Ginger and Green escrita por rapha


Capítulo 12
Despedida


Notas iniciais do capítulo

Oláaa meus amores! Desculpem a demora! Tive um bloqueio e demorei imenso a escrever este capítulo! Não há Gabi aqui mas há Bia! O capitulo esta extenso mas pretendo escrever outro hoje para compensar o tempo que demorei a escrever este!
Boa leitura



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— Vai Ari! Come logo! Já não aguento mais! Ari... Por favoor...! Ari mete logo isso na boca..! Vai.. Trinca!! Já não aguento mais..! ARIANA!

— PORRA QUE CHATA! JÁ NINGUÉM PODE COMER PIZZA EM PAZ, NÃO? SANTA XENA, GABRIELLA!

— Você está a demorar anos para comer uma porra de uma fatia de pizza! E eu já estou farta de estar neste restaurante medonho! Porra Ariana! - bateu com a mão na mesa, causando um grande estrondo.

A Gabriella é a rainha do drama e do orgasmo. Para quem não entende, ela é a rainha do drama, porque sempre que eu demoro mais tempo a fazer alguma coisa ela começa a ficar impaciente e começa a culpar-me de coisas que nem sequer vêm à tona. E finalmente, rainha do orgasmo, porque ela parecia que estava a ter um orgasmo enquanto, inconscientemente, disparatava comigo. E temos assim um resumo resumidamente resumido da complicação e da disfunção que a Gabriella é.

Acabo de comer a pizza, ao meu ritmo claro, e vamos para minha casa.
No caminho, um silêncio constrangedor invade o nosso espaço, tornando-se muito incomodativo e desagradável. Eu não sei o que se passa com a Gabi, mas sei que ela está chateada com alguém ou talvez ela esteja com alguma coisa entalada na garganta que quer sair, mas que não tem qualquer acesso à saída.
Sinto-me encurralada pelo silêncio. É como se eu estivesse a ouvir todas aquelas frases que ela tanto anseia dizer, mas que ao mesmo tempo são abafadas pelo silêncio que, dolorosamente, as sufocava. Eu neste momento só me apetece dar-lhe um estalo e fazê-la confessar o que tanto tem escondido. O meu sangue está a uma temperatura consideravelmente acima da média, o que já me está a causar uma raiva tremenda por ela.
Caminhámos silenciosas até minha casa, coisa que me deixou e que ainda está a deixar desconfortável. Não sei o que se passa com ela. Ela costuma ser sempre paciente comigo quando eu como piza, mas hoje decidiu explodir. Eu já tinha reparado que ela andava estranha, mas nunca comentei nada, porque pensei que fosse só uma fase má na vida dela. Mas isto prolongou-se demasiado tempo e eu já estou a achar estranho.
A diferença entre a Gabriella de antes e a Gabriella de agora é claramente notável. Ela antes fazia tudo por mim, era mensagens todo o dia e chamadas de horas; mandava-me presentes; fazia tudo o que uma pessoa apaixonada faria se estivesse a namorar. Mas de há uns tempos para cá ela tem estado estranha, porque deixou praticamente de fazer todas aquelas coisas, como por exemplo: já não me liga tantas vezes, demora a responder, ignora chamadas minhas, não me manda nada, por vezes estou com ela e ela simplesmente não está ali. Enfim.
Chegamos a minha casa e fechei a porta. Ela foi logo direta para o sofá e ligou a TV, enquanto eu estou parada ainda à beira da porta, a procurar uma forma de encará-la sem ferir-lhe os sentimentos. Mas como eu sou de temperamento extremo, decidi logo atacá-la. Vou direta para a sala apagando-lhe a televisão, recebendo reclamações. Ignorei-a e comecei:

— Eu não sei que merda se passa contigo, mas tens tido umas atitudes que para mim me têm surpreendido muito pela negativa. Andas a ter umas atitudes das quais antes eu não tive qualquer reconhecimento que elas existiam ou vinham a existir. Por isso espero que tenha respostas, ou pelo menos algum esclarecimento da tua parte. Porque já não és criança nenhuma para agires como tal. - a cara dela está indecifrável. Ela não se mexe, nem pronuncia nenhuma palavra. Até que ela se levanta e encara-me cara à cara

— Olhe lá, para já eu não sou nenhuma criança boba, tá bom? E depois não me venha cá falar com palavras caras de que quer explicações ou porra alguma. Eu não ando a agir estranho com você, e...

