Surrender escrita por Mare Waters


Capítulo 1
Sexy Silk




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/519910/chapter/1

O sol brilhava no céu límpido da Califórnia. As folhas das palmeiras se agitavam com o vento, enquanto cabelos longos esvoaçavam para todos os lados. Eu observava tudo aquilo por trás dos óculos escuros que usava, enquanto ouvia o barulho do som alto preenchendo o ambiente, deitada em uma espreguiçadeira, tentando pegar alguma cor antes que as aulas voltassem.

― Ei, Ellie, o que você está fazendo parada aí? - gritou alguém.

Mesmo sem abrir os olhos, saberia quem era. Poderia reconhecê-lo mesmo se estivéssemos muitos metros a mais distantes. Jason estava andando em minha direção, também de óculos escuros, vestindo somente uma sunga preta que deixava muito a imaginar. Afinal, as encaradas nada discretas das garotas enquanto ele passava não eram a toa.

― Testando a velocidade do vento, Jase - respondo, com um sorriso debochado crescendo no rosto.

― Você é uma imprestável, sabia? - replica, sentando-se ao meu lado. ― Vamos dançar! Acabaram de liberar a pista.

Estávamos na casa de praia de Will. Ele era o cara mais popular do colégio e, embora bem mimado, era um cara bem decente. Seus pais tinham liberado a casa para nós por um dia inteiro, como se fosse normal alguém chegar e dizer "Nossa, é claro que você pode convidar todos os seus amigos para a nossa casa de praia cara e deixar todos bêbados e descobrindo os prazeres da vida carnal!". Não que eu esteja reclamando, naturalmente. O lugar era enorme e, além de ficar de frente ao mar ― onde mais tarde iríamos fazer uma fogueira ―, tinha uma piscina enorme também e um salão de festas considerável.

― Não, não. Quero ficar deitada aqui até eu deixar de ser tão branca.

― Você vai ficar deitada aí para sempre, então - ele riu.

― Que amigo mais engraçado eu fui arranjar. Tô morrendo de rir - dei um sorrisinho e fechei a minha cara logo em seguida.

E antes que eu pudesse perceber, estava em cima dos ombros de Jase, que começara a andar em direção aos fundos da casa.

― Me solta, porra! - gritei, enquanto esperneava e batia em suas costas.

― Para de me bater, Ellie! - respondeu, também me dando um tapa,embora fraco, nas costas.

E continuamos assim, com algumas pessoas nos olhando divertidas, e outras simplesmente tentando não derrubar suas bebidas ao passarem por nós, até chegarmos à tal pista. Depois de me por no chão, fiz menção de dar as costas e voltar para a minha abençoada espreguiçadeira.

― Não, não, não. - disse, me pegando pela cintura. ― Você vai ficar aqui e dançar comigo.

O lugar, embora fosse grande, estava lotados de corpos se balançando ao ritmo do som. Garotos apenas de bermudas ou de sungas se misturavam a garotas de biquínis minúsculos ou maiôs reveladores. Não eram poucas as que estavam se esfregando em alguns amigos animadinhos. Também tinha gente que, aparentemente, havia esquecido que existia lugares próprios para fazer que estavam fazendo.

― Tudo bem - me rendi, ao olhar a cara de cachorro abandonado de Jason. Tinha que achar uma forma de resistência urgente.

Sexy Silk, da Jessie J, tocava a todo volume quando começamos a dançar. Cinco segundos depois, já tinha esquecido minha birra, dançava a vontade, sentindo a música e me deixando levar por ela. Sentia mãos passando por minhas costas, subindo e descendo por minhas pernas. Enlacei o pescoço de Jase e suas mãos apertaram-se ao redor da minha cintura. Seus olhos castanhos me encaravam profundamente e, por algum motivo que desconhecia ou só não queria admitir, abaixei minha cabeça, quebrando nosso contato visual.

"Will you be my sugar rush?
Make me get high just with one touch"

Estava perdida do turbilhão de emoções que estava sentindo. A liberdade de me deixar levar pela música, o prazer e o desejo que estavam aflorando em mim por causa da dança provocativa. Agora estava de costas, contra Jase, enquanto minha cintura continuava envolvida por seus braços. Já estava com gotas de suor descendo pelo pescoço quando soltaram as cortinas e ligaram várias luzes coloridas e o ar condicionado, deixando o ambiente quase totalmente escuro. Suas mãos iam deslizando, apertando minhas pernas, minha cintura, nossos corpos estavam pressionados como se fossem um só. Comecei a ficar um pouco alarmada, pois estávamos praticamente sem roupa alguma, dançando de uma forma um pouco indecente demais. Antes que eu pudesse parar, a música acabou. Segundos depois, outra desconhecida já tocava.

