"Acabei chamando a atenção deles de novo..." - murmurei sem mesmo perceber, enquanto me balançava levemente em um balanço do parquinho que encontrei ao caminho de casa. Havia acabado de fugir de mais uma multidão de pessoas - "Não posso mais sair sem a Kido afinal..."

"O que pensa que está fazendo sentada aí, oba-san?" - falou um menino de cabelos castanhos e de estatura baixa, usando uma camiseta azul clara e um casaco branco - "Levante deste lugar..." - disse parecendo irritado, mas sem alterar seu tom de voz natural.

"Uh?! Eu já falei! Não sou velha o bastante para ser chamada de "oba-san"!" - gritei com raiva.

"Tanto faz... apenas saia deste balanço." - disse ele olhando para baixo.

Parei por um instante e olhei para frente. Podia avistar claramente uma faixa de pedestres com algumas manchas vermelhas no chão que pareciam escuras demais para se apagarem em pouco tempo. Finalmente, me dei conta.

"M-Me desculpe Hibiya... eu não tinha percebido..." - disse arrependida, já com um tom triste presente em minha voz. Eu tinha acabado de gritar com ele... como eu sou boba.

"Não tem problema... eu que sou egoísta demais. Não consigo ver ninguém sentado neste balanço que fico triste, ou irritado... porque..." - deu uma pausa para recuperar o ar - "...lembro daquele dia." - terminou a frase com dificuldade de conter as lágrimas.

"Isso não é egoísmo... aposto que se Hiyori soubesse que está fazendo isso, ela ficaria feliz." - falei tentando o alegrar um pouco.

O menino deu uma pequena risada nervosa.

"Ela me chamaria de nojento." - falou mantendo o sorriso sem jeito no rosto - "Hiyori sempre me odiou, e me achava um idiota por estar sempre atrás dela. Eu era apenas um fardo. Talvez ela esteja até mais feliz agora, já que se livrou de mim."

"Isso não é verdade... a Hiyori gostava de você." - disse virando para olhar nos olhos dele. Porém, acabei ficando chocada com o que vi.

Ele estava chorando.

Hibiya realmente estava chorando diante de mim.

"E-Ei, não fique assim. Me desculpe por ter tocado neste assunto..." - falei um pouco desajeitada.

"Cale a boca, não é sua culpa." - disse - "A culpa é toda minha. Fui em quem não conseguiu a salvar."

Encostei seu dedo indicador nos lábios finos dele, o deixando surpreso e fazendo suas lágrimas pararem de cair tão facilmente.

"Você não fez nada de errado, okay?" - disse esboçando um sorriso gentil no rosto - "Você é muito corajoso, então pare de falar coisas tão tristes."

Aquelas palavras claramente tiraram parte do peso que ele tinha em cima de si, seu olhar era um pouco mais sério agora, e as lágrimas se apressaram em cessar. Então, apenas o senti colocando seus braços em volta de mim. Hibiya me puxou para perto de si em um abraço. Pude sentir as mãos frias dele tocando minhas costas com cuidado, enquanto tremiam. Então, obviamente, o abracei de volta. Ele nunca gostou de muito contato físico, sempre rejeitava meus abraços, então aquela foi uma total surpresa para mim.

"Obrigado, oba-san." - o ouvi dizendo bem baixinho.

"Não tem pelo que agradecer." - falei com o tom mais doce que consegui - "Além disso, estou realmente contente, esta é a primeira vez que você me abraça por conta própria."

Senti suas bochechas esquentarem, ele tinha corado...?

"Sua idiota, me fazendo ficar constrangido assim mesmo num momento como este." - disse ele ainda com um tom calmo, mas, ainda conseguia perceber o quão disparado o coração dele estava.

"Shhh, apenas me deixe aproveitar este abraço." - falei rindo um pouco, e tentando quebrar a tensão dele. É claro que iria ser xingada momentos depois, mas isso não importava muito, já havia me acostumado com isso, infelizmente.

"Não." - ele me respondeu em um tom estranhamente sério - "É minha vez de te deixar envergonhada agora." - falou ele enquanto tirava seus braços que antes estavam em torno das minhas costas e colocando suas pequenas mãos nos meus ombros. Aquilo me deixou sem reação. Abraçar era diferente, nossos olhares não se encontravam daquele jeito, mas assim, ele consegue reparar até se minhas bochechas ficariam mais rosadas.

"O-O que você pensa que vai fazer?!" - demorei para encontrar as palavras, e as disse de forma nervosa. Droga, assim ele provavelmente vai notar que seu plano de me deixar constrangida estava mesmo funcionando.

