Logo em seguida Stiru se retirou da mansão junto com o Trunks adulto e a sua versão infantil. Vegeta continuava inerte e inexpressivo enquanto Bulma se sentia com as mãos completamente atadas. A cientista deixou-se cair desolada no sofá.

― O que vou fazer agora...? O que aquele maluco vai fazer com os dois? Eu não pude fazer nada pra evitar... Nada... E agora?

Quando resolveu procurar por Vegeta, este havia sumido.

Agora ele se tornara um completo inútil, pensou. Por que ele não acabou ali mesmo com a fanfarrice do tal Dr. Stiru? Inútil! Inútil! Covarde! Tornara-se um covarde que agora fugia de tudo quanto era luta! Tinha vontade de chorar mas ao mesmo tempo sentia raiva. Por que ele agia assim? Será que ele ainda não havia percebido que ela também sofria por isso?

Bulma procurou se acalmar e voltou ao seu quarto, resoluta em dizer algumas “verdades” a Vegeta. Mas ao adentrar o quarto viu a luz acesa e, no chão, as roupas que Vegeta usava; viu a janela aberta por onde soprava uma brisa noturna. Sem pensar duas vezes, abriu o armário e verificou o estojo de cápsulas que costumava ficar nele. Esperava alguma desorganização, mas sabia que, quando queria, o saiyajin sabia ser organizado. Pegou logo uma das cápsulas e jogou no chão, onde apareceu uma caixa branca. Abriu a caixa e checou seu conteúdo. Nela ficavam os trajes que ele costumava usar para treinar ou lutar. Logo descobriu que faltava algo: faltava um traje completo.

*

― É, meu rapaz... – disse Stiru. – Acho que aquele baixinho não vai aparecer. Pelo jeito ele não vai aceitar meu desafio.

― Se eu fosse você engoliria tudo o que disse.

Vegeta acabava de chegar ao descampado onde havia sido combinado o desafio.

― Ora, ora... Se não é o tampinha que vimos agora pouco na mansão... Pensei que você estava borrando as calças de medo.

― Não é um verme como você que vai me meter medo. – o saiyajin ajeitava melhor a luva branca da mão direita enquanto dava, depois de muito tempo, seu típico sorriso sarcástico. – Confesso que tentei resistir, mas sua oferta me soou tentadora.

Stiru apertou um botão de seu controle, fazendo com que o jovem Trunks ficasse frente a frente com Vegeta, que o encarou mais detidamente. As feições do jovem lembravam cada vez mais as suas. Seu olhar frio e rosto impassível o perturbavam de alguma forma.

Tal pai, tal filho.

Por que estava lá, se havia desistido de lutar? Bom, apenas pensava que era capaz de desistir de lutar. Passou dias tentando resistir aos seus instintos saiyajins e, por consequência, tentava negar seu sangue e sua própria identidade. Estava tentando negar a si mesmo e tinha medo de continuar a lutar, de continuar sendo ele mesmo. Agia como covarde, pois estava cansado de ser humilhado e deixado para trás. E desde que Goku morrera, havia perdido toda a motivação que possuía para lutar, pois até então a sua razão de se dedicar tanto aos treinos era a sua revanche que nunca mais iria acontecer. Queria mostrar sua superioridade derrotando seu maior rival. Porém, isso tudo acabou sendo frustrado.

Mas, quando Stiru saiu da mansão, foi capaz de ver a desolação estampada no rosto de Bulma, o que o fez se sentir culpado. E assim sua ficha finalmente caiu, pois estava agindo como um completo idiota. Era hora de aceitar os fatos: Vegeta era saiyajin, um guerreiro por natureza. As lutas sempre estariam em seu sangue.

Desistir? Essa palavra nunca constara antes em seu dicionário. Por que constaria agora?

Pôs-se em posição de luta, envergando seu traje favorito. Fazia questão de usar seu uniforme azul, a armadura branca, as luvas e as botas. Depois de algumas reflexões, uma conclusão: Kakarotto que fosse ao inferno! Era besteira ficar lamentando por uma revanche já perdida antes mesmo de acontecer. O negócio agora era com aquele sujeito metido a cientista louco que estava com Trunks. Os dois Trunks. Para completar, teria que enfrentar um deles e seria páreo duro devido aos vários dias sem treino. Seria um desafio e tanto. Mas um príncipe saiyajin que se preze sempre seria apaixonado por desafios.

Por que ele queria mesmo renegar seu sangue? Nem ele se lembrava ao certo. Mas de uma coisa tinha total certeza: de que estava fazendo uma grande burrada, e precisava pará-la enquanto era tempo. Vegeta, o príncipe dos saiyajins, deixando de ser um guerreiro? Sorriu ante a ideia estúpida de renegar seus instintos de guerreiro nato. Que estupidez...! Logo vindo dele, que sempre fora tão astuto e sagaz...

Ou também queria impressionar a terráquea?

Não dava para negar, perto dela acabava agindo sempre como um grande pateta, só pagando mico atrás de mico. Mas era a única pessoa capaz de fazê-lo se sentir bem. Podia-se dizer que era uma “retribuição disfarçada” de sua parte. Oras, aquela mulher não era uma qualquer, ela o aceitava tal como era, e o mínimo que deveria fazer por ela era protegê-la e à sua prole. E ninguém iria tocar em um fio de cabelo de nenhum deles para fazer-lhes mal!

Começou a lembrar que fazia um tempo que estava afastado de Bulma. Mas isso no momento não vinha ao caso. Primeiro iria acertar algumas coisinhas ali, depois resolveria com ela.

Seu sangue voltava a fervilhar como nunca. O simples fato de estar em posição de combate já o deixava louco para ir ao ataque. Uma das coisas que o fazia se sentir muito bem era lutar. Os olhos negros já não eram mais distantes. Tinham um foco definido e brilhavam como se neles houvesse uma forte chama que voltava a inflamar, mesmo depois de ser quase apagada. Seu sorriso irônico era um convite ao combate, externando seu mais profundo instinto guerreiro. Seus músculos retesados estavam prontos para qualquer manobra de seu adversário, fosse um ataque ou uma defesa.

Estava mais do que pronto para encarar aquela luta.

Stiru acionou um comando em seu controle e com isso Trunks se posicionou para lutar também. Com um sorriso desafiador perguntou a Vegeta:

― Tem certeza de que vai aceitar meu desafio?

O saiyajin não titubeou:

― Mas é claro!

Diante disso, o cientista ordenou:

― Lute, meu jovem... Lute com todas as suas forças!

Foi o suficiente para que Trunks se transformasse instantaneamente em Super Saiyajin e partisse logo para o ataque. Vegeta, também já na forma Super Saiyajin, já estava pronto para receber o ataque: um potente soco prontamente bloqueado.

Pela força do golpe bloqueado, pressentia que esse combate seria mais difícil do que supunha antes.