— E o quê Gabriella? Pensas que eu nasci ontem? Eu sei bem que ninguém muda de comportamento assim do nada... Mas quando alguém muda, é porque já fez merda.. E da pesada. - disse já a começar a ficar irritada

— Eu não ando a esconder nada de você... - ela encara o chão e a face dela revela uma mistura de sentimentos que eu não consigo decifrar.
Eu já me estou a irritar demasiado com esta conversa. Já não me está a cheirar muito bem e eu exijo sinceridade.

— Presta muita atenção no que eu te vou dizer Gabriella... DIZ-ME NA CARA QUE NÃO SE PASSA NADA E QUE NÃO ME ANDAS A ESCONDER MERDA NENHUMA!! - o meu corpo está em chamas e lágrimas já escorrem pelos meus olhos. Ei gritei a todos os pulmões para que ficasse bem claro a minha intenção. Já ela começou a chorar.

— QUE PORRA QUER QUE EU LHE DIGA? QUER A VERDADE? É? - assenti com a cabeça - Eu.. Eu.. - e começou a chorar ainda mais - Aquilo foi um erro! Eu nunca devia de ter caído nas cantadas dele! Eu não quis, mas ele me obrigou! Aliás, não me obrigou, porque eu quis.. PORRA!

O meu cérebro neste momento já não processa nada. O meu mundo parou e desconfio que o meu coração também. Ouvir que a Gabriella me traiu é como um tiro na cabeça. Eu estou morta praticamente. O meu coração desfez-se em milhões de pedaços e o meu corpo simplesmente quebrou. Mas ainda tenho forças para falar antes de tudo isto ter, certamente, um ponto final.

— TU TRAÍSTE-ME? DEPOIS DE TUDO AQUILO QUE EU FIZ POR TI, DEPOIS DE TUDO AQUILO QUE EU PASSEI SÓ PARA TE TER NOS MEUS BRAÇOS, E TU AGORA DIZES QUE FODES-TE COM UM FILHA DA PUTA QUALQUER QUE ENCONTRASTE POR AÍ? FODA-SE! - lágrimas escorrem pelos meus olhos sem parar e o que mais me apetece é fugir dali e nunca mais olhar para a cara dela.

— Ariana por favor me perdoe.. Não foi por mal.. Eu estava carente e me deixei ir..

— Onde é que toda essa merda aconteceu? - disse sem encará-la

— Foi naquele dia em que você tinha aquele jantar. Eu estava sozinha e decidi sair à noite. Cheguei lá, comecei a beber, até que um cara atraente me abordou e me pagou uma bebida. Depois fomos dançar e ele começou a me beijar e depois você sabe o resto... - ela estava a chorar imenso, mas mesmo assim conseguia ainda falar claro e sem gaguejar.

— Que nojo que tu me metes Gabriella, que nojo. És uma grande vaca, uma traidora, uma vadia... Quê? Sentiste falta de pau foi? Foda-se vai à merda mas é.. E nem ouses entrar mais em minha casa.. Ouvis-te? OUVIS-TE?
Ela está praticamente imóvel, com lágrimas nos olhos e a tremer... Mas aquilo não me mete pena nenhuma, antes pelo contrário, só me mete asco.

— Foi sem querer eu juro Ariana.. Eu..

— EU NÃO QUERO SABER, PORRA! DESAPARECE DAQUI, DESAPARECE DA MINHA VIDA CARALHO!! E ESQUECE TUDO O QUE FIZEMOS, TODA A MERDA QUE CONSTRUÍMOS!! TUDO!! ESQUECE QUE EU E TU EXISTIMOS, ESQUECE QUE EU EXISTO!! - empurrei-a até à porta e bati-lhe com ela na cara. Antes de lhe fechar a porta, ela segurou nela e tentou entrar outra vez

— ARIANA EU TENHO AQUI MINHAS COISAS! ME DEIXA IR BUSCAR!

— NÃO QUERO SABER! SAI CARALHO, DESAPARECE!

Fechei-lhe a porta na cara e deixo-me escorregar até ao chão.

