Collapse escrita por Chrissie


Capítulo 4
A verdade tem perna curta


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado por Maggie



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Acordar cedo e deixar minha família sozinha não era bem o tipo de coisa que eu gostava de fazer. Na verdade, eu fazia isso porque eu sempre gostava de deixar tudo pronto para quando minha mãe acordasse não ter muito trabalho, eu sabia como era difícil para ela fazer as coisas, principalmente por causa da sua dificuldade de se locomover e era exatamente por isso que eu me sacrificava tanto para ajuda-la.

Me levantei e fui coar o resto de café que ainda tinha na lata. Provavelmente o café ficou horrível porque não tinha nem uma colher do pó, então nem me atrevi a experimentar. Um dos civis estavam me esperando e provavelmente mais tarde teria dinheiro para comprar alguma coisa para o almoço.

– Porque você acordou tão cedo? - Josh desceu as escadas de madeira coçando os olhos bocejando. Não era costume dele acordar cedo, mas as vezes ele ficava comigo na cozinha enquanto eu preparava as coisas.

– Estava sem sono.

– Sabe que precisa dormir. Você trabalha o dia todo.

– É eu sei. - Peguei o bule e coloquei café numa xícara quebrada e entreguei para ele.

– Maggie. – Ele segurou minha mão e eu o fitei. – Obrigado por fazer essas coisas. Eu não sei o que seria de nós sem você.

Eu me sentia culpada por fazer ele se sentir mal, principalmente por não ser o que ele pensava. Josh era tão carinhoso que cada dia eu me apaixonava mais por ele.

– Não precisa agradecer.

Ele não respondeu e nem soltou minha mão, apenas olhou para fora da janela e eu fiz o mesmo. Ficamos um longo tempo em silêncio, cada um perdido nas suas próprias alucinações.

– Maggie, você acha que um dia isso vai mudar? Eu quero dizer, você acha que algum dia vamos ver o mundo de outro jeito, ou ter outras oportunidades?

– Eu não costumo pensar nessas coisas, mas pra ser sincera acho que já me acostumei com o mundo desse jeito. Não acho que algo vá mudar.

– Talvez esse seja o problema. Todos estão acostumados. – Ele me fitou esperando uma resposta inteligente mas não pensei em nada.

– Olha, eu não sei se esse é o real problema, mas eu acho que temos que aprender a nos adaptar e a viver com isso.

– É, talvez.

Ele continuou preso em seus pensamentos e eu acordei para a realidade. Essa era a nossa realidade, e gostando ou não, não tínhamos outra opção.

– Vou indo, Josh.

– Se cuida. – Ele me puxou e me deu um beijo na testa. – Vou trazer alguma coisa pro jantar.

Peguei minha mala com minhas roupas e saí. Eu teria um longo caminho, afinal eu não gostava de trabalhar perto de casa. Geralmente Josh pescava num lugar próximo e eu tinha medo de que ele descobrisse, já que ele sempre dizia que as meninas que se ofereciam em troca de dinheiro não valiam um centavo.

Entrei pelo portão onde ficavam as barracas de madeira dos civis. Me senti mal quando o porteiro ficou me olhando e disse que os sacos de lixo eram pelo outro lado. Ele não acreditou quando disse que estavam me esperando, mas convenci o velho a chamar o tal homem que me esperava. Fiquei observando os cães revirando o lixo e senti que éramos tão imprestáveis quanto eles. De vez em quando os civis ainda jogavam comida aos cães, mas à nós, nem um osso velho.

Que ironia depender de pessoas que acabaram com a minha família. Sempre que eu estava sozinha, implorava o perdão do meu pai e esperava que ele entendesse minha situação. Era desesperador viver da forma que eu vivia.

Ouvi os sussurros de um dos civis dizendo: "Mas que abuso o seu. Já deveria saber que a coitada viria me prestar serviços. Eu o avisei ontem."

Tentei parecer feliz ao vê-lo, por isso coloquei alguns fios de cabelo atrás da orelha e sorri. Ele também sorriu ao me ver e logo chegou ao portão.

– Entre jovem. - Disse ele abrindo o portão - Estava esperando você.

Era nojento o fato de me submeter a fazer sexo com homens como ele que não se importavam comigo. Eu sempre sonhei em perder a minha virgindade com o cara que eu amava ou com um cara que ao menos me respeitasse. Ele me abraçou e já foi logo abrindo minha blusa enquanto íamos para a barraca dele. Eu não queria, mas era obrigada a fazer aquilo. Tudo bem que eu teria outras formas de sustento mas eu não achava o mais conveniente, aliás, eu trabalhava menos e ganhava mais fazendo isso.

