Licantropia: A Reserva escrita por Paulo Carvalho


Capítulo 14
Capitulo 13: Neutros.


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal, tudo bom? Desculpem por não ter postado ontem, tive problemas com a internet. Espero que gostem...
Boa leitura.



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A comida acabou cinco dias depois da partida. Embora, Richard comesse muito pouco e desse a maior parte de seus suprimentos para Maon, as reservas de carne desidratada, água e pão eram muito poucas. Maon questionou o motivo e Rich respondeu envergonhado que não esperava que ele comesse tanto.

–--Eu não esperava que alguém como você comesse tão pouco. ---ele retrucou e analisou o homem à sua frente. Maon sempre fora o mais alto dentre todos ao redor, mas Rich era quase 5 centímetros mais longo e muito mais forte.

–--Fui treinado para comer pouco. ---Rich respondeu.

–--Eu sabia que você não era um cidadão comum.

–--Claro que não. Sou um patrulheiro, como você. ---ele respondeu enquanto abria caminho com o facão pela floresta densa.

–--Isso é mentira também. ---Maon respondeu.

–--Como pode saber disso?

–--Você não se parece com um patrulheiro. E nenhum de nós tem um treinamento como o seu. Aprender a comer pouco? Identificar a espécie de aves pelo som? Nenhuma Reserva teria recursos para treinar patrulheiros assim. Eu observei você todos esses dias.

Maon havia verdadeiramente observado-o durante todos os dias. Rich se revelara o melhor guia que alguém poderia desejar; capaz de se guiar pelas estrelas, sol e lua, identificar rastros de animais que poderiam representar algum perigo e parecia ter visão noturna, salvando Maon de inúmeras quedas que poderiam ter quebrado uma de suas pernas ou pescoço. Depois do terceiro dia, ele não tinha dúvidas de que Richard era muito mais que um simples cidadão.

–--Tem me observado? ---ele sorriu e se virou.

–--Não tente mudar de assunto. ---Maon respondeu, mas corou. Apenas o tom de voz de Rich já era capaz de deixa-lo vermelho, mas aquele rosto... era ainda pior.

–--Eu não estou mudando de assunto. Foi só um detalhe que eu gostei de saber. ---ele piscou e voltou a abrir caminho com o facão. ---Você está certo. Eu não sou um patrulheiro. Fui treinado para esse tipo de coisa. Somos chamados de Neutros.

–--Nunca ouvi falar. ---Maon respondeu.

–--E nem deveria. Teria de mata-lo, se soubesse. ---Rich respondeu simplesmente. ---Digamos apenas que somos soldados especiais treinados para atividades em campo.

–--Com atividades em campo você quer dizer resgate? ---Maon sugeriu.

–--Quase. Esqueça isso. Apenas pense que você está seguro perto de mim.

–--Falta muito? Não estou reclamando nem nada, mas você disse que eles estavam perto e pelos meus cálculos nós já andamos uns vinte quilômetros para norte.

–--Você é péssimo com cálculos então. Foram 36 quilômetros para oeste. ---Rich respondeu. ---O acampamento está se movendo. Eles não são chamados de Nômades à toa. Devemos alcança-los em alguns dias...

A parede de folhas e galhos cedeu subitamente a uma clareira de grama esmagada. Maon não precisava dos treinamentos de Richard para saber que o espaço pertencia a uma alcateia. Era grande e desorganizada, apresentando vestígios de ter sido feito há poucos dias. Havia estacas de madeira que formava o que devia ter sido um muro de proteção; pedaços de lona e objetos largados apressadamente ocupavam a grama esmagada; mas eram as carcaças que chamavam atenção. Cadáveres dos mais variados animais semidigeridas com marcas de garras e dentes exibindo a carne vermelha e sangrenta do interior.

–--Estamos mais perto do que eu pensava. ---Richard respondeu. ---Esse acampamento não era para estar aqui. --- ele franziu a testa e se aproximou de uma das fogueiras e analisou as cinzas. ---Eles estão diminuindo a velocidade.

–--E? ---Maon ergueu os olhos para a carcaça de um antílope que se reduzira a chifres e tiras de pelo sangrento. A imagem o fez pensar em Samantha e um arrepio percorreu seu corpo.

–--Eles estão se aproximando do objetivo deles.

–--E qual seria? ---Maon continuou a analisar as carcaças.

–--Eu tenho algumas teorias, mas... ---ele ergueu a cabeça e se inclinou. ---Maon.

–--Mas que merda! --- o outro tropeçou e encarou a mão sem dedos com nojo. ---Eles comem os próprios membros da alcateia?

–--O que você esperava? Civilidade? ---Rich estendeu a mão e o ajudou a se levantar. ---Provavelmente era algum pobre idiota humano . Eles normalmente só se matam quando algum deles faz algo errado.

