Tormentas de Amor escrita por Kirol Benson


Capítulo 1
Tempestade de Verão


Notas iniciais do capítulo

Bom, esse é o primeiro original que eu publico. Espero que curtam!!



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Clara olhou o céu, já passava das vinte e duas horas e ela ainda não havia conseguido chegar onde queria. Estava preocupada com o seu escasso tempo, pois teria que entregar o material muito cedo e ainda nem estava na metade. Olhou mais uma vez as estrelas no céu azul da praia e voltou para o computador. Escolheu aquele lugar para ser seu santuário, seu centro de equilíbrio... seu lugar de reflexão. Mas, nas últimas semanas, havia se transformado em seu escritório. Precisava se afastar da agitação da cidade para conseguir concluir seu livro, que já estava muito atrasado, deixando seu editor de cabelos brancos. Estava sem inspiração para escrever sobre verbos, pronomes e predicados. Ela queria era estar em casa, abraçada ao seu filho, cuidando dele e mimando-o mais do que nunca. O deixara com o pai, mas sabia que ele, provavelmente, estava sentindo muito a sua falta. Respirou angustiada e resolveu que não tinha condições de concluir coisa alguma. Fechou o notebook e entrou na pequena casa de praia que lhe pertencia mais por sorte do que por merecimento. O clima estava quente, apesar da brisa pesada que vinha do mar. Foi até a cozinha e encheu uma xícara com café quente, deixando a fumaça limpar suas idéias. Estava tão distraída, que mal notara quando a porta da frente foi levemente arrastada. Diego pisava manso, o que lhe possibilitava entrar em qualquer lugar sem ser notado. Tirou o tênis e foi caminhando para a pequena sala bem devagar. Clara se assustou com um ruído, deixou a xícara na pia e foi até a sala. Diego ficou estático ao ouvir os passos vindos direto em sua direção. Procurou um lugar para se esconder, mas sua altura impossibilitava o intento. Resolveu abandonar a surpresa e optar pelo susto. Clara parou assustada na entrada da sala e quase gritou. Diego estava ali, segurando os sapatos e com um sorriso amarelo no rosto.
- O que...- Interrompendo-se.- Diego, o que diabos faz aqui?
-Queria fazer uma surpresa...
-Me matando de susto?
-Não, o objetivo não era esse.- Ele colocou os sapatos no chão e se sentou no sofá. – Queria conversar com você em um lugar discreto, resolvi vim para cá.
-E deixou o Gabriel sozinho? - Clara alterou levemente a voz com um medo enorme da resposta.
-Não, claro que não! Acha que sou tão irresponsável, Clara?
-Não sei, diante dos acontecimentos dos últimos anos, não posso dizer que te conheço bem, Diego.
-O deixei com uma babá...
-E o que você quer? Não estou com tempo para diálogos ou...
-Tudo bem, serei direto.- Se endireitando no sofá, ele tentava encontrar as palavras para começar aquela conversa. Sabia que convencer Clara de algo seria mais difícil que investir no mercado de ações. Alisou as coxas com as mãos tentando conter seu desconforto e limpou a garganta.- Quero falar sobre...
-O que, Diego?
-Posso falar?
-Fique a vontade. - Clara se sentou em uma cadeira próxima. Sua cabeça estava trabalhando a mil, tentando imaginar o que poderia ter levado Diego àquele lugar e àquela hora.
-Sobre nós, Clara...
-Nós? Pensei que tudo que tínhamos a dizer sobre nós tivesse sido dito...
-Não, você sabe que não foi...
-Diego, que idéias são essas? Estamos separados há cinco anos, não temos mais que pensar nisso.
-Para mim não é tão fácil...
-Deveria, afinal a culpa de tudo foi sua, querido.- Clara já estava de pé, sua inquietação não lhe permitia ouvir tudo aquilo olhando nos olhos dele.
-Clara... eu sei que cometi erros, mas você também não foi fácil.
-Vai querer me culpar por você ser um galinha?