Ele abriu a porta e eu entrei. Já estava com a camisa aberta e ele só teve o trabalho de tirar. Me jogou no sofá e começou a me acariciar. Para mim, é como um nada. Não sentia vontade e nem prazer. Sempre ficava pensando em coisas mais importantes enquanto fazia. Deixei que ele fizesse o que bem entendesse. A minha sorte foi que ele parecia ter ejaculação precoce então não demorou muito para acabar logo.

Ajudei ele a colocar as calças e ele me deu um empurrão. Era assim que eu vivia: sendo enxotada pelos homens que eu me relacionava. Era cruel, mas eu sabia que apesar de tudo era necessário.

– Quanto você quer? - Ele disse pegando a carteira em cima da mesa de vidro. - Eu não tenho muito.

– Você que sabe.

Ele tirou algumas notas e me entregou. Contei vinte e fiquei contente porque pelo menos era mais generoso que os outros. Agradeci e ele me mandou ir embora logo.

Ao sair, o porteiro me olhou e deu uma risadinha. Fez uma piada sobre o tal homem mas eu não me importei, só queria ir embora logo. Troquei de roupa em um beco vazio e coloquei um vestido curto e velho. Era bordado e tinha bojo, o que dava a impressão de seios maiores e fartos.

Durante a tarde, fiz mais três serviços e consegui quase oitenta notas no final do dia. Estava exausta e não quis nem passar no mercado para comprar alguma coisa.

Quando cheguei, Josh estava na porta limpando um peixe que provavelmente pegou no rio. Pelo menos teríamos janta, porque se dependesse de mim, ficariam todos com fome.

– Já chegou, Mag? Achei que a fabrica só fechasse quando anoitecia.

– Fui liberada mais cedo.

Ele soltou a faca e segurou meu braço forte.

– Ah é mesmo? - Ele me puxou e ficou colado em mim - Então porque hoje eu fui até a fábrica te procurar e o porteiro falou que nenhuma Maggie trabalhava lá?

Puxei meu braço com força. Ele não tinha direito de investigar a minha vida. O que eu fazia não dizia respeito a ele. Por mais que eu o amasse, estava chateada.

– Para de cuidar da minha vida. - Falei pausadamente. - Você não tem nada que ir atrás de mim no meu serviço, entendeu?

– Que serviço, Mag? Eu quero saber como você consegue todo esse dinheiro. Todo mundo sabe que ninguém ganha toda essa grana trabalhando na fábrica. Eu não vou mais tapar o sol com a peneira.

– Você come, bebe e tem uma casa graças a mim, então por favor, para de cuidar da minha vida e agradece o meu esforço.

– Não, Maggie. Eu gosto de você, não vou te deixar ir sem me dizer o que você faz. - Ele disse agora num tom mais alto.

– Problema seu. Aqui, é assim que as coisas funcionam. - Eu disse pegando o saco de dinheiro na bolsa e dando pra ele - E se o mercado estiver aberto, compra alguma coisa pro café.

– Eu não vou comprar nada.

Ele jogou o saco no chão e foi embora. Pensei em ir atrás dele, mas ele tinha que entender que eu fazia isso por ele e pela minha família. Eu sabia que ele ia voltar. Era o jeito dele se acalmar e não fazer besteiras. Peguei o peixe e o dinheiro e levei para dentro de casa.

– Filha, eu pedi ao Josh para ir na fábrica te dar um recado e você não estava lá. - Minha mãe disse tentando amassar uns comprimidos na xícara. Tomei o lugar dela e os amassei.

– Qual era o recado?

– A sua irmã está doente. Está com febre muito alta e eu não sei o que fazer.

– Esses comprimidos são pra ela?

Ela assentiu. Enchi a xícara de água e fui para o quarto da Jen as pressas. Ela estava embaixo dos cobertores.

– Sai de baixo dessas cobertas. Isso só piora.

– Mas eu estou com frio. - ela abraçou as pernas e eu entreguei a xícara.

– Toma isso, e não se cobre de novo.

– Mas o Josh disse...

– O Josh não sabe de nada, ta? - Dei um beijo na testa dela - Vou procurar ele para cuidar de você. Vou no mercado comprar mais remédios.

– Não precisa. Ele disse que quando você chegasse ia pegar uns remédios no mercado.

– Mas ele não tem dinheiro.

– Ele deve ter. Se foi comprar, ele tem. Não é?


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