Definitivamente sua vida não era lá um exemplo a ser seguido. Mas mesmo assim todos os dias ela fazia questão de sorrir o mais convincentemente que conseguia apenas para não dar aqueles que a ofendiam o prazer de a ver chorando, de a ver triste. As gotas de chuva batiam, uma a uma, contra seu rosto misturando-se, aos poucos, às lagrimas que teimavam em escorrer de seus belos olhos violetas. Seu pai morrera, sua mãe era uma drogada, sofria constantemente em casa devido as roupas nada convencionais que usava.

Era uma menina bonita, sem dúvidas, cabelos longos e lisos tingidos de azul com algumas mechas negras – sua cor natural– pele alva e delicada, corpo magro e pequeno para uma garota de 16 anos, sua aparência era como a de uma boneca frágil e delicada. O lindo, porem falso, sorriso que esboçava todos os dias para os amigos dava sempre a impressão de que sua vida era perfeita, uma boneca de porcelana com a família perfeita e a vida perfeita. A única coisa que a diferenciava da Barbie era o seu estilo, odiava rosa e amava preto, gostava de suas calças e meias-calças sempre rasgadas, ao invés do salto, o all star era seu companheiro para todos os lugares, jaquetas de couro sempre pretas e camisas de bandas eram suas marcas.

Era chamada por todos de “Goth Doll” sem dúvidas adorava aquele apelido, na escola ela era respeitada, todos gostavam do jeito frio porém sincero da garota. Era uma aluna extremamente inteligente, tanto que havia ganhado, a pouco tempo, um intercambio para os EUA junto com mais duas amigas, e isso era a esperança dela de uma vida melhor, de um futuro melhor. Ao saber que iria para os EUA, ela chegou a pular de alegria apenas pelo simples fato de que não precisaria mais conviver todos os dias com sua mãe drogada e hipócrita que estava sempre jugando seu estilo de ser e de se vestir.

Ficou durante um tempo apenas sentada em um banco de uma praça qualquer apenas pensando e chorando enquanto a chuva lhe encharcava, até que decidiu, finalmente, ir para casa. Era seu último dia em casa, no dia seguinte iria embarcar para sua nova “aventura” e deixar pra trás todos os fantasmas que a assombram.

Foi para casa o mais lentamente que pode, tudo para ficar mais tempo longe de sua mãe, assim que chegou ao portão respirou fundo e, lentamente, girou a maçaneta. Assim que entrou em casa viu sua mãe dormindo no sofá provavelmente bêbada. Revirou os olhos e subiu sem fazer nenhum mínimo ruído enquanto subia as escadas.

– Consegui. Ufa – Suspirou sorrindo aliviada enquanto trancava a porta de seu quarto e se dirigia até a cama, mais exatamente até seu notebook. Assim que entrou em seu facebook ela viu Katheryne, uma das duas amigas que iriam com ela na viagem de seus sonhos, e não demorou muito para que a mesma puxasse assunto.

– Hey Liz, já arrumou as malas para amanhã? – Katheryne

– Ainda não, passei tanto tempo comemorando o fato de ter passado que acabei esquecendo das malas– Liz

– Então é melhor você arrumar logo não acha? Porque aí você tem mais tempo pra lembrar de tudo o que tem que levar e não esquece nada. – Katheryne

– Tudo bem mamãe, vou começar a arrumar agora falou? – Liz

– Boa menina, não desobedeça sua mãe ouviu bem? Kkkk. Agente se vê amanhã okay? – Katheryne

– KKKK, okay até amanhã kath– Liz

– Até amanhã Goth– Katheryne

Fechou seu notebook e foi até seu guarda- roupa pegando tudo que iria levar para a viagem. No total deram duas malas e mais uma bolsa. Depois de tudo arrumado resolveu tomar um bom banho para relaxar e finalmente dormir.

Foi até a banheira e ficou lá apenas sentindo a agua quente relaxar seus músculos com os olhos fechados, ficou lá por no mínimo 30 minutos apenas aproveitando o tempo para pensar em como seria sua vida dali pra frente.

Após ter terminado vestiu seu pijama do Linkin Park– Que consistia em apenas uma blusa que ia até um palmo acima de seus joelhos– e se deitou olhando para o teto com um sorriso bobo nos lábios apenas por pensar que se veria livre de sua mãe.

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No dia seguinte...

Acordou com os primeiros raios de sol batendo contra seu rosto. Coçou os olhos e, ao lembrar do que aconteceria em poucas horas, um sorriso brotou em sua bela face, mas não um sorriso falso, mas sim o sorriso mais verdadeiro que já dera em toda sua vida.

