Am I a good man? escrita por Penny Dreadfuls


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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"Você sabe o que acontece agora..." Ele disse, sua voz grave e rouca penetrando seu ouvido. "O penúltimo estágio de vida da folha... A sua história. A nossa história. Prestes a ter um fim."

O corpo de Clara fora preensado com violência contra a parede, e agora ela tentava afastar as mãos que comprimiam seu pescoço. Seus olhos tentavam fugir da imensidão daqueles, um dia tão castos e gentis, hoje repletos da sede por sangue de muitos vindos antes dele.

"N-não... Não!" Ela ofegou. "Não precisa ter um fim! Não precisa ser desse jeito!"

O Doutor apertou ainda mais a mão contra o pescoço de Clara. O rosto da jovem se tornou arroxeado, migrando para um azul.

"Tem razão, Clara Oswald." Ele a soltou, e esta desabou no chão com um baque. "Não precisa ser desse jeito. A Garota Impossível!" Ele vibrou, erguendo as mãos no ar numa sarcástica representação de louvor. "Por que morrer de uma maneira tão idiota, não é mesmo Clara? Precisa de algo mais."

A visão de Clara estava turva. Ela passou a mão pelo pescoço entre ataques de tosse, e olhou para ele com os olhos lacrimejantes.

"O-o que aconteceu com você, Doutor? Eu não sei quem você é mais!"

O Doutor parou a alguns metros dela, com os braços ao lado do corpo. Sua expressão era fria, e havia um quê de mágoa em sua voz, pouco ocultado pelo ódio:

"Você nunca saberia Clara. Não há como saber. A regeneração é uma loteria, não é mesmo? Eu não posso escolher quem serei. Você se apaixonou pelo meu outro eu, não? Jovem, bonito, divertido..."

"Eu não me apaixonei por você!" Ela gritou, fazendo com que o Doutor mostrasse um olhar surpreso. "Eu não posso me apaixonar por você. Eu nasci fadada a protegê-lo de todo o mal, mas somos de naturezas diferentes! Você é uma espécie, e eu..." Ela parou ao perceber que não podia nem ao menos dizer o que era. Sequer sabia se era mesmo humana ou um paradoxo na linha temporal do Senhor do Tempo. Viver, morrer, voltar em outro ser, mas ainda ela, Clara Oswald, era o mistério que a perseguia junto com o Doutor, toda vez que ele batia a porta de sua casa chamando-a para uma nova aventura.

O Doutor deu uma risada.

"Você nem ao menos sabe o que é! Lhe digo: pedra no meu caminho!" Ele deu as costas, e apoiou as mãos no painel com a cabeça baixa. "Sempre tentando me induzir a fazer o que quer."

Clara levantou-se com dificuldade e apoiou-se nas grades: "Eu tento induzi-lo ao que eu acredito ser certo! Eu tento ajudá-lo a tomar as escolhas certas na sua vida! Mas ultimamente, Doutor, você tem escapado das minhas mãos e perdido o controle!"

Ele virou-se para ela e avançou com passos pesados, mas Clara tomou a dianteira e correu em direção aos corredores da TARDIS, tomando suas mais novas rotas de fuga do Doutor. Quando ele a seguiu, a TARDIS trancou todas a primeira porta para ele, recusando-se a abrir.

Clara deu uma última olhada em direção ao caminho que fez, ouvindo o barulho dos berros do Doutor, coberto de uma fúria que ele mesmo não podia carregar. Ela fechou os olhos enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto machucado, tão machucado mas não tanto quanto seu coração.

~

Seu quarto na TARDIS era seu único refúgio. Os móveis decorados, coloridos, alegres como aquele bom Doutor que ela sempre conheceu.

