Mirror, O Reflexo da Verdade escrita por Nynna Days


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, flores.

Primeiramente, quero agradecer á todos que acompanharam e esperaram o final feliz de Jeremy e Aliel. E tiveram paciência. Eu já fiz o primeiro capítulo de Destiny e se o computador do meu primo permitir, talvez poste hoje.

Espero que curtam.



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Adriel olhou por cima dos meus ombros e se mexeu para puxar Caliel para trás de seu corpo. Parece que eu não tinha sido o único a se esquecer dos efeitos que a presença angélica causava. A loira quase tropeçou em seus pés, mas entendeu que aquela batalha não era dela. Pelo menos ela havia entendido isso. Eu me remexia inquieto querendo ver a cena que se desenrolava nas minhas costas.

Um pensamento sombrio tomou conta de minha mente. Será que os três haviam descido apenas por minha causa? Quero dizer, ali estavam presente uma ex- Anjo que tinha desistido das asas por um Quase-Anjo que por acaso era a reencarnação de um amor perdido que morreu por causa deles. E também tinha um Anjo Caído, que por tantos anos fora fiel ao Céu e tinha cedido com tanta facilidade á uma garota que tinha o histórico mais sujo que o meu.

Claro que eles não se esqueceriam de mim. O motivo para que outro de seus anjos estivesse ajoelhado e pedindo para que lhe tomasse a única prova de sua imortalidade. Ok que não podia vê-los, mas tinha a total certeza que estavam putos pra cacete. Nova Jersey tinha provocado um rombo em suas expectativas angélicas, desfalcando-os.

“Guardiã Aliel.”

Três vozes distintas soaram em minha mente, como se meu cérebro estivesse sintonizado em alguma estação de rádio angelical. Dava para sentir o contraste entre os três Arcanjos. Uma das vozes era doce, rasa e calma, como se aquele momento fosse casual aos seus olhos. Outra era firme e rígida, como se estivesse irritado por tudo o que ocorria. A terceira se torcia em desconforto e surpresa, talvez sobressaltado com aquela cena.

“Rafael.”, ela pausou e eu a imaginei fazendo uma mesura ou um aceno com a cabeça em sinal de respeito. Era muito frustrante não ver tudo o que acontecia. “Miguel. Gabriel.”

“Olá, Guardiã.”, ressoou a voz mais calma. Imaginei que pertencia ao Arcanjo Gabriel. “Estávamos esperando que nos chamasse.”

Ela pigarreou e eu reconheci isso como um sinal de que estava constrangida. E que não sabia o que fazer. Um instinto protetor se apossou de mim e faltou muito pouco para que eu empurrasse Adriel e mandasse pro inferno toda aquela história de “Humanos não olharem para Arcanjos”. O Anjo Caído deve ter visto a decisão estampada em meus olhos, porque suas mãos apertaram meu bíceps, impossibiltando qualquer movimento desejado por mim.

“Arcanjos.”, Aliel disse em um sussurro tímido, mas decidido. “Não imaginava que veria á todos de uma vez. Não quero ser motivo de incomodo.”

Escutei um barulho estranho em minha mente, semelhante á um bufar.

“Se você for dizer o que achamos e observamos, será motivo de incomodo sim.”, disse a voz mais rígida. Miguel, sem dúvidas. “Irmão, não acredito que perdeu o controle por sua Guardiã. Tanto dissera que iria resolver a situação.”

“E eu o fiz.”, o último Arcanjo disse parecendo ofendido com a acusação do outro anjo. “A culpa é desse mundo preenchido de pecado que tanto envenenou nossos anjos. Veja. Não sou o único que perdeu o controle da situação. Você perdeu uma Sub Arcanjo, irmão. Depois de ter dito que iria resolver.”

Perifericamente, vi os ombros de Caliel se endurecendo com a menção de sua antiga vida com Nicolas/Dareel. Aliel me contou sobre o jeito que eles resolveram aquilo muitos anos atrás, garantindo que Caliel não se afastasse dos céus. Esse era o maior medo de minha Guardiã. Que eles quisessem repetir a dose. Só que eu não ligava para isso. Voltaria para Aliel quantas vezes fossem necessárias para garantir a nossa felicidade. Esperaria por ela anos se fosse preciso.

Sabia que nos encontraríamos. Éramos como peças de um quebra cabeça único. Ninguém poderia substuir-nos. Por mais que o Céu decidisse que não pertencíamos um ao outro, nossos corações discordavam firmemente.

