Era madrugada.

Percy Jackson fechava a cafeteria após despachar o último sátiro viciado em cafeína. Ele esfregou as mãos e depois enfiou-as dentro do bolso da calça e passou a caminhar pela calçada. Sim, era noite e em Nova Iorque, assim como em qualquer lugar no mundo, andar por aí de madrugada não era muito convidativo. Entretanto, estamos falando do filho de Poseidon, aquele que salvou o mundo algumas vezes.

E mesmo que fosse um semideus, e tivesse poderes, andar de madrugada sozinho pela cidade era desconfortável. A sensação que Percy tinha era de que a qualquer momento algum monstro iria emboscá-lo num beco qualquer da cidade. Essa paranoia era comum entre os meio-sangues que vivem fora do Acampamento.

Percy virou a esquina e continuou sua caminhada, seguindo pela Leonard Street. Depois subiria a Broadway até o metrô da Canal Street. Um carro novo seria uma boa pedida nessas horas.

Faltava uma semana para seu aniversário. Percy sabia que Drew estava organizando sua festa. Era verdade que ele estava mesmo a fim de curtir uma festa com os amigos, mas não deixava de ser verdade também que Percy queria passar um tempo sozinho com Nico.

É, crescer tem dessas coisas.

Percy tirou o celular do bolso e olhou uma mensagem enviada por Leo, perguntando se ele conhecia alguém que quisesse trabalhar com ele. Percy já havia chegado na Broadway. Ele respondeu a mensagem com um simples “Ok, dude!”.

O metrô estava apenas a alguns metros. Percy encolheu os ombros, sentindo mais frio. Ele desceu as escadarias do metrô e tirou o ticket da passagem, girando a catraca. Apesar do horário, a estação estava movimentada, devido aos espetáculos que terminavam tarde da noite.

Percy aguardou o trem e assim que ele parou na estação, entrou e sentou-se num banco afastado das demais pessoas. Um grupo de mulheres falavam alto e gargalhavam. Do outro lado, um casal se beijava. E também havia um rapaz sentado, sozinho, do outro lado do vagão. Percy o olhou por alguns instantes e depois desviou o olhar, não dando muita importância.

O celular vibrou, uma nova mensagem de Leo.

“Jason disse que vai na sua festa?”

“Ele não confirmou, mas trate de ir!”

“:p Καληνύχτα μάγκα”

Percy riu e depois guardou o celular no bolso. O trem parou e as mulheres desceram na estação, ainda gargalhando. Assim que o vagão ficou mais silencioso, e vazio, Percy pode notar melhor quem era o rapaz sentado sozinho do outro lado do vagão. Ele ficou de pé, atravessando o vagão enquanto o trem se locomovia em uma boa velocidade.

— Você anda me seguindo? — Percy perguntou, equilibrando-se facilmente em pé com o trem em movimento. — Ou está só passeando pela cidade de madrugada?

Ainda sentado, vestindo um sobretudo escuro e calças jeans com rasgos nos joelhos, Nico di Angelo apenas mexeu os ombros e olhou para Percy. Seus cabelos desgrenhados caíam sobre seu rosto e os olhos negros estavam levemente avermelhados.

Nico piscou os olhos e o avermelhado sumiu. Percy achou que fosse uma coincidência com as luzes do vagão, que piscavam sem pararam, como se fossem queimar.

— Estou indo até a casa do meu namorado. — Nico respondeu.

— De metrô? Por acaso você não tem um meio de se locomover mais rápido?

— Só porque eu posso viajar pelas sombras, não quer dizer que eu não queira parecer normal e pagar a passagem.

Percy sorriu.

— Então você está indo ver seu namorado? Ele deve ser bem bonitão.

— Ah! Ele é sim. — Nico levantou, ficando de frente para Percy. — Mas ele anda muito ocupado para me ver, sabe… trabalhando muito.

— Então ele é um babaca. — Percy levou as mãos para dentro do sobretudo de Nico e o abraçou, dando-lhe um beijo na nuca. — Se quiser, pode vir comigo, eu vou te dar atenção.

— Essa é uma proposta e tanto.

O trem parou em uma estação. Nico segurou a mão de Percy e o levou para fora.