― Vou lá fora, preciso de ar - disse rapidamente, me afastando sem esperar por uma resposta.

Enquanto me contorcia para chegar à saída, minha mente inconscientemente voltava para o que acontecera agora há pouco. Balancei-a de um lado para o outro, a fim de espantar esses pensamentos. Nunca havia passado pela minha cabeça o fato de que Jason e eu poderíamos ser mais do que melhores amigos. Estávamos muito bem do jeito que estávamos.

Levantei os braços a fim de proteger meus olhos, que tinham se acostumado com o ambiente escuro da mini boate, e a primeira coisa que me atingiu quando saí foram os raios solares.

― Ellie!

Olho para trás e vejo Jason fazendo o mesmo que eu.

― Já cansou? Pensei que estávamos só nos aquecendo. - disse ele, com um sorriso debochado no rosto, ao meu lado.

"Aquecimento?" Não queria nem saber o que seria dançar "de verdade", então.

― Não quero mais dançar, Jase. Lá está claustrofóbico demais, estou cansada demais, e só quero minha espreguiçadeira de volta.

Ansiávamos em direção a área da piscina, onde eu poderia, enfim, deitar-me novamente.

― Então você não quer mais dançar. - concluiu, depois de alguns segundos em silêncio.

Não respondi e andei até sentar em uma cadeira, com uma mesa e um guarda-sol. Olhei ao redor e percebi que somente pouquíssimas pessoas ainda estavam aqui fora. Todos deveriam ter se amontoado dentro da boate. A contragosto, levantei-me para abrir o guarda-sol, quando Jason sussurrou:

― Bem, você não disse nada sobre nadar.

Então a próxima coisa que senti era que estava afundando, enquanto outra pessoa pulava junto comigo, dentro da piscina. Assim que conseguir por minha cabeça para fora, procurando pelo desgraçado do Jason, não o encontrei em lugar algum. De repente, senti um puxão nas minhas pernas e voltei a ficar submersa, só para ver seu sorriso zombador e seu corpo se impulsionando para cima.

Esse filho da puta vai me pagar.

Os meninos haviam começado a juntar toras de madeira assim que a praia havia esvaziado, lá pelas 18h. O relógio agora marcava 20h e, para um dia de verão, estava bem frio. As ondas ainda se agitavam e batiam contra a areia, embora não com tanta força como mais cedo. Apertei minha jaqueta e cruzei os braços, esperando não ficar tão incomodada com a temperatura. Havia bem menos pessoas caminhando em direção a praia em relação ao tanto que havia vindo. A maioria já havia ido embora no fim da tarde ou estava causa de tão bêbada lá na casa.

Alguns minutos depois, chegamos ao local e me viro para sentar-me ao lado de Jase. Ainda não havia planejado o que iria fazer para me vingar, mas quanto mais perto eu estivesse dele, melhor seria para mim. Até que as gêmeas insuportáveis sentaram-se lá. Cada uma pegando um braço, como se reivindicassem-lo como delas.

― Desculpa, Liz. Acho que este banco já está cheio. - disse Charlie, com aquela sua voz enjoativa.

Candice, a outra gêmea do mal, começou a rir.

Dei de ombros, sem me embalar por causa dessa besteira. Fui então em direção à tora mais distante daquelas ali, e acabei sentando entre Mike e Adam.

― Oi, Liz! - cumprimentaram os dois.

Mike tinha um corte de cabelo emo, os dois braços tatuados e um alargador enorme na orelha esquerda. Já Adam era muito alto, com um corpo bem definido e ombros largos, nada fora do comum para um nadador. Também tinha belos olhos cinza, cabelo raspado. Mike namorava uma garota que morava no outro lado do pais, mais precisamente em NY, enquanto Adam se limitava a consolar garotas de coração partido. Golpe baixo, eu sei.

Havíamos começado a conversar, quando a fogueira foi acendida. As chamas brilhavam em tons de vermelho, azul e verde, criando uma atmosfera totalmente mágica. Adam começou com as histórias de terror, daquelas bem pitorescas, enquanto mais tarde, a cantoria, bem desafinada, foi liderada por Will. Ao todo, éramos umas trinta pessoas em volta da fogueira, a maioria fedendo a álcool ou vômito. Pelo menos alguém havia tido a decência de trazer uma caixa cheia de marshmallows e salsichas para serem assados.