-Não...não foi o que eu quis dizer, foi...- Diego alisou os cabelos impacientemente. Já não estava mais medindo as palavras, pois já não conseguia pensá-las.
-Olha, eu tenho trabalho a fazer e não posso ficar aqui conversando com você. Se não se importa, gostaria de ficar sozinha e escrever.
-Não acredito que prefira a solidão a minha companhia, Clara.- Agora ele encontrara o caminho. Conversar com Clara não seria o meio mais inteligente de aproximá-la, precisava ser mais brusco, mais decisivo e, quem sabe, até mais violento. Não iria obrigá-la, mas se fosse preciso...
-Sua pretensão é impressionante, sabia? – Ela sorrira e desviou-se das intenções evidentes de Diego.
-Não fuja de mim, não vai adiantar....
-Diego, não quero ter que ser grossa com você... – Clara estava ciente que aquela história de conversar estava muito distante do real motivo da presença dele ali, mas não estava disposta a ceder aos seus instintos, muito menos aos dele. - É melhor você ir, a estrada fica perigosa a essa hora.
-Pretendia dormir aqui, se você não se importar.
-Não acho que seja uma boa ideia.
-Não se preocupe, não vou passar dos limites.- Apesar das palavras parecerem sinceras, seus olhos verdes desmentiam tudo.
-Diego...
-Clara, por favor, não somos mais adolescentes, podemos conter nossos instintos, não é mesmo? Estou cansado, não seria prudente dirigir agora.
-Tenho a impressão de que você planejou tudo isso.
-Não tudo...- Sorrindo, Diego tentava encontrar uma brecha para entrar novamente no assunto que lhe levou ali. Mas percebeu que o melhor era não contrariá-la.- Eu queria conversar, mas se você não pode, podemos pensar no assunto amanha.
-Você acha que o horário da conversa vai mudar a minha opinião?
-Dizem que algumas mulheres são da noite...outras não. – Diego já estava a vontade na sala pequena. Tirou o casaco grosso que usava e estava só de camisa e bermuda, realçando seu corpo magro, mas extremamente bem dividido. Clara tentou não demonstrar, mas estava bem alterada com a sua presença.
-Tudo bem, você pode dormir aqui... Mas não tente…- Ela resolveu não continuar, não queria que ele pensasse que ela desejava aquilo, ainda que negasse.
-Pode me arrumar um travesseiro?
-Vou pegar um no meu ...
-No seu quarto? Não se preocupe, eu faço isso...
-Não.- Clara o impediu com um grito leve, deixando-o ainda mais curioso para conhecer aquele santuário. – Eu pego...
-Ora, acha que se eu aprender o caminho será mais fácil te fazer uma surpresa? – As sobrancelhas levantadas o faziam parecer ainda mais charmoso. O sorriso mal intencionado o deixava com ar de cafajeste, o que ela, particularmente, adorava.
-Eu vou buscar seu travesseiro! - Contrariada, Clara entrou no seu quarto e não ligou a luz. Já conhecia bem o cômodo, não precisava de muita luminosidade para encontrar o travesseiro na sua cama. Apesar de sempre dormir sozinha, a cama era de casal, ao estilo rústico, típico móvel de praia. Tateou um pouco e encontrou o objeto macio. Quando pensou em virar, caiu sentada e se assustou com uma sombra negra e alta.
-Calma, não precisa gritar, não ainda...- Diego curvou-se sobre ela, fazendo-a parecer pequena diante do seu 1,80 de altura. Clara queria correr daquele homem, mas seu perfume, sua barba por fazer lhe roçando levemente a nuca, suas mãos hábeis já em lugares que ela não ousava imaginar e sua respiração percorrendo sua pele, a fizeram mudar de idéia rapidamente.
-Diego...- Ela tentou recuperar a respiração e fazer seu cérebro funcionar novamente.- Diego...
-Clara? – Diego parou de beijá-la e olhou seu rosto sombreado pelo escuro.
-Não podemos fazer isso...
-Por que não? Somos adultos, e queremos isso.
-Mas sabemos que...
-Esqueça...- Diego voltou a beijá-la e dessa vez ela não o impediu.