Ela batia na porta, pedia perdão, berrava, chorava.. Mas eu estava demasiado quebrada, demasiado destruída para preocupar-me com ela. Porque o que ela fez não tem perdão fácil. E pode até não ter. Nunca pensei isto dela, nunca. O meu maior pesadelo, virou realidade.
E assim deixo-me chorar por tudo e por nada. Por ela e por o que ela fez. Por a ter perdido, talvez, de vez.

O momento repetiu-se novamente. Entre as mesmas pessoas. Não o momento da traição, mas sim o momento em que ambas se sentem traídas, magoadas, enganadas. Todos pagamos pelo que fazemos, mesmo já tendo sido perdoados numa situação qualquer.
Eu não a trai. A Bia primeiro que tudo é minha amiga. Não minha amante. Mas a Gabriella não entendeu isso, mas também ninguém que se encontrasse naquela situação iria pensar as melhores coisas, como é demasiado óbvio. Por isso entendi a parte dela. Só não entendi o porquê de ela ter usado todas aquelas palavras que ela bem sabia que me deitavam abaixo em segundos e que se, por ventura, fossem ditas, tudo entre nós poderia voltar ao zero. Eu avisei-lhe anteriormente, mas ela não quis saber. Foi ela quem perdeu, e se quiser de volta tem que lutar. E muito.

 

Acordei com um peso sobre mim. A minha cabeça doía e imagens do dia anterior invadiram a minha mente. Eu nem acredito que tudo entre mim e a Gabriella se desmoronou só por causa dos ciúmes dela. A Gabriella sabe muito bem que ela é a única rapariga que eu amo, a única rapariga que eu quero. Só que há coisas que nós vemos que não são bem aquilo que nós achávamos que era. Mas ninguém pode evitar isso.

Afastei a Gabriella dos meus pensamentos e concentrei-me na rapariga que estava praticamente em cima de mim. Ela tinha uma beleza normal e ao mesmo tempo fora do comum, e havia qualquer coisa nela que me instigava a quer tê-la ao meu lado. Era impressionante.
Comecei, lentamente, a passar os meus dedos por entre os seus fios de cabelo, sentido a textura lisa e sedosa a tocar na minha pele. Ajustei-me na cama e beijei-lhe o topo da cabeça recebendo um sorriso e um par de olhos amendoados levemente inchados devido ao despertar recente.

— Bom dia dorminhoca - disse retribuindo o sorriso

— Bom dia linda - esticou o pescoço e deu-me um beijo na testa - Então dormiste bem?

— Contigo ao meu lado, porque não? - sorri para ela fazendo-a ficar envergonhada - e tu?

— Faço das tuas palavras as minhas - disse sorrindo e abraçando o meu corpo - Hmm.. Desculpa lá por aquilo de ontem.. Nunca pensei que a famosa Gabriella estivesse cá e muito menos que vivesse aqui no prédio

— É.. Ela mora aqui com o "namorado" James - fiz aspas ao dizer namorado e a Bia interrompeu-me

— Espera aí.. Namorado? Então porque aquela festa toda ontem aqui? - retorquiu confusa

— Porque ela não gosta realmente dele e porque também nós já estávamos a recomeçar tudo.. É uma longa história. E ela ontem reagiu impulsivamente, notou-se claramente isso... Mas já passou e por mais que ela te odeie, ela não vai fazer nada. Não te preocupes.. - disse dando-lhe um beijo no topo da cabeça

— Ahh.. Entendo.. - separou-se de mim e levantou-se, indo direta para a casa de banho - vou tomar banho já venho..

Notei que ela tinha ficado levemente incomodada com a história de eu e a Gabriella ter-mos recomeçado outra vez, mas era mais forte do que eu. A Gabriella era a Gabriella e tudo o que sentia por ela, era incomparável ao que sentia pela Bia.

Dei um pulo e levantei-me indo atrás dela. Mal cheguei à casa de banho vi a Bia dentro do duche, encostada à parede com um ar não muito bom. Despi-me rapidamente e entrei no boxe. Ela ficou tão assustada que quase caiu, mas eu segurei-a colando os nossos corpos nus, dando arrepios tanto a uma como a outra. O corpo dela era espetacular. Já sentia saudades de o sentir em contacto com o meu. Naquele momento eu nem pensava na Gabriella. Só conseguia me focar naquele corpo mágico, vibrante e sedutor que se encaixava perfeitamente ao meu. Ela acalmou e lentamente passou os braços ao redor da minha cintura, abraçando-me forte, aproveitando a deixa para começar a falar.

