até porque, uns anos antes disso, havia recebido o exame do hospital que constatava com todas as letras de que ela era estéril.
Mas estava indo viajar para França à trabalho. Voltaria assim que as férias acabassem. E Alice teria que ficar na casa de sua avó até sua mãe voltar.
Claro que ela preferia ter ficado em casa, mas Marie pôs um ponto final no assunto.
- Sua avó tem muitos livros, além disso. – Ela continuou, virando o volante pra direita. – Você gosta de livros, não gosta?
- Mais ou menos. Não consigo prestar muita atenção se não tiver figuras. – O celular tinha descarregado. Alice o enfiou na bolsa e acariciou Cheshire, seu gato que estava a viagem inteira dormindo com a cabeça encostada em sua perna.
- Ouça Alice, há muitos e muitos livros nesse mundo sem figuras.
- Pode ser. Mas por mim, os livros só teriam figuras. – O clima foi tomado pelo ronrono de Cheshire.

(...)

Vista de longe, era uma mansão digna de um filme de terror.
O muro era de uma grade enferrujada escura e o portão abriu com um rangido. Sua mãe avançou com o carro e seguia uma trilha de grama amassada, como um caminho para carro mesmo. Alice e seu gato estavam colados na janela, olhando tudo. Ela odiava histórias de terror e odiava sustos. Ficar naquela casa seria um pesadelo vivo. Do lado da janela esquerda, onde Alice estava, o campo seguia por pelo menos 40 metros. Ela não conseguia ver o que estava além, mas conseguia ver as arvores do lado de fora do muro fazendo sombra. De dia, parecia uma casa abandonada. De noite... bem, Alice preferiu não imaginar.
Cheshire miou, apoiado na outra janela. Alice foi até ele. Do lado direito, ao longe, havia uma piscina com folhas secas boiando nas águas quietas. Ela engoliu em seco.
Pensando bem... Se só tiver luz elétrica eu já fico feliz.
Pararam em frente a mansão. De perto ela parecia menos assustadora. Talvez porque ainda fosse 9:15am. Sua madeira era escura e parecia úmida. O portão parecia ter uns quatro ou cinco metros de altura e dois de largura. A maçaneta era as antigas, onde você pegava a argola e batia na porta, fazendo o som ecoar pra dentro da casa. Alice pegou sua mochila e Cheshire pulou em seu ombro. Ele também estava inquieto olhando para todo canto.
Sua mãe virou para ela e sorriu. Isso a aliviou. Marie havia visitado a avó Sammy muitas vezes antes de Alice nascer. Se aquele lugar lhe era familiar, então não tinha tantos motivos para ficar com medo. Coçou o focinho do gato, que estava pressionando as unhas em seu ombro, provavelmente tenso com a aparência sombria do casarão. Marie pegou a argola de ouro e bateu três vezes. Alice conseguiu ouvir as batidas ecoando pra sempre na casa. Estava quase considerando a ideia de voltar pro carro e ela mesma dirigir até sua casa.
Suas mãos estavam suadas e ela limpou em sua calça jeans. Nunca havia visto sua vó na vida. E se ela parecesse uma bruxa? Já bastava aquela casa. Ela olhava pra baixo, nervosa. Sentiu a linguinha áspera de Cheshire em sua bochecha. Ela olhou para o gato e ele lambeu seu nariz. Alice deu uma risadinha muda. Agora ela estava mais calma.
A porta abriu com outro rangido. Cheshire pareceu levemente animado por um segundo. Sua vó não parecia uma bruxa. Muito pelo contrário. Na verdade muito mesmo. Quantos anos ela devia ter? Cinquenta e cinco? Ela tinha cabelos negros ondulados no ombro e um corpo tão bonito e conservado que Alice quase se sentiu ofendida.
- Vocês chegaram! Estavam demorando tanto! Fiquei tão preocupada! – Sua voz também era bonita. Aquela mulher era mesmo sua avó?? Ela abraçou Marie e Alice fortemente, e Cheshire ronronou quando ela afagou sua cabeça.
- Está é Alice, minha...-
- Alice! Ah, como eu ouvi falar de você! Deixe-me ver seu rosto- Suas mãos eram macias apesar das rugas. – Você tem os olhos azuis de sua mãe... e os cílios longos do seu pai! Esse cabelo você deve ter herdado de mim, antes de começar a pintar... Mas... bem, você vai entrar, Marie?
- Na verdade, meu voo é pra daqui a algumas horas. Preciso correr! – disse, rindo no final.
- Bem, boa viagem! Me dê sua bolsa, criança, eu carrego!
Alice hesitou em entregar a bolsa. Ela não gostava de abusar da hospitalidade das pessoas. E mesmo Sammy se oferecendo, sentia-se mal educada. Ela torceu o nariz e entregou para a avó, que sorriu e entrou na casa. Cheshire pulou para o chão e entrou junto, tentando reconhecer o cheiro do lugar. Alice virou para Marie
- Filha... - ela fungou – Vou sentir saudades
- Ei, esta tudo bem! Você ainda pode me mandar mensagem! – disse, abraçando a mãe.
- É a primeira vez que eu te deixo sozinha em 15 anos! Que mãe mais desnaturada que eu sou...
- Está tudo bem, você é uma mãe maravilhosa. – Ela estava quase chorando também. Ia ser difícil ficar sem Marie por dois meses.
- Bem, se cuida!
Ela sorriu. Viu a mãe entrar no carro e sair pelo portão afora. Olhou em volta. O lugar nem parecia tão ruim assim, se fosse cuidado. Ela virou para trás e entrou.


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Notas finais do capítulo

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