Clara sentou-se no canto do quarto, abraçando as próprias pernas e gemendo baixinho de dor. Livre, sozinha, abaixou o rosto e pôs-se a chorar compulsivamente, soluçando. A oportunidade de sua vida, viajar com o Doutor, havia se tornado um pesadelo pouco tempo atrás. Tudo logo depois que ele passou da fase de adaptação à nova regeneração. Ela se perguntava desde então o que teria acontecido.

Provavelmente uma encarnação sombria. Como Valeyard. Pensou consigo mesma.

No mesmo instante, uma melodia suave ecoou baixinho pelo cômodo. Clara sabia que aquela era uma forma da TARDIS reconfortá-la. Ambas haviam formado uma espécie de elo depois que o Doutor passou a se tornar agressivo, e agredir tanto Clara quanto a própria TARDIS, em seu jeito. Assim, a máquina do tempo formava rotas de fuga para a jovem toda vez que ela era ameaçada.

– Obrigada, TARDIS. - Clara sussurrou, pela primeira vez abrindo um sorriso, olhando para o alto e acariciando o chão.

Ela se levantou, apoiando-se na parede, e foi até a penteadeira. Observou seu reflexo, não mais tão bonito e alegre. Haviam cortes em seu rosto e boca, e inchaços em seu queixo e olho esquerdo. Mas em cima da penteadeira, seu livro de viagens, com todos os lugares que adoraria conhecer. Um livro tão pequeno e com um conteúdo tão insignificante para tudo o que ela vivera naqueles últimos tempos. Ela o abriu exatamente naquela mesma página de sempre, e lá estava ela. A folha.

Clara tomou-a entre os dedos e pelo pequeno caule, girou-a. Pressionou a folha contra o peito, zelando-a como o artefato mais importante de sua vida.

Até que a folha desintegrou-se em suas mãos.

Clara encarou com os olhos arregalados as próprias palmas, agaixando-se no chão para procurá-la, mas não estava em lugar nenhum. Inevitável. Desintegrara-se, mas nada aconteceu à ela mesma.

A folha que ocupava aquela página não era real, uma substituta. Clara sabia quem a possuía.

~

Ela posicionou-se no fim do corredor, na entrada da sala de controle. De lá, o Doutor a esperava, carregando a folha avermelhada na mão.

"Você entendeu, não é?" Ele disse, admirando a folha. Soltou um suspiro. "Uma vida numa folha. Uma vida preciosa numa folha tão estúpida. Sinceramente, Clara Oswald, eu achei que você seria mais criativa."

Clara o encarava com uma expressão dura, deixando que as palavras entrassem por um ouvido e saíssem por outro. Tudo o que a interessava era a resposta da pergunta que a objetivara até ali:

"É como planeja me matar? Pela folha que salvou a sua vida?"

O Doutor sorriu.

"Não me é útil. Não mais. Assim como você."

Clara indignou-se. Aquele não era o Doutor que ela conhecia. Mesmo homem, rosto diferente. Ainda que cada encarnação possuísse uma característica diferente, todas conservavam aquele mesmo Senhor do Tempo gentil e amante das estrelas. O homem à sua frente não era o Doutor.

"O Doutor" Ela disse. "O meu Doutor, meu melhor amigo, nunca diria uma coisa dessas. Você pode mudar o quanto quiser, mas sempre será o mesmo!"

"AQUELE DOUTOR ESTÁ MORTO!" Ele brandou à plenos pulmões. "Você nasceu para me salvar, Clara Oswald? Aprenda a conhecer uma face de cada vez."

Clara desceu o pequeno lance de degraus e avançou contra ele, tentando alcançar a folha enquanto o Doutor levantava o braço no ar, afastando-a com o outro. Ele a empurrou para longe, e Clara cambaleou, tropeçando, mas novamente se pôs de pé.

O Doutor apertou alguns botões no painel, e parte dele se ergueu. Dentro, uma forte luz dourada, emanando energia.

"O que acontece se eu dar sua vida ao coração da TARDIS, hã?" Ele perguntou, com um sorriso malicioso no rosto e erguendo a folha no alto.

