And if escrita por Deschain


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Se encontrarem algum erro no capítulo me avisem.

Boa leitura.



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Capítulo 17

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Inuyasha as esperou na fronteira do vilarejo, talvez percebendo que fazer uma pessoa de idade andar nas condições em que Kaede estava seria recriminável. Ainda assim era orgulhoso demais para voltar e devolver o cavalo para ela.

Shippo em algum momento se juntou a ele e parecia reclamar de algo até que viu Kagome e correu para se jogar em seus braços. A colegial riu, abraçando apertado o pequeno filhote de raposa, enquanto era observada tanto pela velha Kaede quanto pelo meio-Yokai.

Naquele momento, ao levantar o rosto e fitar os olhos âmbares, teve certeza que era ela, Kagome, que ele via. O modo adorável como ele corou ao ser pego no flagra encheu-lhe o peito com algo caloroso que há muito não sentia. Sorriu para ele, fazendo o tom rosado das bochechas do hanyo escurecer alguns tons.

Vovó Kaede lançou-lhe um olhar entendido, como se soubesse de algo que ela ainda não tinha descoberto, mas é claro que a menina sabia o que a senhora via naquelas reações. A atração que sentiam um pelo outro era mais clara que a água. O problema todo estava nos motivos por trás dela...

Inuyasha já se afastara, num misto de raiva e vergonha, tomando seu papel como guia do grupo. A vovó Kaede montou no cavalo com a ajuda de Kagome, pedindo para que a criança Yokai ficasse com ela, poupando a menina do esforço de carregá-lo. A garota concordou, passando a caminhar ao lado deles, apoiando uma das mãos no pescoço do animal não confiando inteiramente na capacidade da senhora de conseguir guiá-lo.

Caminharam até o sol se por, Inuyasha só permitiu que descansassem quando encontrou uma espécie de gruta para que se abrigassem. Kagome pediu para que Shippo acendesse a fogueira enquanto ela tentava encontrar, dentre as coisas que a senhora tinha trazido consigo, algo confortável o bastante para que tanto a idosa quanto o garoto conseguissem dormir juntos. Kaede insistiu em fazer algo para que comessem, mas vendo sua dificuldade, Kagome acabou assumindo o preparo da comida.

Pouco tempo depois de comerem, a criança e a idosa caíram em sono profundo. Kagome recostou-se na parede rochosa oposta a Inuyasha, estudando-lhe o rosto, mas se o meio-Yokai tinha percebido o olhar da garota não dava qualquer sinal: fitava fixamente o fogo, perdido em pensamentos.

— A vovó Kaede finalmente dormiu... – murmurou, tentando chamar a atenção do rapaz.

— Vá dormir você também, amanhã vamos enfrentá-la.

— Mas já? – perguntou surpresa.

— Posso sentir o cheiro dela, está bem perto...

Kagome quase não conseguiu escutá-lo, era como se estivesse falando consigo mesmo. Inuyasha cerrou os olhos e deitou, deixando claro que não queria conversar.

Ela gostaria de conhecer o passado de Inuyasha e entender o relacionamento que ele tinha com a falecida Kikyo. Não era estranho que o hanyo tratasse a sacerdotisa como uma inimiga toda vez que era citada, mas se incomodasse com a aparente semelhança com Kagome? Que quase tivesse beijado a garota pensando em Kikyo mais cedo naquele dia? Que todas as pequenas ações e reações do meio-Yokai comprovassem que ele de fato era apaixonado pela mesma mulher que o lacrou durante 50 anos?

Passou a mão no rosto, cansada de pensar sobre aquilo. Nunca perdera tanto tempo pensando em alguém antes, talvez Darsh, mas era justificado: tinham uma história juntos. O que ela tinha com Inuyasha? Nada.

Decidindo não mais perder tempo com aquele assunto, Kagome deitou no chão duro da gruta. Certa vez ouvira que os últimos pensamentos que tinha antes de dormir influenciavam no sonho que teria, então pensou em seu irmão, sua mãe e seu avô esperando que pudesse aliviar um pouco a saudade.

