Os Dezessete escrita por Supremacia Verde


Capítulo 4
Capítulo IV - Shimizu Kurumi


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Beatriz Lemos, revisado por Emily de Farias e Simone Hoffmann.



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Ultimamente a paz estava reinando, diferente de alguns anos atrás quando me juntei aos samurais. Nossas missões agora são escoltar senhores feudais para lá e para cá, já que eles não confiam mais nos ninjas. Alegam que essa geração de ninjas está muito emotiva. Não posso deixar de concordar.

Estava sentindo falta dessas viagens calmas, mas ao mesmo tempo, elas me aterrorizam. O silêncio incomoda em certos momentos, me faz lembrar da minha infância, de quando eu não tinha que me preocupar em continuar viva. Eu só... vivia, sem preocupações, além da de trazer comida para a casa, claro. Minhas melhores lembranças são dos dias em que eu passava no bosque. Eu podia não ter amigos nas redondezas de casa, mas no bosque... os animais me amavam. Sinto falta dos coelhos, eram tão adoráveis.

– SHIMIZU! – revirei os olhos, não se pode mais pensar em paz.

– Sim, senhor? – o Capitão Nakamura me importuna de vez em quando. Ele é gentil, porém insistente.

– Como você morava perto de um bosque e já está escurecendo, gostaria que me acompanhasse na pequena patrulha pela área, só para ter certeza de que o senhor feudal está seguro neste local e que podemos acampar por aqui. – ele falava com firmeza, mas o tom da voz era gentil.

– Sim, senhor. Quando partimos?

– Em breve. Eu lhe avisarei. Esteja pronta. – acenei com a cabeça e preparei minhas coisas. Juntei a minha katana a cintura e peguei um lampião, caso necessário. Me sentei junto com outros samurais e aguardei a ordem de partida.

O Capitão passou por mim e fez um gesto com a mão, indicando que era hora de ir. Seguimos em meio à mata fiscalizando o perímetro. Até então estávamos em uma pequena trilha não muito utilizada para não chamarmos atenção.

Depois de andarmos uma quantidade razoável e eu pensar mais um pouco sobre a melhor época da minha vida, eu escuto vozes.

Barrei o capitão com o meu braço, impedindo que avançasse. Fiz gestos perguntando se ele havia escutado o mesmo que eu escutei, ele assentiu silenciosamente e sinalizou para nos aproximarmos.

– Sim, vamos nos aproximar.

Andamos cautelosamente seguindo o som das vozes e acabamos saindo em outra parte da mesma trilha em que estávamos seguindo com o Senhor Feudal. Ao estarmos mais próximos da trilha, conseguimos identificar o que, ou quem, estava ali. Scrugs. São criaturas parecidas com trolls, porém mais sábios e um pouco mais humanizados, isto é, semelhante aos homens fisicamente. Apesar de serem mais inteligentes que os trolls, mesmo que pouco, são igualmente brutos e de grande porte. Haviam cinco deles.

– Capitão, acho melhor nos retirarmos antes que sejamos notados. – o empurrei levemente para longe de onde os trolls estavam acampados.

– Não, ficaremos e lutaremos. – ele disse com um ar de convencido, estufou o peito e levantou a cabeça, como se estivesse pronto para uma batalha.

– O senhor está louco?! Perdeu a sanidade?!

– Olhe como fala comigo, Shimizu Kurumi!¹ – tapei a sua boca com a minha mão.

– Não grite! – sussurrei. – Estamos muito próximos do inimigo e eu acho melhor o senhor me escutar. Sei que o senhor é o meu capitão e que eu supostamente deveria escutar tudo que me diz sem pestanejar. Mas me escute! O senhor quer morrer? Tudo bem, mas não carregue consigo um Senhor Feudal! Por mais que estejamos em um grande número, é um grande risco a se correr, não posso permitir que coloque em risco alguém tão importante só para alimentar o próprio ego!

– Shimizu!

