Homecoming escrita por Ju Black, Vicky Black


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/520771/chapter/1

Olá, me chamo Alice Campbell e minha vida é uma droga.

Tudo bem, é verdade, talvez você esteja certo. Poderia ser pior. Mas eu não acho que eu esteja sendo dramática, ou qualquer uma dessas besteiras aí. A verdade é que, eu confesso, minha vida nem sempre foi uma merda. Ouve um tempo, muito distância, em que eu era feliz. Tinha um melhor amigo maluco e que estava ali comigo quando as coisas em casa se complicavam por demais, mas, então, meus pais se separaram e eu fui jogada para uma cidade, em outro estado, em outro país. Daora a vida, não?

Agora, quase oito anos, meu pai resolveu voltar para onde tudo começou e me arrastou junto. Logo no meu último ano do colegial. Ótima hora para uma mudança, não é? Também acho, adoro. Sim, esse é meu sarcasmo se fazendo presente. E sabe o que é pior melhor? Estou de volta a minha antiga escola, onde todos aqueles que um dia tornaram minha vida pior ainda, devem estudar.

Então, aqui estou eu, resmungando no meio da rua, ouvindo músicas fortemente pesadas no último volume nos fones de ouvido e seguindo para o primeiro dia no meu inferno particular. Ou pelo menos era o que eu achava antes de, literalmente, cair por um garoto.

Cabelos pretos perfeitos e lisos, alto, olhos verdes, uma camisa do The Smiths. Ok, devo acrescentar que ele era lindo? Perfeito? O garoto dos meus sonhos? Não né? Melhor fechar a boca ante que a baba caia.

- Hey, tudo bem ai? – disse o bonito rapaz com uma voz rouca, oferecendo sua mão para me ajudar. Sua voz e seu jeito me eram familiar, mas eu não conseguia lembrar-me de onde. Apenas fiquei o encarando, feito uma idiota.

Foco, Alice, foco. Ele é só um rapaz bonito e educado, não banque a idiota problemática, não agora.

- Olhe por onde anda e estarei bem, idiota. – resmunguei, ignorando sua mão, levantando-me e seguindo meu caminho. Mas, ao que parece, o destino não gosta de mim.

- Nossa, obrigada por ser tão gentil. – disse o garoto.

O garoto bonito me seguia, ou, ao menos, traçava o mesmo caminho que eu, o que era totalmente lógico já que aquela merda de cidade só tinha uma escola boa e ele não parecia ser muito mais velho que eu. Ok, isso era uma coisa boa até. Pelo menos meus dias não serão tão chatos se tiver um rostinho bonito para admirar, não é?

-x-

- Muito bem classe, essa é a aluna transferida, Alice Campbell. – disse a professora de matemática com uma verruga assustadora na testa. Sério, como os alunos conseguiam prestar atenção nela com essa coisa? – Alice, sente-se no fundo da sala, atrás do Sr. Collins.

E sabe quem é o tal Collins? Se pensou que era o garoto bonito que esbarrei, meus parabéns, já pode virar vidente.

Mas, diferente de mais cedo, ele tinha no olhar um brilho estranho nos olhos. Mas que seja, de que isso me importa, não é mesmo?

Ainda com os fones, ignorei a tudo e a todos, me aproximando do meu lugar que, felizmente, era no fundo da sala e ao lado da janela. Ponto para mim. Quando me joguei em minha cadeira, o carinha passou a me olhar pelo canto do olho. Eu hein? Será

que se apaixonou por mim? Sei que sou perfeita, mas esses olhares já estavam me irritando.

Prendi meu cabelo ruivo cacheado num coque mal feito usando um lápis azul marinho que eu havia trazido, peguei um caderninho de desenhos preto que eu guardava na bolsa, coloquei meu capuz e dei adeus a esse mundo.

Pois é. Se achou que eu prestei atenção alguma no que a verruguenta e os próximos professores que entraram antes do intervalo falavam, sinto muito em lhe dizer que errou feio. Minhas músicas eram mais interessantes que eles; além do mais, eu não havia dormido nada na última semana.

Quer dizer, eu não prestei atenção em nada, a não ser na aula de história. História era minha praia, por mais estranho que pareça; eu preferia pensar nas coisas que já aconteceram e que não podem ser mudadas do que pensar no que está acontecendo e no quão catastrófico o ser humano consegue ser.

Já no intervalo, nem sequer me mexi. As pessoas passavam por mim como se eu não existisse, o que era bom. Pelo menos não estavam mais me xingando e humilhando como sempre fora nos anos que vivi aqui e nos demais colégios. Quando achei estar sozinha, permiti-me pegar a bolacha que tinha na bolsa, mas antes que pudesse levantar a cabeça da mesa, alguém muito irritante puxou um de meus fones.