Quando acordou não lembrava do que tinha sonhado, mas estava mais disposta e tranquila do que há tempos não se sentia. Com um carinho enorme, de quem o via como um segundo irmão mais novo, Kagome acordou o filhote de raposa chamando-o pelo nome enquanto acariciava seu cabelo. Percebeu o movimento das orelhas de Inuyasha antes de reparar que ele a observava com um semblante fechado. Não deixou-se abalar.

— Bom dia, Inuyasha.

Sorriu para o hanyo levemente, mas este apenas virou o rosto para o lado oposto com um resmungo.

Típico...

Vovó Kaede já estava acordada, ajeitando o café. Kagome mais uma vez tomou a frente e pediu para que a senhora descansasse um pouco. Conseguia perceber como Kaede era geniosa e detestava depender dos outros, mas não poderia deixar que ela se esforçasse demais sem estar totalmente recuperada. Já bastava a longa viagem que estavam fazendo.

— Nós temos que encontrar os ossos da minha irmã Kikyo o mais rápido possível – comentou enquanto observava Kagome. – Não consigo tirar esse pressentimento ruim da cabeça...

— Que pressentimento ruim?! – Inuyasha a cortou. – Se tinha tanto medo assim que eles fossem roubados deveria ter colocado eles no fundo de um rio ou coisa parecida. Isso só aconteceu porque você foi burra o bastante para enterrá-los perto de você.

Sempre um poço de delicadeza, fico admirada.

Kagome balançou a cabeça em discordância, mas manteve-se quieta.

— Inuyasha, para que você acha que servem os túmulos? Não são um lugar para apenas se depositar os ossos de alguém. O propósito dos túmulos é para os corações daqueles que ficaram.

Kagome parou o que fazia para prestar atenção no que a velha dizia, percebendo que Inuyasha fazia o mesmo.

— A minha irmã nasceu sacerdotisa... – a senhora começou, observando as próprias mãos que apertava com força no colo. – Ela usava os seus poderes para o bem dos que viviam no vilarejo, evitando que monstros se aproximassem de nós. Mesmo enfrentando doenças e perigos, lutava com os nossos homens e os encorajava – sorriu com orgulho. – Depois que a minha irmã morreu... – pausou por um momento, parecendo avaliar as melhores palavras para dizer o que queria. – As pessoas do vilarejo ergueram a cabeça e tentaram tocar as suas vidas com coragem, mas os humanos são criaturas fracas, eles se deixam levar pela ansiedade dos seus corações, então quiseram ter alguma coisa na qual se apoiar... – olhou diretamente para Inuysha. – O túmulo se tornou consolo para os seus corações.

Era perceptível o respeito que a senhora sentia pela falecida irmã. A colegial não se surpreendeu de sentir uma certa admiração por aquela mulher que não conhecia. Inuyasha parecia sustentar o olhar da idosa, mas Kagome estava próxima demais dele para não notar que aquele olhar era o mesmo com qual se acostumara nos últimos dias.

Ele está pensando nela. Deve ter sido bem difícil para ele ter o coração perfurado pela pessoa que amava... Seria um amor não correspondido?

Então percebeu que talvez ela estivesse numa situação parecida, não só quanto a Inuyasha, mas até mesmo quanto a Darsh.

A velha Kaede quebrou o contato visual, percebendo algo de estranho na garota. Inuyasha acompanhou o olhar da senhora, ficando surpreso ao ver Kagome fitando-o fixamente com os olhos marejados.

— Kagome? – Shippo chamou preocupado, tocando na perna da garota, trazendo-a de volta para a realidade.

— Desculpem... – Ela tentou sorrir, enquanto esfregava os olhos numa tentativa de evitar o choro. – Não foi nada demais... Eu só acabei lembrando de casa – agachou-se, colocando a mão na cabeça de Shippo. – Não precisa se preocupar, ok?

O filhote de raposa concordou, um pouco inseguro. Kagome sentiu seu carinho por ele crescer mais um pouco: mais e mais Shippo agia como seu irmão menor.

— Fofo! – apanhou-o no colo, abraçando com força e enchendo-lhe de pequenos beijos.

Shippo começou a rir, sentindo cócegas e Kagome o acompanhou na risada. Inuyasha bufou, resmungando que precisavam ir, mas manteve o olhar de soslaio na garota durante todo o tempo em que comiam e quando voltaram a caminhar.

