17º Desafio Sherlolly - Cartas para Julieta escrita por Leticiaps


Capítulo 1
Viagem para Verona




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Molly acabava de voltar do trabalho. A tempos ela procurava por um senhor que havia presenciado uma cena que ficou famosa no pós guerra, e finalmente achou. Não havia jeito melhor de iniciar suas férias - ou pré lua de mel, como chamou seu chefe - com Tom. Estava tudo uma loucura. O restaurante de Tom em Nova York iria abrir em seis semanas, então eles resolveram aproveitar esse tempo juntos antes da inauguração.

Chegando na cozinha do restaurante, mal passou pela cortina de macarrão que dominava o ambiente, já pode ouvir Tom:

- Feche os olhos, feche os olhos! - com um sorriso no rosto ela fechou. Tom era um excelente cozinheiro e ela adorava quando ele fazia macarrão. - Eu reinventei o macarrão! Prove esse outro. - claro que para ela eram todos iguais e só mudava o tamanho, mas para agradá-lo ela apenas mastigava e concordava com o quer que ele falasse. Tom sempre se empolgava quando falava de comida.

Ele continuava tagarelando sobre os quinhentos e quarenta e dois tipos de pasta que cobriam a cozinha.

- Tom, vamos viajar em doze horas e você ainda nem arrumou as malas.

- Eu sei, eu sei, vou arrumar. Estou tão empolgado! - ela se jogou no colo dele, ainda mais empolgada e ele falou alguma coisa em italiano que ela não entendeu nada, mas não importava. Eles estavam indo pra a Itália!

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Verona era tão bonito que chegava a ser ridículo. Aquela cidade cheirava a romance e implorava pra que Molly escrevesse alguma coisa em suas terras. Só havia um problema...

- Fornecedores? Tom, nós viemos em férias!

- Mas nós vamos a um vinhedo, isso é romântico! Certo? Nós vamos, tomaremos um pouco de vinho ficaremos um pouco tontos, voltaremos e... – os dois começaram a rir, e é claro que Molly topou.

Chegando lá não foi tão romântico assim. Ele ficou abraçado a ela, falando sobre uvas com um italiano de sotaque carregado. Foi divertido, apesar dela não entender nada sobre uvas além de saber diferenciar a verde da roxa. Ela só sorria, concordava e tirava algumas fotos. Mas para sua tristeza não parou nas uvas e no vinho. Foram provar azeites também, o que pra ela era só mais uma oportunidade para comer.

No carro ela sugeriu alguns lugares para eles irem no dia seguinte: ópera, Casa da Julieta, mas ele não estava realmente prestando atenção. Estava pensando no próximo fornecedor. Queijos. Pelo menos esse dava para diferenciar os sabores. Mas a essa altura o bom humor de Molly já havia ido embora. Ela só aceitava o que Tom entregasse pra ela e ficava fingindo ouvir o que eles falavam.

- Cento e vinte quilômetros para ver fungos?

- Não é fungo, é tartufo, trufa, para colocarmos em cima da massa. - Aquilo era ridículo! Eles tiraram essas férias para passarem um tempo juntos e tudo que ele pensava era em comida!

- Ok, foi legal. Mas eu não quero ver fungos.

- Tudo bem, tudo bem, só não chame de fungo.

Percebendo que ele queria muito aquilo, Molly sugeriu que ele fosse no fornecedor, enquanto ela passeava. Estava torcendo pra ele dissesse que não, como assim iriam se separar se a viagem era para que eles passassem um tempo juntos? Mas ele aceitou com incrível rapidez.

- Assim todos saem ganhando. – foi a resposta.

---

De volta da excursão, Molly optou por ir a Casa de Julieta.

Definitivamente não esperava por aquilo.

Ela chegou na ruazinha que dava a casa e várias mulheres de várias idades passavam por ela, em prantos.

Quando chegou em frente, havia uma moça na sacada, reencenando com uma amiga Romeu e Julieta. Sentadas no meio do que ela chamou de praça que havia ali, várias mulheres escreviam furiosamente. Algumas choravam, outras pareciam bravas, outras tristes.

Umas das paredes estava coberta de papéis. Uma atrás da outra, as moças ali presentes colavam seus recados na parede.

- Você está bem? - Molly perguntou para uma que acabava de colar e estava saindo. Ela não pode ajudar, porque a moça respondeu em russo ou algo assim. De qualquer jeito era trágico. A língua do coração partido é universal.

Aquele era o lugar perfeito para escrever, tanto que quando se deu conta, era praticamente a única ali. Havia apenas uma mulher recolhendo os bilhetes da parede e colocando-os numa cesta.

Molly então a seguiu até um restaurante ali perto. Essa mulher se reuniu com mais três e a curiosidade acabou vencendo, e logo ela foi atrás delas.
Quando chegou na sala, elas estavam separando as cartas. Bateu na porta e perguntou se elas falavam inglês. Aquela que havia recolhido os bilhetes pensou que ela fosse uma tradutora.

