You Be The Anchor That Keeps My Feet On The Ground escrita por Mangahg


Capítulo 1
Stay - Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Pra você JustTheUnicorn ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521346/chapter/1

- Você é uma inútil! Por que ainda está aqui?

Coçou a cabeça, fingindo-se de confusa.

- Hã?

O outro pareceu ficar impaciente. Suas sobrancelhas grossas se contorciam como duas taturanas peludas e raivosas, assim como sua expressão, que era algo como nojo e irritação. As asas dele se agitaram, brilhando num tom azul escuro, suaves e translúcidas.

- Você não entende, estranha? – cuspiu as palavras, a repugna era clara no seu tom de voz alto e irado. – Como alguém sem asas pode ajudar a decorar as árvores para o festival? Além disso, ninguém quer você aqui! Aberração!

E mais uma vez era atacada com palavras maldosas. Palavras que atravessavam sua fina barreira de proteção, penetravam fundo em seu corpo e atingiam seu coração.Sentiu os olhos embargados e na mesma hora se virou, saindo dali. Não ia deixar que a vissem chorar.

Corria. Corria para fugir de todas as vozes, todos os julgamentos, todas as faces risonhas em sua mente. Queria sumir daquele lugar, desaparecer do mundo. Sua existência ali não era necessária, nunca seria. Ninguém gostava ou sequer falava com ela. Tudo era uma tortura.

Viver era uma tortura.

Depois de tanto correr, a pequena criatura chegou em um lugar bonito. Um imenso lago cristalino se estendia pela plânice esverdeada, onde o sol se refletia, grande e deslumbrante. Flores cresciam nos lugares e buracos mais inesperados, porém eram radiantes de tão exuberantes. Delicadas borboletas voavam entre elas, colorindo mais o ambiente.

A fada caiu de joelhos em uma parte do gramado que já estava amassado, abraçando a si mesma. Apertava os próprios braços com tanta força que sua pele alva ficava avermelhada e eivada. As lágrimas corriam por sua face, até chegarem no queixo e caírem, pingando no chão. Os soluços ficavam mais altos, pois apenas ela estava ali.

Aos poucos a pequena se recuperava, o choro já havia cessado e a única coisa que permanecera fora a tremedeira. Ela respirou fundo, sentindo o cheiro da natureza a sua volta, e se permitiu abrir as pálpebras. Os olhos escuros, esverdeados por causa da luz solar, brilharam ao ver o ser a sua frente.

- Estava esperando por você... – murmurou a fada, agora sorrindo com o rosto manchado pelas lágrimas.

A figura divina chegou perto, tocando-lhe o braço. Tinha uma expressão preocupada em sua fronte, os lábios finos contraídos e as sobrancelhas – que eram quase inexistentes – franzidas. Os olhos negros estavam cerrados, exibindo um cintilar inquieto.

As bochechas de Arianrhod ficaram rosadas pelo olhar avaliativo que a outra criatura lhe lançava, sério e certeiro. Num ato de nervosismo, pôs uma mecha do cabelo castanho e ondulado atrás da orelha pontuda, encarando a grama amassada abaixo de seus joelhos. Ergueu o olhar, fixando-o nas asas da figura diante de si, fechadas e escondidas atrás de suas costas.

O que aconteceu?” a voz doce soou em sua mente, como uma bela melodia. A pequena mirou os lábios da outra, que não se mexeram em momento algum. “Foram eles de novo?”

- Deixe pra lá... Não quero lhe incomodar com meus problemas.

A fada se assustou quando seu punho foi segurado com força. As mãos dela pareciam delicadas, porém eram firmes e calorosas, totalmente ao contrário do que aparentavam.

Me fale, Arianrhod.

A pequena engoliu em seco, mordendo os cantos da boca, surgindo um gosto metálico. As mãos se apertavam, fazendo com que as unhas se enterrassem em suas palmas, machucando a pele. Sentiu a garganta queimar por segurar a vontade de chorar. E antes de falar, abaixou a cabeça.

- É a mesma coisa... – as palavras soaram com um sussurro, quase inaldíveis – Sempre é a mesma coisa...

O silêncio se instalou entre as duas criaturas. Arianrhod iria começar a chorar outra vez, mas antes que isto pudesse acontecer, ela ouviu um barulho estranho, como de asas se abrindo, e sentiu-se ser puxada para cima.

Os orbes verdes arregalaram-se, olhando para o chão, que se distanciava mais a cada segundo. Perdeu o ar por um momento ao notar que estava subindo sem parar. “Estou voando” repetia na sua própria mente “Estou voando”.

Sentiu o aperto em sua cintura aumentar quando pararam de subir. O vento lambeu seu rosto quando as enormes asas brancas batiam, estabilizando-as. Os cabelos esvoaçaram, misturando o castanho com o albino.