Durante todo o resto do dia, Kagome se limitou a conversar com Shippo. A criança alegrava seu espírito e ela esquecia de assuntos mais urgentes, como o fato dos outros dois adultos no grupo estarem conscientes que ela não estava bem. A colegial torcia para que toda aquela instabilidade fosse culpa dos hormônios, mas no fundo tinha consciência de que sempre se reprimira nesses assuntos e que nunca fora confrontada como agora.

No tempo atual ela tinha sua família, os estudos, os amigos e várias outras pequenas preocupações que agora, no período feudal, ela não tinha que considerar. Aqui era ela e seu pequeno grupo de conhecidos contras os monstros malvados na busca pelos fragmentos de uma joia poderosa. Aqui era ela e seus sentimentos por essas pessoas, ela e seus sentimentos pelas pessoas que tinha deixado no outro lado do poço. Não tinha briga para aliviá-la: ali qualquer luta era de vida ou morte e todos os adversários tinham poderes sobre-humanos. Tudo era mais intenso e perigoso.

Mais definitivo.

Ela percebeu a mudança de cenário que o caminho sofreu. A floresta, que até então se mantinha a uma boa distância da estrada de terra batida, começava a invadir a passagem. As árvores eram maiores e criavam uma cobertura que impedia que o sol penetrasse, por esse motivo, o cheiro das folhas em decomposição, junto com os outros odores da mata eram mais intensos.

Conforme avançavam, figuras humanoides feitas em barro apareciam abandonados pela floresta com cada vez mais frequência: alguns jogados de qualquer jeito, outros em pé, como se fossem pessoas reais que observavam os transeuntes.

Kagome começava a se agitar. Alguma coisa naquilo tudo não parecia certo e seu senso de perigo começou a apitar de um jeito que nunca tinha sentido antes.

— O que são essas coisas? – perguntou incomodada.

— Bonecos feitos de barro? Que mal gosto... – Shippo comentou, sentado na garupa do cavalo de Kaede.

Tanto a senhora quanto o meio-yokai ficaram em silêncio e aquilo fez a ansiedade da colegial crescer ainda mais. Inuyasha nunca ficava quieto e a velha Kaede sempre respondia suas perguntas.

Foi com alívio que percebeu que finalmente estavam alcançando o final da floresta: via a luz do sol brilhar à frente.

— Parece que o lugar é aqui. – Inuyasha finalmente falou ao pisar fora da cobertura das árvores e parando em frente à uma extensa ponte de madeira.

A garota sentiu um frio na barriga ao ver a ponte se esticar até o outro lado do precipício, coberta em uma neblina que não sabia de onde vinha.

— Vamos ter que atravessar...?

Sabia a resposta antes mesmo de perguntar, mas tinha a esperança de seguirem por um outro caminho ao notarem seu desconforto. E claro que notariam, sua voz saiu fraca e vacilante, uma representação fiel de como suas pernas estavam naquele momento. Ela nunca se deu muito bem com alturas elevadas.

Inuyasha a observou por um tempo, antes de seguir em frente. Parou alguns passos a frente e voltou-se para ela.

— Você não é obrigada a vir se não quiser. Eu posso muito bem cuidar disso sozinho. – O tom debochado de sempre estava ali, mas algo mais soou incômodo nos ouvidos de Kagome. Era impressão ou ele parecia querer se livrar dela? – Está bem? – Era uma pergunta retórica, ele não esperou que ela respondesse, apenas seguiu seu caminho.

A velha Kaede olhou para ela com certa preocupação. Era óbvio que não queria deixá-la só, mas também queria seguir em frente com Inuyasha.

Kagome suspirou e forçou-se a pisar na ponte. Tentava não olhar pra baixo e agarrava-se com firmeza no corrimão de ferro. Deu pequenos passos com a velha Kaede apoiando suas costas e lhe dizendo palavras de incentivo, mas travou no lugar quando Shippo correu entre suas pernas, alcançando Inuyasha com facilidade e o ultrapassando.

A colegial segurou a respiração, tão nervosa estava que não teve força de gritar para o menino tomar cuidado. Voltou a andar e pouco tempo depois alcançou Inuyasha e Shippo, que estavam parados no meio da ponte, observando algo a frente.

