O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 21
Sentimento de culpa


Notas iniciais do capítulo

Um acidente. Uma vítima. Um culpado. Uma verdade.Yamcha, por fim, admitirá a derrota. Mas, a que custo?



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Capítulo 21

Sentimento de culpa

 

 

Estava só. Só e isolado, na imensidão de um árido deserto. Era um lobo que regressava ao seu habitat de origem. Um lobo que havia fugido da cidade por um grande erro que havia cometido.

 

E dessa vez fora um erro grave, pelo menos pra ele.

 

Havia provocado um acidente. Um acidente que havia ferido quem ele menos queria.

 

 

“Eu... Eu vou te matar...! Mas não sem antes te torturar bem lentamente, verme desgraçado...! Entendeu?! VOCÊ VAI PAGAR MUITO CARO POR ISSO!”

 

 

A ameaça assustadora de Vegeta ainda assombrava sua mente, deixando-o ainda mais culpado do que ocorrera. Diante de tal ameaça, se viu obrigado a fugir da forma mais covarde possível, a fim de poupar sua própria vida.

 

Mas, pensando melhor, deveria ter ficado por lá mesmo e ter morrido nas mãos de um saiyajin furioso. Era muito melhor do que estar ali, sendo consumido pelo sentimento de culpa que tinha dentro de si.

 

Por que não admitira a derrota, antes que aquilo acontecesse? Sabia que havia perdido, mas por que simplesmente não aceitava que era o perdedor da disputa por Bulma?

 

Todos aqueles pensamentos o atormentavam sem parar. Pareciam ter dedos acusadores apontados para ele. Não bastava ter ferido Bulma emocionalmente, agora a ferira fisicamente, também.

 

Sentia-se mal com isso, a sua consciência ficava cada vez mais pesada, a cada vez que se lembrava do ocorrido.

 

 

- Você... Você ficou louca, Bulma...?

 

- Claro que não, Yamcha! Agora sou livre pra escolher quem eu quiser, não é mesmo?

 

- Mas não um alienígena assassino e desalmado como o Vegeta!

 

- Pelo menos, ele não fica posando de garanhão com qualquer perua inútil que vê pela frente, igual você!

 

- Eu só procurei outra porque você não me dava atenção! Esqueceu que sou um homem, e que tenho as minhas necessidades? Eu me matava pra te agradar ultimamente, mas você... Você ficava às voltas com manutenções da nave desse lunático!

 

- Para de jogar isso na minha cara, Yamcha! Você sabe muito bem que é mentira, e que na verdade você não resiste a um rabo de saia! Você não passa de um mulherengo de marca maior!! – as lágrimas começaram a surgir nos olhos azuis. – Você não passa de um grande traidor, me enganando e me enrolando durante todo esse tempo! Não bastasse isso, ainda tem a cara de pau de dizer que eu é que tô te sacaneando?! Depois disso, ainda tem a coragem de dizer que ainda sou SUA??

 

Bulma pausou para enxugar as lágrimas que escorriam pelo rosto. Depois disso, disse:

 

- Desaparece daqui, Yamcha... Desaparece daqui... Você tá me machucando...!

 

Yamcha não se moveu, continuou a encará-la com raiva. Como ela era capaz de beijar aquele saiyajin bastardo na sua frente? Poderia até aceitar que ela procurasse outro, MAS NÃO AQUELE SAIYAJIN!! Aquilo já era demais, era inadmissível!!

 

- Só saio daqui se você parar com essa loucura de querer ficar com o Vegeta. Não quero que volte pra mim, só quero o seu bem... FICA LONGE DESSE ASSASSINO! Ele ainda vai te machucar mais do que eu!

 

- Não é você quem decide com quem vou ficar ou não, Yamcha... Agora, faça o favor de desaparecer daqui!

 

O ex-ladrão não se moveu.

 

- Não ouviu o que ela disse? – Vegeta rompeu o silêncio. – Desaparece daqui!

 

O lobo do deserto agarrou o saiyajin pela gola do uniforme.

 

- Nem morto eu saio daqui.

 

O guerreiro expandiu seu ki, sem se importar com a força de seu oponente. A raiva que tinha dentro de si o deixava cego para perceber essas coisas. Com a mão livre, ameaçava desferir um soco contra o rosto do saiyajin.

 

Em volta dos dois, as coisas do laboratório começaram a flutuar e o reboco das paredes, a trincar.

 

- Yamcha, para com isso! – Bulma disse ao se aproximar deles. – Vocês dois vão destruir o laboratório!!

 

- Cale a boca!! – ele disse.