Tomou um banho, se arrumou com uma regata do nirvana, sua jaqueta de couro preferida que tinha alguns detalhes de correntes, um short um pouco curto e rasgado com uma meia calça preta também rasgada, e obviamente o seu inseparável all star.

Resolveu esperar a hora do voo na casa de Katheryne, estava feliz demais para deixar sua mãe começar com toda aquela ladainha sobre as roupas que gosta de usar.

Desceu vendo sua mãe já acordada, para sua infelicidade, e a olhando com o mesmo olhar de raiva que lhe era lançado todos os dias. O olhar era retribuído.

– Então você já vai não é? Graças a Deus, eu não aguentava mais te ver com todas essas roupas horríveis que seu maldito pai lhe comprava. – Falou com desprezo na voz fina de naturalmente irritante.

– Cala essa maldita boca, você não tem o mínimo direito de falar nada do meu pai. Você é simplesmente uma drogada, uma viciada miserável que não tem sequer a decência de agradecer meu pai por ter aguentado alguém como você por tantos anos. Você me dá nojo. – Exclamou com revolta.

Não esperou mais nem uma palavra da mulher ao qual se dava o nome de mãe e saiu com todas suas bagagens rumo a casa de sua amiga ouvindo palavrões de sua mãe às suas costas. Mesmo com a mais recente briga com sua mãe ela estava com um enorme sorriso no rosto. Chegou a casa de sua amiga e tocou a campainha descontroladamente já que sabia que katheryne morava sozinha e que não iria incomodar ninguém.

– Que desespero é esse? Morreu alguém? Por que se ainda não morreu eu posso dar um jeito nisso – Disse katheryne assim que abriu a porta com um olhar assassino direcionado à amiga.

– Ai que medo de uma garota que tem o que? Meio metro de altura e 30kg? – Falou com um tom de ironia notável em sua voz e estampada em sua expressão facial.

– Você não é muito maior que eu. – Kath disse com um biquinho que ia até o chão de tão grande.

– Mas tipo, você vai me deixar aqui fora ou eu posso ter a honra de entrar na sua mansão? – É, sem duvidas o sarcasmo já era parte do seu ser.

– Entra aí Doll–Disse Kathy já acostumada com o tom da amiga.

Entrou na casa da amiga. Que por sinal estava bem organizada, tudo em seu devido lugar. Kathy era bem pratica, deixava tudo sempre arrumado pois era mais fácil achar suas coisas assim. Katheryne era uma garota bonita assim como Liz, tinha olhos castanhos claros– ao contrário dos da amiga que eram azuis– era bem baixinha e magra, tinha os cabelos tingidos de roxo, era branca– não tanto quanto Liz– e tinha um sorriso muito bonito. Assim como Liz, gostava de roupas pretas e camisas de banda. Sua casa tinha tons predominantemente escuros, como cor de madeira escura, vinho e obviamente o bom e velho preto.

Liz pôde observar que as malas de Kathy estavam ao lado do sofá negro. Eram três malas e 2 bolsas de mão.

– O que tanto você vai levar que deu isso tudo? –Perguntou obviamente espantada com a quantidade de bagagens da amiga.

– Apenas coisas básicas como maquiagem, dinheiro, roupas, sapatos, esmaltes, kit de unhas, kit de primeiros socorros, ataduras, pomadas pra queimadura...

– Um canhão, uma 38mm, uma bazuca, todo o exercito Brasileiro... – Falou em tom zombeteiro– Qual é? O que acha que pode acontecer durante esse voo? Por que se você não sabe se o avião cair tudo isso é inútil. Vamos morrer do mesmo jeito okay?

– Não é só pra durante o voo, é pra quando chegarmos lá. Acidentes acontecem sabia? Principalmente quando se está com a Bru – Falou referindo-se a Bruna, uma grande amiga que também iria para os EUA. Era uma garota baixa, assim como as outras, tinha 1,60 de altura, cabelos tingidos de vermelho com mechas pretas, pele bem branca, olhos pretos e corpo magro. Usava óculos grandes, porém em seu rosto ficavam perfeitos. Tinha o mesmo estilo das outras. Odiava rosa e era muito desastrada, por isso Kathy se referiu à ela desse modo.

Do nada a campainha tocou assustando as amigas, fazendo Liz dar um pulo de susto e Kathy deixar um pequeno grito escapar. As duas se entreolharam e disseram em uníssono:

– Bru.

Dito e feito. Assim que abriram a porta viram apenas um vulto vermelho voando pra cima delas, as fazendo cair gargalhando feito idiotas no chão.