O caminho estava bloqueado por uma fila de bonecos de barro, idênticos aos que tinham visto pela floresta. Quando Kagome aproximou-se, mais para perguntar a Inuyasha o que fariam, os bonecos começaram a rachar, revelando corpos de guerreiros exatamente iguais, vestidos em armaduras que cobriam seus corpos completamente, a não ser suas cabeças.

— O que é isso?! – Shippo gritou, recuando.

— É o exército daquela bruxa velha. – Inuyasha respondeu, tomando a dianteira.

— Eram iguais aos de lá de trás... – Kagome murmurou, encarando as fileiras de corpos replicados. – Então será que...

Voltou-se para o caminho que tinham percorrido e viu, sem surpresa, que outra fileira de corpos seguia em direção a eles vindos da floresta. Já tinham percorrido uma boa parte do início da ponte, cercando o grupo de amigos.

— Inuyasha! – gritou. – Cuidado, estamos cercados!

— Se segurem, a ponte vai balançar um pouco! – O hanyo gritou de volta, correndo em direção aos corpos que impediam o seu progresso. – Sankon Tessou! – O golpe destruiu com facilidade os corpos, que se quebraram como barro.

Os corpos que vinham pela retaguarda enquanto isso finalmente alcançaram a garota, a senhora e o menino. A adrenalina fez com que Kagome esquecesse seu medo, agarrasse sua bokuto e os defendesse. Assim como ocorreu com Inuyasha, os corpos quebravam ao se chocarem com sua espada de madeira.

Tanto ela quanto Inuyasha mantinham-se focados na luta, enquanto Kaede e Shippo forneciam ajuda, alertando-os de possíveis atacantes que quebravam a formação e atacando-os, no caso da garota, quando sua resposta não era rápida o suficiente.

Desse modo nenhum deles realmente percebeu quando a Yokai que procuravam surgiu no céu, atacando a ponte e partindo-a em duas.

A sensação de vazio embrulhou o estômago da garota. Uma hora estava em pé sobre as vigas de madeira da ponte e na outra caía sem nenhum apoio. Até tentou agarrar-se às cordas, mas escaparam entre seus dedos suados.

Ouvia os gritos de Inuyasha, Shippo e Kaede, sem perceber que ela também estava gritando a plenos pulmões.

Mas então sentiu o tranco quando alguém a segurou, impedindo que continuasse caindo.

Finalmente via a Yokai que estavam procurando: uma senhora bem idosa, com longos cabelos cinzas e olhos vermelhos saltados. Segurava uma foice em uma das mãos que prontamente colocou no pescoço da garota, ameaçando-a caso se mexesse. Claro que a ameaça não funcionou. O que ela perderia? Seus amigos tinham caído no precipício e a Yokai parecia ter certeza que estavam mortos.

Foi então que lembrou-se de sua família. Parou de resistir e deixou que a Yokai a levasse para seu covil.

— Finalmente consegui a reencarnação da sacerdotisa Kikyo. – A velha começou a gabar-se ao ver que a menina não oferecia mais nenhuma resistência. – Você não vai me escapar tão facilmente. Eu preciso de você para trazer a Kikyo de volta a vida completamente!

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— Es… Espere aí?! O que você pensa que está fazendo?! – A colegial tentava se mexer, mas não conseguia.

A Yokai jogou-a em uma espécie de tanque e o enchia aos poucos de um líquido com cheiro de ervas medicinais. Kagome não estava presa, mas não conseguia se mexer.

— Isso já deve dar… – a velha sussurou, interrompendo o processo.

O corpo da garota boiava no meio do líquido. Conforme as coisas ficavam cada vez mais estranhas e a chance de conseguir escapar diminuía, mais seu arrependimento crescia. Deveria ter lutado no caminho da ponte até o alto da montanha, deveria ter resistido, mas esperou que estivessem em terra para tentar algo e aí já fora tarde demais: a mulher lançou algum feitiço que a impedia de se mover.

Ouviu o som de passos e ao lado da velha surgiu uma mulher vestida em trajes de sacerdotisa.

É como me olhar num espelho…

Então lhe veio a compreensão de toda a situação como um soco no estômago, tirando-lhe todo o ar dos pulmões: era Kikyo. Em pé, ao lado do seu corpo estava alguém que deveria estar morta nos últimos 50 anos. Como? Será que ela tinha enganado a todos no vilarejo?