 

Yamcha deu um forte empurrão na cientista, que acabou batendo com as costas contra uma das estantes cheias de ferramentas, amostras de metais e circuitos eletrônicos. A estante e os objetos caíram sobre ela, que não teve tempo de escapar.

 

Os dois guerreiros ficaram paralisados após ouvirem o barulhão que se fez na hora.

 

- Bulma! – os dois disseram ao mesmo tempo.

 

Vegeta teve reação imediata. Soltou-se do agarre de Yamcha, que continuava paralisado, e foi ao monte de coisas que caíram no chão. Tirou Bulma – que estava inconsciente – de debaixo da pilha e viu algo escuro por baixo da franja azul-turquesa começando a escorrer pela testa, indo rumo ao delicado rosto. Passou a mão enluvada e encontrou nos dedos uma mancha vermelha de...

 

- Sangue...? – o saiyajin estava atônito.

 

Vegeta nunca a vira ferida como estava no momento. Nunca a havia visto sangrando. Se fosse ele a ter sido atingido, não sofreria nenhum dano. O que comprovava para ele que Bulma era mais frágil do que se pensava, por trás de toda aquela pose e de suas bravatas.

 

Mas tudo aquilo tinha um culpado. Um único culpado.

 

O ki do saiyajin aumentou involuntariamente, fazendo com que uma forte aura branca surgisse à sua volta. Estava furioso, extremamente furioso. Chegava a dar até seu típico rosnado de raiva.

 

- Desgraçado...! – rugiu.

 

Dirigiu seu olhar penetrante e repleto de ódio para o endereço certo: Yamcha.

 

O ex-ladrão logo ficou aterrorizado, pois conseguia enxergar o ódio naquele olhar. E, como naquela noite em que ele tentou reconquistar Bulma, os olhos do príncipe saiyajin, ao invés de negros, pareciam verdes. Verdes como os olhos de Goku, quando se transformava em Super Saiyajin.

 

Será que isso era verdade, ou era sua mente apavorada pregando-lhe uma peça?

 

Vegeta não se levantou. Permaneceu agachado, segurando Bulma com a mão esquerda. Tentava se controlar pra não piorar as coisas.

 

- Está vendo isto, verme? – mostrou para Yamcha a mão direita enluvada com os dedos manchados de vermelho. – Isto é o sangue dela. Este é o sangue que você arrancou dela... E vou arrancar bem mais do que isto de você...!

 

O outro guerreiro ainda estava imóvel. O saiyajin prosseguiu:

 

- Você adora me esculhambar, alegando que eu sou um assassino sem coração, mas... Desde que cheguei de Namekusei, não feri um vermezinho sequer deste planeta... E você...? – encarou-o, ainda tentando se controlar. – Desde que passei a ficar aqui, só te vi fazendo besteiras e mais besteiras, e ferindo a Bulma de tudo quanto é maneira! E agora, chega a isso! Você não passa de um verme rastejante e asqueroso, que se acha um santo, mas é ainda pior do que eu!!

 

Yamcha continuava aterrorizado, porque sentia que o ki de Vegeta começava a aumentar para níveis assustadores. Mas não conseguia se mexer. Estava congelado de pavor pra poder fugir dali.

 

O saiyajin abriu a mão direita e apontou para o ex-ladrão. Era evidente, pela expressão de seu rosto, que estava tomado pela fúria e não hesitaria em matá-lo.

 

- Eu... Eu vou te matar...! – disse. – Mas não sem antes te torturar bem lentamente, verme desgraçado...! Entendeu?! VOCÊ VAI PAGAR MUITO CARO POR ISSO!

 

No entanto, Vegeta percebeu que mais uma trinca surgia na parede do laboratório. Com muito trabalho, retomou seu autocontrole, mas não deixou de encarar o outro guerreiro.

 

Yamcha viu que os olhos dele pareciam voltar à cor negra... Se é que tinham ficado realmente verdes. Mas ainda via no olhar dele aquele mesmo brilho assassino.

 

- N-Não... – ele balbuciou. – Eu... Eu não queria feri-la... Eu não queria feri-la assim... Eu não queria...

 

Assim, ele saiu voando quando suas pernas permitiram. Saiu voando com apenas um destino certo: o deserto.

 

 

E era no deserto onde ele estava agora, sozinho com seu sentimento de culpa.

 

- O que eu fiz...? Vegeta tem razão... Sou pior do que ele...! Eu consegui ferir a Bulma...! Sou um grande idiota...!

 

 

*

 

 

Desceu na sacada e olhou pelo vidro para dentro do quarto de Bulma. Ela estava deitada na cama, ainda desacordada – ele constatou. Seu ki ainda estava fraco, ela ainda parecia inconsciente.