– Ta louca? Se você queria nos matar era só falar que agente sumia da sua vida sabia? – Falou Kathy ainda sorrindo

– Que foi? Eu estou feliz. Qual é? Nós vamos pra L.A. É sério que vocês não estão animadas? –Perguntou com uma expressão perplexa no rosto.

– Claro que estamos animadas. E por isso mesmo não queremos morrer. – Disse Liz em tom obvio mas ao mesmo tempo brincalhão na voz aveludada e ao mesmo tempo grave.

– Desculpa senhora drama– Retrucou sorrindo. – Mas é melhor entrarmos e fecharmos a porta por que está todo mundo olhando nós três jogadas que nem loucas no chão. – Falou enquanto acenava e mandava beijos para uma velhinha que passava com uma cara evidentemente de reprovação. As garotas começaram a rir da cara de pau da amiga, enquanto se levantavam e pegavam as bagagens da Bru e colocavam pra dentro para logo depois mandar beijinhos para mesma velha enquanto piscavam e faziam um sinal de “me liga” com as mãos. A velha não se aguentou e começou a rir enquanto balançava a cabeça negativamente.

Fecharam a porta e caíram na gargalhada. Após aquele pequeno ataque de loucura, elas ficaram conversando sobre coisas bem banais.

– Tô com fome Kathy. –Bru solta do nada.

– Gorda – Resmunga Kathy pra logo depois sorrir e ir até a cozinha– QUER ALGO DOLL? – Gritou de lá.

– QUERO – Retrucou Liz.

Minutos depois Kathy aparece com vários pacotes com biscoitos, bolos recheados de chocolate, petiscos, refrigerantes e sucos.

–– Sirvam-se. – Disse jogando tudo na mesa que estava em frente a elas.

– QUERO BOLO– Gritou Bruna.

– O REFRIGERANTE É MEU E NINGUEM TASCA. – Liz disse no mesmo tom de Bruna.

– QUERO PETISCOOOO – Disse Kathy com a animação de uma criança enquanto abraçava os pacotes de petiscos. As outras olharam para ela como uma cara de “WTF?”. – Que foi? – Perguntou com cara inocente.

As outras duas caíram na gargalhada a deixando sem entender nada.

– Nada Baby Girl – Disse Liz se referindo à amiga pelo apelido que deu a ela quando a conheceu.

– Okay... – Falou ainda desconfiada mas logo se esqueceu quando viu mais uma vez seus tão adorados petiscos e começou a devora-los.

– Louca– Resmungou Bruna enquanto Liz apenas sorria.

Após a refeição nem um pouco saudável, elas resolveram ficar assistindo TV enquanto a hora do voo não chegava. O voo era ás 14:00 e ainda eram 12:00, então elas resolveram tomar banho e se trocarem para ir ao aeroporto. Liz vestiu, após o banho, uma camiseta do Black veil brides, uma jaqueta de couro qualquer com detalhes em dourado, uma calça jeans preta justa em seu corpo com botões de caveiras e um all star da banda avenged sevenfold, passou um delineador de gatinho destacando os olhos incrivelmente azuis, uma sombra preta, não passou rímel pois seus cílios já eram grandes e curvados, passou um batom vermelho misturado com vinho e deixou os cabelos presos em um rabo de cavalo com o franja lateral cobrindo um dos olhos. Se olhou no espelho e ficou satisfeita com o que viu. Deu um sorriso, dessa vez verdadeiro e desceu ao encontro de suas amigas. Chegou na sala e encontrou apenas Bruna vestida com um vestido preto com alguns detalhes vinho, botas também pretas que iam até seus joelhos e os cabelos soltos caindo por seus ombros, ficando abaixo de seus seios. Na maquiagem tinha um delineador grosso preto e uma sombra roxa, rímel também preto e batom cor de boca.

– Nossa que gata. Tem certeza que vai pro aeroporto e não pra uma festa? – Perguntou Bruna sorrindo.

– Obrigada. Você também ta bonita. – Falou gentilmente. – E pra variar a Kathy é a última a terminar de se arrumar– Falou com tedio enquanto olhava para o relógio de parede da casa e via que já era 13:00. – KATHY SE APRESSA, JÁ É 13:00 E AINDA TEMOS QUE IR PARA O AEROPORTO. – Gritou Liz.

– Calma, calma, já terminei, vamos. – Disse a mesma. Ela estava vestida com uma blusa preta com os dizeres “Be free”, uma jaqueta de couro vermelha e um short jeans azul claro, all stars vermelho e maquiagem leve, apenas uma sombra marrom e um leve delineado nos olhos acompanhados de um batom bem vermelho, o único que chamava atenção na maquiagem.

Saíram de casa e pegaram um taxi até o aeroporto. Finalmente o sonhos de suas vidas seria realizado.