Sem Aviso escrita por AkireBell


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. E se gostarem, deixem comentários.
Participação do concurso de fanfics da SasuSaku Love



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As tendas armadas pelas terras do que um dia fora a próspera e bela vila de Konoha estavam abarrotadas de ninjas e civis que foram feridos durante as sangrentas batalhas da grande guerra. Os poucos ninjas médicos que restaram estavam lutando para conseguir atender à demanda de feridos. Eram tantos, pensava Sakura enquanto procurava alguns materiais necessários para suturar o ferimento de uma jovem que tinha quebrado o tornozelo, eram tantos que nem dava pra acreditar que a guerra se estendeu de uma forma tão destrutiva e massiva. Tudo ainda era muito recente: a quase impossível derrota de Kaguya; a luta milenar entre Naruto, Sasuke e a grande inimiga; o breve momento que eles pensaram que seria o fim e que Sakura doou de bom grado o restante de chakra que ainda tinha para Sasuke...

Sasuke

Ele lutou tão bravamente. Deu tanto de si. Ajudou Naruto até mais que ela. E o que ganhou?

Medo.

Indiferença.

Desprezo.

Pensar nisso fazia seu coração doer.

Porque, diferente dela, o restante da vila não vira o que Sasuke fez. Não vira a forma persistente e brava com que ele lutou. Não vira a forma com que ele quase sacrificou sua visão para parar Kaguya. Não vira o seu heroísmo.

Não vira a sua redenção.

E isso doía nela mais que qualquer golpe, mais que qualquer ferimento.

Porque até ela que, quando tinha seus feitos comparados ao do Uchiha tornava-se insignificante, estava recebendo elogios e créditos de heroína pela vitória tão sofrida. E Sasuke?

Estava sendo tratado da forma com que ela deveria ser tratada: como um nada.

Por que o que ela era perto de Uchiha Sasuke?

O que teria feito ela para merecer ele?

Se antes ele já era algo inalcançável, agora que era um herói, pelo menos para ela, ele se tornara inteiramente impossível.

E por isso que ela decidira tratá-lo como o restante da vila vinha tratando-o desde o fim da guerra: como alguém sem importância.

Por mais que isso a matasse.

– Sakura-san? – a garota sentada a sua frente fê-la sair de seus devaneios. Sakura deu-lhe um sorriso de desculpas e voltou a enrolar a gaze em volta de seu tornozelo. Se ela queria fazer isso direito, teria que se concentrar em outra coisa que não fosse nele, e seu trabalho na ala médica daria uma ótima distração.

Tendo terminado seu trabalho com a garota, Sakura despediu-se dela e começou a preparar a maca para o recebimento do próximo paciente, porém um arquejo da garota que outrora estava cuidando fê-la virar subitamente em direção à porta.

As sombras na entrada dificultavam a visão, porém ela não precisava enxergar nada para saber quem estava ali. Ela reconheceria aquele chakra em qualquer lugar.

Com o coração a mil, Sakura notou a garota respirar pesadamente enquanto ainda olhava para a figura parada a porta, e rapidamente, em meio a gestos desengonçados, falar repetidos “gomen” enquanto esgueirava-se pela saída, sendo cuidadosa em não tocar no ninja a sua frente. E ela notou, depois de longos segundos, a figura, que agora tinha rosto e formas definidas, entrar silenciosamente na tenda e caminhar em direção à maca em sua frente.

Seus olhos acompanhavam os movimentos dele e seu coração palpitava tão rapidamente que ela duvidava que ele não fosse capaz de ouvir.

O que ele fazia ali?

Seus pensamentos foram interrompidos quando ele, em um movimento rápido e contido, sentou-se na beira da maca e finalmente, finalmente, olhou para ela.

O ar faltou nos pulmões da jovem kunoichi e ela se perguntou, não pela primeira vez, se haveria algum dia que ela olharia para ele e não sentiria que seu coração fosse explodir.

Eram sentimentos tão intensos.

Não era possível que alguém poderia contê-los em apenas um coração.