"Doutor" Clara ergueu uma mão em pedido de misericórdia. Sua voz emanava um tom de pânico, lágrimas escorriam desesperadamente por seu rosto. "Por favor, não. Por favor. Eu faço qualquer coisa!"

O Doutor por um momento amaciou sua expressão, abaixando a folha. Ele avançou poucos passos para frente, devagar, concentrando o olhar nela.

"Clara..." Seu nome escorreu por sua boca.

Ela hesitou: "O que poderia me fazer pensar que você voltou atrás?"

"Eu não mataria você, Clara. Não você. Minha Garota Impossível."

O Doutor estendeu uma mão, da mesma forma que sempre a havia estendido quando a chamava para correr de alienígenas, visitar novos planetas e novas eras.

Ela avançou lentamente para frente, tocando a mão dele. O Doutor a puxou para um abraço apertado, beijando seus cabelos. Clara sentiu uma onda de alívio, fechando os olhos e deixando que lágrimas - não tristes, não de lamento. De felicidade - escorressem livremente por seu rosto.

"Você é tão, tão ingênua." Ele sussurrou em seu ouvido.

Clara desvencilhou-se dos braços do Senhor do Tempo, seu rosto vermelho de fúria. O Doutor notou isso, mas logo em seguida, um sorriso se espalhou pelo rosto dela.

"DO QUÊ ACHA GRAÇA?" Ele cuspiu tais palavras.

Clara mostrou a folha, seu sorriso se tornando cada vez mais satisfeito. O Doutor avançou contra ela, mas Clara foi mais rápida, correndo em torno da sala de controle e subindo as escadas. Ele apontou a chave de fenda sônica em sua direção, e Clara sentiu algo prender-se em seus pés por um momento e derrubá-la no chão. A folha caiu longe, e o Doutor conseguiu capturá-la a tempo.

A jovem rastejou-se pelo chão atrás do Doutor, que corria até a abertura do painel. Ela conseguiu levantar-se e jogar-se contra ele, quase empurrando-o. Ambos lutaram corpo-a-corpo, protegendo-se e ao mesmo tempo tentando jogar um ao outro no coração da TARDIS. A força de Clara contra a do Doutor era relativamente menor, mas ela usou de toda a sua energia para colocá-lo à beira do limite.

"Clara Oswald" Ele ofegou, os olhos arregalados. A folha balançava em sua mão. "Você não tem coragem. Você não faria isso, não para se salvar."

"Você depende de mim para viver, Doutor!" Ela esbravejou. "De mim! Acredita que teria escapado de Gallifrey sem a minha ajuda? E quanto à tudo o que fiz por você esse tempo todo?"

Ele sorriu.

"Um mero paradoxo? Não, Clara. Eu me faço sozinho."

Com um impulso, ele virou-se por cima e empurrou, Clara e a folha, diretamente no coração da TARDIS. O grito da jovem reduziu-se à um esganiçado torturante, enquanto seus olhos eram repletos de dor e medo, e sua imagem decompunha-se.

Os corações do Doutor não batiam como antes. Sua mão, ele observou, começou a liberar energia de regeneração. Estava acontecendo outra vez.

"NÃO!" Ele berrou, segurando sua mão com força, negando-se ao inegável.

Milisegundos depois, seus membros estavam repletos daquela energia dourada, liberada em todas as direções, destruindo tudo em seu caminho. Logo então, nascia um outro Doutor. Mesmo homem, rosto diferente.

E aquela encarnação havia sido esquecida.


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Notas finais do capítulo

E aí? Eu tenho grandes expectativas pr'a season 8, e sei que o Capaldi vai ser brilhante. Também tenho expectativas pr'a Clara (que não é minha companion favorita, mas espero que ela melhore à minha vista também). Sinto muito ter sido tão má com ela, mas não vivo sem um angst xDxxx



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