"Um beijo." - falou ele olhando diretamente para meus olhos negros e se aproximando cada vez mais.

Logo, eu senti nossos lábios se encostarem, permaneceu assim por mais alguns segundos, até o momento em que ele finalmente rompeu o beijo, movimentando a cabeça para trás. Ele me olhou esperando ver qual reação eu teria, enquanto colocava a mão esquerda sobre o rosto, para evitar que eu enxergasse completamente a vermelhidão de seu rosto.

"Foi tão bom que você ficou sem palavras?" - provocou ele, esperando uma reação significativa de minha parte.

"V-V-Você roubou meu primeiro beijo!" - disse recuperando-me do estado de choque em que estava.

Hibiya soltou um riso nervoso para tentar provocar-me novamente, mas então levantou-se do balanço em que estava sentado e ficou de costas para mim.

"Mas... você gostou?" - falou ele nervoso em um tom muito baixo, ele devia estar com tanta vergonha quanto eu, o que me deixou com ainda mais dificuldade de abrir a boca para deixar a palavra "sim" soar. Mas, não parecia ser impossível. Era difícil admitir coisas assim, ainda mais para ele.

"Uh..." - as palavras ainda não queriam sair. - "C-Como posso d-dizer... bem... s-sim... eu gostei."

Eu tinha dito aquilo. Mesmo. Momo, o que está acontecendo com você?
"S-Sério?! Eu nunca tinha feito nada assim antes, então parece que fui realmente bem para uma primeira vez." - falou ele zombando de mim.

"Não fique tão convencido. Não foi ruim, mas eu também não disse que foi bom!" - falei tentando aborrecê-lo, como sempre fiz.

"Se é assim..." - falou ele com um tom um pouco mais sério, enquanto se virava para minha direção novamente - "Vou tentar de novo."

Então ele fez. Foi um movimento tão rápido que eu não fui capaz de reagir antes que acontecesse. Mais uma vez, senti os lábios macios dele pressionados contra os meus, dando uma sensação de calor imediata. Logo, ele se afastou um pouco.

"Agora foi ainda melhor, não foi?" - disse ele tentando parecer calmo, mas com a respiração muito acelerada.

"Sim... esse foi ainda melhor..." - falei tomando cuidado para não desviar o olhar e mostrar o quanto estava embaraçada.

Então, ele se aproximou de novo do meu rosto. O meu coração palpitava ainda mais rápido, apenas fechei meus olhos e esperei.

Senti um sopro.

"Você gostou mesmo, até estava pronta para retribuir o beijo desta vez." - disse ele rindo.

Sabia.

Olhei para o outro lado com uma expressão triste, eu tinha mesmo caído na armadilha dele, e isso me deixou extremamente confusa e aborrecida ao mesmo tempo. Ele tinha feito tudo de brincadeira então? Idiota...

"Ei, oba-san?" - disse ele dando um passo a frente.

"O que foi?" - disse irritada - "E meu nome é M-o-m-o. Não sou velha o suficiente para ser chamada d-"

"Você não tem mesmo jeito..." - Hibiya cortou minha fala.

Ele se aproximou novamente do lugar onde estava sentada, então, sua tentativa de beijar minha bochecha falhou, me virei no mesmo momento, e pude beijá-lo.

"Minha vez de perguntar... você gostou?" - falei quebrando o silêncio.

"B-Bastante..." - falou ele gaguejando - "Mas não se orgulhe disso!"

"Hum, isso significa que a vitória é minha." - falei rindo.

"Não mesmo, não tem isso de vitória." - falou Hibiya olhando para baixo - "Nós dois gostamos afinal... portanto é um empate."

"Me parece justo." - disse levantando-me.

Surpreendentemente, minha vergonha havia sumido a este ponto. Provavelmente, ao notar que ele estava, de longe, muito mais nervoso que eu, mesmo tentando transparecer isso.

"Um dia... podemos fazer um desempate?" - disse ele ainda olhando para baixo, enquanto colocava a mão sobre o rosto de novo.

"Isso também me parece muito justo." - disse calmamente - "Mas por favor, pelo menos chegue na minha alturaquando formos fazer isso."

"Oba-san, você é uma idiota! Idiota! Sabia?" - disse ele aborrecido - "Eu estava realmente com vergonha."

"Ei ei, eu disse isso apenas porque sei que não vai demorar muito até você passar da minha altura." - falei.

Ele se surpreendeu, e depois, me olhou novamente.

"Saiba que eu não vou perder!" - gritou ele enquanto saia correndo do parque, sem nem mesmo me esperar.

Agora lembranças boas também estavam presentes naquele lugar.