“Irmãos, não se abalem.”, Gabriel tentou apaziguar. Sua voz soava como uma sinfonia de ninar em minha mente, acalmando todos os meus membros tensos. “Estamos aqui por um objetivo. Sabíamos que nossos anjos seriam imperfeitos. Eles nasceram da imperfeição.”

“Foram criados.”, Miguel corrigiu.

Rafael suspirou. Ele era o que mais tinha reações humanas.

“Vocês compreenderam. O foco não é o motivo de suas quedas, por mais nobres que sejam, e sim que fomos chamados por uma Guardiã.”, escutei passos baixos e o arfar de Aliel. Mesmo sem olhar, tive a consciência de que ele deveria estar perto o suficiente para tocá-la. “Pode dizer o que quer, Guardiã Aliel.”

O silêncio que se seguiu foi o mais aterrorizante da minha vida. Fechei os olhos, respirando fundo e acalmando as batidas alarmantes de meu coração. Era como se ele tivesse sincronizado com o dela, esperando sua resposta. Ali, diante de sua escolha iminente e de tudo o que perderia, a chance de mudar de ideia era quase indiscutível. E então eu percebi. Não importava se ela tivesse asas ou não. Por Deus, ela poderia ter chifres. Eu a amaria de qualquer jeito. Tudo o que eu queria em troca era que permanecesse ao meu lado.

Os dedos de Adriel se frouxaram e meus ombros caíram derrotados. Prometi não a fazer cair e estava fazendo coisa pior. Ela iria desistir de séculos da sua existência pela fraca esperança de ter uma vida humana comigo. Eu era tão egoísta á esse ponto?

“Não.”, respondi em voz alta á minha pergunta mental. Sabia que todos os olhares estavam em mim, mas isso não me impediu de prosseguir. Antes que me detesse, me afastei de Adriel e me virei, ainda com os olhos fechados. “Aliel, você é tudo o que eu quero e o que não mereço. Se tem uma coisa que eu aprendi nesse tempo em que estamos juntos é sobre sacrifício. Não posso deixar que você abandone uma coisa que ama por mim.”

Abri os olhos, mas os mantive baixo. Engoli a seco com as sombras das surpreeendentemente grandes asas de todos os anjos presentes. Porém, só uma me chamou realmente a atenção. Vi pela sombra sua respectiva dona se levantando e andando até mim com passos lentos e decididos. Seus delicados dedos tocaram minha bochecha singelamente. Tudo em mim vibrou em reconhecimento. Seu cheiro doce me envolveu e fui incapaz de manter os olhos longe dela por mais um segundo.

Suas íris habitualmente escuras brilhavam em um âmbar sobrenatural destacando sua pele escura e os cabelos cacheados que moldavam seu redondo rosto. Seus lábios permaneciam pressionados em uma linha rígida, enquanto procurava por pistas dos pensamentos confusos que passavam por minha cabeça. Por fim, ela aproximou seu rosto do meu o suficiente para que dois dos três Arcanjos arfassem.

“Eu estou escolhendo uma coisa que amo.”, ela afirmou com a voz forte. Pegou minha mão e a pôs em seu peito para que eu sentisse seu coração batendo com força. “Nunca teria isso sem você. Nunca teria vida. E estou cansada de apenas existir. Quero ser o motivo para alguém rir ou chorar. Quero me machucar. Quero sentir frio. Quero sentir fome. Quero sentir sono. Quero sentir, Jeremy. E eu só consigo isso com você.”

Meu limite foi atingido ali e meu pudor se tornou lenda quando pressionei meus lábios nos dela. Ela me correspondeu com ardor, provando tudo o que estava pensando. Passei minhas mãos por seus braços, sentindo seus pelos se arrepiando e ela suspirou. Ela estava sentindo. Subi minhas mãos até seus ombros e meus dedos pararam na curva de seu pescoço e maxilar. Ela se afastou contrariada, acariciando minha bochecha com o polegar.

“Só quero que esteja do meu lado.”, pedi.

Ela sorriu.

“Não precisa pedir, Jeremy.”, ela murmurou e entrelaçou os nossos dedos. “Mantenha os olhos baixos. É questão de respeito.”

Tive que me segurar para não gargalhar.

“Acho que é um pouco tarde para isso, Anjo.”

Ela desviou os olhos dos meus, envergonhada, mas assentiu. Respirou fundo e eu entendi isso como um indicador de que deveria abaixar meus olhos. Aliel virou seu corpo na direção dos Arcanjos. Fixei minha atenção em duas penas prateadas que estavam pousadas delicadamente no chão. Se Aliel fosse em frente, teria muito mais.

