Três dias foi o que havia se passado desde aquele beijo que Bernardo me deu. Desde então, ele me ignorou totalmente, e eu o ignorava também. Não contei a ninguém, não queria ser outra das amantes mortas do sultão de mil e uma noites. Agora eu tinha certeza que os boatos que Bruna me contou eram verdadeiros. Sentia-me usada e burra, mas não conseguia ignorar que aquele beijo mexeu comigo. Mesmo ele sendo arrogante, irritante e grosso eu me sentia muito atraída por ele.

Mudei de lugar, agora sentava na frente, o mais perto do professor que era possível, era a única forma de prestar atenção. Já havia perdido as esperanças de ele falar comigo novamente. Hoje de manhã, quando ele saiu da sala, provavelmente beber água enquanto o professor não chegava, devolvi o presente que ele me dera o deixando em sua carteira. Eu havia adorado, e relutei muito em fazer isso, contudo queria mostrar que eu não estava caída de amores por ele e guardar aquela lembrança do dia que ele me beijou para o resto da vida, apesar de no fundo querer fazer isso.

Estava saindo para o recreio quando Bernardo se colocou em minha frente

–poderia me acompanhar?

Resisti ao impulso de dizer não, afinal queria ouvir uma explicação para tudo, e acima de tudo queria uma chance para revidar o que ele fez comigo, coisa que eu não consegui fazer na hora

Fomos até um pequeno jardim aonde ninguém nunca ia. Quando chegamos ele parou na minha frente me encarando. Antes que ele pudesse falar algo dei um tapa em seu rosto

–Isso é por ter feito aquilo, onde você estava com a cabeça?

Ele ficou com o rosto parado na mesma posição que o tapa o deixou, e eu fingia ignorar a dor na palma de minha mão

–me desculpe por aquilo, por sair sem falar nada claro, entendo que não foi muito educado, mas precisava saber se você não me usaria para ascender socialmente nessa escola.

–o que? Você acha mesmo que eu estou aqui me matando de estudar para ser popularzinha? Eu nem deveria estar falando com você, só vim por que queria muito revidar, afinal não se beija uma garota do nada, muito menos sai andando como se nada houvesse acontecido! Não preciso de distrações esse ano, então, por favor, ache outro brinquedo para você! Com licença- disse me dirigindo a porta

–Espere isso é seu- disse ele mostrando o presente que eu havia devolvido- agora posso confiar em você, quer namorar comigo?

–eu nem te conheço!

Sai e me tranquei no banheiro antes que eu voltasse e dissesse sim. Qual era o problema dele? E o meu problema? Por que eu gostava de tipos como ele? Por que ele tinha que ser tão irresistível?

Quando tocou o sinal me dirigi à sala com a menor velocidade possível, o quanto não foi minha surpresa quando o vi sentado na carteira ao meu lado. Isso não estava acontecendo! Fingi não estar abalada e sentei em minha cadeira ignorando-o.

Não soltamos uma palavra durante as aulas, eu fingia estar concentrada em fazer anotações enquanto ele me encarava, sentia que a qualquer momento iria explodir, mas era isso que ele queria.

–você poderia me emprestar uma caneta?- ele perguntou

Encima da cadeira dele havia três, aquele pedido só poderia ser para me alfinetar, não iria dar esse gostinho a ele, então peguei uma caneta de meu estojo e a emprestei.

No almoço qual não foi minha surpresa ao ele sentar na minha mesa com Bruna, Thiago e Vanessa. Nenhum de nós entendeu nada, Bernardo não disse uma palavra, almoçava como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Ficamos um tempo o observando até que Vanessa perguntou cochichando em meu ouvido:

–ok, o que ele faz aqui?

–faço a mínima ideia-respondi

–Mel, não me diga que isso tem a ver sobre você ter perguntado sobre ele para mim não é?- falou Bruna, quis mata-la por ela dizer que eu perguntei sobre ele em sua frente, mas ele não teve nenhuma reação

–um pouco, mas não é o que você deve estar pensando! Eu não sei do porquê de ele estar aqui!

–hey! Bernardo, como vai?- perguntou Thiago tentando ser simpático

Bernardo simplesmente olhou para Thiago e ignorou sua pergunta voltando a comer

–ok, isso está muito estranho- soltou Vanessa

–será que ele está tentando se aproximar das pessoas de novo?- cochichou Bruna

–Bernardo, sem querer ser indelicada, nada contra, mas o que você está tentando fazer almoçando conosco?-perguntei

–você disse que não me conhecia, estamos nos conhecendo agora

Ele voltou a comer, fiquei vermelha Thiago, Vanessa e Bruna me olhavam como se tivessem perdido algo, dei um risinho inocente somente para eles e me concentrei no meu almoço fingindo que não fazia ideia do que eles queriam saber.

Assim que terminamos o almoço e cada um foi para um lado pedi que Bernardo me seguisse

–Qual a parte de que esse ano não preciso de distrações você perdeu? Tenho certeza que amanhã quando me pegarem longe de você farão um interrogatório completo comigo!

–você quem disse que não me conhecia

–achei que você não queria que eu te usasse para “ascender socialmente” o que você acha que vai acontecer se você começar a me seguir a todo lugar?

–o problema não é você ascender, e sim me usar, mas agora sei que você gosta de mim mesmo. Só precisa admitir!

–pode parando e dizendo qual é sua verdadeira intenção com isso tudo

–quero ter algo sério com você- ele se aproximava de mim

–você não me conhece, como pode...?

–você estuda para passar em medicina, mas o que queria mesmo é ir para as artes, roteirista, acertei? É uma otome, mas parou de assistir anime quando começou a estudar firme, adora ler, cantar, dançar, é insegura, meiga, não consegue dizer não...

–chega! Você está me assustando! Como sabe de tudo isso?

–por que você é perfeita- ele pegou meu pulso e tirou do bolso a pulseira com a ferradura- começamos com o pé esquerdo, que tal tentar novamente?