— Sabes bem que te amo. Não tanto como gostaria, mas mesmo assim continuo a amar-te da melhor maneira possível. Tanto me dói ver que não és correspondida como me dói saber que não posso amar-te mais. Talvez se tivesses aparecido primeiro, terias com certeza conquistado o meu coração. Mas infelizmente a história não é bem assim. A Gabriella para mim é tudo. Ela é a pessoa certa mesmo parecendo a errada. Mas isso não vem aqui à conversa.
Tu sabes bem o que vales para mim. Já te demonstrei tanto em palavras como em ações. Sempre que estivesses em baixo, eu estava sempre lá. Presente ou ausente. É impensável perder-te, mas ainda continua a ser uma possibilidade. Porque eu sei que vou perder-te para outra pessoa. A pessoa que vai acordar todos os dias ao teu lado; que te vai dizer o quanto és linda, mesmo que tu não aches; que vai fazer tudo por ti, mesmo que não tenha capacidade para fazer nada.. Vai ser a pessoa que te vai amar todos os segundos, minutos, dias, meses, anos da tua vida e que vai entregar-te o seu coração e a sua alma, dando-te confiança para cuidares deles. Eu sei que um dia tu irás encontrar a pessoa certa para ti. Mas sabes? Eu aí vou ter inveja dessa pessoa.. Porque sei que podia dar-te isso tudo e muito mais, mas decidi dar oportunidade ao errado. Aliás, tu és o certo e ela é o errado. Mas sabes como eu sou.. O errado é e será sempre a minha escolha... - ela chorava silenciosamente e apertava cada vez o meu corpo ao seu. A água quente ainda a correr, aquecia-nos naquele momento frio e vazio. Porque eu sabia que estava a magoá-la, mas não podia mudar nada.

Respirei fundo e continuei.

— Eu não sei o presente, quanto mais o futuro. Quem sabe se um dia todas estas palavras não se tornem realidade e eu acabe por ficar contigo. Porque de uma coisa eu tenho a certeza, eu sei que te posso fazer feliz e amar-te devidamente. Não duvides disso. Se calhar iria precisar de um pouco de tempo, e de um pouco de espaço.. Mas depois voltava para ti em segundos. Nem sequer hesitava. Acredita.. Eu nunca iria perder uma oportunidade de ficar contigo. Nunca. Mas neste momento o meu coração já pertence a outra pessoa. E mesmo que eu quisesse que ele te pertencesse, nunca poderia fazer isso. Nunca. Simplesmente porque iria estar a enganar-me a ti e a mim. E eu não quero iludir-te num mundo em que ambos os lados colaborem, quando só um na realidade é que colabora.
E eu entendo que seja difícil isto tudo para ti, mas... Mas eu sei que tu ainda irás encontrar a tua felicidade. Coisa que eu agora não te posso dar. E tu sabes bem disso.

Estas palavras doeram tanto a mim como a ela. O sofrimento dela era visível a olho nu e o sentimento de perda, que tinha ficado adormecido por uns tempos, voltou a assombrá-la. Partia-me o coração saber que não podia aproveitar aquela grandiosa oportunidade de ser feliz. Porque com ela eu era feliz, de certeza. Mas eu sempre tive queda pelo lado difícil, pelo lado da guerra. E era o que a Gabriella era. Uma guerra avassaladora em que eu tinha que lutar para sobreviver e para mantê-la inativa, para que não causasse danos. Ela era todos os lados difíceis possíveis e imaginários, impossíveis e reais. E era um privilégio danificar-me naquela guerra estrondosa que tanto me amava, mas que ao mesmo tempo, me odiava. Um ódio profundo capaz de matar, capaz de ferir qualquer alma indefesa. E um amor sombrio capaz de envenenar e drogar cada pedaço de mim, cada célula, cada gotícula do meu sangue.