“Arcanjo Rafael, Gabriel e Miguel. Os chamei aqui por uma razão óbvia e complexa.”, seus dedos apertaram os meus e eu retribui o toque. “Há seis meses quando vim a Nova Jersey, estava focada na missão de juntar casais e seguir em frente, como sempre fazia. Como um bom e obediente anjo sempre fazia. Só que fui traída por mim mesma e acabei me envolvendo com alguém que não tinha nada a ver com meu objetivo e ainda assim era essencial para meu sucesso. Eu me afastei, lutei e tentei ir embora. Mas meu corpo humano se deixou envolver por tudo o que era oferecido. E com o passar do tempo, meu coração também entrou nesse jogo. Novamente, quis ser o anjo que todos esperavam que eu fosse. Mas já tinha me acostumado com a humanidade e com tudo o que ela me oferecia. Uma chance. Estava finalmente vendo um porquê para a existência de todos esses seres, mesmo em meio á tanta dor e sofrimento. É o amor. E eu o experimentei da forma mais plena que um anjo poderia.”, ela pausou e sabia que estava me encarando e sorrindo. “Agora eu quero ter isso da forma mais absoluta que uma humana tem direito.”

Nunca fui um cara sentimental, não desde seis meses atrás. Mas as palavras de Aliel me tocaram mais profundamente do que eu estava preparado. Escutei o fungar de Caliel e vi Adriel acariciando seus ombros, dando-lhe amparo. Por pouco não a beijei novamente. Não iria abusar da sorte. Minha mente ficou em silêncio, sinalizando que os Arcanjos não negaram e nem aceitaram o pedido implícito de minha Guardiã.

Arrisquei espiá-los, me arrependo em seguida. Era como um feitiço destrutivo. Por mais que eles fossem deslumbrantes, doía olhá-los. O curto momento em que consegui fazê-lo bastou para distinguí-los. Gabriel tinha os cabelos escuros e curtos, era o mais compreensivo daquela situação e seus olhos brilhavam em um lilás que se refletia em suas grandes asas. Se não fosse loucura, juraria que tinha visto um pequeno sorriso em seus lábios.

Miguel tinha o corpo rígido e a expressão totalmente em branco, os cabelos também eram escuros e as asas estavam verdes, assim como seus olhos. Rafael era o único que tinha uma expressão retorcida pela dúvida, o que o fazia mais humano. Seus cabelos eram loiros, tocando levemente os ombros e seus olhos e asas brilhavam em um azul safira. Mexi minha língua sentindo o piercing roçando em meus lábios ressecados. Olhei para Aliel e a vi mordendo o lábio inferior, apreensiva. Ela tinha dois destinos: Ir a julgamente e cair, ou ter suas asas arrancadas.

“É o que deseja, Guardiã? É uma decisão sem volta.”, Rafael soou hesitante. “Sabemos que pecou e poderemos lhe dar o benefício da dúvida. Um recomeço. Longe de todos esses pecados e tudo o que te tenta.”

Aliel largou minha mão, dando um passo á frente.

“Quero ser humana, Arcanjo.”, ela se virou para mim, ficando de costas para eles e oferecendo suas asas. Pegou minhas mãos e respirou fundo. A certeza brilhando em seus olhos âmbar. “Faça.”

Rafael se aproximou rapidamente e sua presença quase me fez recuar. Era como uma parede invisível me empurrando e me instigando a aproximar. Não me mexi nenhum centímetro, dando todo o apoio que minha Guardiã precisava. As mãos de Rafael foram até o alto das costas de Aliel, onde se iniciava as suas asas, e fechou os dedos ali. Tive que ser muito forte para não desviar o olhar da visão dele puxando as asas de Aliel com força e sem compaixão.

O grito de Aliel foi angustiante. Suas pernas cederam á gravidade, mas fui rápido ao ampará-la. Meus braços envolveram seu corpo magro e trêmulo enquanto seu choro preenchia a igreja. Fiquei aliviado ao constatar que não estava machucada fisicamente, mas sua dor fazia com que aquele alívio fosse passageiro. Suas mãos seguravam minha camiseta com força, como se buscasse um suporte e seu rosto estava afundado em meu peito.

“Pode fazer essa dor parar, por favor?”, supliquei ao Arcanjo sem medo de encará-lo. Ele franziu o cenho. “Por favor.”, repeti.

