–Gloss! Não! Não! Não!- berro e tento me mover. Minhas pernas estão presas no chão de concreto. Os bestantes continuam a dilacera-lo. Não! Isso não podia estar acontecendo!

Gloss grita meu nome e clama por ajuda. Faço o possível e o impossível para mover meus pés, mas estou enterrada até as canelas no cimento. Seus gritos ficam mais e mais altos e lagrimas pingam de minha face cada vez mais acidas. Caio de joelhos.

Alguém se aproxima, grito para que socorra Gloss, mas a pessoa apenas observa a terrível cena. A figura se aproxima de mim e eu a identifico em um espanto.

O garoto do 9 esta parado a minha frente, ainda com minha faca cravada em sua testa e o sangue seco em grande parte de seu rosto.

–Ola Mavra. Achou que eu ia deixar minha morte por pouco? – ele solta uma risada e me encara novamente – aposto que nem sabe o nome da sua vitima não é? – soluço em resposta, os gritos de Gloss me deixam ainda mais apavorada – Meu nome é Calvin. Não esqueça meu nome. A partir de hoje, você nunca mais vai ter a possibilidade de me esquecer.

Ele retira a faca de sua testa e a aproxima de minha face. Sinto um corte se formando em minha bochecha direita e o sangue correndo logo em seguida. Ele repete o processo na bochecha esquerda e em minha testa.

Ao perceber que a dor física não me incomoda, ele se afasta e caminha em direção ao Gloss. Com um aceno de mão dele os bestantes se afastam. Gloss esta caído e mutilado, mas visivelmente ainda respirando. Ele olha para mim e esboça um sorriso.

– Sinto muito minha pequena – Calvin levanta sua cabeça deixando o pescoço ensanguentado à mostra e posiciona a faca – não olhe minha linda, não olhe.

Não consigo desviar o olhar, sinto minhas bochechas arderem assim que minhas lagrimas entram em contato com os cortes. Calvin em um movimento rápido corta a garganta de Gloss, que cai morto aos seus pés.

–NÃO! – grito entre meus soluços – NÃO MORRE! NÃO ME DEIXA AQUI! Não...- meus gritos viram um murmúrio triste.

– Não chore minha querida! Você não chorou quando matou aqueles tributos não é? Não chore agora, você ainda terá muitos motivos para chorar. E eu te proporcionarei cada um deles.

Acordo suando frio, levanto-me como reflexo e empunho minha espada que estava próxima a mim, analiso tudo ao meu redor. Henry me olha espantado, deve ser sua vez de fazer vigia. Não só ele com Cameron e Ângelo me olham assustados. Deixo-me cair sentada e esfrego meus olhos com as costas das mão.

Gloss está vivo e bem. Foi só um sonho. Bem realista devo dizer. Mas só um sonho.

Alguém senta ao meu lado e me espanto ao notar que essa pessoa é Cameron.

– Oque foi Mavra? Tá tudo bem? – ele parece preocupado, mas sei que ela não é real.

– Estou... foi só um pesadelo.

– Hum Ok, se precisar é só chamar.

– Claro, valeu – ele se levanta e se afasta, deito-me novamente sem largar minha espada. Fico deitada por um tempo e percebo que se voltar a dormir terei pesadelos novamente. Levanto-me e sigo para perto da janela. Pego meu arco e fico em posição de vigia.

– Hey! Oque esta fazendo? Vá dormir, não é sua hora de montar guarda- me diz Henry. Não era necessário ouvir sua voz à uma hora dessas. Mau humor do dia, confere.

– Eu sei, mas não vou conseguir mais dormir e falta um pouco mais de hora para amanhecer, se quiserem aproveitar para dormir mais um pouco vão, fico de guarda no lugar de vocês.

– Por mim beleza – diz Ângelo e volta para sua “cama”, Henry apenas concorda e volta deitar-se também. Cameron porem me encara e se aproxima. Coloca a mão em meu ombro e eu tenho vontade de mata-lo aqui e agora. Essa aliança esta muito grande mesmo.

– Tem certeza? Você vai ficar bem mesmo descansando tão pouco?- Qual é o problema dessas pessoas heim? Por que fingir preocupação? Isso esta me deixando nervosa! – Quer conversar ou que eu monte guarda com você?

–Não –digo seca, curta e grossa.

– Tem certeza? – ele me olha esperançoso. MAS OQUE? QUAL O PROBLEMA DESSA CRIATURA BIPEDE?

– Absoluta – rosno entre dentes. Ele percebe minha irritação e volta a dormir como os outros.

Depois disso, apenas continuo a acompanhar a lenta movimentação da lua. Pergunto-me se ela é real ou uma projeção dos idealizadores. Se for, como estará lá fora? É realmente de noite ou será que já estaria claro? Não sei. Gostaria de saber.

Começo a pensar no sonho, ou melhor dizendo pesadelo, que tive. Foi simplesmente real demais, assustador demais. Algo nisso está me deixando louca!

Afasto isso de minha cabeça e passo a pensar na conversa que tive com Sunny ontem a noite e em como ela possui um lado macabro que eu não conhecia, percebo a confusão que fiz. DROGA! Minha estrategia foi por água a baixo! DROGA! DROGA! DROGA!

Calma Mavra! Calma... Em tudo se pode dar um jeito... Você não vai matar Henry, mas a estrategia ainda pode dar certo, só não vai perdurar o quanto você queria, falo a mim mesma, você pode fazer dar certo... você pode.

Realmente eu fiquei loca! Alem de molenga! Tenho que parar com essas besteiras...

Depois de algum bom tempo mergulhada em meus pensamentos, percebo que o dia começa a clarear e observo o sol nascendo em tons de vermelho, laranja e amarelo, e a noite estrelada desaparecendo lentamente.

Mais um dia começa. Mais uma caçada se inicia. Mais almas irão deixar seus corpos. Mais remorso cresceria em nossos peitos. Mas próxima a vitoria está de mim.

Vamos lá. Espero que a capital já esteja preparando minha coroa, não pretendo demorar a usa-lá.