 

Saímos do banho e a Bia ainda não tinha pronunciado qualquer som. Ela mantinha-se quieta e calada, com um semblante frágil e magoado. E isso quebrava-me.
Fui ao meu quarto, vesti uma roupa qualquer e segui para a cozinha para preparar o pequeno-almoço. Preparei panquecas, que era o prato favorito da Bia, e preparei sumo de laranja, leite, etc.
A Bia entrou silenciosa na cozinha, ainda com o mesmo semblante. Eu estava arrependida pelo que tinha dito, insultando-me mentalmente pelas coisas que disse. Mas acreditando ou não, elas eram a pura da verdade.

— Bia? - chamei-a e ela levantou a cabeça

— Sim?

— Que se passa? - aproximei-me dela e segurei a sua mão

— Nada... - disse cabisbaixa

— Nada é peixe.. Sabias? - sorri para ela, recebendo um sorriso em troca

— Sabia sim..

— Diz-me o que se passa.. - dei-lhe um aperto na mão para a incentivar a falar. Ela respirou fundo e começou:

— Tu sabes bem o que se passa. Lidar com o facto de não seres correspondida, não é propriamente um assunto muito agradável.. Muito menos quando a pessoa nos atira a cara que nunca nos vai amar como nós a amámos. Mas eu entendo a tua parte e Deus! Quem me dera ter chegado primeiro que a Gabriella! Quem me dera ter te conhecido antes dela e viver contigo tudo aquilo que tu disseste! Porque mesmo que tenhamos namorado, tu nunca me deste metade daquilo que disseste que farias se me amasses. E eu sempre tive consciência disso. E.. E.. - de repente um choro repentino assolou-a, e eu abracei-a com todo o carinho e proteção. Passado um bocado, afastou-se de mim e continuou:

— E eu nunca te mereci. Todos os dias que passámos juntas, todas as noites em que me fizeste ter os meus melhores ápices, os meus melhores pontos de prazer.. Eu nunca mereci isso. Eu praticamente estou a afogar-me por ti.. Cada fez mais fundo, cada vez mais profundo. O meu corpo já pouco aguenta. Há dias que parece que nem me vês, que nem precisas de mim e eu aí desisto. Mas mesmo tendo desistido, ganho forças e tento lutar por ti outra vez.. Mas tu não vês isso. Nunca viste.
Eu sei que me amas. Mas é um amor de amizade, não de paixão. E eu sei que se tivesses comigo eventualmente podias te apaixonar.. Mas as coisas não são assim.
Eu antes de te conhecer eu não sabia que o meu coração pudesse amar assim tanto. Antes de te conhecer eu não sabia que ia ficar assim tão arrependida. Antes de te conhecer não sabia o que era querer ter o teu beijo dias inteiros, ter o teu corpo. Antes de te conhecer eu não sabia que podia ser quebrada de tantas maneiras. Eu simplesmente não sabia.
Mas sabia de uma coisa muito importante: que tu e eu não funcionávamos por mais que eu quisesse, por mais que eu implorasse. Então a partir daí deixei de me preocupar em "Nós", porque na realidade isso nunca existiu.
Eu vim aqui não só por tua causa, mas também porque consegui aqui um excelente emprego como sub-presidente numa empresa muito concorrida e de mérito. Irei começar daqui a dois dias a trabalhar por isso tenho que me ir embora.. - eu estava atônita a olhar para ela. Tudo o que ela disse tinha sentido, mas ao mesmo tempo parecia tão errado. Tentei assimilar tudo muito rápido, para que depois lhe conseguisse dar uma resposta firme. Mas o problema é que por mais que tentasse assimilar, eu não conseguia. Era demasiada informação, era um despertar demasiado intenso para uma nova realidade que eu outrora nunca tinha experimentado.

Arranjei forças e pronunciei-me:

— Hmm.. Eu não sei o que te dizer.. Eu.. Eu.. Tu tens razão.. Eu fui uma besta para ti. Eu gostei imenso de ti, mas sinto que te usei para tentar esquecer a pessoa que me tinha deixado arruinada. E eu errei nisso. Errei demasiado. E quero que me perdoes por isso, mesmo que custe..
Mas... Mas vais embora? Porquê?! Como?! Vais para onde?! - eu já estava aflita e fazia-lhe milhões de perguntas. Mas o que mais me saltou à vista foram as malas encostadas à beira da porta. - O que são aquelas malas ali? Bia, já não estou a entender nada..