Preste atenção, Kagome. Ela não envelheceu absolutamente nada…

A mulher aparentava ser mais velha que a colegial apenas por uns poucos anos. Não havia nenhum sinal de envelhecimento em seu corpo. Mas então como…?

Os corpos de barro no caminho até aqui.

— Você já se vestiu? – A yokai voltou-se para a mulher, sorrindo em aprovação. – Está se parece a sacerdotisa perfeita. O corpo da alma já foi feito… – observou a garota no tanque. – ...agora só falta colocar a alma dentro dele.

— Colocar a alma…? – Kagome sussurrou, preocupada.

— Com o poder dessas ervas... – a velha respondeu, batendo de leve na vasilha que utilizara para despejar o líquido no tanque. – ...logo a sua alma vai deixar o seu corpo.

A velha se aproximou do tanque, sorrindo cada vez mais.

— Vamos, menina, devolva a alma da Kikyo!

E como se respondendo a ordem, o líquido passou a brilhar, aquecendo o corpo da garota de um modo desconfortável. Travou os dentes com força para não gemer de dor.

— Mas que droga de menina, ela já deveria estar totalmente inconsciente! – resmungou observando Kagome lutar contra seu feitiço. Quando mais tempo passasse, maior seria a dor que ela sentiria e a velha tinha medo de que, vendo a força de vontade da menina, o processo acabasse destruindo a alma que tanto desejava.

Um pequeno brilho rosado surgiu de repente, na região de uma das coxas da garota. A yokai voltou sua atenção para lá e percebendo do que se tratava arregalou os olhos.

— Você está com um fragmento da joia! Mas que sorte a minha! Me entregue! – exclamou excitada, estendendo a mão em direção ao local, mas foi repelida por uma explosão luminosa, quando o pequeno brilho se expandiu, reagindo a sua aproximação.

O brilho cobriu Kagome.

Era como se ela estivesse na banheira de casa: a água morna, não mais a machucava, ao contrário relaxava seus músculos; o cheiros de ervas nublava sua mente; nenhum som a incomodava. Ainda assim mantinha os olhos bem abertos. Via a redoma que a joia tinha criado em volta do tanque, protegendo-a.

Kikyo estava sentada, recostada à montanha, alheia a tudo. A velha mantinha-se próxima da redoma, parecia irritada e gritava algo que a garota não conseguia ouvir. Pessoas se aproximaram. Eram seus companheiros, sentiu alegria de vê-los vivos, mas algo ruim reagiu a visão de Inuyasha.

— É a… – A voz de Inuyasha inundou seus sentidos, amplificada em meio ao silêncio provocado pela redoma. Sabia que não era coincidência que só pudesse ouvir apenas a voz dele e entendeu o motivo quando ele sussurrou, mas que para ela foi como se tivesse gritado. – Kikyo…

A redoma mudou de forma, transformou-se em um redemoinho. O silêncio tinha sido substituído pelas gargalhadas da yokai, mas sua mente não conseguia assimilar um significado para aquilo. Esforçava-se para manter sua mente consigo, pois de algum modo estranho sentia que ela queria fugir de si.

— Kagome!

O grito de Inuyasha foi como um choque em seu corpo. A água morna aqueceu ainda mais, sua mente girou e apesar de ainda estar com os olhos abertos não conseguia enxergar mais nada. O mundo era uma tela em branco e, novamente, totalmente silencioso.

— Kagome!

O choque reapareceu, dessa vez com maior potência, causando espasmos em seu corpo.

Quando finalmente voltou a si, Inuyasha estava a sua frente, sorrindo de uma maneira doce que nunca pensaria que o hanyo pudesse expressar. Ouviu-se dizendo, em uma voz estranha que não parecia em nada com a sua:

— Se você desejar ser humano, eu deixaria de ser uma sacerdotisa e poderia viver apenas como uma mulher.

O sentimento que a tomou era completamente novo: sentia que entendia completamente o meio-yokai, que confiava sua vida a ele, que era a única pessoa nesse mundo que a aceitaria do jeito que ela era, do jeito que ela queria ser.