Não era possível que alguém poderia amar alguém como ela amava Sasuke.

– Sakura... – ela não respirava. Não respirava. Seu cérebro trabalhava em dobro para encontrar alguma resposta que justificasse a ida de Sasuke até a tenda dela, mas nenhuma resposta cabível ou possível era encontrada. E ela não podia respirar. Seu cérebro estava tão ocupado processando informações e suposições sobre aquele momento que havia esquecido que também devia fazê-la inspirar ar para os pulmões.

Ela estava morrendo...

E somente porque ele falara seu nome...

– Não vai falar comigo, Sakura? – de novo. Ele falou de novo. Ele estava fazendo isso de propósito, ela pensou. Não era possível que ele não soubesse os efeitos que a voz dele, que a presença dele faziam com ela. – Não vai olhar pra mim? – sua voz era tão baixa, tão irresistível... Ela não conseguiu desobedecê-la. Com um movimento rápido demais ela levantou a cabeça e encontrou os olhos dele.

Olhos tão escuros.

– O que você quer, Sasuke...? – ela lutou contra a vontade de completar seu nome com o “kun”. Era algo reflexivo, tão familiar! Mas se ela tinha que ignorá-lo, ela começaria da forma mais dolorosa. Seu cérebro finalmente lembrou-se de como se respirava e ela tomou uma lufada de ar com prazer. Depois encarou-o com dureza – Não lembro de você ter se machucado na luta.

Ela notou Sasuke a encarar com um olhar estranhamente intrigado, mesmo que ele tentasse escondê-lo debaixo da sua fachada cética e apática. Ele exalou de forma silenciosa e soltou uma leve, tão leve que Sakura quase pensou ter imaginado, risada.

– Você está diferente – falou quase como se não quisesse. Ele parecia intrigado com cada gesto que Sakura realizava, como se fossem familiares mas, ao mesmo tempo, novos para ele. – Não lembro de algum dia ter visto você me encarando desse jeito. – sua sobrancelhas franziram ligeiramente, como se quisesse lembrar de algo a muito esquecido, mas não conseguisse, porque o que ele estava tentando recordar nunca aconteceu.

Sakura nunca havia o tratado daquela maneira.

Mas seria daquela maneira que ela o trataria a partir dali.

– Isso não responde a minha pergunta – ela lutou para permanecer tranquila, indiferente. Mas seu coração era algo aparte de seus esforços. Ele estava tão acelerado que ela tinha medo que ele saísse pelo peito e fosse voando em direção a Sasuke, afinal, não era ele o seu dono?

– Ah... Sim. Realmente não responde. – Sasuke ainda ostentava uma expressão divertida porém intrigada e Sakura não deixava de se perguntar o que aquilo queria dizer. – Eu não tenho nada. – concluiu com um dar de ombros. Sakura piscou algumas vezes antes de olhar para ele novamente.

– Não tem... Nada? O que diabos isso quer dizer? – fúria começou a ganhar espaço em seus nervos – Você está tomando o lugar de pessoas que realmente necessitam de atendimento, Sasuke! Pessoas que estão prestes a morrer ou que estão sofrendo dores terríveis por conta de ferimentos sérios! Eles precisam de mim agora, não você, então, por favor, não minta para mim. – ela respirou fundo – O que você quer? – a dor que vinha com essas palavras era entorpecente. Ela nunca fora tão dura com ele. Nunca falara palavras para machucá-lo. Mas ela tinha que fazer isso se queria esquecê-lo. Ela tinha que mostrar pra ele que não sentia mais nada.

Sasuke ficou parado, olhando para ela com uma expressão inteligível no rosto. Não era como das outras vezes, que seu rosto era apático demais. Era uma expressão nova, nunca antes vista no rosto de Uchiha Sasuke.

Ele a olhava como se estivesse sofrendo.

E ela ter percebido isso foi quase a mesma coisa que ter levado um tapa na cara.

– Eu... – ela notou Sasuke desviar o olhar para o chão e seu coração deu algumas voltas em seu peito. Ela não queria acreditar no que seus olhos estavam vendo, pois o que eles estavam vendo era surreal.