— Eu vou embora hoje, Ariana. Eu nestes dias apercebi-me que não pertenço aqui. Eu vim para casa para tentar resolver tudo, mas pelos vistos ela chegou primeiro mais uma vez. Eu pensei que ao vir aqui iria conseguir uma oportunidade para ter-te de volta.. Mas não consegui. E isso quebra-me o coração e penso que já está na altura de resolver a minha vida e de largar tudo o que magoa de uma vez por todas.
Por mais que eu te ame, quero conseguir seguir a minha vida e começar um capítulo novo, contigo ou sem ti. E espero que entendas isso. Um dia eu volto outra vez e possa ser que seja de vez.. E que ninguém chegue primeiro que eu.. - lágrimas já escorriam pelos meus olhos e um tremor assolava cada célula do meu corpo. Era doloroso saber que uma das pessoas mais importantes para mim ia mais uma vez embora da minha vida, ou nas piores das possibilidades, não voltava mais.

Ela saiu do meu quarto já pronta e com mais uma mala na mão, enquanto eu continuava ainda no mesmo sitio, levemente chocada pelo sucedido. Vendo-me naquele estado, dirigiu-se a mim e deu-me um grandioso e sufocante abraço, permitindo que mais lágrimas escorressem furiosamente dos meus olhos. Eu soluçava, mesmo sabendo que já não havia retorno possível. Que já não havia forma de mudar o passado e de alterar o presente.. Simplesmente não podia. Ela levemente se afastou de mim e disse:

— Eu podia neste momento dizer que iria ficar tudo bem. Eu podia dizer que a minha vida iria ficar igual e que nada vai mudar. Podia dizer que eras uma mera paixoneta para mim, e sair daquela porta sem ao menos me despedir direito. Mas.. Mas como nada daquilo que eu disse é verdade, antes pelo contrário, eu quero me despedir. Não me quero despedir com um "adeus", porque isso significaria uma viagem sem retorno, mas quero despedir-me com um "até já", porque eu ainda tenho esperanças de ter todo o teu amor só para mim. Sabes, eu não queria fazer isto, mas não tenho outra escolha. Não vou estar com uma pessoa que não quer estar comigo.. É demasiado sofrimento para uma pessoa só. Por isso faz o que eu te vou dizer: eu agora vou embora, porque já tenho o táxi à minha espera e tu sais daquela porta e vais a casa da Gabriella em busca da tua felicidade. Esclarece tudo com ela e sê feliz de uma vez por todas, ouviste? - assenti com a cabeça e ela continuou - eu amo-te e sempre amarei.. Amo-te tanto que nem quase aguento. Eu amo-te demasiado. - uma lágrima solitária escorreu pela minha face, sendo limpa pelo dedo esguio e delicado dela - peço-te só uma última coisa...

Ela olhou para baixo mordendo o lábio, demonstrando um leve nervosismo.

— O quê? - perguntei pondo o meu indicador no seu queixo, fazendo com que ela levantasse a cabeça.

Ela olhou fundo nos meus olhos, fazendo com que um arrepio atravessa-se o meu corpo todo. Eram dois mistos de castanho que se encontravam pela última vez até nunca mais terem a oportunidade de se encontrarem. Era doloroso e intenso ao mesmo tempo. Ahh.. como doeu olhá-la pela última vez.

Ela respirou fundo e falou:

— Beija-me... - e assim foi. Beijei-a com tudo o que pude e o que ainda restava do meu amor por ela. Saboreei aquela boca pela última vez, como se fosse o primeiro momento em que os nossos lábios se tocavam. Beijei-a com todo o cuidado e com toda a intensidade, fazendo com o nosso fôlego acabasse rapidamente. As nossas línguas enroscavam-se com saudade e paixão, os lábios tocavam-se com uma suavidade completamente entontecedora, foi mágico. Separá-mo-nos devido à falta de ar e colámos as nossas testas, ficando a saborear cada segundo daquele tão importante momento para as nossas vidas.

Descolámos as nossas testas e ela dirigiu-se à porta, sendo acompanhada por mim. Ela abriu-a, hesitando um pouco e deu-me um pequeno beijo nos lábios.