- Não se lembra mais de mim, não é pequena Alie. – disse aquela voz rouca do tal Collins.

Então, memórias há muito trancadas dentro de mim vieram à tona. Minha cabeça girou, uma tontura me atingiu e minha vista escureceu. Apenas tomei consciência dele me ajeitando na cadeira e pegando um pouco de água para mim.

Mas não queria água, queria apenas saber por que Willian Collins, o garoto que sempre fora a luz na minha vida, o único motivo pelo qual eu levantei da cama nos últimos 17 anos, estava fazendo ali comigo e não fugindo da minha pessoa, como deveria ser depois de tudo que ele sabia sobre meus pais.

-x-

Muita coisa aconteceu desde que colocara os pés na minha antiga cidade e reencontra-o, um mês atrás. Aí você diz “O quê? Ela vai pular um mês de narração?” e eu digo que sim. A história é minha, se eu quiser começar pelo fim dela, eu o farei. Então shiu aí e leia.

Voltando... Há um mês, reencontrei Willian Collins, meu melhor e único amigo de infância. Will era meu vizinho e nos conhecemos ainda no ventre de nossas mães, então, quando aquela que se diz minha mãe começou a implicar com minha vida, inclusive me acusando de coisas infames, ele estava lá para me ajudar.

Quando meu pai começou a me agredir verbalmente, acusando-me de não ser uma boa filha – sendo que a única vez que o desobedeci em cinco anos, foi na hora de correr na chuva para abraçá-lo quando voltara de viagem –, ele estava lá.

Quando meus avós e meu tio nos visitavam e insistiam em me dizer o quão desapontados e decepcionados eles e meus pais estavam comigo por ser do jeito que eu era – nunca soube o que eu fiz de errado -, ele estivera lá.

Mas, acima de tudo, ele estivera comigo quando meus pais tentaram me matar. Afinal, desde o começo, eu fora fruto de uma gravidez indesejada. O único motivo pelo qual meus pais se casaram, o único motivo que fizera minha mãe entrar em depressão e meu pai se enfiar cada vez mais no trabalho - apesar de saber que não era apenas por não querer me ver que ele ficava a noite toda lá, tinha também a secretária dele, ou devo dizer amante? -, o único motivo pelo qual meus avos tiveram seus tão honrados sobrenomes jogados na lama. Enfim, eu era o motivo pelo qual as famílias Campbell e Carter ruíram.

Aquele dia ainda estava bem vívido em minha mente. Tinha voltado do passeio com Will e estava mais que radiante. Tínhamos dez anos e acabávamos de dar nosso primeiro beijo, juntos! Era apenas um selinho inocente de crianças, mas para uma menininha apaixonada era bem mais que isso.

Mas toda a minha alegria se dissipou quando pus os pés em casa. Meus pais estavam, mais uma vez, brigando. Mas agora, diferente das anteriores, alguns objetos voavam. Um deles, infelizmente, me acertou. Lembro-me de bater a cabeça na parede por alguma coisa pesada, sangue escorrer pela minha testa e meus pais me olharem...

Indiferentes? Não duvidaria se ficassem felizes com minha morte, nem um pouco. Ambos estavam muito ocupados para notar que eu estava sangrando tanto, e teriam me deixaram ali para morrer, se não fosse Will.

Provavelmente ele e a família ouviram os gritos e os objetos voando, afinal, a sala tinha uma porta que dava para o jardim, que dava para as janelas dos quartos da casa deles. E, como meu melhor amigo sabia como eu ficava quando meus pais brigavam, esperou a gritaria cessar e veio me ver.

A última coisa que vi antes de acordar num hospital com a família Collins cercando meu leito foi Will me ajeitando em seu colo e dizendo que tudo ficaria bem.

Depois que saí do hospital, como não dei queixa e sobrevivi, meus pais se separaram de vez e, nos últimos oito anos, me jogaram de um lado para o outro, me fazendo morar com eles, com meu tio e avos, um ano com cada um. Não me queriam por mais tempo que isso.

Agora me diz, como alguém como Willian Collins poderia ficar perto de mim, Alice Campbell, se nem mesmo minha família me quer por perto? Mas sabe do mais surpreendente, ele me queria por perto sim! E não apenas como amiga, mas como namorada.

Ele foi gentil, educado e paciente ao me ajudar a derrubar todas as barreiras que pus a minha volta, principalmente a de não querer que ninguém se aproximasse de mim. Aos poucos, fui saindo do meu “casulo”, como ele dizia.

Seus pais, ao me verem ao seu lado, me deram um abraço apertado que os meus pais nunca me deram. Os Srs. Collins sempre foram muito bons para mim e, cá entre nós, sempre tive inveja de Will por tê-los.