– Eu ainda não terminei! O melhor a se fazer agora é retornar, e rápido! Daremos a volta pela mata e sairemos em outra parte da trilha. O nosso objetivo não é lutar com qualquer um que cruzar o nosso caminho, mas sim, levar o Senhor Feudal em segurança ao seu destino. Está de acordo comigo, ou terei que tomar outras medidas?

– Você está certa. Deixei meu ego tomar conta de mim e quase coloquei em risco a vida de várias pessoas, só para dar orgulho ao meu pai. Shimizu, podemos ter quase a mesma idade, mas certamente você sabe lidar melhor com as situações. Não me arrependo de ter a trazido para essa missão.

Acenei com a cabeça e então seguimos de volta para onde os outros samurais estavam. Já era escuro, mas com a possibilidade de ter scrugs por perto, concordamos em não usar o lampião para não chamarmos atenção. Assim que chegamos ao nosso destino, comunicamos a todos o ocorrido e o que faríamos a seguir.

Como já estava escuro, acampamos no meio da mata, pois seria perigoso nos movimentarmos no meio da mesma, assim como também não seria uma boa ideia continuar na trilha. Dois samurais ficariam de guarda, alternando horários com outros. Estava ocorrendo tudo bem, sem sinal de inimigos por perto. Assim que o sol apareceu acordamos e partimos.

O resto do dia foi tranquilo, até demais para o que estávamos acostumados. Segui na frente para ter certeza de que era seguro andar por aquele caminho. Me sentia insegura, como se alguma coisa não estivesse certa. Mantendo esses sentimentos para mim, continuei o que estava fazendo, até que alguém surge para me importunar.

– Kurumi, o que houve? – o Capitão me olhava com preocupação e receio, sentia que ele acreditava no meu sexto sentido.

– Desde quando nos chamamos pelo primeiro nome, Hayato? – eu respondi sem o olhar no rosto, não gosto de contato visual. Se possível, me mantenho afastada sentimentalmente de outras pessoas.

– Não troque de assunto, Shimizu. – ele revirou os olhos. – Vamos, me conte.

– Estou com um pé atrás. Alguma coisa não soa certa. Essa tranquilidade é tão... estranha. Precisamos nos proteger, eu sinto que algo vai acontecer. Acamparemos mais cedo todos os dias e construiremos uma pequena barreira. Algo discreto. O que acha? – assim que terminei de contar meus planos, mantive contato visual para tentar ler o que se passava pela mente dele.

– Acho uma ótima ideia. Menos a parte da barreira, pode acabar chamando atenção. Dependendo de como a faremos, pode nos deixar em risco e atrair olhares indevidos.

– Concordo em parte, mas acho que a barreira irá nos proteger. Vamos falar com o resto do grupo, colher mais opiniões.

– Sim, vamos. – ele balançou a cabeça, concordando.

Após discutirmos o assunto com os outros samurais, foi decidido que montaríamos uma pequena barreira, alta o suficiente para cobrir um corpo agachado. Não paramos de andar, apenas diminuímos o ritmo. Enquanto dois samurais procuravam por troncos caídos ou outros materiais para construir a nossa defesa, continuávamos nos movimentando.

Quando começou a escurecer, entramos na mata e montamos a barreira. Apenas terminamos quando já estava escuro. Foi utilizado o mesmo esquema do dia anterior, dois samurais vigiando e troca de turnos a cada duas horas.

Não tivemos nenhum problema durante a noite, mas pela manhã o pavor tomou conta de cada alma que havia no acampamento. Ao sair para fazer uma patrulha matinal, encontrei uma espécie de bilhete pregado do lado de fora da barreira. Caligrafia perfeita e um sobrenome conhecido.

Hajime Nakamura estivera ali, o irmão mais velho de Hayato. O bilhete era assim:

“Saia do meu caminho, Shimizu Kurumi. Ou eu farei com que você saia.

Hajime Nakamura, líder dos scrugs.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam das reviews, elas inspiram e aquecem o coração do autor.

* * *

¹ - Como estamos no Japão, significa que o sobrenome é falado antes do nome.



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