Na manhã seguinte, Diego preparava café na cozinha. Os ovos frigiam na panela e o café cheirava na cafeteira. Usando apenas a bermuda que vestia na noite em que chegou, ele estava de cabelos molhados e descalço, parecia muito a vontade. Clara ainda dormia, estava exausta. Colocando dois pratos na mesa e duas xícaras cheias de café sobre os pires, Diego arrumava tudo com carinho, esperando que Clara acordasse e ficasse feliz pela sua atenção. Como conhecia os seus horários, sabia que ela acordaria a qualquer momento. Foi o que aconteceu, por volta das 8:00 horas o relógio despertador da cômoda fez um barulho estridente que fez Clara quase assustar-se, pois estava tão profundamente enfiada em sonhos e num sono tão tranqüilo, que não imaginava acordar tão bruscamente. Procurou os chinelos em baixo da cama e os calçou enquanto se espreguiçava. Ainda bocejando, foi para a cozinha e estancou levemente...
-Bom dia, meu bem! – Diego estava de avental e segurava a frigideira nas mãos.- Tomei a liberdade de preparar alguma coisa para comer. Como não tinha muitas opções, fiz ovos mexidos com queijo e café.
-Huum, obrigada! – Clara esticou uma cadeira e sentou-se automaticamente, sem nem mesmo olhar Diego.
- Como dormiu?
-Normal! – Se servindo de café, ela tentava fingir normalidade diante dele, o que era difícil.
-Ótimo! Vamos comer! Depois posso te levar para casa...
-Não, não é necessário...
-Você pretende ficar mais por aqui?
-Não...
-Então por quê...
-Vamos tomar café, Diego...- Clara começou a comer mecanicamente. Diego tentava compreender o porquê da sua frieza. Ela parecia tão feliz e tão entregue na noite anterior, porque estava fugindo dele agora?
-Clara...
-Sim?
- Podemos conversar agora?
-Diego, não temos nada para conversar...
-Depois de ontem, acho que temos sim.
- O que você quer? Quer que eu diga que a noite foi ótima e que estou loucamente apaixonada por você? Ora, Diego, nos poupe disso. – Clara empurrou o prato para o meio da mesa, perdera completamente a fome. – Não podemos tratar isso como um sinal verde, pois não foi. Foi sexo, Diego, apenas sexo. Tente ver como... uma noite com uma de suas muitas namoradas, talvez seja melhor de digerir.
-Você não é uma das minhas muitas namoradas.- Diego não alterou a voz, sabia que iniciar uma discussão só iria piorar as coisas e essa não era a sua intenção.
-Diego, por favor, você não quer isso... para que nos machucar? Não temos o direito de fazer isso conosco, e nem com o nosso filho. Ele sofrerá muito mais no meio dessa história e não quero fazê-lo sofrer, não mais.
-Clara...- Segurando a sua mão, ele a olhava nos olhos. Os seus verdes de encontro aos castanhos dela, uma sintonia, que outrora, era perfeita. Mas tudo parecia tão distante agora, tão longe deles. – Para mim não foi só sexo... e nem para você.
-Agora sua pretensão realmente passou dos limites. – Clara levou as xícaras vazias para a pia e as lavava, na verdade, tentava fugir de Diego. Claro que não havia sido só sexo, mas ela não queria que ele soubesse. Para que? Seria o de sempre, como sempre. Diego não tinha jeito. Se ela lhe desse uma chance, obviamente ele desperdiçaria como fez tantas vezes.
-Olha, podemos deixar a conversa para quando você estiver mais calma...
-Eu estou calma, mais do que imagina. E estou segura do que digo, bem segura. Vamos terminar o nosso assunto aqui, vamos terminar de forma digna, Diego. Nós temos um filho, isso já é o bastante.
-Deveria pensar mais nele...
-É por pensar nele que eu não quero continuar com isso.
-Clara...- Diego a puxou para si, talvez um beijo a fizesse mudar de idéia. Alisando seus cabelos castanhos, ele a beijou com muita ternura, mas ela o afastou imediatamente.
-Vá embora, por favor! Leve o Gabriel para casa, eu ligarei quando chegar...
-Vai mesmo terminar isso assim?
-É a melhor forma...


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