Meu namorado era o melhor do mundo. Toda manhã me mandava mensagem de bom dia, mesmo que fossemos nos ver em alguns minutos para irmos juntos para a escola. Sim, ele fazia questão de vir me buscar todos os dias. Diferente dele, que ainda morava na mesma casa, meu pai resolveu comprar outra longe do nosso antigo bairro, infelizmente.

Will ainda fazia questão de me levar para almoçar ou em sua casa ou no restaurante de seu pai. Todos os dias, sem falta. Trazia-me flores sempre que eu ficava um pouco distante, e chocolates quando eu ficava triste. E eu não podia negar, estava irreversivelmente e perdidamente amando-o.

Meu pai, felizmente, não aparecera para me incomodar desde que voltamos para cá, anda muito “ocupado” com seu trabalho. Não que eu me importe, para falar a verdade. Desde o “acidente” ao qual sobrevivi, ele e minha mãe passaram a ignorar minha existência. Só não colocaram fim a minha vida, ainda, pois não tinham coragem de fazê-lo com as próprias mãos. Fingir que eu não existia era mais fácil.

-x-

E aí, ela apareceu. Laurence Whintey.

Três meses depois de termos começado a namorar, lá estava ela.

Laurence estudava numa escola que ficava no mesmo bairro em que eu morara há muito tempo, perto da casa de Will. Ele me contou, depois, que passara dois anos estudando lá.

Era um verdadeiro inferno. As garotas eram ridículas ao extremo, os alunos eram todos mimados. Era um mundo diferente. E aí tinha a Laurence.

Eles dois tinham sido amigos. E, quando ele notou, ela havia se apaixonado por ele.

E, agora, faria de tudo para tê-lo. Inclusive tirar-me do caminho do pior jeito possível, usando meus pais.

-x-

Estava com Will num parque ali por perto. Eu estava mudada, não era mais como a garota que chegara há alguns meses. Eu tinha um brilho no olhar que nunca antes tinha. Eu era, pela primeira vez, verdadeiramente feliz. E devia isso tudo para o lindo rapaz que estava abraçado a mim.

O ano letivo estava chegando e, com ele, meu aniversário de 18 anos. Quando eu alcançasse a maioridade estaria, finalmente, livre dos meus pais e meus parentes chatos. Como nos verões sempre consegui trabalhar em algum lugar, a vantagem de morar em diferentes países é que seu salário é em diferentes moedas, tinha minhas economias para me manter sozinha, já estava preparada para faculdade e, enfim, poder viver minha vida em paz.

Ou era o que eu achava quando voltava para casa depois de uma tarde mais que perfeita com meu namorado maravilhoso.

- Will? - chamou uma garota.

Nós nos viramos e Will deu aquele sorriso maravilhoso dele.

- Lauren! - ele disse, e foi abraçá-la.

E eu fiquei ali, olhando com uma cara nada bonita, admito, meu namorado abraçar, rir e se divertir com uma vadia qualquer. Minha vontade era arrancá-la pelos cabelos de perto dele, mas não podia fazer isso. Então, optei por algo mais simples. Fui para casa.

Ao chegar ao meu portão, quase dei meia volta. Era preferível aguentar meu ciúme de Will com a idiota lá do que ver dois carros que nunca mais pensei ver na garagem de uma mesma casa. O carro de meus pais.

Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem cada vez mais e apenas mandei uma mensagem para Will antes de entrar. Hora de enfrentar as feras.

-x-

Quando Will se livrou de Laurence, ou quando quis se livrar dela, e veio ao meu encontro, já tinha se passado duas horas e eu estava com as malas prontas e meu rosto inchado, mas não era de chorar.

Meus pais conseguiram, novamente, acabar com a minha vida. Ao que parece, eles conheciam a família Whintey e amavam a doce e delicada Lauren, a filha que eles sonhavam em ter. A filha que nunca fui e nunca serei.

Will, por um momento, não queria acreditar no que lhe contei. Por um momento, ele quis acreditar que Lauren era sua amiga e que eu estava com ciúmes dela. Mas o inchaço em minha bochecha esquerda e meus olhos assustados devem ter lhe mostrado que eu não mentia.

Ele me acolheu em seus braços e me prometeu que iríamos superar tudo. Que ficaríamos juntos para sempre. Mas eu não tinha essa certeza. Em menos de uma hora estaria entrando em um avião a caminho de um internato na Rússia e, de lá, só sairia depois de me tornar a filha que meus pais tanto desejavam.

Mas Will tinha outros planos enquanto me ajudava a jogar minhas malas pela janela de meu quarto e me levava para longe dos meus pais. Acho que meu final feliz foi antecipado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Homecoming" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.