Arianrhod respirou fundo, abrindo um sorriso ao avistar sua vila de cima. Parecia tudo tão pequeno e adorável... O sol iluminando a floresta, deixando-a com cores mais vivas. O jeito como as moradias pareciam casas de boneca e as fadas, minúsculas. Tudo tão... bonito.

Vê como tudo pode ser resolvido?” a albina pousou seu queixo no ombro da pequena, admirando a paisagem com uma expressão tranquila. “Basta deixar que eu te ajude.”

- Nem tudo pode ser resolvido. – murmurou a fada, olhando-a de esguelha e voltando a ficar cabisbaixa – Eu continuo sem asas...

A outra ficou quieta. Depois de alguns segundos torturantes para Arianrhod, que esperava uma resposta, os braços da albina ficaram mais agarrados ao corpo da pequena, a surpreendendo. As asas pararam de bater, ficando retas quando elas começaram a cair de cabeça para baixo. A fada se agarrou nos braços firmes da maior, encarando tudo assustada e encantada ao mesmo tempo. Chegavam perto do chão com rapidez, mas antes que Arianrhod pudesse surtar com aquilo, as asas pairaram, fazendo com que tivessem um pouso tranquilo.

Ao sentir-se segura com os pés em terra, largou a albina, que lhe lançou um sorriso mínimo, olhando-a com curiosidade. Ela estendeu sua mão, tocando na bochecha corada pelo vento que havia batido ali a pouco tempo.

Eu serei suas asas.”

Arianrhod mirou o rosto angelical que tanto lhe atraía. Deu uma risadinha feliz, colocando sua mão por cima da outra que lhe tocava e deitou o rosto ali, apreciando o toque.

- Você me faz ficar tão bem. – disse a fada, as pálpebras cobrindo os orbes esverdeados como as folhas das árvores. – E eu nunca soube seu nome.

...Você sabe que eu, sendo um anjo, nem deveria falar com você, não é? Muito menos revelar meu nome.”

A pequena encarou a albina com sua expressão séria. Era muito provável que partiria logo, como sempre. Ela chegava, lhe ajudava e depois ia embora. Tudo muito rápido, sem muitos detalhes. Normalmente eram apenas conversas, mas aquele momento era uma exceção.

Arianrhod levou as mãos até as laterais do rosto da outra, mirando sua face confusa por alguns segundos, antes de se inclinar e colar os lábios de ambas, sentindo a temperatura elevada do corpo da criatura alada.

Não demorou muito para que a albina lhe empurrasse. Sua expressão era uma mistura de surpresa e confusão, assim como seu olhar. Sua mão voou para os próprios lábios, tocando-os delicadamente. Encarou o chão por alguns segundos e depois voltou a mirar a fada. Começou a dar alguns passos para trás, hesitante.

- Não vá! – pediu a pequena, tentando alcançá-la em vão.

O anjo, assustado, cobriu-se com as próprias asas, fazendo que uma ventania atingisse Arianrhod, que protegeu o rosto com os braços e fechou os olhos. Ao abrí-los novamente, a albina não estava mais ali.

A fada correu até o lugar onde a outra estava anteriormente, olhando para os lados. Nenhum sinal dela. Encarou o chão, decepcionada, porém seu rosto se iluminou ao notar que ela deixara uma mensagem queimada com o fogo celestial na grama.

Valentina.

»♥«

- Por favor, Valentina... Fale comigo.

Susurrando sob o sol da manhã, que a recém começara, Arianrhod mantinha os pés submersos na água gélida do lago. As mãos apoiavam o corpo, que estava inclinado para frente, e a cabeça voltada para cima, os olhos mirando o céu azul vívido. Meses se passaram desde os acontecimentos com o anjo, aquilo a preocupava e a deixava mal, pois a albina nunca a deixava desamparada. E agora deixara.

Nas últimas semanas haviam começado a jogar lixo em sua casa, a pintar frases de mal gosto em suas janelas e a pisar em seu jardim. Quando saía para passear na floresta as outras fadas a xingavam discretamente, puxavam seu cabelo e a olhavam com desprezo. E todas aquelas vezes ela havia chorado, corrido para o lago e chamado por Valentina.

Mas ela não aparecera.

Agora estava acabada. Seu único refúgio lhe abandonara, lhe jogara fora. Não aguentaria todo aquele ódio sozinha, os problemas apenas cresceriam e ela não era forte o suficiente. Não sem a ajuda de seu anjo.

- Valentina, esta é a última vez que lhe chamo. Por favor... – fechou os olhos, esperando que um milagre acontecesse. Porém, abriu-os depois de alguns segundos, nada acontecera. – Eu tinha esperanças mas... Terei de fazer isso. Não aguento, preciso ficar com você...

