-Eu pertenço á Winterfell, meu querido Robert. O Norte é o meu lugar. - Dizia Lyanna, com sua voz suave como seda e seus olhos azuis-gelo fitando os olhos negros como ébano do jovem princípe á sua frente.

-Não, Lyanna, seu lugar é comigo. - Rebateu ele de forma delicada, tomando a mão de sua amada e beijando-a, mas então Lyanna Stark se transformou em fumaça, e esta fumaça se esvaiu rapidamente, dando lugar á um cavaleiro de cabelos prateados e olhos violeta. Robert puxou sua espada da bainha e duelou com Rhaegar Targaryen até a morte, mas era tarde demais. Sua doce Lyanna, a quem chamava carinhosamente de "rosa do inverno" por causa de sua flor favorita, a rosa azul do inverno, jazia deitada em uma cama com lençóis manchados de sangue em um quarto que cheirava á sangue e rosas. Uma febre havia tomado suas forças, e sua voz era fraca como um sussurro desesperado; havia medo em seus olhos, e Robert segurou sua mão pálida enquanto morria, e dela caíram algumas pétalas de rosa mortas e pretas. Robert Baratheon jazia segurando as mãos de sua prometida quando ela desistiu de segurar a vida, e ele viu os lábios rosados de Lyanna formarem um sorriso e seus olhos brilharem momentos antes da morte, mas ela nada disse. Lyanna Stark morreu sorrindo, e segundos após sua morte as lágrimas e os gritos enfurecidos de vingança do princípe Robert enchiam o aposento. Mas contra quem ele teria vingança? Contra Rhaegar? Contra seus filhos? Contra os Targaryen? Não havia mais Rhaegar, nem Rhaenys e Aegon, e nem Targaryens. A dinastasia dos dragões fora extinta, mas o que Robert ganhara com isso? O sangue e as pétalas enegrecidas de sua amada.

"Em meus sonhos, eu o mato todas as noites", dissera Robert ao fiel amigo, Ned Stark, irmão de Lyanna.

"Acabou, Robert. Eles estão todos mortos", rebatera Ned. E, como sempre, ele tinha razão.

Robert Baratheon acordou de mais um sonho onde matava Rhaegar Targaryen e assistia á morte de Lyanna Stark, sua princesa prometida. A princesa que teria 16 anos para sempre. A princesa que nunca mais abriria seus lindos olhos azuis como gelo. A princesa que nunca mais lhe sorriria quando o Rei lhe fizesse um gracejo, e que nunca mais enfeitaria seus cabelos castanhos com rosas azuis de inverno. Lyanna era rosa que Robert nunca conseguira colher de seu jardim.

Ele olhou em volta e viu o que estava acostumado a ver: Cersei dormindo ao seu lado na grande cama dossel, sua taça de vinho cravejada de pedras preciosas vazia na mesa de cabeceira e junto desta a carta que uma vez, quando tinha dezessete anos, escreveu á Lyanna, a donzela que lhe fora prometida por Rickard Stark. Ele planejava lhe entregar a carta no dia de seu casamento com ela, mas nunca tivera a oportunidade. Mas agora era diferente. Robert havia retornado á Winterfell após anos. O Rei havia retornado ao lugar que Lyanna Stark alegara pertencer, e seria ali, naquelas terras cinzentas e frias, que ela saberia o quanto seu amado Robert lamentava pela jovem que nunca tivera a chance de ser sua Rainha.

O sol já se levantava atrás da neblina em Winterfell, mas o frio só havia aumentado. Flocos de neve caíam lentamente e enfeitavam os cabelos e a barba negra do Senhor Supremo dos Sete Reinos enquanto ele descia as declinadas montanhas em direção ás criptas onde os antigos reis do Norte estavam enterrados. Lá estaria sua Lyanna, esperando por ele.

O Rei Robert se perguntou se ela iria o reconhecer: havia ganhado vários quilos desde que vencera a batalha no Tridente, queixos duplos haviam surgido em seu rosto antes bonito, e agora uma espessa barba lhe cobria praticamente o rosto inteiro. O brilho divertido que antes pertencera á seus olhos negros como a noite havia sido substituído por uma expressão cansada e triste há muito; seus lábios já não sorriam mais e sua voz rouca não ria, exceto quando estava bêbado e fora de si. Ele havia se casado com a última mulher no mundo que amaria, e ela havia lhe dado três filhos louros que não se pareciam nada com ele. Porque Robert fizera isso? Oh, é claro, porque aquilo era sua obrigação. Robert não gostava de Cersei, seus filhos não eram lá grande coisa, e ele com certeza também não possuía apreço algum por obrigações, qualquer uma que fosse. Robert Baratheon podia ser Rei por fora, mas por dentro, estava destruído. Ele tinha tudo que um homem poderia desejar: poder, riquezas, mulheres... Mas por dentro estava vazio. Sem Lyanna, ele não tinha nada e nem era ninguém.

