O vento bagunçava o seus cachos dourados e a noite fria e silenciosa a fazia se arrepiar. Da varanda de seu escritório via-se que uma tempestade estava por vir, porém o céu ainda estava estrelado. Infelizmente isto passou rapidamente. O céu foi tomado por nuvens escuras e clarões, então a chuva começou. De inicio ela era fraca, discreta, mas, aos poucos, mostrava a sua força.

Uma ideia passou por sua cabeça. De inicio ela parecia estupida, mas Francesca estava cansada de sentir aquele incomodo. Abriu suas asas e se permitiu voar pela noite chuvosa. De inicio as gotas da chuva eram frias, mas foram se tornando reconfortantes.

Ao voar sob a Sheroline Francesca pensou nele. Pensou em como ele a atormenta por dias a fio, mas, mesmo assim, trazia uma sensação reconfortante junto de si. Ela também se lembrou da Queda. A Queda que fez seu mundo virar de ponta cabeça e da perda que ela proporcionou. Francesca também pensou que a junção dele com sua escolha faria uma bela confusão em seu mundo, mas nada poderia ocorrer, certo? Eles não poderiam se zangar por isso. Como ela estava se enganando, enganando seus sentimentos.

Isso era errado, ela sabia, apaixonar-se por um demônio é uma blasfêmia e algo impossível para um anjo, mas era impossível evitar a palpitação em seu peito a cada vez que ele entrava na sala de aula e a cada vez que sorria. Era uma tormenta para ela.

Quando chegou ao penhasco ela percebeu que chorava. A chuva doce se misturava com suas lágrimas salgadas assim como o amor que ela sentia por Steven. Doce e salgado. Quente e frio. Bem e mal. Luz e trevas. Céu e Inferno. Opostos que se atraiam como o amor, como o incontrolável e devastador amor.

O tremor de suas pernas era incontrolável e ela acabou caindo de joelhos. Suas asas estavam retraídas para traz e suas pontas tremiam. Suas asas estavam chorando, assim como ela. O tempo passou e Francesca apenas ficou ali, olhando para o mar até que a chuva parece.

No momento que a chuva parou suas lágrimas já estavam secas, mas seu coração ainda chorava em desespero. Suas roupas estavam molhadas e era quase a hora do sol nascer. Ela esperava que, quando nascesse, ele trouxesse o calor junto de si. Ela se abraçou esperando que este gesto fizesse com que seu corpo esquentasse e recolheu suas asas úmidas, não se importava se ficasse doente seu coração já estava. Foi quando sentiu uma manta ser colocada sob seu ombro e alguém sentar ao seu lado.

Steven. Steven estava ao seu lado. Será que ele a viu chorando durante toda a noite? Mostrando o lado mais frágil e sentimental dela? Não a surpreendia que ele viesse apenas nesse momento, mas sim a sua presença. Pelo visto ele se preocupava com ela.

Instantaneamente suas mãos se encontraram, este gesto provocou um choque por todo o seu corpo ao sentir seus contrastes. Por mais frio que ela estivesse sentindo sua mão conseguia ser a mais quente que a dele.

Ele não fez nenhum pronunciamento. Não disse uma palavra. Não perguntou como ela estava ou por que ela estava ali, com o rosto vermelho e roupas molhadas. Apenas ficou segurando sua mão, deixando seus pés penderem no penhasco. Francesca apoiou sua cabeça em seu ombro e ficaram ali, sentados, esperando o sol nascer.