–--Humanos? Do lado de fora das Reservas? ---Maon franziu as sobrancelhas.

–--Os simpatizantes, sim. ---Rich sorriu. ---Eles não te falaram deles na Reserva?

–--Não. ---Maon respondeu.

–--Venha, eu te conto no caminho. ---enquanto eles atravessavam a clareira, Richard observava tudo ao redor, como um predador à procura da presa. ---Você já deve ter ouvido falar dos Impuros, certo?

–--Sim. ---a lembrança indesejada de Sam voltou a sua cabeça. --- Conheci alguns deles.

–--Eles normalmente são filhos de licantropos, mas que não adquiriram o vírus, certo? Mas existem alguns poucos impuros que são filhos de humanos de fora da Reserva. Simpatizantes em sua maioria. Eles acreditam que o vírus seja a nova etapa da evolução. ---Rich fez aspas com os dedos. ---Idiotas. Eles vivem aqui fora na esperança de serem encontrados pelos licantropos e transformados, ao invés, de como você viu, mortos. A maioria das alcateias só busca sobreviver e mata qualquer humano que aparece em seu caminho. Os Nômades são assim. Mas, existem os cruéis e burros, que acreditam serem capazes de reiniciar a guerra e usam os humanos como experiência. Já ouviu falar da Doença de Prata?

–--Muito pouco. ---Maon respondeu tentando se lembrar das aulas de Saúde na Reserva. ---Só sei que afeta os lobisomens. Dizem que é fatal na maioria das vezes.

–--Exatamente. Ela foi criada pelos cientistas durante as guerras para diminuir o contingente dos licantropos. Eles precisavam criar um vírus que não afetasse os humanos, mas que matasse rapidamente os Filhos da Noite. Ou seja, humanos são imunes a Doença de Prata. Essas alcateias que querem recomeçar a guerra usam esses simpatizantes para procriação. Eles prometem transforma-los, mas primeiro procriam. É possível que dessa união nasça um licantropo imune a doença, um licantropo comum ou o que acontece na maioria das vezes...

–--Um Impuro. ---Maon completou.

–--Além de bonitinho, inteligente. ---Richard sorriu.

–--Cala a boca!

–--Prefiro que você cale.

Maon o encarou incomodado. Richard sorria ironicamente para ele; os olhos azuis tão claros quanto o céu, os cabelos escuros e lisos caíam ao redor das têmporas e a barba escura que se assemelhava a uma sombra ao redor do queixo o fazia parecer mais velho. O patrulheiro se aproximou e o beijou, tentando não pensar no que estava fazendo.

–--Bem melhor. ---Rich respondeu com os lábios colados na orelha de Maon.

As mãos de Maon envolveram o pescoço de Richard e seus dedos se torceram em seu cabelo escuro como petróleo. Rich passou as mãos dos ombros para os braços de Maon e desceram até sua cintura. Ele sorria quando empurrou o patrulheiro contra uma árvore qualquer, prensando-o com o próprio quadril.

–--Mas e a alcateia? ---Maon perguntou sem fôlego quando Rich deixou sua boca para beijar-lhe o pescoço.

–--Pode esperar algumas horas. ---Richard respondeu antes de puxar a própria camisa revelando os músculos abdominais bem definidos e os ombros largos.

–--Horas? ---Maon responder debilmente, fazendo o outro rir.

–--Devemos chegar ao acampamento em dois ou três dias. Precisamos ficar atentos durante o dia e fazer vigias de noite. ---Rich disse no 11° dia na floresta, durante o jantar composto de antílope assado e água de um rio suspeito encontrado há duas noites.

–--Tudo bem. ---Maon respondeu. ---Eu faço a primeira vigia.

–--Tem certeza?

–--Com certeza. ---o patrulheiro beijou Richard rapidamente e se posicionou embaixo de uma árvore de galhos baixos. ---Cansei de ser a donzela em perigo.

–--Tudo bem. ---Rich riu e se deitou sobre a cama de cobertores térmicos que ele havia roubado da Reserva antes da fuga. ---Mas, eu não preciso dormir muito.

–--Eu sei disso, mas mesmo assim. Durma. É uma ordem. ---Rich sorriu e fechou os olhos.

Demorou algumas horas para que a respiração de Richard desacelerasse e seus músculos relaxassem. Só então, Maon teve coragem de olha-lo. Cabelos escuros que à noite se camuflavam na escuridão, lábios cheios e bem desenhados, maçãs do rosto salientes e firmes, queixo retangular e nariz reto. Ele era lindo, mas isso o patrulheiro já percebera há algum tempo. O que Maon procurava era lembrar-se com quem Rich se parecia. Aquela expressão, aqueles olhos; lembravam-no de alguém. Ou de algo.