Doía. Naquele momento ela amava tanto Inuyasha que sentia seu peito doer.

Recostou-se nele, sentindo-o apoiar o queixo em sua cabeça e abraçar sua cintura, trazendo-a para mais perto dele. O sorriso e a voz que saíram de sua boca não eram conscientes. Kagome ainda tentava digerir a quantidade de sentimentos por Inuyasha dentro de si, mas tinha percebido, vagamente, que não possuía controle daquele corpo, que mais e mais sentia que não era o seu.

— Porderíamos viver juntos. Eu poderia ser sua.

Kagome teria arregalado os olhos se estivesse no controle daquele corpo, mas ao contrário, viu-se deitar a cabeça no ombro do hanyo permitindo que ele beijasse seu pescoço.

O que está acontecendo?!

Por mais que gritasse mentalmente, não era respondida. Sentia, via e ouvia coisas que não deveria. Participava de um momento íntimo que não era seu e que não gostaria de saber que tinha ocorrido.

— Kikyo...

O arrepio que sentiu não tinha nada de inocente. Não sabia se Kikyo também sentira aquilo, mas com horror percebeu o que aquilo significava.

Por favor…

Queria chorar. Tentou se debater para sair daquele corpo; não suportaria mais.

Por favor…

Não sabia a quem implorava, ela só queria voltar para o corpo dela.

Sem saber exatamente como aconteceu a mudança, via, presa dentro do corpo de Kikyo, um Inuyasha com as garras manchadas com o seu [de Kikyo] sangue, sorrindo debochadamente.

Não é o Inuyasha! pensou com surpresa pela convicção.

Aquele sorriso maldoso nunca poderia ter vindo de Inuyasha, não depois de todo o amor que sentira vindo dele momentos antes. Apesar disso viu-se odiando o meio-yokai, sabendo que era reflexo do que a dona do corpo realmente sentia. Um ódio venenoso.

ORGULHO FERIDO

DESTRUIR

TOLA

DOR

DESCULPA DE SACERDOTISA

DOR

ÓDIO

MATAR

A mente de Kikyo, e consequentemente a de Kagome, pedia reparação, transformando tudo de bom que a sacerdotisa sentia e esperava de Inuyasha em algo tão pesado e feio que deixou a colegial enjoada.

Novamente a cena mudou, dessa vez para o momento em que Kikyo lacrou Inuyasha na árvore.

COMO SE ATREVE A OLHAR PARA MIM ASSIM

MENTIROSO

TE ODEIO

HANYO MENTIROSO

ODEIO

MENTIROSO

O rosto surpreso de Inuyasha era um misto de decepção e tristeza.

— O que… Kikyo?

Não foi ele! Kagome gritou para a sacerdotisa sabendo que não seria ouvida.

— Kagome!

A cena se dissolveu assim que a voz do hanyo atingiu seus sentidos. O ódio que sentiu foi mais forte que o choque. Não entendia de onde vinha aquilo, parecia que tinha vontade própria.

MATAR

ODEIO

MENTIROSO

MATAR

MENTIROSO

Kagome apertou o peito e gritou como se sua vida dependesse disso, tentando segurar aquilo dentro de si. Sentia garras rasgando seu corpo de dentro para fora, seu peito querendo explodir pela pressão.

— Kagome!

O desespero naquele grito deu nova força ao que quer que tentava sair do corpo da garota. Kagome via o mundo novamente em branco, mas sentia algo rasgá-la ao meio e sua mente ser quebrada em pedaços.

Que bom pensou aliviada. Estou morrendo, a dor vai acabar.

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Ela viu novamente a cena em que Kikyo lacrava Inuyasha, mas algo estava diferente. Não existia árvore alguma… E por que Shippo e Kaede gritavam para impedir que Kikyo atirasse?

Sem pensar muito no que estava fazendo, levantou cambaleante e se jogou no meio dos dois, no momento em que Kikyo tinha atirado com sua flecha espiritual. A flecha atingiu Kagome no peito, mas ela não sentiu nada.

Estou morta.

— Você é cega – murmurou com dificuldade, dando um passo em direção a uma Kikyo chocada. – Você é cega e eu sinto pena de Inuyasha por amar você.

Seu corpo congelou e ela tombou para frente, morta para o mundo.

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