Uchiha Sasuke estava hesitando.

Ela o viu tomar uma respiração entrecortada e olhá-la novamente. Mas dessa vez com uma determinação tão intensa que era quase palpável.

Sakura esqueceu-se de como manter-se firme.

– Você está enganada – ele começou lentamente. Parecia custar-lhe muito verbalizar cada uma das palavras, como se um conflito interno fosse travado no momento em que cada uma delas estava prestes a sair. Ele parecia a ponto de gritar. – Eu... – ele suspirou – Eu preciso de algo, Sakura – e a maneira com que ele falou isso fê-la, finalmente, desabar. Tudo o que ela estava lutando para esquecer voltara com força total. Todo o amor, toda a paixão, toda a adoração, todo o medo. Ela observou Sasuke olhá-la pelo que pareceu um milênio e, depois, clarear a garganta para falar novamente – Eu preciso tanto dessa coisa, tanto, que isso está me matando... Lentamente – suas palavras agora eram como um sussurro e Sakura sentiu como se o chão estivesse ruindo aos seus pés. Seus joelhos já não estavam mais fazendo seu trabalho, pois tremiam tanto que ela pensou que fosse desabar a qualquer momento. Ela observou sem respirar quando Sasuke desceu da maca e andou em sua direção. – E isso dói, Sakura. Dói mais do que você pode imaginar. Essa necessidade... – ele tomou uma respiração longa e engoliu em seco. – Está me enlouquecendo. – terminou quando a distância entre os dois não passava de alguns centímetros. Todos os nervos de Sakura, todos os tendões e músculos e órgãos gritavam para ela diminuir de vez essa distância, até que não restasse nada mais que seus corpos juntos, unidos, como deveriam ser desde sempre. – Então você acha que eu não preciso de atendimento, Sakura? Acha mesmo que eu não preciso de um médico? – ela estava morrendo. Essa proximidade estava a matando. Ela necessitava tanto dele, tanto de seu toque. Era uma dor física agora. Doía tanto que ela entendeu rapidamente o que ele quis dizer.

Alguns sentimentos são tão fortes que parecem muito para uma só pessoa carregar.

– Mas... – ela parou. Tinha que se concentrar. Não poderia cair nos braços dele tão facilmente. Ela não poderia ter Sasuke. – Mas tem outros médicos. Não faz sentido você ter vindo até mim – ela sussurrou enquanto desviava os olhos dos dele, tão negros, que pareciam uma noite sem estrelas e sem luar. Ela sentiu a respiração dele acelerar, como se estivesse prestes a perder o controle. Depois, observou suas mãos e viu que elas estavam cerradas. Sasuke estava tão estranho. Sua voz parecia uma leve brisa quando ele falou.

– Nenhum deles pode me dar o que eu preciso, Sakura – e ela morreu. Morreu e morreu e morreu e morreu milhões de vezes antes de ressuscitar e voltar a vida a tempo de ouvir o que ele ainda tinha para falar. Suas pernas pareciam feitas de gelatina e ela se perguntava se era normal alguém se sentir assim antes de morrer. Porque ela estava morrendo. Lentamente. – Porque o que eu preciso... – ele exalou – O que eu preciso tão desesperadamente. O que me consome há tanto tempo e que vai matar-me se eu não conseguir ter, Sakura... – ele tinha que parar, ela pensou. Ele tinha que parar de falar seu nome como se fosse um mantra, como se fosse algo doce aos seus lábios. Porque isso era cruel, ela queria gritar. Era cruel com ela, com os sentimentos dela. Cruel com a sua sanidade, com a sua razão. Porque isso... Isso simplesmente era demais para seu coração. Muito mais do que ela era capaz de suportar. Isso – É... – fazia – O seu... – ela... – Perdão. – Morreu.