O som surgiu à direita e o patrulheiro tentou identifica-lo. Sutil demais e baixo demais. Como o quebrar de galhos por pés incrivelmente leves. Maon pensou em chamar Richard, mas estava cansado de ser o inútil. Rich achava a comida, procurava os rastros, indicava as armadilhas, identificava os sons e os guiava pela mata fechada e sem qualquer ponto de identificação. Com cuidado, o patrulheiro puxou a faca da cintura e se moveu silencioso como uma sombra. O som retornou segundos depois, alguns metros mais a oeste.

A silhueta escura do animal surgiu minutos depois. Era grande, esguio e pesado. O pelo negro do puma oferecia uma a camuflagem perfeita na floresta escura e cheia de sombras; a única coisa que denunciava a fera eram os olhos amarelos e selvagens, cheios de fome. Olhos que estavam completamente focados em Maon.

O animal se moveu muito rápido e se chocou com força com Maon, levando-o ao chão e cegando- o momentaneamente. As garras do animal não tiveram muito efeito na roupa de proteção do patrulheiro, mas ainda assim, ele sentiu algo quente escorrer por sua testa. Usando todas as suas forças, o patrulheiro torceu o braço para a esquerda e mirou a faca no pescoço do animal. A lâmina cortou músculos, gorduras e pele como manteiga, fazendo o animal gritar de dor e raiva. Lentamente, a fera parou de lutar e seus rosnados perderam intensidade. Maon encarou o puma morto, sem fôlego e pressionando o corte no supercílio.

As outras feras não rosnaram, apenas encaravam-no com os olhos selvagens perdidos nas sombras. Maon contou seis pares de olhos, mas sabia que havia mais deles atrás de si. A faca, ele pensou, mas deliberou por um segundo e concluiu que não adiantaria muita coisa. O primeiro rugido surgiu a sua direita, muito alto e muito irritado. Mas não era um de um puma, era de Richard.

Ele rosnou mais algumas vezes e os pumas o encaram em dúvida. Alguns se afastaram e seus olhos dourados sumiram nas sombras, mas três permaneceram. As feras saíram do meio das árvores e encararam o inimigo. Eram coisas grandes e cheias de músculos, com dentes afiados e garras enormes. Os pumas rosnaram uma vez e se prepararam para atacar; Richard fez o mesmo.

Tudo aconteceu muito rapidamente. Os animais atacaram juntos, mas o maior deles era também o mais rápido e alcançou Rich primeiro. Com um movimento rápido e forte, Richard agarrou o pescoço da fera, torcendo-o com um crack. Os outros dois atingiram o alvo com força e selvageria. Maon encarou a cena, impotente. Ele não sabia o que fazer, mas seus instintos o fizeram se virar e retirar a faca do puma negro. O patrulheiro tentou se aproximar de Richard, mas o outro estava debruçado sobre um dos pumas com os dentes cravados no pescoço da fera.

A faca caiu da mão de Maon e caiu no solo com um som surdo e seco. Rich se virou e soltou a carcaça do puma, sangue vermelho manchava todo seu queixo e os olhos azuis se fixaram nos negros de Maon. Ele tentou se aproximar, mas o patrulheiro se afastou com as mãos tremendo e os ombros tensos.

–--Maon? ---Richard ergueu uma das mãos em sua direção. ---Eu sei o que você está pensando, mas não é verdade.

–--Como não, Richard? ---Maon gritou. ---Eu vi você! Não minta para mim.

–--Você não entende. Eu sou diferente. ---Rich respondeu e tentou se aproximar novamente, mas o outro se afastou dois passos.

–--Diferente? ---o patrulheiro riu de escárnio. ---Você é um lobisomem bonzinho? Como você conseguiu se infiltrar na Reserva?

–--Eu nasci na Reserva, Maon. Eu fui criado por eles. Lembra-se do que eu te falei? Sobre os Neutros? Os Agentes especiais da Reserva? É isso que eles fazem com a gente. ---Richard debruçou-se em uma das árvores, com uma expressão cansada. ---Os cientistas perceberam que humanos comuns não seriam capazes de lutar contra os lobisomens e a Doença de Prata perdeu a eficácia quando os imunes surgiram e repassaram a habilidade para os descendentes. Então eles tiveram essa ideia: criar humanos com as mesmas habilidades dos licantropos, mas que pudessem ser controlados. Que não oferecessem risco de contaminação, ou seja, não pudessem passar o vírus adiante. Soldados temporários. Somos fortes, rápidos e nos curamos tão rapidamente quanto os Filhos da Noite. Mas não passamos as habilidades adiante. Em outras palavras...

–--Vocês são a cura. ---Maon respondeu.

–--Bonitinho e inteligente. ---Rich sorriu. ---Sim, patrulheiro. Eu sou a cura.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam??



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