17º Desafio Sherlolly - Cartas para Julieta escrita por Leticiaps
Passou um dia agradável em Verona. Sentia falta de Tom, mas não tanto quanto gostaria de admitir. Era bem triste viajar como um casal e ser trocada por vinhos.
No dia seguinte foi se reunir com as Secretarias de Julieta de novo. Vê-las escrevendo e comentando as cartas era muito bom.
Então alguém bateu na porta.
– Desculpe interromper. Vocês são as secretarias da Julieta? - era um homem alto, de cabelos preto cacheado e olhos azuis. Não parecia Italiano. E pela roupa que usava, definitivamente não era italiano. Ah, e é claro, o sotaque inglês entregava tudo.
– Sim, somos nós - respondeu Maria. Pela reação delas, não era comum aparecer um homem naquele lugar.
– Ótimo. - ele sorria, mas não parecia feliz. - quem escreveu está carta para minha avó, Martha Hudson?
– Eu escrevi. Não acredito que realmente chegou! - inacreditável!
– É, nós, britânicos, costumamos permanecer na mesma casa. - Molly levantou para falar com ele.
– Faz menos de uma semana que mandei e...
– Foi uma carta muito atenciosa - agora ele a empurrava para longe das outras. - Mas no que diabos estava pensando quando a respondeu?
Grosso. Como todos os ingleses que ela conhecia.
– Eu pensei que merecia uma resposta. - sendo uma jornalista, ela estava acostumada a lidar com pessoas assim. Não seria ele que iria amedronta-la.
– Há cinquenta anos, talvez, mas não agora!
– Não sabia que amor verdadeiro tinha data de validade. - ele explodiu em uma risada.
– Amor verdadeiro? Pelo amor de deus, imagina o que teria acontecido se ela não tivesse sido sensata?
– Ah, imagino. Você não estaria aqui e isso seria uma grande vantagem. - não faziam cinco minutos que eles se conheciam e ele já consegui irritá-la. E isso era bem difícil.
– De qualquer forma, o que você está fazendo aqui? É uma americana abandonada que vive a vida dos outros? - agora foi a vez dela de explodir em uma risada.
– Não estou sozinha. Eu tenho um noivo.
– Meus pêsames para ele. - e saiu andando. Ah, não, aquilo não ia ficar assim.
Deve que sair correndo atrás dele.
– Você veio de Londres para me dar um sermão?
– Não, eu vim porque não podia deixar minha avó vir sozinha. - ela ouviu certo?
– Martha está aqui? - ela olhava em volta, como se fosse reconhece-la. - Isso é incrível! Ela veio encontrar com Lorenzo!
– Incrível? - por um momento ele deixou a máscara de carrancudo de lado e mostrou o neto preocupado com a avô. - E se Lorenzo não quiser vê-la? Ou se esqueceu dela? E se Lorenzo morreu? Foi o que eu pensei.
Não havia uma resposta para aquilo. Ficou tão empolgada que Molly nunca considerou aquilo.
– Eu quero conhecê-la.
– E eu quero ser Hercule Poirot, mas isso não vai acontecer.
– E se ela quiser me conhecer? - mas ele já ia embora. Então ela o seguiu. De novo.
Ele ia até o pátio onde as cartas ficavam. Havia apenas uma senhora ali, ela era miúda, com todos os cabelos brancos. Admirava a sacada onde casal após casal reencenavam Romeu e Julieta. Era de se esperar que ela parecesse meio triste. A quantidade de lembranças devia ser enormemente dolorosa.
– Perdão... Martha? Olá, meu nome é Molly. E fui eu quem escreveu a carta. - seu semblante se iluminou de repente. E ela era incrivelmente bonita, principalmente quando sorria.
– Céus, obrigada! - ficou um tempo encarando Molly - mas, como nos encontrou?
– Na verdade foi seu neto que me encontrou.
– Você? - Ela olhava espantada para ele.
– É, na verdade eu... É que...
– Sim, ele foi muito doce e achou que talvez a senhora quisesse me conhecer.
– Um carinho bem inesperado de sua parte, querido. - Ele sorria feito um bobo.
– Bom, mediante as circunstâncias, seria muito bom conhecer a responsável por essa viagem maluca.
– Sherlock não aprova. O que deixa tudo mais divertido. - ela estava claramente avacalhando com a cara do neto. Molly gostou dela na hora. – Estávamos indo tomar uma taça de vinho agora. Gostaria de nos acompanhar?
– Conheço o lugar perfeito pra isso.
Molly os levou para o restaurante onde as Secretárias respondiam as cartas. E é claro que elas se juntaram a eles. Passaram a tarde toda conversando, e Martha contou a história de como conheceu Lorenzo. Ela estava estudando artes em Toscana e morava com uma família em Siena. Lorenzo era filho da família que a acolheu e foi amor à primeira vista. Sherlock ouvia a história parecendo entediado, mas na verdade tentava esconder o ciúme. Revirava os olhos o tempo todo e ela quase podia ouvir o pensamento dele gritando "patético" cada vez que Martha dizia o nome Lorenzo.
– Ele me deu esse anel. - ela mantinha mesmo depois de sessenta anos um pequeno anel preso em uma corrente. - nós queríamos nos casar, mas eu tinha provas e meus pais não teriam permitido. Fiquei assustada e fugi. Agora o que eu quero mesmo é falar para ele que lamento por ter sido tão covarde.
– Então você veio para encontrar Lorenzo?
– Sim, e acho que sei onde ele está. Sherlock vai me levar lá amanhã. - afirmação que ele respondeu com uma careta.
– Não posso deixá-la sair por aí pedindo carona.
Dez minutos depois, estavam todos indo embora. Cinquenta anos depois, se ela encontrasse seu Lorenzo... Ninguém iria acreditar se não fosse verdade.
– Martha! - novamente Molly teve que sair correndo atrás deles. - desculpe.
– Mas que po... - Sherlock conteve um palavrão e Molly preferia engolir um xingamento.
– Posso ir com vocês? Procurar por Lorenzo?
– E o seu noivo? Está na cidade do amor e quer vir conosco?
– Sim, já que ele está ocupado e eu estou livre. - colocado dessa forma, aquilo soava ridículo. - e, é claro. Se não for intromissão.
– Ah, não é intromissão.
– Preciso dizer primeiro que não é totalmente altruísta. Quer dizer, começou só como uma resposta a sua carta, e acho que isso que está fazendo é incrível, tanto que gostaria de escrever a história.
– Uma jornalista? Bisbilhotando?
– Ora, Sherlock, não é nenhum segredo de Estado. Eu adoraria que você nos acompanhasse.
– Até amanhã, então!
Molly mal podia se conter. Aquela história, jamais conseguiria algo assim de novo. Era um romance que valia a pena ser contado.
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