A pequena menininha estava dormindo docemente em seu quarto sem escutar o que estava acontecendo logo abaixo de onde estava. Seu sonho logo começou a virar um pesadelo e ela começou a se remexer em sua pequena cama até sentiu alguém balança-la.

- Annie. – chamou seu pai parecendo preocupado.

- O que houve? – a menina perguntou assustada ao ver que seu pai tinha o rosto sujo de fuligem e parecia ofegante.

- Precisamos sair daqui. – ele disse apressadamente e a puxou de maneira suave em direção a porta.

Enquanto iam em direção a escada a garota começou a sentir o cheiro de fumaça invadir seu nariz e ela logo percebeu que parte da casa estava em chamas e logo alcançaria onde estavam naquele momento.

- Papai! – escutou seu irmão gritar de uns dos quartos onde o fogo já se encontrava.

Seu pai se ajoelhou perto da filha e a puxou para um longo abraço.

- Você tem que sair por ali. – falou apontando para a porta – Corra e saia o mais rápido possível.

- Mas e você? – nesse momento a menininha já tinha os olhos lacrimejando tanto pela fumaça quanto pelo fato de estar deixando seu pai.

- Vou ficar bem. – ele afirmou, mas via em seus olhos que ele não acreditava totalmente naquilo – Tenho que ajudar seu irmão. Prometa que vai ficar bem.

- Eu... Eu prometo. – a menina afirmou vendo que o pai não desistiria.

Então ele a abraçou uma última vez antes de se virar e correr na direção onde era o quarto de seu irmão. Ela pode notar que a casa construída de madeira já estava quase toda em chamas e que logo essas alcançariam a porta de entrada obstruindo toda a saída e também a chance que tinha para fugir. Começou a correr em direção a porta desviando de varias coisas em seu caminho e logo começou a tossir conforme sentia mais e mais fumaça se acumular na casa.

Ela alcançou a porta e conseguiu sair percebendo que varias pessoas já pareciam estar vindo ajudar. Não sabia o que fazer a não ser torcer para que seu pai conseguisse sair com seu irmão de lá dentro. Uma mulher alta que era sua vizinha há algum tempo veio até ela e perguntou se estava tudo bem e a menina simplesmente balançou a cabeça.

- Vai ficar tudo bem. – ela tentou acalmar a menininha que agora não conseguia mais segurar as lagrimas que invadiam seu rosto.

- Meu pai... Meu irmão... – ela dizia entre soluços – Eles ainda... Estão lá dentro.

A mulher sem se desfazer do abraço gritou para alguém atrás dela que ainda tinham duas pessoas lá dentro. Ela a levou para se sentar em um pequeno banco que havia ali e tentou acalmar a garotinha. Logo a menina olhou para a casa e percebeu que tudo já começava a desabar lá dentro, era difícil ver seu lar sendo consumido pelas chances e saber que as pessoas mais importantes para ela ainda estavam lá dentro.

Logo percebeu um dos homens que havia entrado em sua casa para tentar salvar seu pai e seu irmão sair de dentro carregando um menininho que tossia compulsivamente em seus braços. Ele se aproximou de onde as duas estavam e colocou o menino no banco que segurava uma toalha molhada junto ao rosto.

- Conseguiram? – a mulher perguntou parecendo realmente preocupada.

O homem gesticulou para que fossem conversar para lá onde as crianças não escutariam. Enquanto isso a menina se aproximou do irmão que agora já parava de tossir.

- Estou com medo Mat. – a menina murmurou para o irmão.

- Também estou Annie. – admitiu também baixinho.

Mattew tinha sete anos apenas um ano mais velho que Annabeth. Ambos possuíam cabelos loiros como os do pai, a única diferença entre eles era que ela tinha belos olhos cinza e ele olhos castanhos. A mulher que antes conversava com o homem que havia salvo seu irmão se aproximou dos dois com uma expressão de tristeza.

- Olá crianças. – ela falou forçando um pequeno sorriso.

- Onde está o meu pai? – Mat perguntou quase adivinhando o que ela diria a seguir.

- Eu não sei como dizer isso, mas... – ela hesitou – O pai de vocês não conseguiu sair, logo depois de ter te tirado de lá, - ela olhou para o garoto – Uma tora de madeira caiu em suas costas. Ele não sobreviveu.

Annabeth já não prestava atenção em nada, e as frases que seu irmão dizia demonstrando que aquilo não era possível pareciam distantes demais. Ela simplesmente agarrou os joelhos e começou a chorar silenciosamente. Seu pai. A pessoa que ela mais amava estava morta.

Perto dali uma mulher observava toda aquela cena sem acreditar no que via. A casa de Frederick Chase, um velho amigo, estava em chamas e os dois filhos dele pareciam totalmente desesperados. Ela trabalhava no palácio do Rei e estava na casa de uma amiga que precisava de sua ajuda quando tudo aquilo aconteceu. Ela se aproximou das crianças e da mulher que estava perto delas.

- Com licença. – ela pediu e a mulher se virou – Sou uma antiga amiga do pai das crianças e queria saber o que houve.

- Um incêndio destruiu a casa, mas as crianças conseguiram sair. – a mulher explicou.

- E o pai das crianças?

- Ele não conseguiu sair. Lamento. – a mulher parecia mesmo estar sendo sincera.

Ela não conseguia acreditar que Frederick não havia conseguido sair, mas também estava preocupada com o destino das crianças dali em diante.

- O que vai acontecer com as crianças? – ela perguntou.

- Provavelmente elas irão para um orfanato.

Sabia do que aquele lugar poderia fazer e o quanto horrível poderia ser, além de também saber que não podia separar os dois irmãos.

- Eu posso cuidar deles. – ofereceu prontamente – Como disse, era uma antiga amiga do pai deles e acho que não teria problemas para mim.

Então naquele momento estava decidido ela iria cuidar dos dois como se fossem seus próprios filhos. Eles haviam perdido o pai e ela havia perdido alguém que possivelmente era muito mais que um amigo ao seu ver.

Things we lost to the flame
Things we'll never see again
All that we've amassed
Sits before us, shattered into ash