— Não vamos para minha casa?

— Hoje podemos ir para outro lugar. — Nico parou no meio da estação vazia. — A não ser que você tenha outros planos.

Percy fez uma cara pensativa, enquanto percebia que Nico não parecia interessado em esperar por muito tempo. Ele balançou a cabeça, concordando. Talvez, se Nico tivesse dito que eles fossem ultrapassar a parede do metrô, caindo em um buraco negro até algum lugar no mundo, Percy teria considerado deles irem para um motel ou algo assim.

— Com você é sempre uma novidade. — comentou assim que conseguiu colocar a cabeça em ordem. Onde estamos?

— Você vai ver. — Nico ainda segurava a mão de Percy, eles caminhavam pela escuridão.

Percy viu uma luz muito fraca ao longe. Aos poucos, a luz aumentava e então eles já não estavam mais naquele túnel.

Os olhos de Percy arderam com a claridade absurda daquele lugar, mas, assim que se acostumou com a luz, ele abriu a boca sem saber o que dizer. A primeira coisa que fez foi tirar o casaco que vestia, e também os sapatos. O sol brilhava no céu azul e o mar parecia celebrar a chegada dos dois, com as ondas quebrando nas pedras e a espuma branquinha. Além da água cristalina.

— Onde estamos? — Percy perguntou, sacando que deveria estar muito longe de casa.

— Em alguma ilha da Indonésia. Eu não sei ao certo qual delas. — Nico retirou o sobretudo, mantendo os sapatos nos pés. Ao contrário de Percy, que já se livrava da camiseta e as meias.

— É uma ilha povoada? — Percy olhou ao redor, e mesmo que não visse ninguém por perto, nunca se sabe. Poderia ser uma ilha particular, ou não.

— Não que eu saiba.

Percy estava todo sorriso.

— Quantas vezes já veio aqui?

— Algumas. Costumo vir aqui quando não consigo dormir. — Nico estendeu o sobretudo na areia e sentou em cima. Ele observou Percy maravilhado com a paisagem, abrindo os braços e recebendo todo o calor do sol.

— Eu preciso dar um mergulho. — Percy deu uma piscada para Nico. — Vem comigo.

Ele estendeu a mão, mas o rapaz parecia arredio aquela ideia. Enquanto deixava o namorado pensar, Percy arrancou as calças, assim como as roupas debaixo, correndo nu em direção ao mar. Ele deu um salto com cambalhota, caindo na água.

Emergiu alguns minutos depois, chamando Nico. Percy não precisou ameaçá-lo para que ele também retirasse as roupas e entrasse na água.

Nico deixou que Percy o segurasse e levasse para o fundo do mar. A experiência de mergulhar no mar, sem aqueles equipamentos obrigatórios para qualquer outra pessoa normal, era indescritível.

Falar que Percy adorava mergulhar era redundante e desnecessário. Mas o que ele mais amava era compartilhar esse momento com alguém importante.

Ele abraçou Nico, acariciando seus cabelos e depois o beijou. Eles nadaram por horas. Assim que retornaram para a superfície, Percy olhou para o céu constatando que o sol já ia se por.

Ambos se vestiram e depois sentaram na areia, assistindo aquela fusão incrível de cores no céu.

— Logo eu tenho que retornar. — Percy falou desanimado, segurando a mão de Nico. — Mas eu não quero. Por mim passaria o resto da vida com você nessa praia. Vivendo de amor e peixe-frito.

Nico sorriu e balançou a cabeça. Como poderia se sentir tão bobo quando ouvia seu namorado falar aquelas coisas?

— Me sinto lisonjeado quando o grande Perseu me fala de amor. Embora eu deixe passar o peixe-frito.

Percy beijou os lábios de Nico, abraçando-o o mais forte que podia fazer. Ele queria mais do que uma vida na praia e comer peixe-frito. Mas ainda era cedo para pedir Nico em casamento, quero dizer, não em casamento, mas poderiam viver juntos. Se bem que casamento também era uma boa ideia. Num futuro não muito distante, Percy Jackson faria o grande pedido. Ninguém estava pronto para um passo tão grande. Por hora, eles aproveitariam o momento naquele pedacinho do paraíso.