— Vou indo então.. Sê feliz Ariana! - deu um pequeno sorriso e uma lágrima escorreu pela sua face

— Digo-te o mesmo, Bia! - sorri para ela

— Amo-te... - e foi embora

Foi a última palavra que ela disse antes de sair definitivamente da minha vida. Se doeu? Imenso... Mas não havia nada que eu pudesse fazer para impedir que ela fosse. Ela tinha razão em tudo o que disse e certamente iria ser demasiado doloroso para ela estar com alguém que não a amasse. Era demasiado injusto.

Fechei a porta e deixei-me levar pelo choro. Não houve nada que me consola-se na altura, a não ser o meu palhaço de peluche. Agarrei-me a ele e chorei, chorei e chorei... Até que me deixei levar pelo sono.

 

9:00 am

Olhei para o relógio no meu pulso para verificar as horas. As ruas daquela cidade estavam agitadas e milhares de pessoas andavam como formigas por aquelas ruas. Atrapalhadas, com pressa e atarefadas.

Eu naquele dia tinha-me levantado cedo para ir treinar um pouco o meu corpo. Eu antes corria imenso, mas parei devido a problemas musculares. Então como naquele dia não estava propriamente bem, decidi ir dar uma corrida matinal para ver se desanuviava a cabeça.

Acordei eram 6.00 am. Doía-me o corpo todo e aproveitei a deixa para ir tomar um banho relaxante já que não tinha mais sono. Demorei 1h na banho. Depois vesti-me e tomei um pequeno-almoço leve, dando de seguida início à minha corrida. Andei a correr por aquelas ruas cheias de gente, que se atropelavam umas ás outras. Eram realmente desajeitadas.

Continuei a minha corrida até que finalmente avistei o meu prédio. Andei lentamente até lá, recuperando fôlego e algumas forças. Até que uma estranha figura à porta do prédio me chamou a atenção. Andei mais rápido, até que tive a visão de uma cabeleira ruiva a cumprimentar o porteiro e a entrar no prédio.

Corri até lá, mas de nada adiantou. Ela já tinha subido.

O porteiro olhou para mim com um ar estranho e eu cumprimentei-o. Olhei bem para a cara dele e reparei que não era o mesmo e perguntei:

— Desculpe, o senhor não estava aqui antes pois não? - ele olhou para mim e riu-se

— Não, não estava menina - riu e continuou - eu sou novo aqui, porque o outro porteiro mudou-se

— Ah.. muito bem.. E qual é o seu nome exatamente?

— Mathew - sorriu e perguntou - e o seu menina?

— Ariana, prazer - sorri e dei-lhe um aperto de mão

— O prazer é todo meu! Vê-mo-nos por aí menina Ariana!

— Até logo, Sr. Mathew - sorri e acenei com a mão, dirigindo-me para o elevador.

Carreguei no botão do meu andar e subi. Cheguei a casa e fui direta para o banho. Tomei um duche rápido e vesti uma roupa qualquer.

Com a corrida e tudo, o meu estômago já roncava. Então peguei numa barra de cereais que tinha para lá e comi-a. Sai da cozinha e fui sentar-me no sofá, ligando a TV.

Até que a voz da Bia invadiu os meus pensamentos, fazendo-me lembrar exatamente do que ela tinha dito no dia anterior. "Tu sais daquela porta e vais a casa da Gabriella em busca da tua felicidade. Esclarece tudo com ela e sê feliz de uma vez por todas, ouviste?"

E foi exatamente o que fiz. Saí disparada da minha porta indo em direção à sua porta.

O meu corpo estava gelado, o meu coração quase que saía da minha boca e o meu estômago andava a rebolar dentro de mim. A minha mão estava encostada à porta , mas eu não tinha força suficiente para fazer com que ela se movesse.

Passado uns 5 minutos, decidi que já era a altura de bater à porta. Movi lentamente o meu pulso e dei 3 batidas.

Agora já não há retorno. O que está feito, já está feito e não há maneira de o reverter.

De repente ouço o som de uma porta a abrir e uma divisão a aparecer no plano dos meus olhos.

Era tudo ou nada.

Era recuperá-la ou perdê-la de vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e hoje há mais mas talvez mais pequeno!!
Quero comentários
Bjoos gente s2