 

Escondeu sua presença, pois sentiu ali perto dela uma grande fonte de energia, facilmente reconhecível. Era Vegeta. Estranhava a atitude do saiyajin ultimamente. Parecia querer proteger Bulma, tanto é que mataria o ex-ladrão se não se controlasse.

 

O remorso ainda o comia por dentro. Se tivesse aceitado a derrota, se tivesse se controlado, se não tivesse empurrado a Bulma... Não se sentiria tão mal, como estava se sentindo agora.

 

Um imenso nó se formava em sua garganta e os olhos começavam a arder. Era a pior sensação que já tivera. O remorso doía muito, e sua consciência o mandava ir até ela pedir desculpas por sua atitude patética.

 

Suspirou, a fim de não desabar justo agora. Amanhecia, então decidiu sair dali, antes que fosse percebido.

 

Voltaria depois, assim que soubesse que ela despertaria.

 

 

*

 

 

A caminho do prédio onde ficava seu apartamento, Yamcha encontrou uma latinha vazia de refrigerante e começou a chutá-la, enquanto andava.

 

- Ei, rapaz! – uma voz o chamava. – Venha cá!

 

- Eu?

 

- Sim, você mesmo! Não gostaria de ver seu futuro?

 

- A senhora é vidente?

 

- Sou, sim, jovem Yamcha.

 

Sim, aquela velhinha era vidente. Havia adivinhado seu nome, que não era lá muito comum.

 

- Bom, parece que você anda cheio de remorso... Não deveria se torturar tanto, meu jovem... Principalmente porque a garota que você namorava já encontrou sua alma gêmea...

 

- Alma gêmea?

 

- Sim, meu jovem. Ela encontrou a sua metade... O estrangeiro.

 

- Estrangeiro?

 

- Sim. O seu rival, que vive sob o mesmo teto que ela. Ele tem um forte instinto de proteção a ser desenvolvido.

 

Yamcha logo se lembrou do incidente no laboratório.

 

 

“Está vendo isto, verme? Isto é o sangue dela. Este é o sangue que você arrancou dela... E vou arrancar bem mais do que isto de você...!”

 

“Eu... Eu vou te matar...! Mas não sem antes te torturar bem lentamente, verme desgraçado...! Entendeu?! VOCÊ VAI PAGAR MUITO CARO POR ISSO!”

 

 

Sim, claro... Agora tudo estava explicado... Vegeta, mesmo não admitindo abertamente, gostava de Bulma... Só Yamcha, cego, que não percebia algo tão evidente!

 

- A bola de cristal não mente, rapaz. – a vidente lhe disse. – Eles estão destinados um ao outro, embora as aparências enganem. E infelizmente você não pode mudar isso, você e ela nunca dariam certo, vai por mim...

 

O ex-ladrão se mostrou decepcionado com tal revelação.

 

- Mas não fique assim... Quando tudo se acalmar, vá até lá e acerte as coisas... Levará algum tempo, mas o ressentimento dela vai passar. Confie em mim. Mas não sofra assim, será muito pior, principalmente pra você.

 

Yamcha resolveu acreditar na vidente. Sentia que tudo o que ela dizia era verdade. Mesmo com uma revelação de que não conseguiria mais reconquistar Bulma, sentia-se melhor. Parte de sua angústia já tinha desaparecido.

 

Agora já não era tão doloroso aceitar a derrota. Bastava aceitá-la abertamente. O destino trabalhava contra ele e seu concorrente era poderoso demais para ser enfrentado.

 

Não tinha mais forças para enfrentar nem um, nem outro.

 

- Obrigado, senhora. – Yamcha disse ainda chateado. – Eu lhe devo quanto?

 

- Não me deve nada, jovem Yamcha... Encare o que fiz como uma ajuda para o seu coração ferido. Ele está doendo agora em você, mas essa dor vai passar logo. E a sua ex-namorada é uma boa pessoa. Dê um tempo para ela apagar os ressentimentos em relação a você, e assim poderá até conversar com ela, sem sentir o que está sentindo agora. Em breve, você poderá ser perdoado.

 

Aquelas palavras da vidente conseguiram encorajá-lo e até fazê-lo dar um leve sorriso.

 

- Siga seu caminho de cabeça erguida, meu jovem... – ela disse sorrindo. – Você é um bom rapaz.

 

O ex-ladrão agradeceu mais uma vez e se despediu da vidente. Foi até o apartamento e fez a mala. Iria passar o fim de semana na casa do Mestre Kame e treinar com Kulilin, a fim de tentar esquecer, por alguns momentos, o último incidente.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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