Aquilo estava me sufocando e me fazendo sentir impotente. O Arcanjo hesitou por alguns segundos angustiantes antes de se aproximar e se ajoelhar ao nosso lado. Ele afastou os cabelos de Aliel delicadamente e beijou sua bochecha brevemente. O choro dela diminuiu quase que imediatamente até se tornar uma respiração fechada e um fungar alto. Rafael acariciou o rosto dela por mais alguns segundos antes de se levantar para voltar para o lado de seus irmãos. Seus dedos roçaram em meu braço sem querer com esse movimento e a minha dor de cabeça sumiu.

“Obrigado.”, agradeci.

Ele deu um pequeno sorriso.

“Cuide dela, humano. E não cometa mais o erro de desrespeitar a casa de nosso Pai.”, ele estreitou os olhos azuis demais. “Ficaremos de olho.”, se virou para os irmãos e bateu as asas. “Vamos irmãos”, pausou olhando para o outro lado da igreja. “Aproveitem a vida, humanos e Anjo Caído.”

E assim como chegaram, uma luz forte tomou conta da igreja, me fazendo fechar olhos com força e apertar Aliel ainda mais contra o meu corpo. Assim que tudo se normalizou, tive a concepção de que éramos só nós quatro novamente. Caliel e Adriel correram até onde estávamos. Caliel tocou o cabelo de Aliel, sussurrando palavras doces para acalmá-la. Com um olhar, entendi a mensagem e as deixei sentada em um dos bancos. Caliel passou o braço ao redor de Aliel e continuou a aconselhando.

Adriel veio até mim com os braços cruzados.

“Você acha que agora poderemos ficar juntos em paz?”, indaguei.

Ele desviou a atenção das duas amigas e deu de ombros.

“Posso dizer que sim, até que alguém resolva desistir de tudo novamente.”, ele suspirou, sério. “Os Arcanjos estão ficando sem opção. Perdendo anjos demais. Eles terão que achar uma solução plausível e rápida para essa situação.”, ele balançou a cabeça. “Só não sei se irei gostar disso.”

Senti um frio na barriga.

“E o que fazemos?”

Ele me encarou com os olhos verdes duros.

“Nada, Jeremy. Enfrentamos a nossa batalha e vencemos. Temos que nos dar por satisfeitos com isso.”, acenou na direção das garotas. “Aproveite o que tem e esqueça esse assunto. Seja humano. Você já se envolveu demais nisso. Deixe a guerra para os outros.”

Não gostei muito das metáforas que ele havia dito, mas não tinha mais nada que eu poderia fazer. Nada além de cuidar da mulher da minha vida e garantir que ela fosse feliz do meu lado.

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“Você poderia melhorar essa cara no nosso primeiro dia na faculdade.”, Aliel salientou passando os braços ao redor do meu pescoço. Encostei-me no seu corpo, pressionando-a entre mim e o carro. “Não precisa ficar emburrado por uma notícia boba como essa.”

Bufei, não querendo dar o braço a torcer por conta de seu charme.

“Ter aquele estúpido como meu Guardião não é nenhum pouco satisfatório.”

Ela estreitou os olhos escuros.

“Você deveria pegar leve com Lael.”

Revirei meus olhos segurando sua cintura. Ela deu um sorriso.

“Quem me garante que ele não vai deixar um carro me atropelar depois do soco que dei nele naquela festa?”

“Já se passaram três meses, Jeremy.”, ela ressaltou. Afastei uma mecha de cabelo escuro de perto de seus olhos e o enrolei por entre os meus dedos. “Muita coisa aconteceu nesse tempo. E os anjos perdoam.”

“Pelo olhar que ele me deu ontem, acho que essa é uma virtude de poucos.”, beijei-a brevemente, impedindo-a de me corrigir. Coloquei meu queixo no topo de sua cabeça olhando para a porta da minha casa e suspirei. “Mas você tem razão. Muita coisa aconteceu nesses três meses.”

Aliel assentiu, concordando. Muitas mudanças tinha ocorrido nesse curto período de tempo. Nós iríamos voltar para a Califórnia e recomeçar nossas vidas em Stanford. Caliel e Nicolas iriam ter seu primeiro filho, que depois de tanta indecisão, escolheram o nome de Dareel. Mellany estava no seu último ano escolar e estava decidida á ir para a faculdade e dar um tempo em seu sonho de ser uma pop star. Ah, sim. Eu e Aliel ganhamos a dupla dinâmica como nossos guardiões. Uma ideia mais estúpida do que colocar Lael como meu anjo da guarda, era por Ariel como anjo da guarda de Aliel.