E lá estava ela, a cripta onde jazia o corpo de sua amada Lyanna Stark. "Porque aqui, neste lugar tão escuro e frio?", questionou Robert á Ned sobre porque haviam enterrado sua delicada rosa de inverno naquele lugar horroso. "Era a vontade dela", explicou Ned. "Lyanna pertencia á Winterfell".

Mas Robert não concordava com aquilo. "Não", pensou ele, relutante, segurando a carta que escrevera á Lyanna com força em uma mão e a espada na outra. "Lyanna pertencia á mim. O lugar dela era ao meu lado. Para sempre". Mas, se Ned falava a verdade, ele não questionaria a vontade de sua amada. Ele sorriu ao se lembrar do quão fácil Lyanna se zangava. Ela ficava tão linda quando brava...

O Rei se ajoelhou diante a cripta de sua falecida Lyanna, com sua espada fincada no chão e sua cabeça baixa, para que seja lá onde ela estivesse a jovem não pudesse enxergar suas lágrimas. Ele depositou a carta na cripta da princesa e levantou a cabeça para o céu sorrindo, pois pôde visualizar brevemente a imagem de Lyanna sorrindo para ele. Ela estava viva, e sempre estaria. Não importa se ele tivesse se casado com Cersei Lannister e fosse pai de seus filhos... Lyanna Stark seria para sempre sua prometida. Ela seria para sempre a única mulher que Robert amaria até o fim de seus dias.

O Rei beijou uma última rosa azul de inverno e a depositou na cripta de Lyanna, sorrindo e sentindo as lágrimas salgadas e frias escorrerem por seu rosto:

-Seu lugar era ao meu lado, minha querida rosa de inverno.

"Para Lyanna,
Primeiramente, me perdoe, querida. Sei que não sou o princípe com quem você sempre sonhou em se casar, mas em breve serei Rei, e você será minha Rainha, e eu não poderia pedir por algo melhor. Mas, me perdoe também pelo o que vou lhe dizer á seguir: eu não serei o mais fiel dos maridos,minha doce rosa de inverno, e você sabe disso. Quando o instinto de um homem fala mais alto, não há como resistir. Me deitei com inúmeras mulheres durante a Rebelião, e possuo uma garota bastarda. A mãe a nomeou Mydea, e ela é tão encantadora quanto nossas futuras filhas provavelmente serão. Eu já errei muito, Lyanna, e continuarei errando até os fins de meus dias. Lorde Stark tentou me alertar sobre as consequências do modo de vida que levo desde os meus quinze anos, mas não lhe dei ouvidos. O senhor meu pai costumava dizer que um Rei não é ninguém sem uma Rainha, e agora posso entendê-lo perfeitamente neste dia tão especial. minha querida. Não desejo nem irei ser Rei se você não for minha Rainha. Não desejo ter mais filhos se você não for a mãe destes. Não desejo envelhecer se não for fazê-lo ao seu lado. Não desejo viver se algum dia ver teu sangue derramado. E não desejo proferir as palavras naquele septo, daqui á algumas horas, se você não estiver pronta para fazer o mesmo. Queria eu voltar no passado e consertar todos os meus erros, Lyanna, somente para fazer a minha futura Rainha feliz. Eu, Robert da Casa Baratheon, filho de Steffon Baratheon e Cassana Estermont, prometo amá-la acima de tudo, protegê-la de qualquer mal no mundo, gracejá-la com elogios todos os dias e amar os filhos que um dia me dará. Eu prometo nunca xingá-la, mal-tratá-la, rebaixá-la ou humilhá-la. Tu serás minha Rainha, eu serei teu Rei. Cultivaremos nosso amor dia após dia, sem deixar que nada o destrua. Se nós morrermos, nós morremos, mas por enquanto, nós viveremos.
Apesar de todos os meus erros no passado e os que ainda virão no futuro, meu amor por você nunca diminuirá, Lyanna, e acredito, com toda a minha honra e tudos os sentimentos bons que ainda restam dentro de mim, que seu coração bondoso e amável muitas vezes conseguirá me perdoar, e assim eu saberei o quão grande e forte é o nosso amor.
Com todo o meu coração e para sempre seu,
Robert."