- Não, na verdade eu só a segui. Vi que colocou as correspondências na cesta e queria saber... O por que.

- Por que? - olhou para o caderno que Molly segurava e pareceu entender. - Ah, você é escritora?

- Sim, sou... Escritora.

- Ok, venha, vou mostrá-la. - é a levou até a janela. - Elas chegam todos os dias de todas as partes do mundo. - indicando as moças que passavam na rua.

- Mas pegar essas cartas, não é errado?

- E como poderíamos respondê-las sem pegar? - Então as coisas começaram a fazer sentido.

- Meu deus. Vocês respondem todas! – aquilo era brilhante! Todas as mágoas e dores, havia quem pudesse ouvi-las.

- Sim!

- Vocês são todas Julietas?

- Suas secretarias. - e começou a apresentar uma por uma as secretarias. - A Donatela está casada há cinquenta e um anos com o mesmo homem. - uma senhora de cabelos castanhos curtos encaracolados, usando um óculos preso numa corrente sorriu para Molly - é especialista em maridos.

- Maridos são como vinho: demoram para amadurecer. - a senhora disse e todas a acompanharam no riso.

- A Francesca é enfermeira. Lida com doenças e perdas. E Maria...

- Por que você suspira quando fala meu nome? - Maria era uma senhora de cabelos vermelho fogo, com os óculos combinando é um sotaque que não aparentava ser italiano. Mas até aí Molly não era especialista em sotaques, então...

- Ela tem doze filhos, vinte e nove netos e dezesseis bisnetos. - Molly ia ficando mais confusa e impressionada conforma a moça falava, enquanto Maria só sorria e movia a cabeça, como se pensasse na quantidade de pessoas pra uma família só - Ela escreve o que quer.

- E você?

- Isabela responde as que são quase ilegíveis. - falou Francesca, e entregou uma das cartas a Molly. A carta era deprimente. Escrita em caneta preta, mal dava para ler, de tantas lágrimas que caíram nela.

- Problemas entre amantes, rompimentos, corações confusos. - Isabela contou. - Alguém precisava fazer isso. - e ficou encarando a carta.

Então ouviram alguém gritar.

- Ah, minha mãe. Gostaria de ficar para jantar?

Elas desceram, e uma senhora falava sem parar em italiano. Aparentemente ela ficou ofendida que Molly recusou o convite para o jantar.

- Eu adoraria, mas tenho que encontrar meu noivo.

- Noivo? - e logo todas falavam ao mesmo tempo, e riam e congratulavam-na. - pelo menos leve uma sobremesa para você e seu marido. - e entregou um saco de papel para Molly.

- Grazie. Buona Serata. Ciao.

---

Quando voltou para o hotel, Tom já estava lá.

- Duzentos e quarenta quilômetros e eu cheguei antes de você. Como foi Verona sem mim? Vazia? Semi vazia? Totalmente vazia? - ela já estava largada na cama e sorria ao pensar na resposta.

- Semi vazia. - a cara de decepção dele foi divertida - Conheci as "Secretarias de Julieta".

- Julieta Capuleto?

- Sim, essas mulheres se denominam Secretarias de Julieta e respondem as cartas que as pessoas escrevem a Julieta. - Agora que havia começado a falar, não iria parar mais. Ela realmente gostou do que viu é as ideias borbulhavam em sua mente. - elas trabalham para a cidade de Verona, e para todas essas pessoas, mulheres desesperadas que vem do mundo inteiro e escrevem cartas que deixam no muro...

- O que você tem aí? - ele apontava para o saco de papel. É por isso que ele estava cheirando o ar que nem cachorro. Ele mal prestava atenção.

- Não sei. - ele pegou a sobremesa - Então, elas deixam as cartas. Deixam as cartas no muro, no pátio da Julieta, e estas secretárias saem com uma cesta e recolhem as cartas todos os dias. - Mas a essa altura ela falava sozinha. Tom encarava a sobremesa - um doce que ela nunca viu parecido. - E respondem, como Julieta, a todas as que tem endereço. Esse é o trabalho. É incrível! - Molly estava cada vez mais empolgada e encantada. - É a paixão delas, o que fazem todos os dias. Literalmente o dia todo, todos os dias!

- Isso é incrível!

- Há dois anos elas fazem isso...

- É maravilhoso! - mas para decepção dela, ele falava da sobremesa. Ele estava tão maravilhado com o doce, que tudo que pode fazer foi rir. Ele foi até ela é estendeu o doce.

- Tome, prova. Não, morda um pedaço grande! - pelo menos ele tinha razão. Aquilo era ridiculamente bom.


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Notas finais do capítulo

E ai? E ai?



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