Entretanto, não estava em posição de ir reclamar com o pessoal lá de cima.

“Oh, desculpem por demorar.”, minha mãe disse saindo com Jane em seus braços. Minha irmã se inclinou na minha direção, esticando as gordinhas mãos. Peguei-a no colo e beijei seus cabelos ruivos. “Ela vai sentir muito a sua falta.”, seus olhos azuis estavam marejados. “Todos nós vamos.”

“Janine, não chore na frente das crianças. Assim vão acabar desistindo de ir embora.”, meu pai disse a abraçando pela cintura. Minha mãe assentiu, mas uma lágrima deslizou por sua bochecha. “Tome cuidado, Jerry. E ligue sempre que puder.”, ele olhou para Aliel. “E você, mocinha, tome conta do meu filho e não o deixe se meter em confusão.”

Aliel sorriu, pousando uma mão em meu braço. Incrível que mesmo sendo humana, não tinha perdido o seu encanto. Jane se inclinou na direção dela, pegando um pedaço de seu longo cabelo escuro e brincando por entre os pequenos dedos. Minha namorada passou a ponta dos dedos na bochecha de minha irmã e a ruiva riu.

“Farei com que ele ande na linha, Senhor Read.”

Meu pai revirou os olhos dourados.

“Por favor. No último dia de vocês na cidade, você poderia me chamar pelo nome.”, ele desistiu, vendo Aliel ficando embaraçada. Ele a puxou para um abraço. “Vamos sentir sua falta, querida.”, a soltou e deixou que minha mãe a abraçasse. “Nos ligue.”, ela concordou. Meu pai se aproximou de mim. “E você…”, ele pausou e sorriu. “Não sabe o quanto estou orgulhoso. Lutou por tudo o que queria.”, olhou de canto para minha mãe e Aliel que conversavam animadas. “A vida é assim, meu filho. Nada que vale a pena vem sem luta.”

“Tem razão, pai.”, admiti ao refletir tudo o que tinha enfrentado. “Vou sentir sua falta.”, o abracei com cuidado para não amassar Jane. “Vamos visitá-los sempre que pudermos.”

Meu pai deu um meio sorriso semelhante ao meu.

“Duvido que vá se lembrar do seu velho com toda a Califórnia para você desbravar ao lado de sua namorada e seu melhor amigo.”

É, parecia que teria que aguentar as lições de moral de Jason por um longo tempo já que ele e Sarah iriam para a mesma faculdade que nós. Lado positivo: mais gente para dividir o aluguel. Lado negativo: mais gente para pegar no meu pé. Vi Aliel olhando para o relógio e dando um salto surpreso, significando que estávamos atrasados. Ela abraçou minha mãe mais uma vez.

“Está na hora.”, meu pai disse vendo a mesma coisa que eu. “Vê senão apronta, Jerry. E não a perde. Um amor desses nós só encontramos uma vez.”

Se despedir de minha família tinha sido a coisa mais difícil de toda a minha vida. Mesmo sabendo que os veriam periodicamente, era uma mudança radical. Tive que acelerar, caso contrário iríamos perder o nosso vôo e Jason nos mataria. Aliel se recostou no banco no passageiro e abriu a janela, fazendo com o vento do começo de tarde bagunçasse seus cabelos. Foi um esforço desumano manter os olhos na estrada com ela ao meu lado.

“Então, esse finalmente é o fim.”, eu disse ligando o rádio, porém deixando o volume baixo para podermos conversar. Senti seu olhar em mim. “Estamos deixando tudo para trás e começando do zero.”

Ela tocou minha coxa.

“Não encare isso como o fim, Jeremy.”, ela disse esperançosa. “É o nosso recomeço.”

Coloquei minha mão por cima da dela.

“Eu te amo, Anjo.”

Ela sorriu como sempre fazia quando a chamava pelo apelido. Mesmo quando achava que era um pouco desenecessário já que era tão humana quanto eu. Dessa vez, ela apertou meus dedos e se aproximou para poder beijar meu pescoço e descansar a cabeça em meu ombro.

“Eu te amo, Humano.”

Eu ri e vi o aeroporto se aproximando. Nosso recomeço estava diante de nós. E estávamos dispostos á aceitá-lo. Porque agora tínhamos um ao outro de forma plena e absoluta. E nem Deus poderia fazer algo para nos separar. Simplesmente por sermos vencedores da nossa própria batalha.


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Notas finais do capítulo

Vejo todos em Destiny. Beijos.