Depois de queimar a minha comida, e de jogar os espetos de Mike e Adam na fogueira porque estavam rindo de mim, levantei-me sorrateiramente e comecei a caminhar pela praia, atordoada com a barulheira e o fedor de álcool. Alguém aparentemente estava sóbrio o bastante para ir buscar uma segunda caixa de vodka.

Era uma noite de lua cheia e o céu estava lotado de pequenos pontos brilhantes. O burburinho da fogueira estava bem distante já, e tudo estava calmo. Aqueles eram de longe, o melhor momento do dia.

― Sentiu minha falta?

Virei-me lentamente, me deparando com o sorriso presunçoso de Jase.

― Nem um pouco.

― O que olha tanto aí?

― O paraíso. Bem do lado do inferno. - respondi-lhe, pensativa, após um momento de silêncio.

― Mas como você está reflexiva hoje, Elizabeth - seu tom de vazo era brincalhão, mas seus olhos não sorriam.

Volto a encarar o mar a minha frente, rebelde e impetuoso porém, de uma maneira inexplicável, também calmo e convidativo. Sinto dois braços me envolverem por trás e relaxo, ponho todo o meu peso em cima de Jase. Sentia-me segura quando ele estava por perto. Era algo automático, depois de tantos anos.

― Bem, não vou deixar você entrar nem no paraíso e nem no inferno sozinha. Vou sempre estar contigo, moça. - após dizer isso, ele planta um beijo casto em meu pescoço.

Viro-me e nos encaramos longamente, até eu abrir um sorriso e estender-lhe a mão, com o mindinho levantado.

― Promete?

― Prometo. - ele cruza seu próprio dedo com o meu e nosso trato está feito.

Jason me abraça forte e eu o aperto de volta. Sabia que não precisava de um juramento dessa seriedade, porque já confiava plena e completamente nele. Ele já me dera motivos para isso. Com seus braços a minha volta, e o silêncio voltando a predominar, uma ideia brilhante, e estraga-prazeres, surge. Observo-o, discretamente, e assim que percebo que está imerso em pensamentos, olhando para a lua que agora há pouco eu mirava, certifico-me que meu celular está muito bem guardado e, assim que uma nova onda bate na areia, solto-me de seus braços e começo a gritar:

― JASE! JASE! MEU CELULAR! JASE! CAIU NO MAR! MEU CELULAR! PEGA ELE!

Ele me encara, confuso, até processar as minhas palavras.

― Como você quer que eu vá pegar? Deve estar a metros de distância já em além disso, a água está muito fria e não consigo enxergar nada! Sem dizer que já deve estar estragado!

Mas ainda assim, continuo.

― NÃO ME IMPORTO! SÓ PEGA ELE, JASE!

― NÃO DÁ, ELLIE!

Enquanto ele continuava a gritar e a gesticular freneticamente, eu o empurro com toda força que uma pessoa, praticamente sedentária, de 60kg, pode ter, assim que outra onda vem. Pulo para me afastar e ele cambaleia para trás, quando a onda o pega e o derruba no chão. Não consigo parar de rir, meu estômago começa a doer, e eu não consigo parar mesmo quando ele começa a me xingar de todas as maneiras possíveis.

― PORRA, ELIZABETH! QUE FRIO DO CARALHO!

― Isso é para você aprender a não me jogar em um piscina! - respondo, sem conseguir parar de rir.

Ele levanta, tremendo de frio, com as roupas molhadas e grudadas ao seu corpo.

― Ainda assim, - começa a falar, suas palavras imprecisas já que seus dentes não paravam de bater - você perdeu seu celular.

Sei que ele vai ficar ainda mais puto mas, lentamente, retiro o celular do bolso e faço a minha cara mais inocente. Seu olhar, de furioso, passa a ser indignado, só para voltar ao furioso novamente depois. Sem dizer mais nada, ele começa a andar de volta à casa, enquanto eu continuo parada, um pouco surpresa por sua reação. Porém, um segundo depois, já estava correndo atrás dele, enquanto ia tirando minha jaqueta - que na verdade, era dele -, e a oferecendo. Depois que ele a veste, fechando o zíper, praticamente pulo em cima dele para um abraço que dissesse, eu esperava, "sinto muito por ter te molhado, mas você tem que admitir que foi uma ideia muito boa".

Ele não me deixa cair. Segura-me firme em seus braços. E naquele momento, de algum modo sabia que, não importa o que quer que acontecesse, nossa amizade sempre iria permanecer intacta no final.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, então esse é o primeiro capítulo. Espero que vocês tenham gostado ;)E espero também por reviews, ok? (Ok.) ♥ au revoir



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Surrender" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.