Todo o mundo pareceu desabar naquele momento. Todas as montanhas, picos, casas, construções, florestas, tudo o que poderia algum dia estar de pé na face da terra desabou no momento em que essas palavras ganharam significado na mente de Sakura. E que significado elas ganharam? Um que ela não conseguia aceitar, não conseguia entender. Parecia que todos os neurônios de seu sistema nervoso estavam em algum tipo de conspiração, uma conspiração que consistia em esquecer da razão e querer fazer apenas uma coisa: jogar-se nos braços de Sasuke.

Mas ela poderia fazer isso? Perdoá-lo? Pelo quê exatamente? Por ter abandona-a quando ela fez de tudo para que ele ficasse? Por ter ido embora e levado com ele toda a sua felicidade?

Ou por ter tentado matá-la?

Ela ia perguntar justamente isso, estava se preparando para verbalizar as sentenças, quando olhou para cima e deparou-se com o olhar de Sasuke. E ela se perguntou se algum dia seria possível na face da terra alguém demonstrar tantas coisas com um só olhar quanto Sasuke mostrava naquele momento.

E ela entendeu, enfim.

Entendeu tudo o que aquilo queria dizer. A dor que ele estava sentindo. Entendeu como era quando se tinha a necessidade tão intensa de ter algo; tão intensa que chegava a matar.

Porque, exatamente como ele, ela sentia essa dor. Ela sentia essa necessidade.

Ela precisava dele.

E a necessidade dele nunca foi tão visível para ela como naquele momento.

Ele nunca fora tão sincero como ele foi naquele momento.

Então como ela poderia não perdoá-lo? Por tudo?

Desde quando Sakura não poderia perdoar Uchiha Sasuke por partir seu coração?

Desde quando o amor verdadeiro não perdoa?

Desde quando ela poderia viver sem Sasuke?

– Perdão? É isso que você quer? – ela perguntou com a voz esganiçada. E mais um arquejo saiu pelos seus lábios rosados quando ela o viu, muito rapidamente, quase imperceptivelmente, assentir.

E dizer que ela ficou feliz naquele momento seria algo ínfimo perto do que ela realmente sentiu.

Se houvesse algum evento no mundo para comparar a dimensão de sua felicidade, seria uma cadeia de supernovas. Era tão intenso, tão verdadeiro, que ela duvidava que pudesse conter por muito tempo. Era demais para alguém aguentar.

Ainda sem dizer nenhuma palavra, ela também assentiu. E seu coração falhou algumas batidas quando Sasuke, seu Sasuke-kun, fechou os olhos enquanto soltava o ar dos pulmões e deu um leve, tão leve, sorriso que fez todos os nervos de Sakura gritarem com vontade de tocá-lo. Era tão inesperado, tão espontâneo, que ela não pôde evitar sorrir também.

E ela se perguntou se algum dia já vira algo mais belo que o sorriso de Uchiha Sasuke.

Ela ainda sorria quando lentamente, muito lentamente, Sasuke supriu os centímetros que os separavam e, sem quebrar o contato visual dos dois em nenhum instante, tocou no rosto de Sakura com uma das mãos. Ainda sorria quando viu que a respiração dele estava pesada e seus olhos, tão, tão negros, brilhavam como caleidoscópios de luz. E ela ainda sorria, ainda estava entorpecida, morta, sem reação diante daquele momento irreal, quando ele, enfim, falou a palavra mais linda que ela já ouvira na vida. A palavra mais significativa do mundo que, nos lábios de Sasuke, ficava mais significativa ainda. A palavra que ficara guardada no coração de Sakura desde a sua despedida de Sasuke naquela noite tão linda e triste. A palavra que outrora marcara o fim, mas que, naquele momento, marcaria o novo começo, que veio de forma surpreendentemente inesperada, sem aviso. A palavra dela, que só ela poderia escutá-lo dizer.

– Obrigado. – e Sasuke, sem aviso, tomou-a em seus braços para um abraço apertado, necessitado. E Sakura pensou que se fosse para momentos perfeitos como esse acontecerem na sua vida daquele momento em diante, ela sofreria tudo o que já sofreu outra vez.

Porque aquilo...

Aquilo era tudo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *u*Até amanhã :3 O/