Tris

Entro no saguão do prédio Hancock, uma pessoa que reconheço logo, está sentada na recepção do prédio, acho estranho, mas, se passaram três anos desde minha partida. Senti-me mal durante esses anos fora, com todos acreditando que eu estava morta, com todas aquelas pessoas no meu enterro vendo meu corpo inerte e meu coração parado, Tobias mergulhado em tristeza e lágrimas, Christina se fazendo de durona escondendo as lágrimas, e Caleb, fingindo não sentir a dor da perda, eu não vi estas cenas, e no fundo não queria. Eu não queria ter participado desta farsa. Bem, a essa hora todos já devem saber que estou viva e que deveríamos nos encontrar no saguão do edifício Hancock. Mas ao chegar, olhos espantados se focam em mim. Logo reconheço aquele rosto, me lembro imediatamente, seu olhos se focam em mim, ela fica pálida. Aproximo-me. Ela está tremula.

-Olá cara –digo.

Ela pisca como se para me fazer sumir.

-Tris? Tris? É você?

Faço que sim com a cabeça.

-Peter não disse nada a vocês?

Ela pensa.

-Peter tomou o soro da memória, alguns dias depois do que todos achavam que foi sua morte.

Fico tensa.

-Então, Tobias não sabe que eu não estou morta?

Ela nega.

-Não, ele nem ninguém. Tris, todos, mas, principalmente ele e Christina sofreram achando que você estava morta. Tobias até que pensou na possibilidade de tomar o soro da memória. Você não tinha esse direito Beatrice.

Fico irritada ao ouvir ela me chamar por meu nome da Abnegação, faz tanto tempo que as pessoas só me chamam de Tris.

-Eu não tinha o direito de? Sair pra ver como é lá fora? Sair para descobrir como é realmente viver? Além do mais, era pra todos estarem avisados sobre o fato de eu estar viva.

Ela faz cara feia.

-Você não entende, por que não avisou a ele, se você quer saber foi insuportável para ele viver sem ter você. E como eu sei disso? Ele deixa transparecer, ele está realmente sofrendo e mesmo que tente, ele não consegue esconder.

Me sinto triste.

-Onde eles estão? Tobias e Christina?

Ela pensa.

-Christina está morando neste prédio, já Tobias está morando do outro lado do rio em um apartamento com a Evelyn.

Dou um pequeno sorriso.

-Você poderia chamar a Chris?

Ela faz que sim com a cabeça e aperta algumas teclas no computador a sua frente.

-Ela está vindo.

Afasto-me, sento em um sofá no meio do hall. Passaram quase quinze minutos. Avistei-a, sorrindo, com um vestido preto até os joelhos, seus cabelos estavam bem maiores, presos em uma trança. Levantei-me. Quando ela me avistou seu sorriso se desfez em uma expressão surpresa. Ela correu até mim. Parou na minha frente. E gritou.

-Beatrice Prior, como você fez isso comigo?

Ela me puxou para um abraço com todas as forças possíveis para aquele momento. Senti lágrimas quentes rolando por meu rosto, quando levanto meus olhos pra Chris, e as mesmas lágrimas estavam no rosto dela.

-Você tem muito que me explicar Careta. Mas agora, ele precisa saber que você está viva e precisa saber agora. Vamos.

Ela me guia pelas ruas. Fazendo-me explicar tudo que aconteceu. Meus motivos pra participar do plano. Por que não avisei. Onde eu estava. Com quem eu estava. Enfim paramos em frente a um prédio. Eu estremeci, não havia pensado no momento que encontraria ele. Eu gelei. Meu corpo todo estremeceu ao vê-lo passar pelas portas giratórias do prédio. Ao me ver seu rosto aderiu um sorriso imenso. Eu nunca poderia imaginar o que aconteceria em seguida, ele correu até mim, e me abraçou, um abraço tão forte que chegou a doer. Em seguida ele se afastou.

-Beatrice, você é dissimulada. Me fez achar que você estava morta, por três anos. Sabe o que são três anos sem a pessoa que você ama?

Fico tensa.

-Sim, eu sei. Lembre-se que o mesmo acorreu comigo. Vocês deveriam saber que eu estava viva logo depois da minha partida. Era para Peter ter avisado. E avisado a você onde me encontrar. Tobias, eu sofri todos esses anos, acreditando que você havia me rejeitado.

Ele faz cara feia.

-E eu sofri achando que você havia me deixado para sempre. Você não sabe o que é isso Beatrice. E eu nunca, nunca minha vida te rejeitaria Tris.

Eu realmente não sabia. Os informantes sempre me deixaram á par de tudo que acontecia com Tobias. Mas eu senti a dor da saudade. Senti a dor do que achava ser uma rejeição.

-Podemos conversar sozinhos? – pergunto.

Ele faz que sim com a cabeça. E me puxa sem nenhuma delicadeza para dentro do prédio. Entramos em um quarto, pouco decorado, na verdade até pouco mobiliado. Ele me solta na porta. Caminha até uma poltrona e se senta tranquilamente. Ando até uma poltrona perto dele. Seus olhos estão frios. Conto a ele toda a história. Ele depois de muito questionar entende que eu não queria estar longe dele.

-Você poderia ao menos pedir desculpas, não acha? – ele questiona.

Faço que sim com a cabeça.

-Desculpe.

Ele dá um pequeno sorrisinho.

-Tudo bem Tris. Só não pense nunca mais em fazer uma coisa dessas. Alguém te contou que eu pensei em tomar aquele maldito soro?

Faço que sim com a cabeça.

-Cara me disse, e eu sinto muito por isso.

Ele levanta, caminha até a poltrona em que eu estou sentada, agacha, olha em meus olhos.

-Beatrice Prior, não pense em sumir de perto de mim por mais nem um minuto.

Após dizer isso, ele puxa meu rosto e me beija na bochecha, em seguida encaixa sua boca na minha, e eu o beijo de volta. No intuito de compensar todo o tempo que eu fiquei sem ele. Compensar toda a tristeza que ele sentiu, achando que tinha me perdido quando eu estava ali bem perto, enfiada em uma casa colorida, fingindo ser filha de um casal bronzeado para tentar descobrir como era realmente viver.

-Senti falta de você meu amor. – ele disse.

Alegria e emoção irradiam por meu corpo.

-Eu Te Amo Muito Tobias. – digo, lágrimas escorrem do meu rosto.

Ele dá um sorriso brincalhão, que o deixa extremamente lindo. Enxuga minhas lágrimas.

-Eu Também Te Amo Careta.

Eu levanto, ele também. Puxo-o pra mim. O beijo de um modo intenso. Os dedos deles passeiam pelo meu cabelo, que já está bem crescido. Ele enrosca seus dedos ali.

-Que bom que você voltou. – ele sussurra com a sua boca na minha.