Arianrhod esticou-se, tentando alcançar algo. Arrepiou-se ao sentir o metal frio de encontro com seus dedos e agarrou o objeto com determinação. Endireitou seu corpo, olhando para a lâmina afiada da arma. A adaga era pesada e inteiramente feita de metal, decorada com pedras preciosas. Roubara da decoração do castelo da rainha quando acontecia o festival, ninguém prestava atenção nela, então foi fácil.

Segurou o cabo, incrustado com as pedras brilhantes, com as duas mãos, a ponta cortante da adaga apontada para dentro, na direção da fada. Segurou a respiração, apertando com toda sua força, e por fim soltou o ar, junto do movimento que daria fim a sua vida.

Sentiu uma dor gritante em sua barriga, onde cravara a arma até o final da lâmina. Não demorou muito para suas roupas estarem empapadas de sangue, assim como suas mãos, que tocavam o ferimento, trêmulas. A pequena tombou de lado, tirando os pés da água. Começou um ataque de tosses ao sentir o sangue subir por sua garganta, se contorcendo no chão. Vendo que não tinha nada a ser feito, deitou de barriga para cima, observando o céu enquanto sua vista embaçava. Fechou as pálpebras, tentando ignorar a dor e esperando que a morte lhe acolhesse.

Arianrhod... Arianrhod, o que você fez?!

A fada abriu os olhos lentamente, pensando já estar no céu. Viu seu amado anjo, com a face divina contorcida em desespero. As mãos alvas pairando por cima de seu corpo, evitando tocá-lo. As asas, tão belas, estavam abertas, exibindo o tão bonito brilho que tinham na luz do sol.

- Valentina... – sussurou sorrindo, enquanto o sangue rubro escorria pelo canto de sua boca. – E-eu preciso ficar com você, m-meu anj-jo...

Assim você não vai ficar comigo, Arianrhod.” a dor nos olhos escuros da albina, que agora a fada percebera que eram vermelhos, era incontestável “Suícidas não vão pro céu.

- O-o que?

Se ao menos você tivesse sido paciente.” Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Valentina, tão cintilantes que pareciam diamantes em formato de gotas. “Eu ia voltar, Arianrhod. Eu ia voltar... Mas você não acreditou em mim.

Queria falar alguma coisa para seu amado anjo, porém não conseguia. Seu coração quase não batia, impossibilitando o feitio de algo complexo. O foco do que enxergava ia se extinguindo e ela não conseguia ver mais nada.

Sentiu o frio cobrir seu corpo, queimando de tão gelado.

Eu te amo, Arianrhod.”

- Aria! Oh, meu deus, Aria! Acorde!

Sendo sacudida e toda suada, foi assim que acordara. Aquele pesadelo a assombrara novamente, depois de tantos anos... Olhou para o lado com os olhos esbugalhados. A garota que a sacudia parecia assustada, mirando-a com os orbes negros aflitos. Os cabelos platinados estavam presos em um coque e a raíz de sua coloração natural já tinha três centímetros.

Aria sentou-se, passou a mão pelo rosto, tentando secá-lo e acabou não tendo sucesso. Inspirou e expirou, tentando normalizar a respiração. Era observada pela outra garota, que parecia um pouco injuriada.

- Aria, me escute. – chamou, sendo ignorada. – Aria.

A morena gemeu de frustração.

- O que é?

- Como assim “o que é”? Você estava gritando enquanto dormia, caralho! Como você quer que eu me sinta?!

- D-desculpe.

- Não se desculpe! Você não fez nada. A não ser neste momento, que você está omitindo as coisas de mim, mas okay.

- Tudo bem! – exclamou, encarando-a – Lembra que eu te falei sobre aquele pesadelo que eu tinha quando era criança, Valen?

- Sim, lembro. O da fada sem asas e da anja.

- Anjo não tem feminino.

- Foda-se. – deu de ombros – O que tem de tão ruim? Ele não era incompleto?

Aria suspirou. Quando ela sonhava com isso anos atrás, tudo aquilo acabava antes que a fada e o anjo pudessem voltar ao chão depois de voar. Teve e contar tudo a Valen, que a olhou com ternura.

- Você sabe que não precisa se preocupar com isso, né? Não é como se eu fosse te abandonar e você fosse se matar. – ela deu uma risadinha carinhosa, pegando nas mãos da morena, que lutava para não chorar - Nós passamos por muitas coisas juntas e nos fortalecemos. Você é forte e sabe disso. Então acho bom parar de acreditar em besteiras e seguir em frente.

Valen observou Aria se debulhar em lágrimas. Sorriu, abraçando-a.

- Eu te amo, Valen. Eu te amo.

- Sabe – começou a maior, dando um beijo na bochecha da outra – Em uma coisa esse “sonho” acertou. Eu também te amo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não gostei do final, mas :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You Be The Anchor That Keeps My Feet On The Ground" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.